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PACHECO e HUTZ 2009

O estudo investiga as variáveis familiares que preveem o comportamento antissocial em adolescentes autores de atos infracionais, destacando a influência de práticas parentais, uso de drogas e a dinâmica familiar. A pesquisa revelou que fatores como o número de irmãos e a presença de comportamentos antissociais em familiares são preditores significativos desse padrão comportamental. Os resultados indicam que 53% da variância do comportamento infrator pode ser explicada por essas variáveis.

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PACHECO e HUTZ 2009

O estudo investiga as variáveis familiares que preveem o comportamento antissocial em adolescentes autores de atos infracionais, destacando a influência de práticas parentais, uso de drogas e a dinâmica familiar. A pesquisa revelou que fatores como o número de irmãos e a presença de comportamentos antissociais em familiares são preditores significativos desse padrão comportamental. Os resultados indicam que 53% da variância do comportamento infrator pode ser explicada por essas variáveis.

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UFOP – PPGE – Disc.

225
Sociologia... -

Variáveis Familiares Preditoras do Comportamento Antissocial em Adolescentes Autores de


Atos Infracionais
Janaína Thaís Barbosa Pacheco1
Claudio Simon Hutz
Introdução
• O comportamento antissocial pode ser definido como um padrão de respostas
cuja consequência é maximizar gratifica­ções imediatas e evitar, ou neutralizar, as
exigências do am­biente social; sua ocorrência estaria diretamente relacionada à
ação de uma outra pessoa (Deater-Deckard & Plomin, 1999; Patterson, Reid &
Dishion, 1992; Pettit, Laird, Dodge, Bates & Criss, 2001).

• Esse padrão é aprendido na infância e tanto o comportamento pró-social quanto


o comportamento antissocial de uma criança são diretamente produzidos por
interações sociais, particularmente com membros da família, e vão se alterando a
partir das exigências ambientais e do desenvolvimento do indivíduo. (PATTERSON
et al., 1992)
Introdução
• Aspecto importante na definição de comportamento antissocial: relação do indivíduo com o ambiente
social.
• Os comportamentos antissociais de uma criança, por exemplo, moldam e manipulam o ambiente e,
devido a sua efetividade, podem tornar-se a principal forma desses indivíduos interagirem e lidarem com
as outras pessoas (Patterson et al., 1992).

• Além disso, os pais, inadvertidamente, parecem reforçar tais condutas por meio de práticas parentais
ineficazes (Capaldi, Chamberlain & Patterson, 1997; Patterson, DeGarmo & Knutson, 2000) .

• No decorrer das interações, a criança e os outros membros da família vão gradualmente escalando na
intensidade e na amplitude dos comportamentos coercitivos. Dessa forma, os comportamentos
antissociais que ocorrem na infância são protótipos de comportamentos delinquentes que poderão
acontecer mais tarde.
Introdução
• A delinquência, então, é um elemento de um amplo padrão antissocial que
se inicia na infância e, normalmente, persiste na adolescência e adultez
(Veirmeiren, 2003).

• A distinção entre comportamento antissocial e delinquente é que o primeiro


pode ou não incluir a violação de leis, enquanto o segundo refere-se,
especificamente, a essas violações, como roubo, vandalismo ou violência
contra outras pessoas (Scaramella, Conger, Spoth e Simons, 2002).

• O comportamento delinquente é comumente definido por critérios jurídicos,


uma vez que decorre da transgressão de normas codificadas (Gomide,
2004), e avaliado a partir de registros oficiais, em geral, ocorrências policiais,
e de autorrelatos (Capaldi & Patterson, 1991).
Introdução

• A estabilidade do comportamento antissocial tem sido investigada por uma


série de estudos longitudinais que buscam compreender as variações que
contribuem para a manutenção e a escalada desse padrão comportamental.

• Modelo de coerção (Patterson et al., 1992) – explicar as modificações que


acontecem ao longo do tempo. Relaciona diversos fatores que contribuem
para a evolução do comportamento antissocial e suas características em
cada fase do desenvolvimento.

• Estágios do Modelo de Coerção indicam uma progressão – Mas, nem toda


criança antissocial irá escalar e manter esse padrão comportamental
durante seu desenvolvimento.
Introdução

• A partir desse modelo e outros estudos é possível identificar variáveis


que favoreceriam a continuidade do comportamento antissocial e que
podem ser consideradas como preditoras desse padrão
comportamental na adolescência (Vuchinich et al., 1992).

A. Variáveis individuais: autoestima e depressão e....


B. Ocorrência de comportamento antissocial em pelo menos um dos pais;
C. A idade de início desse padrão e sua ocorrência em mais de um ambiente
e;
D. As práticas educativas parentais.
Introdução
• Estratégias utilizadas pelos pais com o objetivo de promover a
socialização de seus filhos = práticas educativas, disciplinares ou de
cuidado (Hoffman, 1975, 1979, 1994).

• Os pais normalmente utilizam a combinação de vários métodos e irão


avaliá-los de acordo com a situação.

• Os métodos irão entrelaçar-se com um conjunto de atitudes e


sentimentos parentais, não necessariamente todos consistentes entre
si.
Introdução
• As práticas parentais têm sido classificadas de diversas formas pelos
autores da área.
• Técnicas coercitivas e indutivas (Hoffman, 1975, 1979, 1994)

• Coercitivas: uso de punição verbal ou física, a privação de privilégios e a


ameaça de castigo.

• Indutivas: uso de explicação, comando verbal não coercitivo e alteração da


situação ambiental.
Introdução
• Monitoramento parental, a disciplina, a habilidade para resolução de
problemas, o reforçamento e a supervisão parental (Patterson e
colaboradores 1992).
• Monitoramento:
• controle do comportamento – onde o filho está, com quem está e o que está
fazendo.
• diminui o risco de engajamento de crianças e adolescentes em
comportamentos antissociais.
• Um controle parental firme na infância → reduz a necessidade de regras na
adolescência, provendo uma distribuição mais sistemática do poder na
família.
Introdução
• Os estudos indicam que fatores estressores que ocorrem no ambiente
familiar, como desemprego ou divórcio, podem mediar as estratégias
parentais.

• outras variáveis familiares como o número de irmãos, a


monoparentalidade, a drogadição ou outras psicopatologias em
membros da família também parecem influenciar as estratégias
adotadas pelos pais, estando relacionadas à inconsistência, à
negligência e ao emprego de punição.
Introdução

• Uso de drogas: considerado parte da problemáticas envolvendo o


comportamento antissocial na adolescência.

• Abuso – frequentemente encontrado em comorbidade em jovens com


transtorno de conduta.
• Considerado parte da síndrome de problemas de comportamento na
adolescência” (Vermeiren, 2003)

• Evidências de que o abuso ou a dependência de drogas, em


adolescentes infratores, está relacionado à severidade do
comportamento antissocial, ao emprego de maior violência, uso mais
pesado de álcool, ocorrência de depressão e alta incidência de tentativa
de suicídio.
Introdução

• Considerando que o comportamento antissocial é determinado por fatores


individuais, familiares e contextuais, esse trabalho realizou um recorte
propondo-se a estudar esse padrão comportamental, enfatizando as variáveis
familiares.

• Este artigo integra um estudo de doutorado que buscou comparar


adolescentes infratores e não infratores quanto a variáveis familiares que
podem estar relacionadas ao desenvolvimento do comportamento infrator

• O objetivo específico deste artigo foi investigar as variáveis individuais e


familiares preditoras do comportamento antissocial.
Método
• Participantes: 311 adolescentes – 2 grupos

Grupo infrator:

- 148 adolescentes do sexo masculino, autores de atos infracionais, em


cumprimento de medida socioeducativa privativa de liberdade (Fundação de
Atendimento Socioeducativo – FASE)
- Média de idade: 17,2 anos

- Escolaridade média: 5ª série.


Método

Grupo não infrator:


- 163 adolescentes que não cometeram atos infracionais.

- Estudantes de Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas de Porto


Alegre.
- Média de idade: 16,6 anos.

- Escolaridade média: 6ª série


Método

• Emparelhamento dos grupos por:

- Nível socioeconômico

- Local de moradia

- Idade e

- Escolaridade

• Diferenças entre os grupos com relação à idade e à escolaridade porque


muitos adolescentes do Grupo Infrator estavam afastados da escola antes da
internação.
Método

• Atos infracionais pelos quais cumpriam media socioeducativa*:

- Contra o patrimônio (78,8%)

- Contra a pessoa (18,2%)

- Contra a liberdade sexual (1,5%)

- Relacionados a tóxico (1,5%)

*Categorização dos delitos de acordo com o Código Penal Brasileiro


Método
• Instrumentos
• Entrevista semiestruturada: usada para investigar as variáveis individuais e
familiares.
- Construída com base em Alvarenga (2000) e Assis (2009) + itens utilizados em
outros estudos.
- Composta por três situações estruturadas que buscavam investigar as práticas
educativas utilizadas pelos pais diante de comportamentos específicos dos
filhos.
Método

[S1] = desobediência;

[S2] = mentira;

[S3] = envolvimento com o cometimento dos delitos.

- Foi perguntado primeiro sobre a mãe e depois sobre o pai.

- Além das práticas educativas parentais, a entrevista abordou os seguintes temas:


 Número de irmãos;

 Uso de álcool , drogas ilícitas e cometimento de delitos por algum membro da família;

 Uso de drogas pelo adolescente.


Método

• Procedimento
- Entrevistas individuais [interesse e disponibilidade do adolescente].

- FASE [respeitando as características organizacionais da instituição].

- Escolas [Grupo Não Infrator] = Turmas de EJA ou ensino regular para


repetentes;
- 9 escolas públicas de Porto Alegre que atendiam adolescentes de baixa renda;

- Uso de registros da escola para identificar turmas e alunos com as


características desejadas.
- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos pais.
Resultados
• As respostas dadas pelos adolescentes às três situações propostas na
entrevista semiestruturada foram submetidas à análise de conteúdo
(Bardin, 1977/1997).

• Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por


procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens. (Bardin, 1977, p. 42)
Resultados
• Foram delimitadas as seguintes práticas educativas.

1. Não interferência (negligência);

2. Aconselhamento; [produzir uma modificação, alertar ou dar ordens]

3. Reforçamento do comportamento inadequado [sem considerar a intenção];

4. Punição física [controle ou agressão];

5. Castigo ou privação de privilégio material;

6. Delegar responsabilidades para outros.


Resultados

• As práticas educativas parentais foram analisadas para pais e mães,


separadamente, e em cada situação da entrevista (S1, S2 e S3).

• Para investigar o valor preditivo das variáveis familiares com relação


ao comportamento infrator foi realizada uma Análise de Regressão
Linear.

• Foram incluídas na Análise de Regressão as variáveis que


apresentaram diferenças significativas entre os grupos.
Resultados
• Uso de drogas e cometimento de delitos por algum familiar:
> Grupo Infrator.

- drogas: pai (29,6%); irmãos (9,4%); tios (10,7%).


- Delitos: irmãos (14,7%); primos (10,1%) e tios (9,8%).

• Diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos quanto


ao uso de drogas pelos participantes

- Mais citadas pelo Grupo Infrator: maconha, cocaína e crack;


Tais drogas interferem de forma importante na conduta e têm
propriedades que podem motivar ações violentas (Minayo & Deslandes, 1998)
Resultados
• Número de irmãos: resultados confirmam a literatura [variável preditora
do comportamento antissocial]. Grupo Infrator > Grupo Não Infrator

• Práticas educativas mais frequentes no Grupo Infrator:


- Não interferência
- Aconselhamento
- Reforçamento
- Punição Física

• Práticas mais frequentes no Grupo Não Infrator:


- Castigo ou privação de privilégio material
- Delegar responsabilidades para outros
Resultados

• 14 variáveis contribuíram para explicar 53% da variância do


comportamento infrator.
REFERÊNCIAS
• BARDIN, L. Análise de conteúdo.(2011). São Paulo: Edições, v. 70,
1977.
Discussão
• Com base, então, na multiplicidade de fatores relacionados ao comportamento anti-social e na limitação
característica de qualquer estudo empírico, para esta pesquisa optou-se por delimitar a investigação às
variáveis familiares, em especial ao comportamento anti-social na família e às práticas educativas.
• Escolha sustentada teoricamente pelo Modelo da Coerção (Patterson e cols, 1992)
• As análises indicaram que o uso de drogas pelos adolescentes, o número de irmãos, o envolvimento de um
familiar com delito, o uso de drogas por algum familiar e as práticas educativas parentais (aconselhamento;
castigo ou privação de privilégio material; punição física; delegar responsabilidades para outras pessoas; não
interferência; e reforçamento do comportamento inadequado) explicaram 53% da variância do
comportamento infrator.
• O objetivo deste estudo foi investigar as variáveis preditoras do comportamento infrator
• As análises indicaram que o uso de drogas pelos adolescentes, o número de irmãos, o envolvimento de um
familiar com delito, o uso de drogas por algum familiar e as práticas educativas parentais (aconselhamento;
castigo ou privação de privilégio material; punição física; delegar responsabilidades para outras pessoas; não
interferência; e reforçamento do comportamento inadequado) explicaram 53% da variância do
comportamento infrator. Novidade em estudos brasileirosss
Discussão
• Em relação às práticas educativas relatadas pelos adolescentes, é importante salientar que as características
específicas da amostra (adolescentes de classes populares) podem ter contribuído para que as categorias
relativas à conduta parental apresentassem um perfil diferente do apontado pela literatura
• O reforçamento, por exemplo, é considerada uma...
• Da mesma forma, a categoria “aconselhar/conversar...
• As estratégias que incluem a privação de privilégio ou a colocação do adolescente em contato com as
consequências de seu comportamento têm sido consideradas formas brandas de controle do comportamento,
mas quando combinadas com monitoramento e reforçamento de conduta adequada, mostram-se efetivas no
controle do comportamento - Essa afirmação pode ser corroborada pelos resultados aqui obtidos,
• Não intervir, ou atribuir a outras pessoas ou a instituições a responsabilidade de interferir no comportamento
dos adolescentes, também foram estratégias que se constituíram em preditoras do comportamento infrator
• É importante observar que a estratégia de “não interferência” foi mais empregada pelos pais do Grupo
Infrator, possivelmente pelas razões mencionadas anteriormente. No entanto, a estratégia de “delegar
responsabilidade para outros”, foi mais frequente nas mães do Grupo Não Infrator, na Situação 3, que trata
sobre o cometimento de delito
Discussão
• A punição física empregada tanto pela mãe, quanto pelo pai, também é uma variável preditora do
comportamento infrator
• Os resultados encontrados neste estudo sugerem as práticas educativas que contribuem favoravelmente para o
desenvolvimento desses adolescentes e as práticas que podem prejudicar seu desenvolvimento
• Além das práticas educativas, as variáveis “número de irmãos”, “cometimento de delitos e uso de drogas por
algum familiar” e “uso de drogas pelo adolescente” também foram consideradas preditoras do
comportamento infrator e todas apresentaram média e frequência maior no Grupo Infrator
• Alguns autores (e.g., Patterson & cols, 1992) afirmam que a existência de comportamento anti-social na
família é um importante preditor desse padrão na infância e na adolescência.
• Finalmente, o consumo de drogas pelo adolescente tem sido considerado parte de um problema de atos
infracionais e de violência envolvendo crianças e adolescentes (Minayo & Deslandes, 1998)
Considerações Finais
• A investigação dessas variáveis familiares em um grupo de adolescentes de nível socioeconômico baixo constituiu-
se em um desafio metodológico e em um aspecto inovador deste trabalho.
• Portanto, entende-se que a compreensão das especificidades das estratégias educativas e das relações que se
estabelecem no âmbito familiar desses jovens será efetivamente possível na medida em que forem desenvolvidos
instrumentos de avaliação adequados para esse grupo
• é preciso considerar que as proposições teóricas acerca da família precisam ser revistas quando o objetivo é estudar
famílias de classes populares.
• A análise da dinâmica dessas famílias à luz de conceitos construídos com base em características da classe média
poderá contribuir para a perpetuação de uma visão preconceituosa de desestruturação.
• As implicações dos resultados apontam para necessidade de implementação de políticas de assistência, de
educação, de prevenção e de tratamento destinadas a essas famílias.
• Especialmente no que se refere às práticas educativas parentais, a possibilidade de intervenção pode ocorrer por
meio da orientação ou treinamento de pais
• Além de intervenções pontuais, descritas anteriormente, políticas que privilegiem aspectos familiares e busquem
reduzir a situação de exclusão em que muitas dessas famílias se encontram não podem deixar de ser mencionadas.

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