1.
O sujeito potico deseja provocar
sofrimento a quem sempre o fez sofrer por
amor, devido indiferena com que tratado
pela mulher amada, que no corresponde ao
seu amor.
. A cada uma das estrofes corresponde uma
parte distinta da cantiga, que se desenvolve
em quatro momentos. Na primeira estrofe, o
sujeito potico apresenta o seu desejo de
vingana relativamente mulher que o faz
sofrer, decorrente do desinteresse com que
tratado por ela. Contudo, na segunda estrofe,
introduzida pela conjuno coordenativa
adversativa, reconhece a impossibilidade de
concretizar a inteno manifestada
anteriormente, pois no consegue enganar
o seu corao (vv. 8--9) e chega a perder o
sono com a hiptese de fazer sofrer a amada.
Apesar disso, retoma, na terceira estrofe, a ideia
de, de algum modo, perturbar a amada,
solicitando para isso a interveno de Deus (vv.
15-16). Na ltima estrofe e momento
conclusivo da cantiga , na sequncia das
reflexes anteriores, o sujeito potico abandona
a ideia de vingana e de interferncia divina e
conjetura sobre a possibilidade de, para
terminar o seu sofrimento, interpelar
diretamente a mulher que o faz em si cuidar
(v. 24), atormentando-se com essa possibilidade
(v. 26) e persistindo na ideia de que no poder
coita dar a quen sempre coita [lhe] deu.
3. A mulher apresentada na cantiga como a
causa do tormento do sujeito potico (vv. 7 e
24), um ser insensvel e indiferente ao
sofrimento do amador (vv. 11, 16 e 18). No
retribui o seu amor e, segundo o sujeito
potico, chega inclusivamente a desejar-lhe
mal (v. 4).
4. Nas estrofes mpares, o uso do imperfeito
do conjuntivo (podesse) destaca a hiptese
desejada pelo sujeito potico de retribuir com
coita o desprezo da mulher que sempre, no
passado anterior ao tempo da enunciao, lhe
deu sofrimento. Contudo, constatada nas
quadras pares essa impossibilidade, por,
paradoxalmente, ir contra os seus
sentimentos, o eu lrico serve-se do presente
do indicativo para dar conta da sua situao
atual e concluir: non posso coita dar.