O sentimento dum Ocidental
Horas mortas
Luz baça das estrelas:
«Vêm lágrimas de luz
Noite profunda dos astros com olheiras»
(metáfora e personificação)
• Alusão a um ambiente pastoril:
• Registo de sensações «As notas pastoris de uma longínqua flauta»
visuais e auditivas:
«lágrimas de luz»
• Desejo de perfeição e imortalidade:
«Um parafuso cai nas lajes» «Se eu não morresse nunca […]»
• Nova evocação do passado português
(«frotas dos avós»), aliada ao desejo
• Desejo de evasão:
de restaurar a grandeza no «porvir»
«Enleva-me a quimera azul explorando «todos os continentes»
de transmigrar»
Dicotomia (repetição) espacial e temporal:
Realidade — Presente — As «nossas ruas» Sonho — O porvir — A vastidão
• O aprisionamento • A vastidão por explorar
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• A estagnação • O dinamismo e a procura
Ideias que
prevalecem
na conclusão «triste cidade»
do poema • sem liberdade:
onde vivem os «emparedados», A cidade é
«sem árvores», no «vale das muralhas» o espaço da
«dor humana»
• violenta e decadente:
onde «os cães [doentes] parecem lobos»
Correções Manual, pág. 319
1. O sujeito poético assume o desejo de se evadir e de atingir um espaço (real ou
imaginário) diferente por se sentir envolvido na escuridão do «teto fundo» (v. 1) da
noite, no qual o surpreendem as «lágrimas de luz dos astros», «os olhos dum
caleche [...] sangrentos» (v. 8) e os sons ouvidos no silêncio (vv. 6-7),
nomeadamente «um parafuso» que «cai nas lajes» (v.6), o ranger das «fechaduras»
(v. 7) e «as notas pastoris de uma longínqua flauta» (v. 12).
2. O som da flauta pastoril escutado ao longe introduz na descrição do espaço
urbano a referência ao ambiente campestre que se lhe opõe, sugerindo a distância
«longínqua» que o separa da cidade (em termos físicos, mas, sobretudo, sociais e
humanos) e as vidas «infaustas» de quem apenas pode captar essa alternativa
positiva à distância.
3. O presente é o tempo da escuridão (vv. 26, 27, 29) e da opressão, dos «emparedados» (v.
25) que vivem «no vale escuro das muralhas» (v. 26) e na «massa irregular / De prédios
sepulcrais, com dimensões de montes» (vv. 41-42). É marcado ainda pela decadência moral e
social, exemplificada pelos «tristes bebedores» (v. 32) e pelas «imorais» (v. 39) e pelas
referências à falta de segurança (vv. 27-28, 33 e 37). O futuro é sonhado como um tempo de
glória, de harmonia social e de pureza, em que os descendentes da geração atual (v. 21)
reconquistam o espírito épico dos antepassados, exploram «todos os continentes» (v. 23) e as
«vastidões aquáticas» (v. 24) e privilegiam, no espaço comum, as «mansões de vidro
transparente» (v. 16) e «habitações translúcidas e frágeis» (v. 20).
4. Com o uso dos adjetivos («sujos», «ósseos, febris, errantes»), as características dos cães são
referidas antes da sua identificação. O advérbio «amareladamente» sugere o efeito produzido
pela visão dos cães. Ambos os recursos contribuem para destacar a impressão causada no
sujeito poético pelo encontro com os animais, mais do que descrevê-los de forma objetiva.
5. O poema termina com um reforço da imagem negativa da cidade que se
construíra no decorrer das suas quatro partes. Com recurso à metáfora («os
emparedados» que vivem no «vale escuro das muralhas», vv. 25-26, e em «prédios
sepulcrais», v. 42), à hipérbole (v. 42), à personificação (v. 43) e à comparação («A
Dor humana [...] tem marés, de fel, como um sinistro mar!», vv. 43-44), as últimas
referências a Lisboa remetem para o seu ambiente escuro, sujo, imoral, violento e
degradante. Assim, a cidade é descrita como espaço de dor e sofrimento,
antecâmara da morte.