Sistema respiratorio
Pneumonia e Derrame pleural
TMG
Pneumonia
• A bronquite é uma síndrome clínica produzida pela
inflamação da traquéia, brônquios e bronquíolos.
• A broncopneumonia refere-se a inflamação do pulmão que
está centrado nos bronquíolos e leva à produção de um
exsudato mucopurulento que obstrui algumas destas
pequenas vias aéreas e provoca a consolidação desigual dos
lóbulos adjacentes.
Pneumonia
• A pneumonia é a inflamação do parênquima pulmonar, umas das
infecções respiratórias mais frequentes e está associada a
consolidação dos espaços alveolares. A maioria das vezes temos
quadro misto, e é dificil distinguir entre pneumonia e
broncopneumonia.
• A pneumonia atípica é uma pneumonia causada por bactérias
específicas como Mycoplasma pneumoniae ou Chlamydia
pneumoniae. Estas bactérias tendem a causar formas mais leves de
pneumonia.
Epidemiologia
• A cada ano, a pneumonia é responsável por
aproximadamente 1,9 milhões de mortes em crianças
menores de 5 anos de idade.
• O maior risco de mortalidade e pneumonia relacionada ocorre
entre as crianças menores de 2 anos de idade.
• Em Moçambique a pneumonia ainda é a maior causa isolada
de mortalidade de crianças menores de 5 anos de idade.
Causas
• Vírus: causa mais comum de pneumonia em crianças , frequentes nas
crianças do 1 mês aos 5 anos.
• Vírus sincicial respiratório.
• Enterovirus.
• Vírus da Influenza.
• Vírus para-influenza
• Citomegalovírus
• Adenovírus
• Coronavirus (2020)
Causas
• Bactérias:
• RN: Estreptococo de grupo B e D; E.coli, Klebsiella pneumoniae;
Lysteria monocitogenes, Pseudomonas em pré-termo;
• 1- 3 meses: Estreptococo Pneumoniae; Haemofilus influenza tipo b,
Estreptococo de grupo A e Chlamydia trachomatis (até 2 anos),
S.aureo (até 2 anos);
• 4 meses - 5 anos: Pneumococo (mais frequente), Haemofilus
influenzae tipo b, Moraxella catarralis; Mycoplasma pneumoniae a
partir dos 2 anos;
Causas
• Idade> 5 anos: Mycoplasma pnemoniae (mais frequente),
Estreptococo Pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, Haemofilus
influenza tipo B;
• O Mycobacteria da Tuberculose pode afectar qualquer idade se a
criança teve contacto com uma pessoa com tuberculose activa;
• as crianças maiores de 5 anos são mais resistentes a desenvolver
a doença; no caso de imunodepressão é mais provável
desenvolver infecção pulmonar por Tb.
Imunodeprimidos
• Candida albicans,
• Aspergillus fumigatum
• Fungos;
• Pneumocystis jiroveci: mais frequente entre os 4 meses e
os 12meses,
• Mycobacterium tuberculosis: ver acima,
• Vírus: CMV
Causas não infecciosas
• Agentes químicos: por exemplo na pneumonia por
aspiração (petróleo é a substância que está mais implicada
na pneumonia química em criança em Moçambique,
principalmente no verão), de inalação de fumo ou
aspiração de conteúdo gástrico,
• Reacções imuno-mediadas: como por exemplo a
pneumonia linfática intersticial em curso pela infecção pelo
HIV.
Fatores de risco
• Idade menos de 2 anos;
• Imunodepresão;
• A exposição ao fumo;
• Malnutrição
Transmissão
• Inalação de partículas do ar que contém a bactéria, vírus ou
fungo, após um espirro, tosse de uma pessoa sintomática;
• O contacto das mucosas das vias aéreas: narinas, mucosa oral,
conjuntiva, com as mãos de alguém que esta contaminado
com secreções que contém o agente causal.
• Reactivação de um infecção latente
Quadro clínico
• Depende da idade, da etiologia e do estado imunológico da criança.
• De acordo com as características clínicas, é classificada como não-
grave, grave e muito grave.
• Pneumonia Bacteriana:
• As pneumonias bacterianas são geralmente mais graves do que as
virais ou pneumonias atipicas;
• A pneumonia fúngica pode ser mais grave da bacteriana por afectar
crianças imunodeprimidas e é mais difícil de tratar, assim como
algumas pneumonias virais em imunodeprimidos graves.
Quadro clínico
• Pneumonia bacteriana: tem geralmente início rápido.
• Pneumonia muito grave, é caracterizada pelos seguintes sintomas:
• Incapacidade de sugar ao seio ou de beber líquidos, ou vómito de todo o
volume ingerido;
• Convulsões, letargia ou inconsciência;
• Gemidos (nas crianças pequenas),
• Tosse usualmente produtiva;
• Febre;
• Cefaleia
Quadro clínico
• Pneumonia não-grave
• Tosse ou dificuldade respiratória e respiração rápida
• Criança está alerta,
• É capaz de alimentar se e beber, e não em dificuldade
respiratória grave.
Quadro clínico
• Na anamnese investigar sobre:
• Tosse: duração, características do escarro se presente, vómito,
dor abdominal;
• Exposição a alguém com tuberculose (ou tosse crónica) na
família,
• História de engasgo, aspiração de corpo estranho ou início
súbito dos sintomas,
• Infecção conhecida pelo HIV;
• História vacinal: BCG, DPT, sarampo, Hib;
Exame Físico
• O exame físico é essencial para determinar a
gravidade da pneumonia. Exame geral:
• Cianose central: sinal de pneumonia muito grave;
• Movimentos da cabeça sincrónicos com a
respiração, indicando o sofrimento respiratório
grave: sinal de pneumonia muito grave;
• Gemido, batimento das asas do nariz (adejo
nasal), sibilância, estridor;
Exame Físico
• Pressão venosa jugular (PVJ) aumentada;
• Tiragem subcostal e intercostal;
• Se a oximetria de pulso estiver disponível: saturação <
90%;
• Respiração rápida:
– Idade menor que 2 meses >60 ciclos/m;
– Idade de 2 a 11 meses >50 ciclos/m;
– Idade de 1 a 5 anos >40 ciclos/m
Exame Físico
• Na auscultação pulmonar, no caso de pneumonia grave e muito
grave:
• Diminuição dos ruídos respiratórios;
• Ruídos brônquicos;
• Crepitações;
• Frémito vocal táctil: diminuída em um derrame pleural,
aumentada em uma consolidação lobar;
• Atrito pleural
Exame Físico
• Pneumonia não grave, no exame físico podem estar
presentes:
• Crepitações;
• Diminuição dos ruídos respiratórios;
• Áreas de ruídos brônquicos
Pneumonia atípica
• É uma doença de início gradual e insidioso de vários dias a semanas.
• Anamnese
• Tem sintomas de:
• Mal-estar;
• Febre;
• Tosse seca, persistente e lentamente agravamento;
• Dor de cabeça;
• Calafrios;
• Dor de garganta coçando,
• Dor de peito (resultado da tosse prolongada)
Exame Físico
• A aparência geral não tóxico.
• Aspiração na faringe, com mínima ou nenhuma adenopatia
cervical, mas não exsudato.
• Auscultação normal de pulmão com infecção precoce, mas
roncos, fervores, e / ou sibilos vários dias depois.
Pneumonia viral
• Tem geralmente início gradual.
• Anamnese
• Tosse seca.
• Rinite e envolvimentos das vias aéreas superiores.
• O estado geral é menos comprometido.
• A febre muitas vezes não é tão proeminente.
Exame Físico
– Tosse (com ou sem produção de expectoração).
– Taquipnéia e / ou dispneia.
– Taquicardia ou bradicardia.
– Retrações esternais ou intercostal.
– Hipóxia
• Na auscultação pulmonar:
– Sibílos, roncos ou fervores na auscultação;
– Diminuição dos sons respiratórios.
Complicações
• A pneumonia em geral pode complicar-se em pneumonia
grave e muito grave;
• Derrame pleural;
• Empiema.
Exames auxiliares e Diagnóstico
• História clínica, sinais e sintomas, exame físico e eventuais
exames de laboratório e/ou radiológicos.
• Rx do torax, a pneumonia bacteriana têm geralmente
opacidades no pulmão e consolidação lobular,
• Pneumonia viral, tende a aparecer como doença mais difusa
e intersticial e;
• Pneumonia atípica, doença intersticial, mas os infiltrados
podem ser mais discretos e irregulares.
Evidência radiográfica de pneumonia
Evidência radiográfica de pneuomonia viral
Evidência radiográfica de pneuomonia atipical
• No caso de pneumonia muito grave ao Rx do tórax é possível
que haja derrame pleural, empiema, pneumotórax, e derrame
pericárdico.
• Exames de laboratório:
• Hemograma:leucocitose com uma neutrofilia, etiologia
bacteriana, mas não são essencial para o diagnóstico e
tratamento.
Diagnóstico diferencial
• Malária: a auscultação geralmente é negativa; o esfregaço da
malária é positivo;
• Anemia grave: há aumento da FR e FC; há palidez e valores de
hemoglobina patognomónico;
• Insuficiência cardíaca: há aumento da FC, FR, rítmo de
galope, sopro cardíaco, crepitações nas bases pulmonares,
hepatomegalia e edema das extremidades inferiores;
Diagnóstico diferencial
• Pertussis: tosse em paroxismos seguida de apneia, vómito,
cianose, falta de vacinação;
• Pneumotórax: inicio súbito, hiper-ressonância a percussão
de um hemitórax, desvio do mediastino no RX;
• Bronquiolite: acontece nos primeiros dois anos de vida e é
caracterizado por dispneia, taquipneia, tiragem subcostal e
intercostal e sibílos
Conduta
Tratamento medicamentoso da pneumonia muito grave
• Ampicilina (100 mg/kg, IM, 6/6h) + Gentamicina (7,5 mg/kg,
IM, 1/dia) por 5 dias; Se a criança apresenta boa resposta,
completar o tratamento no âmbito domiciliar, ou no hospital,
com Amoxicilina e Ácido Clavulanico
• Se suspeitar pneumonia por Pseudomonas: Ceftriaxona (80
mg/kg, IM ou IV, 1vez/dia) + Gentamicina (7,5 mg/kg, IM,
1/dia).
Medidas de suporte
• Administrar oxigénio
• Se febre (>39oC) administrar Paracetamol por via oral, nas doses habituais;
• Se houver sibilos, administrar um broncodilatador.
• Aspiração de secreções.
• Assegurar uma hidratação adequada.
• Estimular o aleitamento materno e a ingestão de líquidos por via oral.
• Se não tolera via oral, sonda nasogástrica fechada.
Tratamento da pneumonia grave
• Internar a criança e iniciar logo a terapia antibiótica com:
• Benzilpenicilina (50.000 unidades/kg IM ou IV 6/6 h) por, no
mínimo, três dias;
• Quando a criança melhorar, trocar para Amoxicilina (40-50
mg/kg/dia, 2 vezes por dia). O curso total do tratamento é de
10-14 dias;
• Se suspeitar a Chlamydia ou Mycoplasma pneumoniae:
administrar Eritromicina 50mg/Kg/dia de 6/6h durante 14 dias
Tratamento de crianças HIV-positivo ou com suspeita de HIV
• 0 - 2 meses: Duração 10-14 dias
• Penicilina Cristalina 100 000 UI kg/dia, EV,6/6 h
Ou
• Ampicilina 100 mg kg/dia, EV, 6/6 h, 10 días + Gentamicina
5mg/kg/dia, 12/12h 7 dias
• >2 meses: Duração 10-14 dias com um dos seguintes:
• Penicilina Procaina 50 000 UI kg/dia , IM 12/12h
• Amoxicilina 40 mg kg/dia , VO , 8/8 h
Cont.
• Amoxi/ác clavulânico, 50mg/kg/dia VO, 8/8 h
• Cloranfenicol 100 mg kg/dia, EV, 4/4 h
• Cloxacilina 150 mg kg/dia, EV, 6/6 h
• Eritromicina 50 mg kg/dia, VO, 6/6 h
• Ceftriaxona 100 mg, EV kg/dia, IM, 12/12
• Cefalexina 50 mg kg/dia, VO, 6/6 h
Tratamento da pneumonia não grave
• Tratamento ambulatorial com:
• Amoxicilina ou Amoxicilina e ác.clavulánico (50mg/kg/dia
VO, 8/8 h)por sete dias.
• Alternativa: Cotrimoxazol (4 mg/kg de trimetoprima e 20
mg/kg de sulfametoxazol, por via oral, 2 vezes por dia)
por sete dias
Tratamento da pneumonia não grave
• Nas crianças que estão recebendo a profilaxia para
Pneumocystis jiroveci, ou que vivem numa região em que o
Cotrimoxazol é comummente administrado, não usar o
Cotrimoxazol
• A duração da terapia pode ser aumentada de alguns dias nas
crianças com HIV até 14 dias.
Tratamento para Pneumonia Atipical
• Se suspeitar de Chlamydia ou Mycoplasma pneumoniae
administrar Eritromicina 50mg/Kg/dia de 6/6h durante 10
dias.
• Ou azitromicina 10mg/kg por dias por 3 a 5 dias.
DERRAME PLEURAL E EMPIEMA
Derrame Pleural e Empiema
• Derrame pleural é a acumulação de líquido entre os dois
folhetos que recobrem os pulmões ou seja as pleuras.
• Dependendo da etiologia o liquido pode ser:
• Seroso: líquido transparente com células inflamatórias como
linfócitos, secundário a um processo reactivo, ou infeccioso por
vírus;
• Purulento ou empiema: líquido com pus, secundário a um
processo infeccioso por bactérias;
• Hemático: líquido com sangue, secundário a trauma torácico-
pulmonar, TB ou uma massa pulmonar.
Epidemiologia
• Causas:
• infecciosas
– Por bactérias que geralmente determinam um
empiema; com excepção do Mycobacterium
tuberculosis que determina um exsudado;
– Por vírus que podem determinar um exsudado: raras.
• Patologias das pleuras: neoplasias;
• Por reacção auto-imunitária;
• Por reacção a patologias cardiocirculatórias como uma
descompensação cardíaca, um edema pulmonar, ou uma
hipertensão hepática
Causas pediatricas
• A causa mais comum de derrame pleural em crianças são
infecções.
• O empiema é geralmente uma complicação da pneumonia
bacteriana grave ou muito grave e é determinado pelas
bactérias descritas acima.
Fisiopatologia
• Exsudado: Aumento da permeabilidade dos capilares pleurais que
determina a saída de proteínas e consequentemente o aumento de líquido
rico em proteínas e células inflamatórias como linfócitos e monócitos.
(processo inflamatórios ou neoplásticos da pleura);
• Transudado ou hidrotórax: aumento da tensão nos capilares com
formação de um líquido pobre em proteínas e células, (típico no caso de
descompensação cardíaca ou edema pulmonar);
• Obstrução dos vasos linfáticos que determina falta de drenagem e
acumulação de líquido, como pode acontecer no caso de neoplasia
Quadro clínico
• Anamnese
• Crianças com derrame muitas vezes têm uma história de infecção do
trato respiratório superior recente ou pneumonia. Essas crianças
geralmente apresentam os seguintes sintomas:
• Febre persistente;
• Tossir;
• Falta de apetite,
• Mal-estar;
• Dor no peito ou ombros ou abdomen
Exame Físico
• A criança fica numa posição que alivia a sintomatologia e é em decúbito lateral da
parte do derrame;
• Taquipnéia;
• Dispnéia
• Na percussão:
– Maciez do tórax à percussão na área afectada pelo derrame/empiema
• Na auscultação:
• Ruídos respiratórios reduzidos ou ausentes sobre a área afectada, na auscultação
pulmonar atè aboliçao do frémito vocal táctil.
• Atrito pleural pode ser auscultado em estágios iniciais, antes do completo
desenvolvimento do derrame
• Estes sinais podem ser muito difíceis de detectar em crianças pequenas.
Complicaçôes
• A principal complicação é a insuficiência respiratória (por
compressão do parênquima pulmonar) que pode levar a
morte. No entanto, sequelas durante a resolução do derrame
podem surgir como o expessamento pleural, aderências
pleurais que dificultam a mecânica ventilatória e
expansibilidade pulmonar.
Exames Auxuliares e Diagnóstico
• O diagnóstico é feito através da anamnese e do exame físico
mas existem outros exames auxiliares que podem ser usados
para ajudar a diagnosticar derrame pleural e empiema.
• Rx Torax: Deve-se fazer os possíveis de fazer um Rx do tórax
que pode mostrar (Fig 4) líquidos em um ou ambos os lados
do tórax e redução da área de transparência do pulmão do
lado afectado
• Toracocentese: determinar a natureza do derrame e prescrever a
terapêutica adequada, para aliviar os sintomas se o derrame for
muito abundante.
– No caso em o derrame é turvo ou francamente purulento, amarelado,
o diagnóstico é de empiema e a provável origem é bacteriana, deve-se
fazer uma drenagem activa.
– No caso em que o derrame é sero-hemático a natureza do processo
infeccioso pode ser por Mycobacterium tuberculosis, deve-se fazer a
pesquisa do BK e decidir iniciar o tratamento específico da tuberculose,
viral (raro) ou por causas cardiocirculatória ou imunológicas
Diagnóstico diferencial
• Massa no peito.
• Pneumonia.
• Tuberculose.
• Atelectasia.
• Abscesso Pulmonar.
• Derrame Pericardico
Conduta
• Ampicilina 100mg/kg/dia EV 6/6h OU Penincilina cristalina 100
000UI/kg/dia EV de 6/6h + Gentamicina 5 – 7,5mg/kg/dia EV de
12/12h para 7 dias;
• Se não melhorar passa para Ceftriaxona 80mg/kg/dia 1 vez dia
EV;
• Se infecção por Staphylococcus aureus: Cloxacilina (50 mg/kg,
IM ou EV de 6/6 h) e Gentamicina (7,5 mg/kg, IM ou IV uma vez
por dia)
Tratamento cirúrgico: Drenagem
• O derrame pleural deve ser drenado, a não ser que seja muito pequeno.
• Se houver derrame em ambos os lados do tórax, é necessário fazer a
drenagem dos dois lados.
• Pode ser necessário repetir a drenagem 2 ou 3 vezes se o líquido retornar.
• No caso em que não há melhoria, ou seja a febre ou outros sinais de
doença persistem, apesar da drenagem adequada do líquido e da terapia
com antibióticos, é necessário pensar em tuberculose e iniciar o
tratamento específico