A Leitura e a
Produção de
Sentidos
Profa. Dra. Brayna Cardoso
As diferentes concepções de texto,
leitor e leitura
• De acordo com Koch e Elias (2008), podemos partir de
diferentes visões para entendermos o que é leitura. Essas formas
de ver e entender o fenômeno da leitura estão apoiadas em
diferentes concepções de sujeito, de língua, de texto e de
sentido.
As diferentes concepções de
texto, leitor e leitura
• Há várias formas de se compreender essas questões,
partindo-se de pelo menos três diferentes concepções:
• na primeira, encontramos o foco centrado no autor;
• na segunda, o foco recai no texto;
• na terceira, o foco se dá na interação que ocorre entre o autor,
o texto e o leitor.
As diferentes
concepções de No foco centrado no autor
texto, leitor e
leitura
A concepção de língua como representação do pensamento
e a concepção de sujeito como quem determina suas ideias
levam a uma concepção de texto na qual ele é visto como
um produto da representação mental do autor, do qual o
leitor depreende um sentido preestabelecido, sem nada
acrescentar.
As diferentes
concepções de No foco centrado no texto
texto, leitor e
leitura
Nessa concepção, a língua é vista como um código
social, um sistema de comunicação, no qual o texto é
compreendido como uma mensagem a ser codificada
pelo emissor e decodificada pelo receptor (o leitor),
desde que ele seja alfabetizado no código em questão.
As diferentes
concepções de O foco centrado na interação entre autor, texto e
leitor
texto, leitor e
leitura
se baseia em uma concepção dialógica, na qual a
língua é vista como um processo interacional e o
sujeito é visto com um ator social, um construtor
ativo dos sentidos que são construídos a partir de
sua interação com o texto.
As diferentes concepções de
texto, leitor e leitura
• Concepções de Koch e Elias (2008), sobre o texto:
[...] o texto é um lugar de interação de sujeitos sociais, os quais
dialogicamente, nele se constituem e são constituídos; e que, por meio
de ações linguísticas e sociocognitivas, constroem objetos-de-discurso
e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas entre as
múltiplas formas de organização textual e as diversas possibilidades de
seleção lexical que a língua lhes põe a disposição. A essa concepção
subjaz, necessariamente, a ideia de que há, em todo e qualquer texto,
uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis
pela mobilização do contexto sociocognitivo no interior do qual se
movem os atores sociais (KOCH; ELIAS, 2008).
O texto, o leitor, a leitura
Em nossa abordagem, o texto é entendido como
uma fronteira entre o autor e o leitor, a superfície
em que se dá o contato, a troca, a interação.
Ele pode ser apresentado em qualquer formato, ou
ser veiculado por qualquer mídia, o que importa é
que ele possua significações para quem lê.
O texto, o leitor, a leitura
A linguagem de um texto pode ser visual, sonora, escrita
ou verbal.
As diversas linguagens que conhecemos são na verdade
sistemas de representação desenvolvidos pelas diferentes
culturas para o registro e a comunicação de diferentes tipos
de informação.
O texto, o leitor, a leitura
• O texto pode ser entendido como uma plataforma para a
negociação de sentidos, por meio de um sistema
representacional que possa derivar significados para quem o
percebe.
O texto, o leitor, a leitura
• O texto estabelece a comunicação entre o autor e o leitor, para
que ambos tenham a percepção de que estão se comunicando em
torno de um mesmo assunto, ainda que o fato de ser um texto
não ofereça nenhuma garantia de que o sentido será percebido
pelo leitor da mesma forma como foi concebido pelo autor.
A leitura
A metáfora da internet ressalta a
flexibilidade e a imprevisibilidade que
estão presentes na compreensão dos Ao longo dessa trajetória de livres
significados vinculados à leitura, pois ela associações, as relações de sentidos
produz uma rede de significações que feitas pelo leitor são pessoais e
depende das relações criadas ao longo da subjetivas.
trajetória percorrida entre um ponto e
outro.
A leitura
• A metáfora da rede de significações permitidas na hipermídia
pode se aplicar para a forma como é feita a leitura, que é sempre
uma releitura com novas possibilidades de interpretação.
A leitura
Numa concepção interacional de
leitura, o texto não pode ter um Cada nova leitura de um texto,
sentido único, porque sua mesmo que seja feita pelo mesmo
compreensão se apoia no conjunto leitor, não produzirá os mesmos
de leituras prévias do leitor, que sentidos, ou seja, a mesma
produz sentidos a partir de sua rede compreensão.
semântica de significações pessoais.
O leitor
• O conceito de leitor, aqui, na concepção interacional de
leitura, ganha um novo significado. É como se o leitor
se aproximasse, metaforicamente, de uma coautoria, ao
atribuir significados que são, ou não, desdobramentos
daqueles inicialmente pensados pelo autor.
O leitor
• Assim, o leitor pode ser pensado como aquele
que colabora na construção de um texto que não
está pronto sem a sua leitura, um texto dinâmico,
vivo, em construção e que na leitura alcança
uma instância interpessoal, intersubjetiva e
contextuada.
O leitor
• A linguagem é plurissignificativa e referencial, porque,
às vezes, o autor que produziu está pensando de uma
forma e quem o lê pode estar pensando de outra forma.
• A subjetividade que está presente no universo
sociocognitivo do leitor torna a compreensão de um
texto rica, frágil, surpreendente e necessariamente
condicionada à bagagem de suas leituras prévias.
O leitor
• Todo texto é um diálogo aberto que se inicia novamente a cada
nova leitura que se estabelece. Um diálogo sem finitude, porque
possibilita uma rede de significados que são diferentes, tanto
para quem o produz como para quem o interpreta.
O leitor
• O conceito de polissemia nos coloca diante de uma contradição
na ideia estabelecida de que processos de aprendizagem, leitura,
estudo e ensino devam ter início, meio e fim: já que os sujeitos
que constroem a interpretação do texto são incompletos, eles
próprios se encontram em um contínuo processo de formação e
transformação.
O leitor
• De acordo com Fiorin e Savioli (1997), há dois aspectos básicos
a serem considerados na leitura de um texto:
a) Num texto, o sentido de uma parte não é autônomo, é
dependente das partes com as quais se relaciona. A interpretação
de uma parte pode mudar de acordo com o trecho seguinte, pela
presença de um elemento inusitado que muda completamente a
ótica com que percebemos a parte anterior, como por exemplo,
dessa inter-relação, uma tira de história em quadrinhos.
O leitor
b) O texto tem um significado global que não é a soma dos
sentidos das partes separadas, mas a combinação dos sentidos
entre as partes. Essa combinação da inter-relação entre as partes é
geradora do seu significado global.
O produtor de texto pode ser uma pessoa que
percebe, cria e recria sentidos em um texto a
partir de sua bagagem própria de leituras, que
lhe permite continuar a construir sentidos e,
com isso, produzir novos textos.
Os diferentes efeitos de sentido atribuídos a um
texto por diferentes leitores nos alertam para o
O texto, o leitor fato de que a natureza polissêmica, presente em
e a leitura nos toda leitura, interfere nos resultados da
aprendizagem.
processos de
aprendizagem
Ao lermos ou produzirmos um texto didático,
devemos levar em conta a seguinte questão: como
essa qualidade (polissêmica pode ser canalizada
para uma estratégia pedagógica?
A concepção pedagógica do material deve ter os
objetivos claros a serem alcançados a cada módulo
O texto, o leitor ou unidade de material, usando estratégias didáticas
que contextualizem os conteúdos tratados em
e a leitura nos relação à sua aplicação e contemplem uma produção
processos de de leituras do texto que é, em si, polissêmica.
aprendizagem
O conhecimento prévio na
leitura
• O leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o
conhecimento adquirido ao longo de sua vida.
• É mediante a interação de diversos níveis de
conhecimento, como o conhecimento
linguístico, o textual e o conhecimento de
mundo que o leitor consegue construir o sentido
do texto.
Intencionalidade
• A intencionalidade refere-se ao modo como os emissores usam
textos para perseguir e realizar as suas intenções, produzindo,
para tanto, textos adequados à obtenção dos efeitos desejados.
À medida que um bom leitor descobre o significado de um texto, ele se envolve em
processos suplementares, a saber:
1) faz referências;
2) vê implicações;
3) julga validade, qualidade, eficiência ou adequação das ideias apresentadas;
4) compara pontos de vista diferentes;
5) aplica as ideias adquiridas a novas situações;
6) soluciona problemas e integra as ideias lidas com experiências prévias, de forma
Leitura Crítica
que novas intuições, atitudes racionais e melhores padrões de pensamento e de
atividades sejam adquiridos.
Algumas Considerações
• LER não é somente uma ponte para a tomada de consciência,
mas também um modo de existir no qual o indivíduo
compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e
passa a compreender-se no mundo.
Referência
BARRENECHEA, C. A. A leitura e a
produção de sentidos. In: Redação científica:
com o uso de ferramentas tecnológicas.
Curitiba: Universidade Federal do Paraná/Setor
de Educação, 2012. p. 33-53.