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Metodologia Jurídica Empresarial

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Noções Fundamentais de Direito

L IC E N C IAT U RA E M C I Ê N C IA S E M P R E S A R IA IS

Docente Mercília Pereira Gonçalves


[email protected]
1
Parte III – Metodologia Jurídica

L IC E N C IAT U RA E M C I Ê N C IA S E M P R E S A R IA IS

Docente Mercília Pereira Gonçalves


[email protected]
2
Ciência e Metodologia
Metodologia Jurídica

O estudo do Direito é susceptível de ser encarado de diferentes pontos de vista e, por isso, pode ser objeto
de várias ciências que se distinguem pelo objetivo e pelo método que utilizam. Destacamos a:

- Dogmática e técnica;

- Filosofia;

3
História;

Afastadas as perspetivas filosófica e histórica, objeto, respetivamente, da Filosofia do Direito e da História


do Direito, ocupar-nos-emos, tão-só, da ciência jurídica dogmática e da técnica: aquela posiciona-nos o
conhecimento do justo e do injusto; esta é o modo de aplicar e comunicar a ciência, ou seja, o seu aspeto
prático.

4
A ciência jurídica dogmática é uma abordagem sistemática que visa interpretar as normas e princípios que
compõem a ordem jurídica vigente. O seu objetivo central é fornecer um conhecimento claro sobre justiça
e injustiça, ajudando a fundamentar decisões jurídicas e a orientar a prática do direito.

5
Funções da dogmática

Uma das funções principais da dogmática é a análise crítica das normas. Isto inclui a
identificação dos fundamentos que sustentam as leis e o exame de sua aplicação em casos
concretos. Além disso, a dogmática promove uma reflexão sobre os princípios que orientam as
normas, permitindo discutir as suas implicações sociais.

6
Técnica jurídica

Por outro lado, a técnica jurídica refere-se ao modo como a ciência jurídica é aplicada e
comunicada na prática. Trata-se do aspecto prático da ciência jurídica, envolvendo a forma como
juristas, advogados e juízes utilizam o conhecimento dogmático para resolver conflitos,
interpretar leis e comunicar decisões.

7
Importância da técnica

A técnica jurídica é crucial para a efetividade do sistema jurídico, pois determina como as
normas são operacionalizadas no quotidiano das instituições e na vida das pessoas. Assim, ela
desempenha um papel vital na resolução de conflitos e na interpretação das leis, garantindo que
a justiça seja aplicada de maneira justa e equitativa.

8
Interação entre dogmática e técnica

A interação entre a ciência jurídica dogmática e a técnica jurídica é fundamental para a construção de um
sistema legal eficaz.

9
Considera-se hoje, que a dogmática é uma verdadeira ciência porque procura interpretar a ordem jurídica e
porque utiliza métodos que aspiram a um conhecimento racionalmente comprovável do direito vigente.

A dogmática decide os problemas jurídicos concretos; fundamenta-se nos princípios que sustentam as
normas jurídicas; verifica lacunas; apresenta critérios para solucionar as questões jurídicas. Enfim, cumpre
as funções que caraterizam uma ciência: a clarificação e a formulação de respostas.

10
Metodologia jurídica
Afirmada a natureza científica da dogmática, importa determinar o seu método: o caminho ou percurso a
seguir para atingir o seu objetivo.

O seu estudo pertence à Metodologia jurídica, que se define como “a razão (racionalidade) ou o
pensamento de um proceder que visa um fim específico”.

11
O processo metodológico envolve várias etapas, incluindo a identificação do problema, a pesquisa de
normas aplicáveis, a interpretação dos princípios jurídicos e a formulação de soluções.

Assim, a Metodologia Jurídica é fundamental para a dogmática, pois proporciona um caminho racional para
a aplicação do direito e a busca pela justiça.

12
Simplesmente, os pensamentos jurídicos revelam-se “entidades culturalmente históricas: são função da
concepção do direito e dos seus objetivos práticos específicos por que ele se orienta em cada época e nos
diversos sistemas jurídicos.

Mais do que isso, são função inclusivamente do sentido fundamental da cultura englobante, do sistema
cultural global”; “daí as profundas variações diacrónicas e as não menos diferenças sincrónicas do
pensamento jurídico” desde o romano ao atual passando pelo medieval e iluminista.

Por isso, torna-se necessária uma referência às principais orientações metodológicas.

13
Orientações metodológicas
Pensamento jurídico romano

A jurisprudência (iuris prudentia) foi, em Roma, a ciência do Direito. Desempenhava um papel essencial na
formação do sistema jurídico romano.

A jurisprudência tinha três funções principais:

- Resolver Casos Práticos (Responsa): Emitia pareceres para resolver disputas e esclarecer a aplicação das
normas.

- Aconselhar Particulares (Cavere): Orientava indivíduos na realização de negócios jurídicos, garantindo


conformidade com o direito.

14
- Acompanhar Processos (Agere): Assistia as partes durante a tramitação de processos judiciais,
defendendo seus interesses no tribunal.

15
Um aspecto importante da jurisprudência romana é sua função criadora do direito. Juristas como
Pomponius enfatizavam a necessidade de aperfeiçoamento contínuo do direito.

Pomponius afirmava: “O direito não pode subsistir se não houver um jurisperito por quem diariamente
possa ser aperfeiçoado.”Esta visão reflete a necessidade de adaptação do direito às novas realidades
sociais e jurídicas.

16
A contribuição dos juristas romanos foi fundamental para moldar o entendimento do que constitui justiça e
como as normas devem ser aplicadas. As suas reflexões ajudaram a evoluir o sistema jurídico, influenciando
tradições jurídicas contemporâneas.

Assim, o pensamento jurídico romano, através da jurisprudência, estabelece as bases para a ciência do
direito moderno, destacando a importância do papel ativo dos juristas na criação e evolução do direito.

17
Do labor da iurisprudentia resultou um Direito que podemos caraterizar destacando algumas notas:

- As leis em Roma eram relativamente poucas e, em sua maioria, tratavam de questões de direito público,
como a organização do Estado e as relações entre cidadãos e autoridades. Essa escassez de leis explica o
desinteresse dos juristas romanos pela criação de códigos legais.

- Com a falta de leis, a jurisprudência teve um papel ativo na criação de soluções para casos práticos que
não estavam previstos nas normas existentes. Os juristas desenvolviam novas ações legais para resolver
problemas, em vez de se basear apenas na letra da lei.

18
- As soluções jurídicas dos juristas romanos eram marcadas por naturalidade e simplicidade. O espírito
prático dos jurisconsultos justificava a ausência de regras gerais e definições formais.

- Os juristas romanos elaboraram conceitos jurídicos precisos e preocuparam-se em separar o jurídico dos
costumes sociais e das regras morais. O direito foi visto como algo distinto e autônomo, permitindo a sua
utilização em contextos diversos.

- Na Idade Média, o Direito Romano foi considerado ratio scripta (a razão escrita), influenciando o
desenvolvimento do direito na Europa.

19
- A jurisprudência romana respeitava a tradição, unindo indissolúvel e continuamente os costumes dos
antepassados aos atuais. Essa ligação proporcionava firmeza e segurança, ajudando a enfrentar inovações e
mudanças sociais. Como resultado, a evolução das instituições jurídicas era lenta, prudente e conservadora,
garantindo que as mudanças respeitassem o que já havia sido estabelecido.

6. Outro conceito central do direito romano era a conciliação entre liberdade e autoridade.Cícero
expressou essa ideia: “Somos escravos das leis para podermos ser livres”. Isto significa que, ao seguir as
regras, as pessoas garantem a sua própria liberdade e a segurança da sociedade. Essa visão justifica o rígido
formalismo nos negócios jurídicos do antigo direito civil.

20
Pensamento jurídico medieval

Nos finais do século XI, o Direito Romano e a ciência jurídica renascem em Bolonha. Explicam este
“renascimento” os seguintes fatores:

- políticos: natureza política;

– religiosos;

21
- económicos;

- culturais;

22
A Escola dos Glosadores, fundada por Irnério em Bolonha, tornou-se o centro do estudo do Direito
Romano, interpretando o Corpus Iuris Civilis.

Os glosadores utilizavam o método exegético para buscar a vontade do legislador e redigiam glosas com
interpretações dos textos justinianeus.

23
Além de Irnério, merecem referência os chamados “quatro doutores”: Bulgarus, Martinus, Hugo e Jacobus,
a que se seguem Azão e Acúrsio que, depois do período áureo da Escola (quando a finalidade, que se
propusera, já se encontrava esgotada), elaboraram uma coletânea de glosas denominada Magna Glosa,
Glosa Ordinária ou simplesmente Glosa que as nossas Ordenações viriam a consagrar como direito
subsidiário. Tal significava que as interpretações das glosas podiam ser usadas para resolver questões
jurídicas quando a legislação escrita não era suficiente.

24
À Escola de Bolonha sucedeu, no século XIV, a Escola dos Comentadores (também denominada Escola
Bartolista, Escolástica, dos Práticos, dos Consultores ou dos Pós-Glosadores).

Bártolo, quiçá “o mais influente jurista de todos os séculos”, Cino de Pistóia, Baldo, Paulo de Castro e Jasão
de Mayno são, entre outros, os jurisconsultos que marcaram a nova Escola.

25
Numa perspetiva mais lógico-sistemática, os Comentadores estudaram não diretamente o Corpus Iuris
Civilis, mas as glosas e socorreram-se de outras fontes, designadamente costumes locais, direitos
estatutários e Direito Canónico. E utilizaram o método dialético ou escolástico que os Glosadores também
não tinham ignorado - A dialética é um método de argumentação que envolve a troca de ideias e a busca
pela verdade através da discussão.

26
Por isso, tem-se dito que “pode encarar-se a passagem dos Glosadores aos Comentadores sem solução de
continuidade”; ou que não é correto apresentar as duas Escolas separadas “por um fosso bem demarcado”,
porque é certo “existirem inúmeros pontos de contacto entre elas”.

27
Através dos Glosadores e dos Comentadores, o direito prudencial conheceu, na Idade Média, um grande
desenvolvimento, referindo-se que este período “foi, por excelência, o do reinado dos juristas”.

Porquê? Porque a insuficiência do direito local e o caráter fragmentário e localista do costume exigiam a
construção dum sistema jurídico suscetível de servir uma sociedade cada vez mais complexa e só os
prudentes podiam, através do Direito Romano renascido, realizar essa obra.

28
A sua metodologia é predominantemente analítico-problemática:

É uma abordagem que combina a análise detalhada de textos e conceitos jurídicos com a identificação e
resolução de problemas específicos dentro do contexto do Direito. Esta metodologia é especialmente
relevante no estudo do Direito, pois permite aos juristas compreender e aplicar normas de maneira mais
eficaz e contextualizada.

29
A arte da inovação é constituída pelos seguintes elementos que só formalmente (porque se correlacionam
substancialmente) é possível separar:

1. as leges (leis) – textos cujos significados importa conhecer através da interpretação;

2. as rationes (razões) – são os argumentos (de justiça, direito natural, de oportunidade e de lógica);

3. as auctoritates (autoridades).

30
Em consequência, podemos caraterizar o pensamento jurídico medieval através de duas notas
fundamentais:

A) entende o direito como uma normatividade que se infere das fontes, ou seja, dos textos prescritivos
imputados quer ao imperador (Corpus Iuris Civilis) quer aos soberanos (leges) ou poderes políticos locais
(estatutos) quer ao Papa e a outras autoridades eclesiásticas (Corpus Iutris Canonici, decretais, cânones,
etc.);

31
B) Buscava interpretar profundamente os textos antigos (hermenêutica) e usava um método de debate
lógico e argumentativo (dialético) para chegar a conclusões jurídicas bem fundamentadas.

32
Pensamento jurídico moderno

Durante os séculos XVII e XVIII impôs-se, no centro e oeste da Europa, uma nova corrente do pensamento
jurídico denominada Escola do Direito Natural Racionalista ou Escola Moderna do Direito Natural. Fundada
por Grócio e tendo como figuras mais representativas Pufendorf, Thomasius e Wolff, esta Escola parte
duma nova antropologia que vê no homem não uma obra divina, mas um ser natural; e, em consequência,
o novo pensamento liberta-se da Teologia e defende a autonomia científica do Direito Natural como ciência
dos princípios supremos da convivência social.

33
Na sua génese encontram-se fatores como: o Humanismo; a Segunda Escolástica Espanhola do Direito
Natural; as guerras religiosas; a Reforma; o laicismo e o racionalismo.

34
No cerne do pensamento jusracionalista está a ideia de sistema constituído por normas que derivam
logicamente umas das outras e têm, numa tendência psicológica da natureza empírica do homem, a sua
base e ponto de partida: a sociabilidade (Pufendorf), a felicidade (Thomasius), o egoísmo (Hobbes), a
bondade (Rousseau).

35
A crítica ao pensamento jusracionalista aponta que ele vê as leis como fixas e imutáveis, sem considerar que
a sociedade muda ao longo do tempo, ou seja, ele é ahistórico. Em vez de oferecer princípios de valores (um
sistema axiológico), o jusracionalismo foca apenas em regras e normas para regular comportamentos. Além
disso, esse pensamento reduz a realidade a regras rígidas e lógicas.

36
Escola da Exegese. Jurisprudência dos
Conceitos.
A relevância do positivismo jurídico: estamos aqui perante uma atitude intelectual de todos os tempos,
embora como doutrina sistemática e facto cultural dominante e generalizado pertença ao Século XIX, a
denominada “época positivista por excelência” (Bigotte Chorão).

37
As caraterísticas do positivismo jurídico de
acordo com uma perspetiva funcional
1. o conceito de Direito;
2. as fontes de direito;
3. o método;
4. a epistemologia.

38
O Conceito de Direito
O Direito é um comando imposto pela vontade do legislador e a validade das suas normas “afere-se por
critérios de vigência (validade formal) e de eficácia (validade social) podendo a lei injusta ser válida e
vinculativa”.

39
As fontes de Direito
À lei, que chega a identificar-se com o próprio direito, devemos uma obediência absoluta ou incondicional,
porque as “intenções axiológico-normativas são da exclusiva responsabilidade do legislador”.

40
O método
O juiz limita-se a aplicar a norma (geral e abstrata) ao caso concreto. E, em nome da plenitude lógica do
ordenamento jurídico, nega-se a existência de verdadeiras lacunas.

41
A Epistemologia
A Filosofia do Direito afastou-se da ciência do direito, que passou a seguir métodos rígidos. Isto levou à
rejeição da ideia de que a jurisprudência poderia ser científica, resultando num agnosticismo axiológico —
uma falta de clareza sobre valores.

Em resumo, ao se afastar da reflexão sobre valores e ética, a Filosofia do Direito perdeu a capacidade de
entender completamente a natureza e a validade das leis.

42
A “Escola da Exegese”: o positivismo
exegético ou legalista
As caraterísticas da Escola da Exegese

1. Identifica o direito com a lei e esta com o Código Civil. A lei é a expressão da vontade geral, ou seja, do
poder legislativo a quem a Nação atribuiu o poder de criar o direito. E como a vontade geral é sempre justa,
não há leis injustas: presume-se que o legislador teve em consideração o necessário e tudo fez para que as
leis sejam boas, morais e adequadas aos fins.

43
2. A interpretação deve procurar a intenção do legislador que prevalece sobre o sentido literal dos
vocábulos em que se expressa.

3. não reconhece a existência de verdadeiras lacunas, porque considera o sistema jurídico completo e
fechado (art. 4.º do Código Civil Francês).

44
A crítica
No positivismo exegético, a lei deixou de ter a mística e a santidade que se pensava que tinha por ser criada
de forma democrática. Agora, reconhece-se que a lei é um produto humano, e como qualquer coisa feita
por humanos, pode ser boa ou má, justa ou injusta.

45
A dinâmica da lei
As orientações da metodologia jurídica:

- “A Escola do Direito Livre”

- “A Jurisprudência dos Interesses”

- “O pensamento jurídico contemporâneo”.

46
A Escola do Direito Livre
A Escola do Direito Livre é uma corrente do pensamento jurídico que surgiu na Alemanha entre 1900 e
1930, embora com precursores no século XIX.

Esta Escola salientou a importância da livre criação do direito, opondo-se à aplicação esquemática da lei,
típica do positivismo jurídico. Assim, a decisão de um juiz (sentença judicial) é vista como uma ação
criativa, uma tarefa pessoal essencial para alcançar a justiça.

47
A Escola do Direito Livre criticou as ideias básicas do pensamento jurídico positivista. Ela opôs-se ao
legalismo do Estado e à ideia de que apenas a lei é fonte do direito, defendendo a importância de outras
fontes, como costumes, decisões judiciais e a própria ciência do direito. Além disso, argumentou que o
direito legal tem tantas lacunas quanto palavras, ou seja, que sempre há espaços não cobertos pelas leis.

48
A Escola do Direito Livre rejeitou a ideia de que o direito é um sistema puramente lógico e que pode ser
aplicado de forma totalmente racional e dedutiva. Em vez disso, defendeu que o direito e o pensamento
jurídico estão ligados a valores, normas e também a aspectos práticos e emocionais, conectando-se
diretamente com a vida e as necessidades da sociedade. Portanto, toda a decisão jurídica envolve um
julgamento prático baseado nesses valores e na realidade social.

49
E mostra-nos um entendimento do direito que a permite caraterizar através das seguintes notas:

1. o momento fundamental da manifestação do direito é a sua realização concreta, ou seja, a decisão


judicial.

2. o direito é criado não pela razão, mas pela vontade, movida pela intuição axiológica emocional; pela
intuição concreta do justo; pela consciência jurídica; pelo sentimento do direito, etc. O objetivo a atingir é a
maior justiça;

50
3. A lei funciona completamente como elemento de justificação ou de controlo normativo-jurídico a
posteriori sobre a vontade e a intuição. Cumpre uma exigência de possível objetividade;

4. A decisão judicial pode ser contra legem (contra a lei), embora em situações limitadas: se a lei não
oferecer uma solução indubitável; e se o juiz concluir que, ao tempo da decisão, o legislador teria
provavelmente prescrito outra solução.

51
A Escola do Direito Livre foi um movimento que não conseguiu impor-se. Rapidamente foi superada por
outra corrente do pensamento jurídico que, sensível a considerações racionais, substituiu a positivista
dedução lógico-formal não pela vontade ou sentimento, mas pela investigação dos interesses que a lei
acolhe e valora: a Jurisprudência dos Interesses.

52
Jurisprudência dos Interesses
A Jurisprudência dos Interesses, também denominada Escola de Tubinga, é uma corrente da metodologia
jurídica que se impôs a partir do início do século XX e, com assinalável êxito, orientou o pensamento
jurídico europeu continental até à 2.ª Guerra Mundial principalmente no âmbito do direito privado.

A Escola de Tubinga contribuiu para uma evolução do pensamento jurídico ao promover uma abordagem
mais pragmática e orientada para resultados. Essa perspectiva ajudou a moldar a forma como o direito é
aplicado, incentivando uma análise mais contextualizada e humanizada das normas.

53
A Jurisprudência dos Interesses baseou-se na ideia de "finalismo jurídico" proposta por Ihering, que tinha
uma visão mais prática e voltada para as necessidades sociais. Assim, Ihering defendia a criação de um
novo método jurídico que desse mais atenção aos interesses e necessidades da sociedade.

54
Em consequência, surgiu um novo movimento com uma metodologia reformadora, que proclama:

1. a substituição da intenção formalista

2. a existência de lacunas

3. a decisão concreta como centro das preocupações metodológicas

4. o recurso a fatores normativos extralegais (interesses, fins, valores)

55
5. a necessidade de se recorrer à intenção de justiça e da sua conciliação com a segurança jurídica

6. a recusa do lógico-inteletual e a afirmação de que o direito e o pensamento jurídico pertencem à esfera


axiológico-normativa e prático-emocional.

56
A Jurisprudência dos Interesses pertence a este movimento reformador. Podemos caraterizá-la através das
seguintes notas:

1. o juiz deve obediência à lei, por ser a expressão da comunidade jurídica de que o legislador é legítimo
representante.

2. a lei é um imperativo, cujo conteúdo consiste na resolução de um conflito de interesses (materiais e


ideias).

3. o direito legal é lacunoso porque é impossível ao legislador prever e valorar todos os conflitos de
interesses.

57
Quanto à ciência jurídica, a Jurisprudência dos Interesses assinala-lhe uma índole eminentemente prática.
Ocupa-se de problemas:

1. normativos: orienta o juiz na aplicação e na integração das normas jurídicas, adequando as soluções aos
casos concretos. É a tarefa principal, que revela a sua dimensão prática.

2. de formulação: expõe as soluções do direito em geral, segundo regras de expressão, de conceitualização


e de sistematização. É uma tarefa secundária que simplifica e ordena, fornecendo uma visão clara do
conjunto do direito.

58
Estamos perante um positivismo jurídico sociológico, porque acaba por reduzir os fatores juridicamente
relevantes a condições e factos psicológicos e sociais para os submeter a um tratamento empírico-
sociológico.

59
Pensamento jurídico contemporâneo

O pensamento jurídico sofre, a partir dos últimos cem anos, duma crise profunda que tarda em encontrar
solução. O direito ainda não conseguiu entender e acompanhar totalmente as mudanças e necessidades da
sociedade. Nas palavras de Wieacker, “o futuro da ciência do direito privado está ainda na sombra” e “tem
ainda muito que fazer para, numa sociedade em mutação, afirmar ou readquirir a sua situação de outrora”.

Essa metáfora revela a incerteza e a falta de clareza sobre como o direito pode se adaptar e reafirmar sua
relevância em um mundo em constante mudança.

60
Castanheira Neves afirma que estamos numa época em que o futuro cultural e humano do Ocidente está
em jogo. Ele acredita que é essencial entender o verdadeiro sentido do direito: não como uma imposição
de poder ou uma ferramenta técnica para alcançar certos objetivos, mas sim como algo que reflete valores
humanos e responsabilidade. Em outras palavras, para ele, o direito deve expressar princípios éticos e a
responsabilidade das pessoas, não apenas servir aos interesses de quem detém poder.

61
Com efeito, superado o positivismo jurídico, procura-se recuperar a distinção clássica entre ius e lex (direito
e lei); reconhece-se que o direito é um fenómeno cultural histórico e por isso, concede-se uma atenção
especial à dimensão concreta do direito, ou seja, à sua reconstrutiva concretização; considera-se o sistema
dinâmico e aberto a novos princípios; apela-se à razão contra a irracionalidade;

62
enfim, afirma-se que a ciência jurídica tem uma índole prática, quer porque auxilia a jurisprudência na
resolução dos casos concretos, quer porque descobre novos problemas e sugere as soluções jurídicas
adequadas, quer porque ajuda o legislador na preparação da legislação.

63
Importa, no entanto, traçar um quadro dos modelos de juridicidade que nos permita compreender melhor a
opção que inevitavelmente se impõe:

1. Normativismo legalista – Apoia-se na nova visão que o homem tem em si: desvinculado da ordem teológico-
metafísico-cultural transcendente, o seu saber e a sua ação fundamentam-se, respetivamente, na razão e na
liberdade.

2. Funcionalismo jurídico - O Direito é considerado um instrumento, um meio ao serviço de exigências


provindas de instâncias e forças políticas, sociais, culturais, económicas, etc.

3. Jurisprudencialismo – Considera o pensamento jurídico um pensamento prático-jurisprudencial: a sua


função primordial é contribuir para a resolução dos problemas práticos.

64
Expostos, nesta síntese breve, os modelos de juridicidade, supomos que à Ciência do Direito não resta
outra via, se quiser continuar a assumir a responsabilidade que a História onera e o futuro exige.

Referimo-nos naturalmente ao Jurisprudencialismo.

65
Síntese: Pensamento jurídico romano
A jurisprudência foi, em Roma, a ciência do Direito.

A jurisprudência tinha três funções principais:

- Resolver casos práticos (responsa);

- - Aconselhar particulares (cavere);

- - Acompanhar processos.

--

66
- O pensamento jurídico romano, através da jurisprudência, estabelece as bases para a ciência do direito
moderno, destacando a importância do papel ativo dos juristas na criação e evolução do direito.

67
Do labor da jurisprudência resultou um direito que podemos caraterizar destacando algumas notas:

- As leis em Roma eram relativamente poucas;

- Com a falta de leis, dá-se importância à jurisprudência;

- As soluções jurídicas dos romanos eram marcadas por naturalidade e simplicidade;

- Os juristas romanos elaboraram conceitos jurídicos precisos e preocuparam-se em separar o jurídico dos
costumes sociais e das regras morais;

68
- A jurisprudência romana respeitava a tradição, unindo os costumes dos antepassados aos
atuais.

69
Pensamento jurídico medieval
Nos finais do século XI, o Direito Romano e a ciência jurídica renascem em Bolonha. Explicam este
“renascimento” os seguintes fatores:

- políticos;

- religiosos;

- económicos;

- culturais.

70
Os glosadores utilizavam o método exegético para buscar a vontade do legislador e redigiam glosas com
interpretações dos textos justinianeus.

71
Foi elaborada uma coletânea de glosas denominada Magna Glosa, Glosa Ordinária ou simplesmente Glosa
que as nossas Ordenações viriam a consagrar como direito subsidiário.

72
- À Escola de Bolonha, sucedeu, no século XIV, a Escola dos Comentadores (também denominada
Escolástica)

73
Em consequência, podemos caraterizar o pensamento jurídico medieval através de duas noções
fundamentais:

- entende o direito como uma normatividade;


- buscava interpretar profundamente os textos antigos e usava um método dialético;

74
Pensamento jurídico moderno
- Escola Moderna do Direito Natural;

- Fundada por Grócio;

- liberta-se da Teologia e defende a autonomia científica do Direito Natural.

75
Crítica ao pensamento jusracionalista:

- Vê as leis como fixas e imutáveis.

76
A Escola da Exegese: o positivismo
exegético ou legalista
- Identifica o direito com a lei e esta com o Código Civil.

- A interpretação deve procurar a intenção do legislador que prevalece sobre o sentido literal
dos vocábulos em que se expressa.

- Não reconhece a existência de verdadeiras lacunas, porque considera o sistema jurídico


completo e fechado (art. 4.º do Código Civil Francês).

77
- A lei é um produto humano, e como qualquer coisa feita por humanos, pode ser boa ou má, justa ou
injusta.

78
Dinâmica da lei
- A Escola do Direito Livre;

- A Jurisprudência dos Interesses;

- O pensamento jurídico contemporâneo.

79
Escola do Direito Livre
- Esta Escola salientou a importância da livre criação do direito;
- Criticou as ideias básicas do pensamento jurídico positivista;

- Rejeitou a ideia de que o direito é um sistema puramente lógico e que pode ser aplicado de
forma totalmente racional e dedutiva.

80
Jurisprudência dos Interesses
- Finalismo jurídico proposto por Ihering;

81
Pensamento jurídico contemporâneo
- Distinção entre ius e lex (direito e lei;

- Reconhece-se que o direito é um fenómeno cultura histórico e por isso, concede-se uma
atenção especial à dimensão concreta do direito, ou seja, à sua reconstrutiva concretização;
considera-se o sistema dinâmico e aberto a novos princípios; apela-se à razão contra a
irracionalidade.

- Afirma-se que a ciência jurídica tem uma índole prática, quer porque auxilia a jurisprudência
na resolução dos casos concretos, quer porque descobre novos problemas e sugere as soluções
jurídicas adequadas, quer porque ajuda o legislador na preparação da legislação.

82
À Ciência do Direito não resta outra via, se quiser continuar a assumir a responsabilidade que a História
onera e o futuro exige.

Referimo-nos naturalmente ao Jurisprudencialismo.

83

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