ECONOMIA BRASILEIRA
GOVERNOS LULA I E II
2003-2010
Anotações do Cap. 8 (Economia Brasileira Contemporânea: 1945-2010)
Prof. Daniel Perozo-Suárez
Departamento de Economia – Universidade de
Brasília
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
• Garanhuns (PE), 1945 –
• Ex-metalúrgico, ex-sindicalista e político, afiliado
ao PT
• Presidente do Partido dos Trabalhadores (1990 –
1994)
• Deputado Federal por São Paulo (1992 – 1993)
• Ministro –chefe da Casa Civil (1993 – 1994)
• Presidente do Brasil (2003 – 2011 e 2023 - )
CONTEXTO POLÍTICO-ECONÔMICO
• Descartou uma transição para um modelo de Estado intervencionista
ou mesmo ao socialismo, assim como rejeitou tendências populistas e
atitudes radicais.
• A autonomia do Banco Central, apesar de não garantida por lei, foi
respeitada como forma de buscar ativamente as metas de inflação.
• A consolidação da estabilidade econômica ocorreu com o respeito à
política macroeconômica, baseada no tripé macroeconômico,
composto por flutuação cambial, metas de inflação e austeridade
fiscal.
CONTEXTO POLÍTICO-ECONÔMICO
• Conciliou políticas de transferência de renda e aquecimento da
economia, com vistas a aumentar o poder de compra da classe
baixa.
• Para combater a insegurança alimentar, Lula anunciou, em 2003,
a criação do Fome Zero.
• O programa se tornou a principal vitrine do governo, sendo o Bolsa
Família seu carro-chefe.
CONTEXTO POLÍTICO-ECONÔMICO
• Nas relações internacionais, Lula defendeu um sistema em que os
países desenvolvidos do norte dialogassem de modo mais democrático
com os em desenvolvimento do sul.
• Seguiu a "diplomacia Sul-Sul", priorizando a interação do Brasil com
países em desenvolvimento.
• Engajou-se em negociações comerciais multilaterais, reforçou a
integração sul-americana, sendo o Mercosul a prioridade mais
importante da diplomacia brasileira, e intensificou as relações com
países africanos.
CONTEXTO POLÍTICO-ECONÔMICO
• Realizou alianças no Congresso por ser minoria. Escândalos
políticos pelas alianças: mensalão.
• Reeleito em 2006: a agenda social foi fundamental, bem como os
resultados econômicos do período.
MUDANÇA DO PT E CAMINHO PARA O
CENTRO
• Preocupação com a vitória do Lula.
• Tendência à moderação política: abandono de bandeiras radicais como a
moratória da dívida externa. Fatores prováveis:
• A dramaticidade da crise argentina de 2001-2002, que deixou claros os
problemas que poderiam resultar de uma paralisia completa dos empréstimos
ao Brasil.
• A própria seriedade da situação externa do país no final de 2002, indicando
que, sem a recuperação do crédito externo e o acesso aos recursos do FMI,
havia riscos de Lula ter de assumir em 2003 com uma situação gravíssima,
dólar pressionado, inflação ascendente e o país correndo risco de insolvência.
AS PRIMEIRAS MEDIDAS DE POLÍTICA
ECONÔMICA
• Proposta de retomada de controle da política fiscal e monetária,
em mãos do FMI.
• Nomeou para o cargo de presidente do Banco Central o ex-
presidente mundial do Bank Boston, Henrique Meirelles,
mantendo, inicialmente, todo o restante da Diretoria anterior, em
claro sinal de continuidade.
AS PRIMEIRAS MEDIDAS DE POLÍTICA
ECONÔMICA
• Anunciou as metas de inflação para 2003 e 2004, de 8,5% e 5,5%,
respectivamente, que implicavam um forte declínio em relação à
taxa efetivamente observada em 2002, reforçando a política anti-
inflacionária.
• Elevou a taxa de juros básica (Selic) nas reuniões do Comitê de
Política Monetária (Copom), mostrando que isso não era mais um
“tabu” para o PT.
AS PRIMEIRAS MEDIDAS DE POLÍTICA
ECONÔMICA
• Definiu um aperto da meta de superávit primário, que passou de
3,75% para 4,25% do PIB em 2003.
• Ordenou cortes do gasto público, para viabilizar o objetivo fiscal,
deixando de lado antigas promessas de incremento do gasto.
• Colocou na Lei de Diretrizes Orçamentárias o objetivo de manter a
mesma meta fiscal, de 4,25% do PIB de superávit primário, para o
período de 2004-2006.
O SUPERÁVIT PRIMÁRIO
• O superávit primário não é outra coisa do que o resultado das
contas públicas excluindo os juros.
• Esses recursos são usados para o pagamento dos juros e, quando
superiores a eles, são usados para a quitação de parte das
dívidas.
• Receitas vs. Despesas públicas e modalidades de cobertura dos
déficits.
A SUPERAÇÃO DA CRISE DE 2002
Três indicadores, ligados entre si, captaram com toda intensidade o clima de
incerteza de 2002.
• Primeiro, o risco-país, atingiu mais de 2000 pontos-base em outubro de 2002,
depois de se encontrar em pouco mais de 700 pontos em março daquele ano.
• Segundo, a taxa de câmbio que, em março de 2002, fechara a 2,32R$/1 US$ —
mesma cotação de final de 2001 — chegou a 3,89 R$/1 US$ no final de
setembro, último dia útil antes das eleições (representando, portanto, um
aumento da cotação cambial de 68% em seis meses).
• Por último, a expectativa de inflação para 2003 elevou-se dramaticamente a
partir de setembro.
A SUPERAÇÃO DA CRISE DE 2002
A sequência anteriormente mencionada de nomeação de Palocci
para ministro da Fazenda, seguida da indicação de um banqueiro
central visto pelo mercado como confiável; do anúncio da
conservação inicial do restante da diretoria do BC, herdada de
Armínio Fraga; e de duas novas rodadas de aumento dos juros, até
26,5% a.a., já no governo Lula, gerou uma grande distensão do
ambiente financeiro a partir do primeiro trimestre de 2003.
A SUPERAÇÃO DA CRISE DE 2002
Nesse contexto — e ajudada pelos excelentes resultados mensais
da Balança Comercial — a taxa de câmbio recuou para menos de
R$3,00 no segundo trimestre. Enquanto isso, o risco-país (medido
pelo C-Bond) desabava para menos de 800 pontos, praticamente o
mesmo nível de um ano antes, “devolvendo” em sua totalidade o
que em 2002 o mercado denominava de “efeito Lula”.
AS PROPOSTAS DE REFORMA DE 2003
Reforma tributária:
(1) uniformizar a legislação do ICMS, contribuindo para reduzir as
possibilidades de evasão;
(2) prorrogar a Desvinculação de Receitas da União (DRU), que reduz
parcialmente a vinculação das despesas às receitas, dando certa
margem de manobra às autoridades para remanejar recursos e
aproveitar receitas para fazer superávit primário, sem ter de gastá-las;
AS PROPOSTAS DE REFORMA DE 2003
Reforma tributária:
(3) renovar a Contribuição Provisória sobre Movimentações
Financeiras (CPMF), evitando queda da receita em 2004; e
(4) transformar a Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (Cofins) em uma tributação sobre o valor
adicionado, em substituição à taxação “em cascata” até então
prevalecente.
AS PROPOSTAS DE REFORMA DE 2003
• No caso da Previdência Social, a proposta se concentrou no regime
dos servidores públicos e, basicamente, contemplou os seguintes
elementos mais importantes: taxação, através de alíquota
contributiva, dos servidores inativos, com a mesma alíquota dos
ativos, ressalvado um limite mínimo de isenção;
AS PROPOSTAS DE REFORMA DE 2003
• Aplicação de um método de cálculo para as novas pensões;
• Antecipação, para todos os funcionários da ativa (inclusive aqueles já
empregados), da idade mínima para aposentadoria integral, de 60
anos para os homens e 55 para as mulheres, prevista apenas para os
novos entrantes na Emenda Constitucional número 20, de 1998;
• e definição do mesmo teto de benefícios do INSS para os benefícios
dos novos entrantes, com a possibilidade de criação de fundos de
pensão para a complementação da aposentadoria a partir desse
limite.
MUDANÇA NOS RUMOS DA POLÍTICA
ECONÔMICA
• A taxa de variação real do gasto público teve um aumento expressivo em
relação á média dos dois primeiros anos de Governo, com ênfase nos
aumentos do funcionalismo, especialmente no segundo Governo Lula;
• Observou-se uma tendência a um afrouxamento dos superávits primários;
• O Governo passou a usar a possibilidade de desconto — por vezes, até
mesmo expressivo — de parte do investimento da meta de superávit
primário, mecanismo que, embora estivesse formalmente disponível ainda
no final do Governo FHC, nunca tinha sido utilizado. Com isso, a “meta
fiscal”, na prática, deixou de ser efetivamente perseguida, uma vez que
passou a ficar sujeita a uma espécie de “banda de tolerância”;
MUDANÇA NOS RUMOS DA POLÍTICA
ECONÔMICA
• O Ministério da Fazenda passou a divergir claramente em várias ocasiões do Banco
Central acerca da condução da política monetária;
• Foram abandonados os estudos que a área econômica vinha fazendo em 2005,
destinados a elaborar um plano de longo prazo visando maior contenção do
crescimento da despesa, para atacar de modo mais vigoroso o desequilíbrio fiscal;
• A retórica ministerial deixou de enfatizar os aspectos de continuidade ligados à
manutenção das políticas herdadas do Governo anterior e passou a procurar
diferenciar de forma sistemática a política oficial em relação à que era praticada no
Governo FHC; e
• Houve um aumento substancial da importância e do papel do BNDES na economia.
INFLUÊNCIA DA CHINA
O fato de a China ter
a) altas taxas de crescimento;
b) um peso crescente na economia e na demanda mundiais; e
c) ser forte demandante de produtos exportados pelo Brasil,
fez com que os efeitos do dinamismo daquela economia sobre
o nosso país se tornassem cada vez maiores com o passar do
tempo.
INFLUÊNCIA DA CHINA
INFLUÊNCIA DA CHINA
• Na crise externa do Brasil durante 1998-1999, quando a China crescia
em termos anuais a uma taxa em torno de 10%, o peso da demanda
daquele país nas exportações brasileiras era ínfimo, da ordem de 1%.
• Já em 2010, ele foi de mais de 15% das nossas exportações, significando
que a capacidade de influenciar variáveis relevantes da economia
brasileira era muito maior.
• Cabe destacar que, enquanto isso, as vendas brasileiras para os Estados
Unidos, que ainda em 2002 eram de mais de 25% do total exportado
pelo Brasil, diminuíram para menos de 10% do total em 2010, reflexo em
parte das mudanças geopolíticas que ocorreram no mundo no período.
UMA NOVA REALIDADE
Os anos Lula coincidiram com o surgimento de uma nova percepção — tanto interna como
externa ao país — acerca do novo papel do Brasil no mundo. Houve seis fatores que se
combinaram nesse sentido:
i) a crescente importância da economia chinesa no mundo;
ii) a avidez das economias emergentes por produtos dos quais o Brasil tornara-se um
grande produtor;
iii) as potencialidades associadas à exploração do etanol;
iv) as descobertas de petróleo do pré-sal;
v) os efeitos indiretos da crise de 2009 sobre a imagem do país; e, “last but not
least”;
vi) a escolha do Brasil para ser sede da Copa do Mundo de 2014 e do Rio de Janeiro
como local das Olimpíadas de 2016.
DESEMPENHO DA ECONOMIA (2003-
2010)
• Proposta de retomada de controle da política fiscal e monetária,
em mãos do FMI.
DESEMPENHO DA ECONOMIA (2003-
2010)
CONTRASTES ENTRE OS GOVERNOS FHC
E LULA
• Os anos do Governo Lula foram, num certo sentido, o oposto do que foi o
Governo FHC, especialmente o segundo (1999-2002).
• Nos anos FHC, como ressaltado no capítulo anterior, houve uma série de
reformas que modificaram significativamente a economia em relação ao que ela
era até meados dos anos de 1980; contudo, a evolução de alguns indicadores
macroeconômicos deixou muito a desejar.
• Além do crescimento e da geração de emprego terem sido muito modestos, a
dívida pública, que era de 30% do PIB em 1994, dobrou de tamanho oito anos
depois; a dívida externa aumentou substancialmente; e no final da gestão foi
necessário recorrer ao FMI para não ficar sem reservas internacionais.
CONTRASTES ENTRE OS GOVERNOS FHC
E LULA
• Em contraste, nos anos Lula, além de na década ter havido uma
recuperação do crescimento e do investimento, com um impacto muito
favorável sobre o emprego, a dívida líquida do setor público diminuiu em
1/3; o país tornou-se credor líquido do exterior, uma vez que a dívida
externa líquida tornou-se negativa;
• As reservas atingiram quase US$290 bilhões em 2010.
• Houve uma importante redução da desigualdade.
• Em compensação, as reformas estruturais limitaram-se a uma reforma da
Previdência restrita ao âmbito do funcionalismo e de importância
modesta.
LEITURA RECOMENDADA
• Cap. 8 – Economia Brasileira Contemporânea. (Giambiagi e
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