Terapia Cognitivo
Comportamental - TCC
Wanessa
Historicamente...
• ... a TCC teve como precursor Aaron T. Beck em 1960.
• Aaron Beck tinha a formação em psiquiatria e psicanálise. Sua
trajetória profissional consistia em pesquisas científicas.
• Primeiros estudos: depressão. A tríade cognitiva negativa: sobre si, o
mundo e o futuro (1964).
• “Ele identificou cognições negativas e distorcidas, principalmente
pensamentos e crenças, como característica principal da depressão”.
Tratamento de curta duração; teste de realidade em depressivos.
(Judith Beck, 2023).
• Aaron Beck chamou essa terapia de “Terapia Cognitiva”. Ao longo do
tempo: Terapia Cognitiva Comportamental.
• Objetivo: uma terapia direcionada aos (i) problemas atuais do
cliente, (ii) modificação de pensamentos e comportamentos
disfuncionais ou inadequados (Alford e Beck, 1997).
• O tratamento considera cada paciente (crenças e padrões
específicos de comportamento). E o resultado que o terapeuta
tenta produzir é sobre a mudança cognitiva para mudança
emocional e comportamental.
• Principais teóricos que Beck considerou: Epiteto, Karen Horney,
Alfred Adler, Albert Ellis e Bandura.
• Em Epíteto, estoico grego, encontramos: “os homens não se
perturbam pelas coisas que acontecem, mas sim pelas opiniões sobre
as coisas”.
• No budismo, a cognição é a força primária para ação humana.
• Beck afirma que até os filósofos europeus como Heidegger, Jaspers
desenvolveram ideias sobre o pensamentos cognitivo consciente
como fundamental na existência humana.
• As experiências científicas mostram que a TCC alcança diferentes
idades e classes socioeconômicas.
• Usada em escolas, serviços de saúde, orientação vocacional,
instituições de reclusão, reabilitação.
• Formatos de grupo, casa, família, individual.
• Sessões geralmente são de 45 minutos, podendo ser menos.
QUAL O PRINCIPAL EMBASAMENTO
DA TCC?
O MODELO COGNITVO
• O que isso que dizer? Significa dizer que, o comportamento humano
tem como base A COGNIÇÃO.
• NÃO É A SITUAÇÃO QUE DETERMINA O QUE SENTIMOS E SIM A
LEITURA QUE FAZEMOS DA SITUAÇÃO.
• O pensamento disfuncional leva a transtornos psicológicos: altera o
humor, prejudica o juízo de realidade, isolamentos e vários outros
comportamentos patológicos.
• Assim, o terapeuta na TCC atuam nos níveis mais profundos da
cognição: as crenças básicas do cliente sobre si, sobre o mundo e
outras pessoas.
Ou seja...
I) A COGNIÇÃO INFLUENCIA DE FORMA CONTROLADORA AS EMOÇÕES
E COMPORTAMENTOS e
II) COMO O CLIENTE SE COMPORTA/AGE PODE INFLUENCIAR PADRÕES
DE PENSAMENTOS E EMOÇÕES.
Modelo Cognitivo Comportamental
Fonte: WRIGHT, J. H. et al, 2019. Aprendendo a
terapia cognitiva comportamental.
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Fonte: WRIGHT, J. H. et al, 2019. Aprendendo a
terapia cognitiva comportamental.
RESUMINDO:
• Atividade cognitiva influencia o comportamento.
• Pode ser monitorada e alterada.
• O comportamento esperado pode ser modificado mediante a
mudança cognitiva.
• OBJETIVO DO TRATAMENTO: produzir a mudança cognitiva
(pensamento e sistema de crenças) visando promover mudança
emocional e comportamental duradoura.
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA TCC (Becker, 2014)
• 1° PRINCÍPIO: A formulação do problema dos pacientes e a
conceituação individual de cada um em termos cognitivos é uma
continuidade, sempre em desenvolvimento. Sessão de avaliação.
- Posso identificar em um paciente os comportamentos
problemáticos (como se isolar), fatores precipitantes (como estar longe
da família), o que paciente pensa disso, mas não é estático.
• 2° PRINCÍPIO: A terapia cognitivo comportamental requer relação
terapêutica sólida. Feedbacks entre terapeutas e clientes.
• 3° PRINCÍPIO: A terapia TCC enfatiza a colaboração do paciente e
participação ativa. “Trabalho em equipe” (Beck, 2014). Encorajamento.
• 4° PRINCÍPIO: A TCC orienta objetivos e foca no problema. O paciente
sinaliza quais seus problemas e, junto com o terapeuta, constroem
estratégias. (Se me sinto isolada, será que posso encontrar meus
amigos? E se eu estiver cansada? E se meus amigos não quiserem sair
comigo? – avaliar e testar pensamentos).
• 5° PRINCÍPIO: Ênfase no presente. O paciente se volta ao passado por
preferência ou preso ao pensamento disfuncional.
• 6° PRINCÍPIO: A TCC é educativa, ensina o paciente a ser seu próprio
terapeuta e enfatiza a prevenção de recaída. O paciente pode
identificar os problemas, avaliar pensamentos com a ajuda do
terapeuta.
• 7° PRINCÍPIO: É limitada no tempo. Alguns casos de paciente
depressivos podem levar de 6 a 14 sessões, mas podem levar anos.
Sessões de “reforço” próximo da alta. Pacientes esquizofrênicos:
demora na estabilização.
• 8° PRINCÍPIO: As sessões são estruturadas. Aumenta a eficiência das
sessões e maximiza o vínculo.
• 9° PRINCÍPIO: A TCC ensina seus pacientes a identificar, avaliar e
responder aos seus pensamentos e crenças disfuncionais. O terapeuta
ajuda o paciente a perceber as principais cognições e utilizar
perspectivas mais realistas e adaptativas (descoberta guiada).
Experimentos comportamentais: testar a validez do pensamento
automático.
• 10° PRINCÍPIO: Há uma variedade de técnicas para mudar
pensamentos, humor e comportamento. Ou seja, apesar do modelo
cognitivo, há técnicas comportamentais e solução de problemas e até
de outras teorias. As técnicas são definidas a partir do que se
conceitua sobre o paciente.
Esses princípios dependem:
- Da vinculação entre terapeuta e paciente
- Momento de vida, a problemática, nível intelectual e
desenvolvimento, gênero, meio de origem (fatores pessoais)
- Motivação do paciente
- Do diagnóstico (aula do dia 16).
CONCEITOS BÁSICOS
1) Níveis de processamento cognitivo:
• O nível mais alto de cognição é a CONSCIÊNCIA também chamada de
“atenção consciente” (Beck et al, 1979). “Um estado de atenção no
qual decisões podem ser tomadas racionalmente” (Wrigth et al,
2019). Funções:
• Monitorar/avaliar as interações com o ambiente
• Associar memórias passadas com experiências
presentes
• Controlar e planejar ações (Sternberg, 1996).
• As ações clínicas são voltadas a processos “conscientes adaptativos de
pensamento” como o pensamento racional e solução de problemas.
• “Pensamentos automáticos” e “Esquemas” são os outros dois outros níveis
de cognição (que no geral, são 3 níveis).
• São responsáveis por “processamento de informações relativamente
autônomo” (Beck, 2021).
PS:
Diferença na Psicanálise: a consciência faz parte de uma estrutura
(topologia) e com funcionamento econômico baseado em defesas. Na TCC,
há técnicas que enfatizam o seu papel em “detectar e modificar
pensamentos profundos” (Wrigth et al, 2019).
2) Pensamentos automáticos:
• “São cognições que passam rapidamente por nossas mentes quando
estamos em meio a situações ou relembrando acontecimentos” (Clark et
al, 2018). Todos temos pensamentos automáticos.
• Podem estar disponíveis à análise racional cuidadosa ou não (Clark et al,
1999).
• Acontece de forma rápida, na medida em que se significa uma situação.
=> Pessoas com depressão e t.ansiedade são “inundadas” por pensamentos
automáticos desadaptativos, distorcidos com consequências emocionais
dolorosas e comportamentos disfuncionais (Wrigth et al, 2019).
EXEMPLO:
Situação: Mãe pergunta por que a filha esqueceu o aniversário dela.
Pensamento automático => “Poxa, fiz besteira de novo. Nunca vou
conseguir agradá-la”. => Emoção: tristeza, raiva.
Fonte: Wrigth et al, 2019.
• O paciente pode apresentar melhoras e os pensamentos automáticos
excessivamente críticos continuarem em pessoas com diagnósticos de
depressão.
• Desesperança, baixa autoestima, fracasso na depressão são comuns.
• Previsões de perigo, prejuízo, falta de controle, vulnerável a ameaças na
ansiedaed.
AVISO:
• Às vezes, os pensamentos automáticos podem ser logicamente
verdadeiros e podem ser uma percepção adequada da realidade.
Ex: algum risco real como possibilidade de perder emprego, possibilidade de
acidente.
• Logo: a importância do diagnóstico. Pessoas com transtornos estão
susceptíveis a pensamentos automáticos distorcidos e,
consequentemente, comportamentos e emoções disfuncionais.
• Video 2 Modificando os pensamentos automaticos (youtube.com)
3) Erros cognitivos:
• É possível que pensamentos automáticos levem a equívocos nos
transtornos emocionais.
• Pode haver superposição de erros cognitivos (mais de um).
• A ação clínica da TCC é tentar dirimir esses erros.
“Os terapeutas normalmente ensinam os pacientes que o objetivo mais
importante é simplesmente reconhecer que se está cometendo erros
cognitivos – e não identificar todo e qualquer erro de lógica que esteja
ocorrendo” (Beck et al, 1989).
Fonte: Beck
4) Esquemas:
• “São crenças nucleares que agem como matrizes ou regras
subjacentes para o processamento de informações” (Beck, 2018).
• Função: selecionar, filtrar, codificar e atribuir significado às
informações vindas do meio ambiente.
• Estão “abaixo” das camadas do pensamento automático.
• Duradouros.
• Infância, experiências pessoas, educação, pais, traumas, sucessos.
• Os termos “esquemas” e “crenças nucleares” são, muitas vezes,
utilizados como sinônimos nos artigos científicos.
• A ação clínica foca em ensinar ao paciente que todas as pessoas têm
uma mistura de esquemas adaptativos (saudáveis) e crenças
nucleares desadaptativas.
• O terapeuta da TCC tem o objetivo de identificar e desenvolver os
esquemas adaptativos e, ao mesmo tempo, tentar modificar ou
reduzir a influência dos esquemas desadaptativos.
TIPOS DE ESQUEMAS DEFINIÇÃO Exemplos
Esquemas simples Regras sobre ambiente, “Seja um motorista defensivo”
gerenciamento prático das ou “uma boa educação é o que
atividades cotidianas ou leis da vale”.
natureza que podem ter pouco
ou nenhum efeito
sobre a psicopatologia.
Crenças e pressupostos Regras condicionais como “Tenho de ser perfeito para ser
intermediários afirmações do tipo “se-então”, aceito” ou “se eu trabalhar duro,
que influenciam a autoestima e a conseguirei ter sucesso”.
regulação emocional.
Crenças nucleares sobre si Regras globais e absolutas para “Não sou digna de amor”; “sou
interpretar as informações burra”; “sou um fracasso”; “sou
ambientais relativas uma boa amiga”; “posso confiar
à autoestima. nos outros”.
Fonte: Clarck et al, 1999.
VISÃO GERAL DOS MÉTODOS
TERAPÊUTICOS
• Antes de escolher e aplicar as técnicas, é preciso:
- desenvolver uma conceitualização individualizada
- compreender a estrutura psicológica única do
paciente e seus problemas
- articular essa organização psíquica à TCC
- considerar a relação terapêutica
- e quais técnicas para atingir resultados.
1) Duração e o foco na terapia
• O foco da terapia é voltado para o problema. Questões atuais.
• Formato de curto prazo. Varia com comorbidades, doenças crônicas.
• Caso o paciente conclua a terapia no tempo esperado: sessões em
“reforço intermitente”.
• Podem durar 45 a 50 minutos a sessão. Em pessoas internadas ou
psicoses, recomenda-se tempo mais curto (Kingdon e Turkington,
2004).
2) Conceitualização de caso
• Norteia diretamente cada pergunta, intervenção, ajustes,
planejamento das sessões.
• É composta por: (i) formulações resultado das (ii) informações da
avaliação diagnóstica do paciente, (iii) observações sobre o histórico
específico do paciente e (iv) um plano de tratamento detalhado.
3) Relação terapêutica
• Confiança
• Alto grau de colaboração
• “Empirismo colaborativo” (Beck et al, 1979).
• Terapeuta ativo.
Fluxo de conceitualização de caso (Wrigth et al, 2019).
4) Questionamento socrático
• Consiste em fazer perguntas ao paciente que estimulem a curiosidade
e a vontade de inquirir (Costa, 2017).
• Em vez de uma apresentação didática dos conceitos da terapia, o
terapeuta tenta fazer com que o paciente se envolva no processo de
aprendizagem.
• Objetivo é ajudar os pacientes a reconhecerem e modificarem os
pensamentos desadaptativos.
• “Descoberta guiada” (Wrigth et al, 2019).
5) Estruturação e Psicoeducação
• A estruturação é pensada por meio de agenda e feedback para
(i) maximizar a eficiência das sessões de tratamento, (ii) ajudar os
pacientes a organizar seus esforços em direção à recuperação e
(iii) intensificar o aprendizado.
• A agenda da sessão direciona de forma clara à sessão e permiti a
mensuração do progresso. Ex: “desenvolver um plano para voltar ao
trabalho”, “reduzir a tensão no relacionamento com meu filho”. Tópicos
importantes ligados ao problema. Sem digressão.
• Tanto o paciente quanto o terapeuta dão e recebem feedback para
confirmar a compreensão e para moldar o direcionamento da sessão.
• Tarefas de casa. Estabelecimento de metas.
• As experiências de ensino (psicoeducação) nas sessões
envolvem usar situações da vida do paciente para ilustrar os
conceitos.
• Dessa forma, o terapeuta dá breves explicações e as
acompanha com perguntas que promovam o envolvimento
do paciente no processo de aprendizagem (Costa, 2017).
• Alguns exemplos estratégicos de psicoeducação são a leitura
de livros de autoajuda, apostilas, questionários de avaliação e
programas de computador.
• Miniaulas. Caderno de notas do paciente. Prescrever
exercícios.
6) Reestruturação cognitiva
• Objetivo de identificação de pensamentos automáticos desadaptativos,
e/ou erros cognitivos e crenças disfuncionais. Reconhecer e modificar
esses padrões.
• Questionamento socrático, registros de pensamento.
• Identificar pensamentos automáticos sob a forma escrita incita um
estilo racional de pensamento.
• Identificar erros cognitivos, examinar as evidências (análise pró e
contra), reatribuição (modificar o estilo atributivo), listar alternativas
racionais e ensaio cognitivo (nova maneira de pensar por ensaio com
geração de imagens ou role-play).
• Prática repetitiva.
7) Prevenção de Recaídas:
• Proposta para finalização do tratamento.
• O terapeuta ajuda o paciente a identificar problemas em potencial, os
quais têm uma alta probabilidade de causar dificuldades.
• Depois, são utilizadas técnicas de treinamento para praticar maneiras
eficazes de enfrentamento, considerando as habilidades aprendidas.
Por exemplo, uma pessoa que aprende a reconhecer erros cognitivos
nos pensamentos automáticos pode ser mais capaz de evitar o
pensamento catastrófico em situações estressantes com as quais
poderá se deparar após o término da terapia.
REFERÊNCIAS:
• COSTA, Nazaré. Terapia: sofrimento necessário? Rev. Bras. de Terapia
Comportamental e Cognitiva, V nº 1, p. 1-10, 2017.
• WRIGTH, J. H., BROWN, G., THASE, K., BASCO, M. Aprendendo a
terapia cognitiva comportamental. Artmed, 2019.
• REIS, Priscila Pereira, MAZONI, Cláudia Galvão. Prática e Pressupostos
Teóricos da Terapia Cognitivo- Comportamental. 2021.
• BECKER, Judith S. Terapia cognitvo comportamental: teoria e prática.
Porto Alegra, Artmed, 2014.
• ANDRETTA, Ilana, OLIVEIRA, Margareth S. Manual prático de terapia
cognitivo comportamental. Casa do Psicólogo, 2011.