O regresso ao mundo visível.
Após a Primeira Grande Guerra até à eclosão da Segunda,
aproximadamente, a arte ocidental conheceu um regresso à
linguagem figurativa, apoiado no conceito de que a arte deve refletir a
sociedade para poder atuar sobre ela. Este regresso ao mundo visível
explica-se pelo período difícil pelo qual a Europa do pós-guerra estava
a passar: instabilidade social, económica e política; ascensão dos
autoritarismos em contraposição com o crescimento dos ideais de
“esquerda” nos países do ocidente, expandidos pelo movimento
sindical e operário e por certos núcleos de intelectuais e artistas.
Surrealismo
O Surrealismo foi um movimento literário e artístico que se
desenvolveu no período entre as duas Grandes Guerras do século XX.
Começou na Europa, mas abrangeu também as Américas e o Extremo
Oriente. Partiu de França, onde ocorreu primeiro na literatura, com o
Manifesto (1924) de André Breton, e depois nas artes plásticas.
O Surrealismo representa uma reação dos artistas e intelectuais às
duras condições de vida do Pós-Primeira Grande Guerra na Europa e
ao absurdo da própria existência humana no mundo desumano e
caótico que a guerra desencadeara.
Estilisticamente, caracteriza-se por:
• As temáticas são retiradas do mundo do sonho, da imaginação e
da fantasia, procurando alcançar a “surrealidade”, isto é, um plano
de pensamento que oscila entre o sonho e a realidade, entre o
racional e o suprassensível. São influenciadas pela Psicanálise de
Freud.
• O processo criativo desenrola-se através da escrita automática
(escrita imediata, sem muita reflexão, em estado de
semiconsciência) e de automatismos psíquicos ou sob atividade
onírica ou em devaneio fantasista; outras vezes ocorre sob o efeito
do álcool ou de drogas. Neste domínio, os surrealistas receberam
influência da literatura surrealista (escrita automática) e dos
métodos da Psicanálise (hipnose);
• Na execução técnico-formal é possível falar de duas tendências
maioritárias. Uma é a do surrealismo abstrato que recorre a
técnicas já usadas pelo Cubismo e pelo Dadaísmo (colagens,
assemblages, fotomontagens a grattages, como em Marx Ernst) ou
explora o dinamismo de manchas lisas, como em Miró.
L'Ange du Foyer ou Le Triomphe du
surréalisme, Marx Ernst, 1937
The Birth of Day, Joan Miró
A outra tendência é a do surrealismo naturalista que utiliza técnicas
académicas clássico-renascentistas na construção do espaço e das
perspetivas, na utilização do trompe-l’oeil e no tratamento das formas,
associando-as a conteúdos enigmáticos, insólitos ou ilógicos (Salvador
Dali, Yves Tanguy, René Magritte, Paul Delvaux).
• A intenção é explorar o mundo interior e o poder da imaginação,
desvendando o inconsciente e desmascarando-o perante a
sociedade, mesmo provocando o escândalo e assumindo atitudes
de agressividade.
Em suma, atingir o surreal perante a desmistificação e subversão
do real.
A Persistência da Memória, Salvador
Dali, 1931
Os Amantes, René Magritte, 1928