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Manuel Carvalho Coutinho
[email protected] -A regulação da comunicação social 3
-A existência da auto-regulação é uma forma de autodefesa e de exigência interna de qualidade
A auto-regulação nasce da tentativa de conciliação de liberdade e responsabilidade no exercício
do jornalismo, bem como da preocupação em o blindar contra pressões políticas e económicas.
Entretanto, atendendo aos limites de uma regulação ética confiada exclusivamente aos
profissionais da comunicação social, tornou-se comum uma “co-responsabilização” dos poderes
públicos na regulação dos media.
Também o público, longe de ser hoje um mero recetor de informação, passou a ser reconhecido
como um ator de pleno direito alargando-se, assim, o âmbito da auto-regulação que inclui
códigos deontológicos, livros de estilo, conselhos de redação, provedores, conselhos de
imprensa ou associações de media watching.
Face às críticas de ineficácia por vezes dirigida à auto regulação, a censura moral pelos pares não
é irrelevante; além disso, a ação conjugada dos mecanismos de auto-regulação associada a
outros mecanismos de regulação, que salvaguardem a liberdade dos media, contribui
eficazmente para a sua credibilidade e responsabilidade.
[email protected] Manuel Carvalho Coutinho
-A regulação da comunicação social 4
-A hétero-regulação como uma forma de o Estado e/ou as suas delegações regularem os media
A hétero-regulação consiste num conjunto de medidas legislativas, administrativas e
convencionadas através dos quais o Estado, por si ou por delegação, determina, controla ou
influencia o comportamento dos regulados, tendo em vista evitar os efeitos desses
comportamentos que sejam lesivos aos interesses socialmente legítimos e orienta-los em
direções socialmente desejáveis.
Na comunicação social, a hétero-regulação surge como uma intervenção estadual para colmatar
os erros do sistema, corrigindo-os ou preferencialmente evitando o seu aparecimento.
Às entidades reguladoras cabe, de forma proactiva, monitorizar o cumprimento das normas
aplicáveis ao sector, garantindo também a satisfação dos direitos eventualmente violados.
-A regulação da comunicação social 5
-Perceber o modelo português de regulação e a Entidade
Reguladora para a Comunicação Social
Este é por sinal, o modelo português de regulação que é levado a
cabo pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)
como entidade administrativa independente.
A regulação da comunicação social não é apenas levada a cabo
pela auto-regulação através dos próprios profissionais dos media,
ou pela hétero-regulação através da intervenção estadual.
Neste sentido, podemos dizer que a comunicação social possui
dois tipos de regulação: hétero-regulação e auto-regulação. Nesse
caso, falar-se-ia da co-regulação.
-A regulação da comunicação social 6
-A co-regulação da comunicação pressupõe, em teoria, uma mútua definição da regulação
De forma genérica, a co-regulação consiste na utilização de mecanismos de iniciativas ou
natureza pública, mas ao mesmo tempo independentes e não politizados.
Aqui os objetivos ou instrumentos bases da regulação são delineados pelo poder público
(legislador, Governo, ou entidade reguladora) incitando os regulados a participarem na
definição e aplicação das regras necessárias ao bom funcionamento do mercado e à
salvaguarda dos direitos fundamentais.
A co-regulação resulta da combinação da regulação da comunicação social pelo Estado e
pela auto-regulação levada a cabo pela sociedade civil. A co-regulação acarreta assim as
vantagens do seu carácter público sem os seus inconvenientes, ou seja, contaríamos com a
eficácia do seu carácter e dimensão públicas dispondo dos correspondentes fundos
económicos e da capacidade sancionadora.
-A regulação da comunicação social 7
-O estabelecimento de normas é por isso uma forma de solidificar a própria regulação
Neste sentido a atividade de co-regulação inclui de forma alternativa ou cumulativa a
definição conjunta e participada de normas, a criação de entidades de auto-regulação
para aplicação de normas definidas pelo legislador e a criação de entidades reguladoras,
ou fóruns especializados dentro destas, com a participação direta dos regulados.
Por sua vez teria algumas vantagens em relação a auto-regulação por se tratar de órgãos
cuja gestão e tomada de decisões estariam nas mãos de pessoas independentes mais
ou menos próximos do âmbito da comunicação sem os vínculos próprios da política.
A sua natureza particular, a meio caminho entre a regulação pelo Estado e pela auto-
regulação, permitir-lhe adaptar-se às peculiaridades das decisões em jogo, adquirindo
um estatuto quase jurídico em alguns casos e permanecendo no campo das
recomendações de carácter ético noutros.
-Perceber a regulação da comunicação social em Portugal 8
-Considere-se as principais formas de regulação da comunicação social em Portugal:
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) regula o setor da comunicação
social em Portugal. (A página oficial da ERC indica que: “regula e supervisiona todas as entidades
que desenvolvam atividade de comunicação social, sob jurisdição do Estado Português”)
A Lei de Imprensa (versão atualizada, Lei n.º 78/2015, de 29/07) estabelece várias normas
para o setor da comunicação social, inclusive no que respeita à liberdade de imprensa e relações
com as fontes. (Visa estabelecer os princípios gerais que devem enquadrar a comunicação social)
O Código Deontológico dos Jornalistas aprovado pelo Sindicato dos Jornalistas, indica de
forma clara, os princípios pelos quais os jornalistas e aspirantes a jornalistas se devem orientar.
A Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) é um organismo independente de
direito público ao qual incumbe assegurar o funcionamento do sistema de acreditação
profissional dos jornalistas, assim como o cumprimentos dos respetivos deveres profissionais.
-CCPJ, Comissão da Carteira Profissional de Jornalista 9
Missão e Atribuições da CCPJ, Comissão da Carteira Profissional de Jornalista – Plenário
A CCPJ é um organismo independente de direito público, ao qual incumbe assegurar o
funcionamento do sistema de acreditação profissional dos jornalistas, equiparados a
jornalistas, correspondentes e colaboradores da área informativa dos órgãos de
comunicação social, bem como o cumprimento dos respetivos deveres profissionais.
É composta por oito elementos com um mínimo de 10 anos de exercício da profissão
de jornalista e detentores de carteira profissional ou título equiparado válido,
designados igualitariamente pelos jornalistas profissionais e pelos operadores do
sector, e por um jurista de reconhecido mérito e experiência na área da comunicação
social, cooptado por aqueles por maioria absoluta, que preside.
Os membros da CCPJ são independentes no exercício das suas funções.
Das decisões da CCPJ cabe recurso, nos termos gerais, para os tribunais administrativos.
-CCPJ, Comissão da Carteira Profissional de Jornalista 10
Missão e Atribuições - Compete à CCPJ (1 a 7)
1. Atribuir, renovar, suspender ou cassar os títulos de acreditação profissional dos
jornalistas, equiparados jornalistas, correspondentes e colaboradores da área informativa
dos órgãos de comunicação social;
2. Apreciar, julgar e sancionar a violação, pelos jornalistas, equiparados a jornalistas,
correspondentes e colaboradores da área informativa dos órgãos de comunicação social,
dos deveres profissionais enunciados n.º 2 do artigo 14.º do Estatuto do Jornalista;
3. Aprovar, após consulta pública aos jornalistas, o regulamento aplicável ao procedimento
disciplinar e promover a sua publicação, nos termos da lei;
4. Assegurar a constituição e o funcionamento das comissões de arbitragem previstas no
artigo do Estatuto do Jornalista e aprovar o respectivo regulamento;
5. Instruir os processos de contra-ordenação por infracção aos artigos 3.º, 4.º, 5.º, 7.º-A, 7.º-
B, 15.º e 17.º do Estatuto do Jornalista e aplicar as respectivas coimas e sanções acessórias;
6. Aprovar o regulamento e organizar o processo eleitoral dos membros da CCPJ designados
pelos jornalistas profissionais;
7. Exercer os demais poderes que lhe sejam conferidos por lei.
-Estatuto do Jornalista (Lei n.º 1/99 de 13 de Janeiro) de acordo com a alteração da Lei n.º 64/2007 11
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição,
para valer como lei geral da República, o seguinte:
Capítulo I – Dos jornalistas
Artigo 1.º – Definição de jornalista
1 - São considerados jornalistas aqueles que, como ocupação principal, permanente e
remunerada, exercem com capacidade editorial funções de pesquisa, recolha, seleção e
tratamento de factos, notícias ou opiniões, através de texto, imagem ou som, destinados a
divulgação, com fins informativos, pela imprensa, por agência noticiosa, pela rádio, pela
televisão ou por qualquer outro meio eletrónico de difusão.
2 - Não constitui atividade jornalística o exercício de funções referidas no número
anterior quando desempenhadas ao serviço de publicações que visem predominantemente
promover atividades, produtos, serviços ou entidades de natureza comercial ou industrial.
3 - São ainda considerados jornalistas os cidadãos que, independentemente do
exercício efetivo da profissão, tenham desempenhado a atividade jornalística em regime de
ocupação principal, permanente e remunerada durante 10 anos seguidos ou 15
interpolados, desde que solicitem e mantenham atualizado o respetivo título profissional.
[email protected] Manuel Carvalho Coutinho
-Estudo de caso: O jornalismo cultural da Time Out é jornalismo? Posição da CCPJ e resposta (1 de 2) 12
← “Um artigo sobre um novo restaurante pode ser lido como uma promoção ao espaço, assim
como um texto sobre uma empresa cotada em bolsa pode constituir uma ação de marketing.
Dependendo do registo e do enquadramento, qualquer uma destas situações pode também ser
jornalismo. No caso de uma estagiária e de uma jornalista da Time Out, a Comissão da Carteira
Profissional de Jornalista (CCPJ) deliberou que o trabalho de ambas se destinava ‘a promover
atividades, produtos, serviços ou entidades de natureza comercial ou industrial’ e recusou-lhes
os títulos profissionais. A direção da revista queixa-se de perseguição. A presidente da CCPJ
alega que o organismo se limita a cumprir a lei, mas a interpretação desta divide opiniões.”
“’Algumas publicações nos órgãos de comunicação social não têm cariz jornalístico’,
declarou a presidente da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas. Licínia Girão
admite que ‘a lei de imprensa tem algumas falhas’ e que ‘os jornalistas não são pessoas
ao serviço de um órgão predominantemente comercial ou publicitário’. (...) A presidente
da CCPJ referiu uma possível solução (...): a criação de uma ‘Carteira Cor de Rosa’. Esta
solução permite que os jornalistas não tenham de cumprir, nem alterar / adaptar o
artigo 3.º, do Estatuto do Jornalista, apenas a ‘parte da ética e deontologia’.” →
← “Qualquer assunto pode ser objeto do jornalismo, do extermínio na Palestina ao fungo
milionário que se pode comer nas Avenidas Novas. Repito: todo e qualquer assunto, desde que a
informação seja tratada no quadro de valores do jornalismo, isto é, com isenção, rigor, respeito e
independência. Se as pessoas querem ser informadas sobre política, economia, educação,
tecnologia, futebol, música, restaurantes, lojas ou tendências culturais e de consumo, o
jornalismo tem de encontrar formas de as informar sobre esses assuntos. Se não encontrarem
resposta no jornalismo, as pessoas vão recorrer a outras fontes sem pensar duas vezes; vão fazê-
lo achando que estão a receber informação fidedigna. Mas sabe-se lá quem ocupará esse espaço
sem regras. Aliviar certos temas dos deveres jornalísticos é um ataque ao direito à informação.”
[email protected] Manuel Carvalho Coutinho
-Estudo de caso: O jornalismo cultural da Time Out é jornalismo? Posição da CCPJ e resposta (2 de 2) 13
← “Entendemos que o tipo de jornalismo que a Time Out faz é isso mesmo: jornalismo. (…) Este tipo
de jornalismo é transversal a todas as publicações. Aliás, tipos de jornalismo, plural: jornalismo local,
de cultura, de gastronomia, de viagem, de moda e o chamado jornalismo de serviço, que oferece aos
leitores conselhos práticos para o seu quotidiano, de coisas para fazer a sugestões de bem-estar e às
mais variadas listas de compras. Significa isso que os jornalistas das publicações generalistas ficam
sem carteira? Não. Porquê? Porque convivem com jornalismo sério. A CCPJ entende que um
jornalista pode fazer o que chama de publicidade, desde que na companhia certa. (...)
O jornalismo de lifestyle – para usar a expressão maldita – existe em todo o mundo. Vai continuar a existir. O Guardian faz listas
de meias com preço e link para a loja. O New York Times tem jornalistas dedicadas a experimentar colchões. (…) O principal prob-
lema do jornalismo de lifestyle podem ser os próprios jornalistas que, seja pelos temas, seja pelo tom descontraído, pensam que
não têm de ser exigentes com o seu trabalho. Mais: o jornalismo de lifestyle não é para ser feito por qualquer um, numa semana
mais parada ou para aproveitar um fim-de-semana grátis. É para ser feito por jornalistas especializados. Não nos ocorreria
mandar o jornalista de cinema entrevistar o governador do Banco de Portugal. Então porque é que vai o da justiça safar um hotel,
ou um bar? (…) A Time Out tem debilidades. Mas há práticas de que estamos conscientes e que combatemos ativamente. (...)
Segunda adenda: Num painel do Congresso dos Jornalistas sobre a regulação dos media, no qual muito lamento não ter
conseguido estar presente, Licínia Girão aventou a possibilidade de criar uma “carteira cor-de-rosa”. É a prova de que quer
implementar um sistema de castas entre os jornalistas. Pior: ao ímpeto censório de quem tentou impedir a minha presença no
Congresso, a presidente da CCPJ acrescentou uma proposta sexista. Naturalmente, o cor-de-rosa não é uma cor feminina. Mas é
exactamente o fundo do que aqui se sugere: o jornalismo de lifestyle é de segunda categoria e para mulheres. É inaceitável,
sobretudo na boca de quem pensa que está deste modo a defender a democracia.”
Direito de resposta: “Jornalismo sério é aquele que é bem-feito, não depende do tema” – Publicação por deliberação da ERC
Torres, H. (2024) “Jornalismo sério é aquele que é bem-feito, não depende do tema” in Time Out.
-Incompatibilidades: São incompatíveis com o exercício da profissão de jornalista (1 de 2) 14
-Incompatibilidades (de acordo com a CCPJ, Comissão de Carteira Profissional de Jornalista):
A lei define um conjunto de situações que consubstanciam uma incompatibilidade com o
exercício da profissão de jornalista. O jornalista abrangido por qualquer das incompatibilidades
definidas na lei fica impedido de exercer a respetiva atividade, devendo, antes de iniciar a
atividade em causa, depositar junto da CCPJ a carteira profissional que será devolvida, a
requerimento daquele, quando cessar a situação que determinou a incompatibilidade.
A violação do regime das incompatibilidades constitui punível com coima de € 200 a € 5.000,
podendo ser objeto de sanção acessória de interdição do exercício da profissão por um período
máximo de 12 meses, tendo em conta sue gravidade e a culpa do agente. São consideradas
incompatíveis com o exercício da profissão de jornalista as seguintes funções/situações:
1. Funções de apresentação, através de texto, voz ou imagem, de mensagens publicitárias;
2. Participação em iniciativas que visem divulgar produtos, serviços, ou entidades através da
notoriedade pessoal ou institucional do jornalista, quando aquelas sejam determinadas por
critérios exclusivamente editoriais;
-Incompatibilidades: São incompatíveis com o exercício da profissão de jornalista (2 de 2) 15
-Incompatibilidades (segundo a CCPJ, Comissão de Carteira Profissional de Jornalista) continuação:
3. Funções de angariação ou conceção de mensagens publicitárias:
4. Funções de marketing. relações públicas, assessoria de imprensa e consultoria em comunicação ou
imagem, bem como de planificação, orientação e execução de estratégias comerciais;
5. Funções em serviços de informação e segurança ou em qualquer organismo ou corporação policial;
6. Serviço militar;
7. Funções enquanto titulares de órgãos de soberania:
- Presidente da República; Deputado na Assembleia da República; Membro do Governo; Juiz;
8. Funções enquanto titulares de outros cargos políticos, concretamente:
- Ministros da República para as regiões autónomas; Membros do Governo Regional:
Provedor de Justiça; Governador CMI; Deputado no Parlamento Europeu;
9. Funções de Deputados nas Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas;
10. Funções de assessoria, política ou técnica, a tais cargos associadas;
11. Funções executivas, em regime de permanência, a tempo inteiro ou a meio tempo, em órgão
autárquico.
[email protected] Manuel Carvalho Coutinho
-Código Deontológico do Jornalista (Artigo 1 a 3, de 11) 16
1. O jornalista deve relatar os factos com rigor e exatidão e interpretá-los com honestidade.
Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A
distinção entre noticia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.
2. O jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem
provas e o plágio como graves faltas profissionais.
3. O jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as
tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do
jornalista divulgar as ofensas a estes direitos.
-Código Deontológico do Jornalista (Artigo 4 a 7, de 11) 17
4. O jornalista deve utilizar meios leais para obter informações, imagens ou documentos e
proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra
e outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público e depois
de verificada a impossibilidade de obtenção de informação relevante pelos processos normais.
5. O jornalista deve assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e atos profissionais,
assim como promover a pronta retificação das informações que se revelem inexatas ou falsas.
6. O jornalista deve recusar as práticas jornalísticas que violentem a sua consciência.
7. O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. O jornalista não
deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os
compromissos assumidos, exceto se o usarem para canalizar informações falsas. As opiniões
devem ser sempre atribuídas.
-Código Deontológico do Jornalista (Artigo 8 a 11, de 11) 18
8. O jornalista deve salvaguardar a presunção de inocência dos arguidos até a sentença transitar
em julgado. O jornalista não deve identificar, direta ou indiretamente, as vítimas de crimes
sexuais. O jornalista não deve identificar, direta ou indiretamente, menores, sejam fontes, sejam
testemunhas de factos noticiosos, sejam vítimas ou autores de atos que a lei qualifica como
crime. O jornalista deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor.
9. O jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas em função da ascendência,
cor, etnia, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução,
situação econômica, condição social, idade, sexo, género ou orientação sexual.
10. O jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos exceto quando estiver em causa o in-
teresse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que
publicamente defende. O jornalista obriga-se, antes de recolher declarações e imagens, a aten-
der às condições de serenidade, liberdade, dignidade e responsabilidade das pessoas envolvidas.
11. O jornalista deve recusar funções, tarefas e benefícios suscetíveis de comprometer o seu
estatuto de independência e a sua integridade profissional. O jornalista não deve valer-se da sua
condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesse.
[email protected] Manuel Carvalho Coutinho
-Exemplo: Público, “Livro de Estilo” (online) 19
-Introdução - Vicente Jorge Silva
O livro de estilo do PÚBLICO não é uma cartilha ou um catecismo, mas apenas um conjunto de
regras técnicas e deontológicas que se inspiram em critérios de bom senso, bom gosto e rigor
profissional. Além disso, um livro de estilo nunca se pretende definitivo: é um texto em evolução
permanente onde se registam princípios, regras e procedimentos que a vida da Redação do
jornal for instituindo como adquiridas.
O PÚBLICO tem um estilo próprio que identifica o jornal perante os seus leitores e a opinião púb-
lica em geral. Esse estilo integra os grandes princípios fundadores do jornalismo moderno – ado-
tados pelos jornais de referência em todo o mundo, do The Washington Post e do The New York
Times ao La Repubblica, El País, Le Monde ou The Independent - e uma nova sensibilidade para
captar e noticiar os acontecimentos, que caracteriza um jornal como o Libération por exemplo.
O rigor de uma informação completa e fundamentada - sobre factos e não sobre rumores -, a
imparcialidade da atitude jornalística, a correção, clareza e concisão da escrita são, para o
PÚBLICO, regras essenciais. Mas o respeito escrupuloso por essas regras não é incompatível com
a procura de formas inovadoras de noticiar, interpretar e editar a atualidade.
-Exemplo: Público, “Princípios e normas de conduta profissional” (online) 20
-Princípios e normas de conduta profissional (do jornal Público)
Imparcialidade, integridade e independência em relação aos vários poderes e às fontes de informação definem a
conduta profissional dos jornalistas do PÚBLICO. Que começa por se distinguir por uma característica natural da
sua condição de jornalista: estar bem informado. Por isso, é essencial ter em conta as normas seguintes:
1. Recusa de cargos e funções incompatíveis com o estatuto do jornalista. Por exemplo: ligações governativas ou
ao poder autárquico, às Forças Armadas, polícias e similares; à publicidade, relações públicas, assessorias e
gabinetes de imprensa elou de imagem (incluindo-se neste âmbito a chamada imprensa partidária, empresarial, de
clubes, etc.). Enfim, quaisquer vínculos aos poderes estabelecidos, privados e oficiais. Ou qualquer género de
atividade empresarial, liberal ou assalariada que (caso da advocacia), pela sua natureza ou conflitualidade de
interesses, condicione o trabalho jornalístico específico.
2. Exclusividade e disponibilidade total para o PÚBLICO, salvo nos casos ponderados e decididos com a Direção,
após consulta ao Conselho de Redação. As participações noutros órgãos de informação, devem, em princípio, ficar
sujeitas à identificação genérica de "jornalista do PÚBLICO".
3. Não envolvimento público em tomadas de posição de carácter político, comercial, religioso, militar, clubístico ou
outras que, de algum modo, comprometam a imagem de independência do PÚBLICO e dos seus jornalistas.
Por exemplo: tempos de antena a favor desta ou daquela figura política ou agrupamento partidário; campanhas
publicitárias, abaixo-assinados e tomadas de posição notoriamente sectarizados e/ou tendenciosos — como é o
caso do facciosismo clubístico (...) —, suscetíveis de contrariar os requisitos de isenção e objetividade do jornalista.
[email protected] Manuel Carvalho Coutinho
-Exemplo: Agência Lusa, “Livro de Estilo”: Normas Gerais 21
Serviço de agência – As primeiras características do jornalismo de agência são o rigor e a
rapidez. A regra é a urgência das notícias e uma notícia pode, apenas, ser menos urgente do que
outra. Mas a urgência não pode ser exercida com o sacrifício da precisão e da exatidão. A notícia
de agência deve ser isenta e rigorosa.
Clareza – A notícia de agência deve ser sempre uma unidade independente e
completa, redigida de forma acabada. Não se omitem factos nem pormenores sob o
pretexto de já serem do conhecimento público. Os dados que, não sendo novos, nem
desconhecidos, forem relevantes para o entendimento da notícia devem ser incluídos
na peça, sob a forma de informação de contexto, ou enquadramento.
Imparcialidade – A agência não toma partido em conflitos políticos ou armados, nem em
questões sociais, laborais, religiosas, culturais ou ideológicas. Não tem opiniões, simpatias ou
antipatias. É rigorosamente factual e equidistante. A sua única missão é informar, transmitindo
aos destinatários os acontecimentos de que tem conhecimento. As características de isenção e
rigor aconselham a eliminação de adjetivos valorativos no noticiário. Do mesmo modo, a busca
de isenção exige o maior rigor na escolha do vocabulário. São abolidas as palavras com carga
política ou ideológica, os termos pejorativos ou elogiosos que marquem posições de repúdio ou
de preferência, assim como as expressões grosseiras, os insultos, as expressões preconceituosas,
xenófobas ou racistas, puníveis além do mais pela lei portuguesa.
[email protected] Manuel Carvalho Coutinho
-Exemplo: Agência Lusa, “Livro de Estilo”: Normas Gerais 22
Escrita viva e rigorosa – Não se trata apenas de escrever depressa para não retardar a
rapidez da difusão da notícia. Trata-se de conseguir que, na leitura, se tenha a sensação de
rapidez — o que se obtém usando frases e palavras breves (...). As palavras simples e do
conhecimento geral são recomendáveis e desaconselha-se um vocabulário rudimentar e
inexpressivo. A prosa deve ser substantivada evitando as palavras e expressões supérfluas (...);
adjetivos valorativos; os pronomes demonstrativos e os advérbios de modo. A informação de
agência deve ser viva, incisiva, clara e rápida (...) ordem mais simples e direta: sujeito-predicado-
complemento. (...) Porque o utilizador da informação tem uma capacidade limitada de
memorização, as frases devem ser curtas, contendo uma só ideia e com o mais importante dessa
ideia no princípio da frase. Siga-se o que mandam os fundamentos da escrita jornalística: uma
frase, uma ideia, uma informação. (....)
Isenção – O jornalista não deve emitir posições próprias sobre as matérias
que reporta. Ao fazer perguntas, o jornalista deve evitar que sejam interpretadas
como uma tomada de posição sobre o acontecimento ou como favorecimento.
Viagens a convite – Sempre que um jornalista viaje a convite de uma
entidade, tal deve ser mencionado no final da notícia ou notícias (...) nesse âmbito,
com a frase "A Lusa viajou a convite", ou "A Lusa ficou alojada a convite..."
-Estudo de caso (Queixa de acordo com a análise do Conselho Deontológico do Sindicato de Jornalistas) 23
-Estudo de caso (Queixa de acordo com a análise do Conselho Deontológico do Sindicato de Jornalistas) 24
-Estudo de caso (Queixa de acordo com a análise do Conselho Deontológico do Sindicato de Jornalistas) 25
-Estudo de caso (Queixa de acordo com a análise do Conselho Deontológico do Sindicato de Jornalistas) 26
-Questões a considerar e (outro) Estudo de caso 27
-Como avaliar o equilíbrio entre o direito à privacidade do queixoso e o direito à
informação do público?
-Como definir os limites éticos em reportagens que envolvem figuras públicas ou
casos sensíveis?
-Que papel desempenha a formação ética e deontológica no desempenho de um
jornalista em início de carreira?
-Até que ponto a orientação de supervisores mais experientes pode influenciar a
atuação de estagiários?
(Outro) Estudo de caso
O jornalista X está encarregado de acompanhar todo o "dossier" Maastricht —
especialmente "quente" com a questão pró e contra o referendo. O mesmo jornalista tem
uma posição claramente militante sobre o referendo. Por isso, subscreve um abaixo-
assinado público — e muito publicitado —, entre vários nomes activos e empenhados por
uma das posições. Que, como é bom lembrar, dividem o "país esclarecido".
Como vai ser visto, doravante, o trabalho do jornalista X? Ficou ou não alterado
(logo, desequilibrado) o seu relacionamento com as posições em confronto, em termos de
acesso a informações e iniciativas? Como passa a ser visto o seu trabalho?
Democracy
Women in Action
-Estudo de –Caso:
Portuguese
Journalists inPode and
the aArabInternational Literary Journalism
World: Stereotypes,
Deontologia Courage and
“prever/solucionar” Sahafiyat
qualquer Manuel Coutinho
in Action
situação? 28
“Several years ago I visited Kentucky to write about welfare reform. (…) I found a family to write about. It was the
quintessential scene of poverty, of living on the edge. The couple, Gracie and Terry, lived with their two children (…).
Everything was always breaking down. They improvised (…). It wasn’t nearly enough to live on. (…) At the time of my
second trip (…) they were in dire straits. Their baby, Jacqueline, had a fever (…) she clearly needed medical care. (…)
The photographer and I watched. They didn’t have gas money to get to the doctor. Our rental car sat about two
hundred feet away; they were looking at it. I could, of course, feel the ethical dilemma developing: Should I offer to
drive them to the hospital in my car? No. I decided to wait it out (…). I was there reporting a story about living on
the edge. If I, an accidental visitor, solved their problem, then it would no longer be a true story.
Time passed. (…) I started to think, «Why am I doing this job? This is horrible.» I wanted to throw the notebook
down, stop being the reporter, and take care of the baby. (…) [We] decided to wait just fifteen more minutes. (…)
Terry went inside the trailer and got a shotgun. He went to a neighbor and pawned it for $20, getting the money to
get the baby to the doctor.
Now, if I had taken the baby in my car, I would have solved their problem, but it was very important to witness how
they maneuvered out of that tight situation. This wasn’t a unique situation for them; something like that happened
almost every month. That’s the nature of living on the edge. As it turned out, the event with baby Jacqueline did not
seem to damage my rapport with the family. If the baby had been in great danger, if it had become very clear that
we had to go, I would have thrown down my notebook, of course, and driven them to the hospital.
There is no surefire way to inoculate yourself against this sort of dilemma. (...) Newspapers operate under the
strictest of codes. It’s different from doing a book or another type of nonfiction (…). Newspaper writers must set
firmer boundaries. (...) We must stick to the basic framework, telling ourselves: I am here to do a job.
Anne Hull, “A Dilemma of Immersion Journalism,” in Telling True Stories, ed. M. Kramer & W. Call (2007), p. 183
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Manuel Carvalho Coutinho
[email protected]