ANALGÉSICOS
Alda Mariano
Objectivos
No final desta aula o estudante deve ser capz de:
Definir o conceito de dor e de analgésicos
Classificar os analgésicos
Identificar os representes dos analgésicos não
opióides
Descrever a farmacocinética, mecanismo de acção,
reacções adversas, indicações, contra-indicações e
interacções medicamentosas dos AINEs e do
paracetamol.
Conteúdo
Conceito de dor e de analgésicos
Classificação dos analgésicos
Farmacocinética dos anti-inflamatórios não
esteróides e do paracetamol, mecanismo de acção,
reacções adversas, indicações, contra-indicações e
interacções medicamentosas.
Analgésicos (do grego ἀν- [an-], sem, ἄλγος [álgos],
dor) é um grupo diverso de fármacos que
diminuem ou interrompem as vias de transmissão
nervosa, reduzindo a percepção de dor (
nocicepção).
Analgésicos: fármacos usados
no alívio da dor.
Denominam-se analgésicos todos os
medicamentos capazes de reduzir ou aliviar as
dores (cabeça, musculares, artrite, etc).
Existem muitas variedades de analgésicos e cada
um possui suas vantagens e riscos.
Há dores que respondem melhor a certos
medicamentos do que a outros e cada pessoa
pode responder de forma diferente a cada
fármaco.
Dor é um sintoma.
“ Dor é uma experiência sensorial e emocional
desagradável associada a uma lesão tecidular real
ou potencial ou descrita como tal.” (1994 - IASP)
Classificação dos analgésicos
Analgésicos
Analgésicos
não
opióides
opióides
ANALGÉSICOS NÃO
OPIÓIDES
Classificação
• Derivados ácidos com propriedades:
Analgésicas
Antipiréticas
Anti-inflamatórias
• Derivados não ácidos com propriedades:
Analgésicas
Antipiréticas
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
Mecanismo de ação:
Inibição periférica e central da actividade
da enzima cicloxigenase e subsequente
diminuição da síntese e libertação dos
mediadores da inflamação, dor e febre
(prostaglandinas).
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
Mecanismo da ação anti-inflamatória
• Bloqueio da formação de PGs por inibição
da COX
• inibição da libertação de histamina
• diminuição da migração PMN e monócitos
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
Mecanismo da acção analgésica
• Bloqueio da formação de PGs por inibição
da COX
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
Mecanismo da ação antipirética
• Bloqueio da formação de PGs por inibição
da COX
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
As ciclooxigenases
COX-1
• enzima constitutiva essencial
• encontrada na maioria das células e tecidos
• envolvida na produção de PGs para manutenção de
funções fisiológicas
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
As ciclooxigenases
COX-2
• a sua formação é induzida pelo processo
inflamatório e interleucinas
• com produção de prostaglandinas que mediam
inflamação, dor e febre
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
As ciclooxigenases
COX - 3
• Terceira isoforma do enzima;
permanece livre no plasma; altamente
sensível à inibição pelo paracetamol.
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
As prostaglandinas têm funções
fisiológicas a vários níveis:
• Plaquetar (agregação)
• Musculatura brônquica (relaxamento)
• Gástrico (protecção da mucosa)
• Renal (manutenção do fluxo renal)
Complicações do uso
de AINES
Efeitos secundários (1)
A nível sanguíneo:
• Inibição da COX nas plaquetas agregação plaquetar
hemorragia
No caso da AAS este efeito persiste até 1 semana
após sua suspensão!
• Alterações hematológicas: anemia hemolítica ou
aplástica, agranulocitose, trombocitopenia
Efeitos secundários (2 )
• Efeitos respiratórios:
Broncospasmo
atenção nos pacientes asmáticos, pode ocorrer
uma crise de asma !!!
Efeitos secundários a nível digestivo
• Comuns: efeitos gástricos desde ligeiros
irritação a erosão, úlcera péptica
(principalmente gástrica) e hemorragia.
Efeitos secundários (2 )
Efeitos secundários a nível digestivo (3)
Tabela 1: Risco de complicações diges tivas (hemorragia digestiva, úlceras )
Risco Tratados/não tratados
Em média X3
< 65 anos x2
> 65 anos x6
> 75 anos x 14
Ausência de antecedentes x2
ulcerosos
Antecedentes ulcerosos x5
Efeitos secundários a nível digestivo (3)
• O risco de complicações digestivas (hemorragia
digestiva, úlceras) é maior:
• Sexo feminino
• Associado ao Stress, álcool, tabaco
• Antecedentes de patologia digestiva
• Com uso de doses elevadas
• Na associação de 2 AINE ou AINE + anti vitamina
K
Efeitos secundários digestivos (3)
Principais mecanismos das complicações:
• Acção local / contacto com mucosa
• Acção sistémica:
Síntese das prostaglandinas / inibição da
COX ausência de efeito protector contra
acidez com produção de muco
Efeitos secundários a nível renal (3)
• Nefrotoxicidade e insuficiência renal
Maior risco em idosos, doença renal pré-existente,
lúpus eritematoso sistémico
• Redução da filtração glomerular - Oligúria
Agravada por hipovolémia, insuficiência cardíaca,
desidratação, HTA
Efeitos secundários a nível hepático (4)
Disfunção hepática ligeira (ocasionalmente), raramente
lesão hepática irreversível
AAS (ácido acetil salicílico)
Síndrome de Reye: vómitos, hepatomegália, coma
hepático, alterações da coagulação; mortalidade (30-
40%)
Outros efeitos secundários (5)
• Reacções de hipersensibilidade: broncospasmo, rash
cutâneo, prurido, urticária angioedema
Pode ser precipitado em indivíduos sensíveis ao AAS ou
outro AINES
• Cefaleia, tonturas, sonolência e depressão
• Ambliopia, visão turva e zumbido
• Irritação da mucosa rectal (uso de supositórios)
Precauções
• Doentes com insuficiência renal, insificiência
hepática ligeira ou moderada, com alteração da
função cardíaca, angina, hipertensão, perturbações
hemorrágicas
• Doentes com antecedentes alérgicos a um AINEs
têm tendência a fazer reacção cruzada com outros
(incluindo AAS); maior risco em pacientes com
asma ou atopia, pólipos nasais, urticária
Precauções
• Doentes com antecedentes de úlcera gástrica
• Idosos
• Gravidez: não recomendado
• Uso no 3º trimestre associado a período de
gestação prolongado, risco aumentado de
hemorragia antepartum e pós parto;
encerramento prematuro do canal arterial
• Porfíria
Contra-indicações
• Doentes com úlcera péptica activa
• Insuficiência renal, hepática ou cardíaca severas
• Hipersensibilidade ao AAS ou outro AINEs
• HTA não controlada
• Supositórios CI em pacientes com proctite e
hemorroidas
Interacções (1)
• Medicamentos anti-hipertensivos, diuréticos,
angina: diminui a eficácia destes
• Digoxina: pode alterar resposta à digoxina
• Anticoagulantes: potencia efeitos dos AINEs
• Probenecid: pode diminuir eliminação dos AINEs
• Metotrexato: aumenta seus níveis e toxicidade
deste
• Lítio: risco de elevados níveis de lítio
• Glococorticóides: aumenta toxicidade de ambos
• Outros AINEs
Interacções (2)
• Pode aumentar o efeito terapêutico dos fármacos com que
compete na ligação às proteínas plasmáticas (sulfonamidas,
fenitoína, verapamil, e nifedipina)
• Aumento do risco de hemorragia em associação com fármcos
que causam hipoprotrombinémia e / ou anti-agregação
plaquetar:
penicilinas, cefalosporinas
dipiridamol, ácido valproico
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
Salicilatos
•400 a.c. Hipócrates preparava chá das folhas e casca do salgueiro
para aliviar a dor e febre
•1887 – Felix Hoffman, químico alemão do laboratório do
comerciante Friedrich Bayer, preparou a fórmula do analgésico
•1889 - Dreser introduziu o uso clínico do AAS
•1900: BAYER produz 4,2 toneladas
•1919: marca passa a domínio público
•1994: consumo de 50 mil toneladas
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
FARMACOCINÉTICA
• absorção VO (estômago e intestino delgado)
• níveis plasmáticos em 30 min; pico em 2 horas
• factores que influenciam a absorção:
• composição, velocidade de desintegração e dissolução
• alimentos, pH, tempo de esvaziamento gástrico
• constante de dissociação (pKa= 3,5)
• pH 2,5 - 91% não ionizada
• pH 4,5 - 91 % ionizada
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
FARMACOCINÉTICA
• distribuição: livres e ligados à albumina
• BHE, barreira placentar, líquido sinovial, peritoneal,
saliva, fezes, leite, suor
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
FARMACOCINÉTICA
• metabolismo e excreção
• esterases da mucosa GI (hidrólise)
• conjugação com glicina e ácido glucurónico
AAS
ác. Salicílico
glicuronídeos ác. Saliciúrico
(15% urina) (75 % urina)
(10% salicilato livre)
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
FARMACOCINÉTICA
• excreção renal
• influenciada pelos factores relacionados com
pH urinário e competição com outros ácidos
orgânicos
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
INDICAÇÕES
• Analgesia - dor leve a moderada
• cefaleia, dismenorreia, mialgias, artralgias, dor
pós-operatória, pós-parto, cirurgias
odontológicas, procedimentos ortopédicos
• Antipirético (atenção síndrome de REYE)
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS
E ANTI-INFLAMATÓRIOS
INDICAÇÕES
Antiag
regant
e
plaquet
Quera ário
tolítico
Anti-inflamatório
Revulsi
vo
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
TOXICIDADE
• TGI, mais frequentes com tratamento prolongado e
elevadas doses
• intolerância gástrica (dor, desconforto epigástrico,
náuseas, vómitos, anorrexia)
• ulceração da mucosa com sangramento
• exacerbação em associação com álcool
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
TOXICIDADE
• mecanismo proposto:
• acumulação de altas concentrações de HCl e da substância
na mucosa
• libertação de O2, enzimas lisosómicos dos tecidos
destruídos
• diminuição da síntese de PG nos pequenos vasos
sanguíneos
• isquémia localizada
• anóxia celular
• diminuição da síntese PG (PGE1 e PGE2) moduladoras da
secreção
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
TOXICIDADE
• nefrotoxicidade
• ingestão crónica
• hepatotoxicidade
• aumento dos níveis de transaminases
• dose-dependente
• reversível
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
• pelos efeitos anticoagulantes
• terapia anticoagulante
• alterações na coagulação (hemofilia,
hipoprotrombinémia, deficiência vitamina K)
• cirurgias
• pelos efeitos sobre aparelho GI
• úlcera péptica
• gastrite ou sangramento gastrointestinal
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
CONTRA-INDICAÇÕES
• gravidez
• encerramento prematuro do ductus arteriosus
• gestação prolongada
• trabalho de parto prolongado
• Risco de sangramento materno
• febre crianças etiologia infecções varicela e outros vírus tipo
influenza
• síndrome de Reye (lesão hepática severa e encefalopatia)
ANALGÉSICOS, ANTIPIRÉTICOS E
ANTI-INFLAMATÓRIOS
Classificação
• Derivados do ácido acético e substâncias
relacionadas (Diclofenac, Indometacina)
• Oxicams (Meloxican, Piroxican, Tenoxican)
• Derivados do ácido propiónico (Ibuprofeno)
• Fenamatos (Ácido mefenâmico – Etofenamato)
• Coxibs (Celecoxib, Rofecoxib)
• Butilpirazolidinas (Fenilbutazona)
Derivados do ácido acético e substâncias relacionadas
Diclofenac
• Farmacocinética
Absorção oral rápida e completa
Ligação às proteínas 99%
T1/2= 1-2 horas
Metabolismo hepático, eliminação renal e biliar
• Indicações: dor e inflamação; gota
• Ef. 2ários, CI, Interacções
Derivados do ácido acético e substâncias relacionadas
Indometacina
• Farmacocinética
Boa absorção via oral . Alimentos e antiácidos
diminuem absorção
T1/2 (2-11h)
Metabolismo hepático excreção renal e biliar
• Indicações: dor e inflamação; encerramento do
canal arterial em prematuros
Oxicams
• Exos: Meloxican, Piroxicam, Tenoxican
• Alguma acção selectiva na ciclooxigenase-2 (COX-
2)
• Menos reacções adversas gastrointestinais (não
suportado pela literatura)
Derivados do ácido propiónico
Ibuprofeno
• Farmacocinética:
Absorção oral rápida, reduzida pela presença de
alimentos
Ligação às proteínas 99%
T1/2 = 2h
Metabolismo: hepático e excreção renal
• Indicações: Analgesia,doses ef. anti-inflamatório
• Efeitos 2ários, CI = AINES em geral
Coxibs
• A síntese das prostaglandinas é controlada por 2
isómeros da ciclooxigenase (COX) dependendo da
natureza da prostaglandina a ser sintetizada.
• Os antigos AINES inibem a COX-1 e COX-2
simultaneamente.
• Os inibidores da COX-2 são altamente selectivos para
este enzima, que é considerado responsável pela
produção das prostaglandinas inflamatórias.
Inibidores selectivos da COX2
• Exs: Celecoxib, Etoricoxib
• Interferem com a função renal como os outros AINEs
e podem afectar o controle da HTA.
• Modificam a função plaquetar podendo haver maior
incidência de complicações trombóticas.
Inibidores selectivos da COX-2
• Vantagens em relação aos AINEs: menos risco de
complicações GI
• Desvantagens: Mais complicações CV
• Contra-indicações: doença isquémica cardíaca, AVC,
doença arterial periférica e insuf cardíaca moderada a
severa
Só devem ser usados em doentes com risco de
complicações GI e após avaliação do risco CV
Preço elevado!
Inibidores selectivos da COX2
• Coxibs retirados do mercado: Rofecoxib
(2004) Valdecoxib (2005) Lumiracoxib
(2008) Etoricoxib (2008)
PARACETAMOL
• Analgésico relativamente seguro, com uma eficácia
em relação ao efeito antipirético semelhante ao
AAS.
• Efeito antipirético resulta da acção a nível do centro
regulador da temperatura no hipotâlamo
PARACETAMOL
• Farmacocinética: boa absorção VO
• Fraca ligação às proteínas plasmáticas
• T1/2= 1-4h
• Metabolismo hepático: 90-95% da dose é conjugada
no fígado pelo sistema microsomial P450
• Excreção renal de metabolitos
PARACETAMOL
• Os metabolitos intermediários, potencialmente
tóxicos, formados pelo sistema enzimático citocromo
P450, são geralmente destoxicados pelo glutatião.
• Podem ocorrer efeitos hepatotóxicos e/ou renais se
os stocks de glutatião estão reduzidos como na
hiperdosagem ou uso prolongado de doses
excessivas.
Paracetamol: Mecanismo de acção
• Local de acção não totalmente conhecido.
• Acção predominantemente central:
Inibição da COX a nível central (não a nível periférico, o
que explicaria a falta de propriedades anti-
inflamatórias)
Inibição da COX3 (localização espinhal e cerebral ef
analgésico e antipirético
Paracetamol: reacções adversas
• Reacções alérgicas
Hepatotoxicidade (3x dose terapêutica). Aumenta se
associado ao álcool
Nefrotoxicidade (hiperdosagem crónica)
Síndrome de toxicidade: náuseas, vómitos,
hepatotoxicidade 24-48h.
Antídoto – acetilcisteína (aumenta a formação de
glutatião) que deve ser administrado precocemente
(<12 h)
PARACETAMOL
• Indicações: analgésico para dor ligeira a
moderada; antipirético
• Pode ser usado em associação aos AINES
PARACETAMOL
• Contra-indicações: Doença hepática ou renal
severa
• Precauções: alcoolismo, disfunção hepática ou
renal, anemia e outras doenças do sistema
hematopoiético
Bibliografia
• www.catedradeldolor.com/PDFs/.../Tema%206.pdf
• Batlouni Michel, Anti-inflamatórios não esteóides: efeitos
cardio-vasculares, cerebrovasculares e renais Arquivos
brasileiros de cardiologia Vol. 94 n. 4 São Paulo Abril
2010
• Kapit Wynn, Macey I. Robert, Meisami Esmail,
ThePhysiology, 1997
• FNM
• Katsung
• Goodman e Gilman