Processos
autodestrutivos na
infância, adolescência
e juventude
Francine Porfirio
Quem são a criança, o adolescente e o jovem de hoje?
Sociedade
Estrutura política
e social
Comunidade
institucional
Família e amigos
Escola e Igreja
Sujeito Filogenética
Ontogenética
Cultura
BIO
PSICO Sujeito ESPIRITUAL
Olhar integral
SOCIO
Os fenômenos humanos
devem ser entendidos
com humanidade.
Em que mundo
vivemos?
Sociedade do cansaço
(Byung-Chul Han)
“...a sociedade do século XXI não é mais
disciplinar, mas uma sociedade de atuação.
Tampouco são seus habitantes chamados
‘sujeitos de obediência’, mas ‘sujeitos de
desempenho’. Esses sujeitos são
empreendedores de si mesmos.”
VOCÊ PODE!
“A violência da sociedade sobre os seus membros não desapareceu,
mas foi camuflada e baseia-se agora na autoexploração do sujeito.
Isto é muito mais eficaz do que a exploração pelos outros, porque é
acompanhado por um sentimento de liberdade. O explorador é o
mesmo explorado. Vítima e carrasco não podem mais se diferenciar.
Essa autorreferencialidade gera uma liberdade paradoxal, que, por
causa das estruturas de obrigação imanentes a ela, torna-se violência
[…] Nesta sociedade de obrigação, cada um carrega com ele seu
campo de trabalho forçado.”
Transtornos da saúde
mental
Ansiedade e depressão
Automutilação e suicídio
Comportamento antissocial
Neurobiologia da saúde mental
Há hormônios responsáveis pela regulação do humor, da
memória, da atenção e principalmente das sensações de prazer.
Quando estão em baixos níveis, podem levar a desequilíbrios
neuroquímicos que atuam na depressão, ansiedade, baixa
capacidade de memorização e concentração, sensação de
bem-estar e felicidade.
DOPAMINA / SEROTONINA / OCITOCINA
NORADRENALINA / ADRENALINA
Fatores de risco
Histórico genético Uso excessivo de internet e redes sociais
Práticas educativas negativas Sedentarismo e dieta desregrada
(negligência, humor instável, abuso físico, Problemas cardíacos
psicológico e sexual, disciplina relaxada e
supervisão estressante) Separação conjugal
Transtornos psiquiátricos correlatos Estresse e/ou doença crônica
Traumas físicos ou psicológicos Déficit de habilidades sociais
Disfunções hormonais Homofobia e outras violências
Excesso de peso Falta de rede de apoio
Vícios (cigarro, álcool e drogas ilícitas) Ambiente ansiogênico,
violento ou invalidante
Fonte: https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/brasil-e-o-pais-mais-deprimido-e-ansioso-da-america-latina/
5,8% da população brasileira sofre de depressão
9,3% da população brasileira sofre de ansiedade
Ansiedade
• Mecanismo de antecipação de acontecimentos futuros (diferente do
medo, que é uma reação a ameaças concretas).
• É natural preparar-se para eventuais situações aversivas.
• O transtorno começa quando o sujeito passa a não conseguir mais
reagir adequadamente às situações, sente-se travado pelas
preocupações, tem sua vida afetada pela ansiedade.
Sintomas da ansiedade
Preocupações excessivas interferem na qualidade de vida.
Baixo rendimento em atividades diárias.
Sentimento de que os pensamentos são incontroláveis.
Angústia constante, medo irracional, insegurança, irritabilidade.
Insônia, falta de concentração, pensamentos confusos.
Tensão muscular, problemas gastrointestinais, sensação de desmaio, tontura.
Sensação de ameaça iminente.
Engloba: transtorno de ansiedade generalizada, síndrome do pânico,
transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e estresse pós-traumático.
Depressão
• Perda ou diminuição do interesse e prazer pela vida.
• Redução de estímulos reforçadores em comparação a estímulos
aversivos.
• Alterações fisiológicas, como baixas no sistema imune e aumento de
quadros inflamatórios do organismo (fator de risco para doenças
cardiovasculares).
Sintomas da depressão
Variação de humor (humor depressivo ou irritabilidade, ansiedade, angústia,
tristeza, desânimo) que afeta o comportamento diário.
Baixa energia e fácil cansaço (atividades parecem demandar maior esforço).
Medo, insegurança, desesperança, desespero, desamparo, vazio interior.
Pessimismo, baixa autoestima, sensação de falta de sentido na vida.
Inutilidade, fracasso, diminuição da libido e do desempenho sexual.
Dores de cabeça, problemas gastrointestinais, pressão no peito, tensão na nuca.
Fome ou perda de apetite incomuns, insônia ou dificuldade para dormir.
Automutilação
• Autoagressão não suicida.
• Alta incidência de tentativa de suicídio
entre pessoas que se automutilam.
• Aliviar um estado ou sentimento
negativo (ansiedade, depressão,
angústia, frustração, desespero, tensão,
raiva, autocrítica).
• Induzir um sentimento positivo ou lidar
com as relações interpessoais.
• Início por volta de 13-14 anos, porém
com possibilidade de ocorrer antes
(a partir dos 11-12 anos).
Características da
automutilação
Provocar intencionalmente autoagressões (cortes, tapas, queimaduras de cigarro,
chocar a cabeça ou outra parte do corpo contra algo sólido...).
Em geral, esconde-se a autoagressão por um sentimento de vergonha e culpa.
Comorbidade com outras doenças psiquiátricas é muito comum.
Associação com o uso de drogas vem se mostrando em pesquisas.
Sente-se alívio momentâneo do sofrimento.
Experiências de vida traumáticas são comuns no histórico de quem pratica.
Dificuldade na regulação das respostas emocionais.
Baixa autoestima, insegurança, impulsividade e instabilidade emocional.
Influência de conhecidos que se mutilam (postagens em redes sociais).
Suicídio
• Ideação suicida – pensamentos suicidas constantes.
• Ambivalência: desejo de viver e morrer se contrapõem (morte vista como
único método terapêutico da dor).
• Fatores de risco: falta de um relacionamento estável ou presença de
relacionamento tóxico; impulsividade; rigidez de pensamento (dificuldade
de ver além da situação).
• Abordagem eficaz: prevenir o risco à vida e reduzir os estigmas que o
próprio sujeito adquire em relação a si mesmo.
Características do suicídio
• Importante avaliar: estado mental atual, diagnósticos prévios, uso de
medicamentos, uso de álcool e outras drogas, pensamentos sobre morte e
suicídio.
• Se há um plano suicida, o risco é de médio para alto. Dependerá de o sujeito
ter os recursos para isso e uma programação – há data para fazê-lo?
• Necessário apoio social para o enfrentamento da dor que se quer calar
(família, amigos, escola, Igreja, grupos comunitários...).
• Perguntar sobre pensamentos de suicídio não estimula ninguém ao ato, sendo
necessário em caso de suspeita para que o sujeito possa falar abertamente
sobre o assunto.
• Picos da taxa de suicídio: em jovens (15-35 anos); em idosos (acima de 75
anos).
Sejamos sinceros
(Fabrício Carpinejar)
“Uma jovem (@sejjesincera no Instagram) entre nós tirou a sua vida na última
segunda (15/7), no Rio de Janeiro (RJ). Ela precisava da gente. Precisava das
redes sociais para se sentir amada. E não foi.
Ela sempre dividiu a sua ansiedade e a sua depressão conosco, a ponto de
mostrar que era capaz de cortar e picotar o seu cabelo durante uma crise de
pânico.
Não estava brincando, não estava fazendo cena, não procurava multiplicar seus
seguidores com gestos desesperados: ela realmente sofria. Sua dor pública
deveria ser um terço da sua dor privada.
Não era marketing, não era vaidade, mas unicamente solidão. Vinha aqui pedir
um abraço, um socorro, a ternura do iodo para parar de arder a ferida aberta
pelos desencontros por dentro.
Quanto mais se mostrava, mais era atacada. Quanto mais se expunha, mais era
ofendida.
Talvez tenhamos que repensar as críticas e os comentários maldosos que postamos
na web sem pensar que o outro pode sofrer com cada um deles.
São pessoas, não avatares. São corações, não bytes. São pensamentos, não contas
desprovidas de inquietação.
Aja nas redes sociais como se estivesse presencialmente. Com o cuidado e o
respeito de uma visita. A autocensura é decência.
Ela morreu de confinamento digital. Não tinha para onde correr do bullying, já que a
sua força de vontade consistia em colher palavras de ânimo em seus comentários.
Tentou remendar a sua história de todos os jeitos possíveis. O noivo terminou a
relação um dia antes do casamento (13/7). Ela não quis se entregar e manteve a
festa, para casar consigo mesma (14/7). Acabou sendo zoada sem precedentes pela
decisão. Como se fosse megalomania.
Será que ninguém entende a frustração de planejar um casório por meses para
cancelar o sonho em cima da hora, comunicando o vexame de ser desamada a
cada um dos convidados? Não queira jamais enfrentar essa amarga provação.
Sua atitude representou mais susto do que afirmação pessoal. Ao procurar
evitar o constrangimento, apenas aumentou a sua fragilidade para lidar com a
realidade.
(...)
Quando ela postou essa mensagem, já estava por um fio de náilon do precipício.
Era o momento de fazer uma corrente do bem para puxá-la de volta para a
esperança.
Vozes anônimas só a empurraram para o fim, desprovidas da consciência da
gravidade de sua influência. Porque sempre estamos influenciando as outras
vidas com os nossos atos, com a nossa postura, com as nossas frases.
Uma jovem morreu por aqui. Tinha a idade de minha filha.
O silêncio agora não adianta mais nada. Não serve para mais nada. É só
“Você merece amor, você
merece bondade e respeito.”
(Alinne Araújo)
Comportamento antissocial
• Práticas educativas negativas (negligência, humor instável, abuso
físico, psicológico e sexual, disciplina relaxada e supervisão
estressante).
• Deficiência de habilidades sociais (*empatia).
• Vínculos afetivos deficientes. ▪ Impulsividade.
• Modelos inadequados. ▪ Culpa.
• Frágil resistência à frustração. ▪ Vergonha.
• Vulnerabilidade social.
• Entre outros fatores.
Evolução do comportamento antissocial
Modelo de Coerção, de Gerald Patterson et al. (1992):
“(...) os comportamentos antissociais que ocorrem na infância são protótipos
de comportamentos delinquentes que poderão acontecer mais tarde.”
“Ensina à criança o caminho que deve andar e, ainda quando for velho,
não se desviará dele”. (Pv 22,6)
PATTERSON, G. R.; REID, J. B.; DISHION, T.
J. Antisocial boys. Castalia Pub Co, 1992.
FERNANDES, D. P. Explicando comportamentos socialmente desviantes: uma análise do modelo da coerção de Patterson. 2014. Dissertação (Mestrado em Psicologia)
– Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Departamento de Psicologia. Fortaleza, Ceará.
Em relação à saúde mental de crianças,
adolescentes e jovens, o que catequistas e
outros atores da catequese devem saber:
• O que o comportamento expressa?
• Qual é a realidade do catequizando?
• Que repertório ele desenvolveu para lidar com seus sentimentos?
• Comportamentos instalados (indesejados)
• Comportamentos a ensinar (desejados)
Você pode ser a única relação social consistente
na vida desse catequizando.
“O homem depressivo é aquele animal laborão que se explora, a
saber: voluntariamente, sem coerção externa. Ele é, ao mesmo
tempo, carrasco e vítima […] A depressão é desencadeada no
momento em que o sujeito da performance não pode ‘poder mais’
[…] O deprimido está cansado do esforço para se tornar ele mesmo. ”
“A sociedade do rendimento está gradualmente se tornando uma
sociedade de doping […] O excesso de positividade se manifesta
como um excesso de estímulos, informações e impulsos.”
A saída?
“Imersão contemplativa.”
Fatores de proteção e tratamento
• Práticas educativas positivas (supervisão positiva e modelo moral).
• Ser contingente e usar da autoexpressão permite desenvolver a
autocrítica e o senso de coletividade.
• Atividades esportivas e dinâmicas que promovam experiência de
participação, colaboração, inclusão e resolução de conflitos.
• Metodologias.
• Habilidades sociais e interpessoais – empatia e assertividade.
• Pré-requisito: vivenciar.
• Psicoterapia e intervenção psiquiátrica.
• Rede de apoio imediata.
Cuidados no manejo de crianças,
adolescentes e jovens
• Linguagem
• Audiência não punitiva
• Escuta ativa
• Protagonismo
• Feedback motivacional
• Fortalecer o grupo
• Mediar o processo
Fazer do encontro catequético um espaço de experiência do que é ser
cristão e cidadão no mundo.
Metodologias recomendadas
• Interativas
• Dialógicas
• Vivenciais
• Mediadas
• Enfoque individual e coletivo
• Reflexivas e comprometedoras
• Problematizadoras
No itinerário de educação da fé, devem favorecer a autonomia cristã.
https://www.youtube.com/watch?v=OclXg0Xc_yI
Exemplos
Manuais de catequese para crianças, adolescentes e jovens.
Que nossa catequese seja
espaço de desenvolvimento
integral e amparo à saúde
mental.
Obrigada!
Francine Porfirio
[email protected]