PEC-EJA:Desenvolvimento (Módulo 2)

Concepções de desenvolvimento
– Tendência à naturalização e não problematização
do conceito, concebendo o desenvolvimento como
algo positivo em si
– Caráter polissêmico do conceito
– Disputa pela atribuição de sentidos, adjetivos,
predicados...
– Diferentes atores coletivos buscam estabelecer
perspectivas e estratégias particulares sobre
como proceder em relação ao desenvolvimento
– Poder normativo fundado no conjunto de
conotações associadas à noção de progresso

Duas possibilidades:
1) Processo cujo objetivo é causar mudanças sociais
concebidas previamente como necessárias e
inevitáveis, relacionadas à reprodução da sociedade
capitalista
2) Desenvolvimento concebido como processo de
mudança que responde a demandas e interesses dos
sujeitos sociais que lutam pela superação das causas
das desigualdades sociais.
Nesse caso não há determinação prévia do sentido da
mudança e sim decisões localmente construídas sobre
alternativas desejáveis ou viáveis

1) Processo cujo objetivo é causar mudanças sociais
concebidas previamente como necessárias e
inevitáveis, relacionadas à reprodução da sociedade
capitalista

“A debilidade do conceito de desenvolvimento é seu aspecto
frequentemente determinista, fatalista, quando é concebido
como necessário e irreversível, como se seguisse um caminho
predeterminado, singular e universal rumo a um fim inevitável,
esvaziando, desse modo, a dimensão das escolhas ou preferências
humanas” [Sztompka, 2010, p.139]

1) Desenvolvimento concebido como processo de mudança
que responde a demandas e interesses dos sujeitos sociais
que lutam pela superação das causas das desigualdades
sociais.
Nesse caso não há determinação prévia do sentido da
mudança e sim decisões localmente construídas sobre
alternativas desejáveis ou viáveis

O desenvolvimento torna-se contingente, socialmente condicionado.
Os resultados dos processos de desenvolvimento dependerão dos
das disputas, dos jogos de força, da ação política para afirmar
concepções e objetivos do próprio desenvolvimento

Conceber desenvolvimento como autodeterminação dos
sujeitos sociais significa:
– Reconhecer que ele emerge e acontece em um contexto
histórico e cultural determinado
– Considerá-lo como uma relação entre sujeitos sociais
(relações de dominação e subordinação) que buscam se
posicionar no processo de mudança social
desencadeado pela intenção de ‘desenvolver’
– Reconhecer que há sujeitos do desenvolvimento: atores
sociais que buscam afirmar valores, concepções, projetos sociais
quando se envolvem em processos de promoção do
desenvolvimento

Conceber desenvolvimento como autodeterminação dos
sujeitos sociais significa:
– Considerar que os sujeitos do desenvolvimento
participam com capacidades diferenciadas nos
processos que buscam influenciar
– Questionar sobre a capacidade dos sujeitos locais
afirmarem sua autodeterminação, autonomia e
emancipação em relações aos agentes que buscam
inclui-los (por meio do desenvolvimento) em circuitos
econômicos globalizados
– Reconhecer que o desenvolvimento pode ser
concebido como possibilidade de os sujeitos locais
assumirem controle sobre suas economias localizadas

Desenvolvimento como autodeterminação dos sujeitos
sociais implica evidenciar o papel dos ‘agentes de
desenvolvimento’ como aqueles que...
– Estimulam processos qualitativos de mudança social
cuja orientação não é dada a priori
– Buscam fortalecer capacidades dos sujeitos sociais,
atuando como catalisadores de processos
socioculturais
– Envolvem-se em uma trama de relações de poder que
buscam estabelecer uma trajetória de mudanças em
busca de autonomia, emancipação, auto-afirmação...

Desenvolvimento como autodeterminação dos sujeitos
sociais implica, para os agentes de desenvolvimento,
trabalhar como:
“[...] elementos catalisadores de processos socioculturais que
assegurem a esses grupos a autonomia; o direito de controlar
suas próprias terras, seus próprios recursos, suas instituições,
sua organização sociocultural; a liberdade de escolher que
caminho seguir e negociar com o Estado para definir que tipo
de relações quer estabelecer com este” (Barreto Filho, 2006, p.17)

Sentidos atribuídos à participação
Qual é o papel da participação dos sujeitos
envolvidos em processos de desenvolvimento?
• Tornar a intervenção mais “eficiente” pela adesão dos
envolvidos às práticas e procedimentos propostos pelo
agente coordenador da intervenção
• Possibilitar aos agentes coordenadores da intervenção
maior controle sobre o processo pela definição de papéis
e atribuição de responsabilidades aos envolvidos
• Contribui para dividir responsabilidades acerca das ações
demandas pelo processo de intervenção social,
legitimando-as junto aos atores envolvidos

• Possibilitar um processo de aprendizado acerca de uma
compreensão crítica, pelos envolvidos, dos arranjos
sociais de poder, do seu lugar na sociedade, das formas
de estruturação da educação e das formas dominantes de
produção do conhecimento
• Possibilitar aos envolvidos a construção da capacidade
de agir autonomamente acerca de sua organização para
provocar mudanças em sua própria realidade, inclusive
decidir sobre a necessidade da presença dos agentes
externos e de seu projeto de desenvolvimento

• Tornar a intervenção mais “eficiente” pela adesão dos
envolvidos às práticas e procedimentos propostos pelo agente
coordenador da intervenção?
• Possibilitar aos agentes coordenadores da intervenção maior
controle sobre o processo pela definição de papéis e atribuição
de responsabilidades aos envolvidos?
• Contribui para dividir responsabilidades acerca das ações
demandas pelo processo de intervenção social, legitimando-as
junto aos atores envolvidos?
A PARTICIPAÇÃO ASSUME UM
CARÁTER ‘INSTRUMENTAL’ E CUMPRE
O PAPEL DE GARANTIR A REALIZAÇÃO
DO PROJETO DE MUDANÇA PROPOSTO
PELO ‘INTERVENTOR’

Qual é o papel (ou para que serve) da participação dos
envolvidos no processo de intervenção social...
• Possibilitar um processo de aprendizado acerca de uma
compreensão crítica, pelos envolvidos, dos arranjos sociais de
poder, do seu lugar na sociedade, das formas de estruturação da
educação e das formas dominantes de produção do conhecimento
• Possibilitar aos envolvidos a construção da capacidade de agir
autonomamente acerca de sua organização para provocar
mudanças em sua própria realidade, inclusive decidir sobre a
necessidade da presença dos agentes externos e de seu projeto
de desenvolvimento
A PARTICIPAÇÃO ASSUME UM
CARÁTER POLÍTICO- PEDAGÓGICO E CUMPRE
O PAPEL DE GARANTIR A REALIZAÇÃO
DO PROJETO DE MUDANÇA CONSTRUÍDO
PELO GRUPO

Neste caso a participação é parte de um projeto
político-pedagógico, sendo compreendida como:
• Meio para o envolvimento, participação, tomada de decisão
(em distintos níveis) e aprendizado do grupo envolvido
• Meio para construir novas leituras sobre as realidades
sociais em que ocorrem os processos de intervenção
• Meio para adaptar aos contextos locais e específicos
tecnologias (inclusive sociais) desenvolvidas em outros
contextos
• Meio para o trabalho coletivo e afirmação de compromissos
dos sujeitos envolvidos com os processos que eles próprios
desencadeiam

Quem detém poder e/ou possui capacidade, em um
processo de intervenção social, de definir o sentido
que a participação irá assumir...
PROJETO EXTERNO
– A instituição que financia ou dá suporte ao processo
de intervenção?
– O agente externo que coordena ou anima o processo?
– Os atores locais a partir de sua compreensão do
papel que cumprem (ou devem cumprir) no processo?
– Todos os envolvidos... a participação deve “surgir”
como decorrência do próprio processo
PROJETO CONSTRUÍDO
PELO GRUPO E NO
PROCESSO

Há tipos distintos de participação... [Gandin, 1994]

PARTICIPAÇÃO COMO COLABORAÇÃO
É o tipo de participação em que o coordenador do processo de
intervenção chama os envolvidos para contribuírem com aquilo
que foi previamente definido como proposta de mudança
A participação ocorre em termos da colaboração para que os
“bons resultados” sejam alcançados, sem que se questionem os
seus objetivos preestabelecidos e as funções predefinidas.


PARTICIPAÇÃO COMO DECISÃO
É o tipo de participação em que o coordenador do processo de
intervenção permite que determinadas decisões sejam
tomadas conjuntamente.
A participação ocorre em termos da tomada de decisão sobre
assuntos pontuais ou secundários do processo de
intervenção. Geralmente decide-se acerca de alternativas
preestabelecidas, que não afetam a proposta principal de
mudança.


PARTICIPAÇÃO COMO CONSTRUÇÃO
É o tipo de participação em que o poder de decisão está
disperso entre os envolvidos.
A participação ocorre em termos de um processo relativamente
aberto em que todos, com seu próprio saber, sua consciência e
decisão específica, organizam problemas, ideias,
conhecimentos da realidade, propostas e ações.
Todos aprendem juntos e transformam a realidade a partir de
um projeto de mudança que não é predefinido


PARTICIPAÇÃO COMO PARTICIPAÇÃO COMO PARTICIPAÇÃO COMO
COLABORAÇÃO DECISÃO CONSTRUÇÃO
É o tipo de participação em É o tipo de participação em que É o tipo de participação em que o
que o coordenador do o coordenador do processo de poder de decisão está disperso
processo de intervenção intervenção permite que entre os envolvidos.
chama os envolvidos para determinadas decisões sejam A participação ocorre em termos
contribuírem com aquilo que tomadas conjuntamente. de um processo relativamente
aberto em que todos, com seu
foi previamente definido A participação ocorre em
próprio saber, sua consciência e
como proposta de mudança termos da tomada de decisão
decisão específica, organizam
sobre assuntos pontuais ou
A participação ocorre em problemas, ideias, conhecimentos
secundários do processo de da realidade, propostas e ações.
termos da colaboração para intervenção. Geralmente
que os “bons resultados” decide-se acerca de Todos aprendem juntos e
sejam alcançados, sem que transformam a realidade a partir
alternativas preestabelecidas,
se questionem os seus de um projeto de mudança que
que não afetam a proposta não é predefinido
objetivos preestabelecidos e principal de mudança.
as funções predefinidas.

Atribuir sentidos ou significados à participação
implica...
a) Compreender a participação como uma ação política, ou
seja, como um meio para fortalecer e exercitar a
capacidade de decisão dos atores envolvidos em um
processo de interação
Isto é, pressupõe uma relação de poder entre atores
sociais (e suas propostas e projetos de mudança social)
• A necessidade de o agente que interage
profissionalmente com um determinado grupo defina
(preferencialmente com o grupo) a intencionalidade
(política e pedagógica) que se quer imprimir à
participação no processo de intervenção

Atribuir sentidos ou significados à participação
implica...
• Mobilização dos meios, métodos e técnicas participativos
que podem ser acionados/utilizados para possibilitar o
tipo de participação que se quer imprimir à relação
estabelecida com o grupo
• Estabelecimento de mecanismos de monitoramento e
avaliação da aplicação dos meios, métodos e técnicas que
visam à facilitação da participação e da consolidação das
capacidades decisórias do grupo envolvido no processo
de intervenção

A participação dos sujeitos envolvidos em processos
de desenvolvimento pode ser meio para:
• Construir conhecimentos sobre as realidades locais
• Gerar capacidades para a autodeterminação, autonomia
e empoderamento dos sujeitos sociais envolvidos quanto
às decisões e ações coletivas
• Definir sentidos e significados culturalmente localizados
para o desenvolvimento

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