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Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Astolfo Dutra - MG
Por uma cultura de paz permanente
O Brasil já teve um Ministério da Guerra, criado em 1891, no período republicano. Atualmente, temos apenas o
Ministério da Defesa, criado em 1999. Outros países também criaram seus ‘ministérios da guerra’. Mas não me recordo de
um momento histórico no Brasil ou em outros países que tenha sido criado um Ministério da Paz.
A violência nas escolas, contra estudantes e professores, não é uma exclusividade dos Estados Unidos que, ato
contínuo, atordoa o mundo há décadas. A própria situação contra a Malala Yousafzai demonstra isso: por defender o direito
das mulheres de terem acesso à educação foi vítima de um atentado em 2012, perpetrado pelo grupo fundamentalista
Talibã.
Os exemplos de guerra e violência dentro e fora das escolas, associados ou não à educação, são milenares, globais. São
mazelas humanas que atingem a todos, independentemente de raça, credo, situação cultural, educacional ou financeira.
O que pode mudar nesse cenário são ações efetivas e transferíveis em escala e em todos os níveis, pois sabemos que a
paz e a cultura da paz nas escolas têm força, como o próprio exemplo da Malala Yousafzai sinaliza, ainda que em um certo
contexto que possa ser uma imagem enviesada, apesar do brutal atentado, ela sobreviveu e, em 2014, recebeu o Nobel da
Paz.
Palavras leva o mar, se não estiveram associadas a ações e coragem. Mas palavras também são ferramentas para
aprender e ensinar. Uma educação para a paz pode começar pelo básico, pelos dicionários, livros repletos de palavras e
significados. Ali encontramos insights para o futuro das relações humanas. Estão lá os significados da empatia,
socioemocional, escuta, diálogo, acolhimento… Fácil encontrar um dicionário na escola, e na palma da mão, claro.
De fato, esse não é um tema simples, mas possível para a sociedade e para todo segmento educacional. Trata-se de
olhar para o passado, mas com uma visão para redesenhos futuros. Compreender o que passamos recentemente: um
período doloroso, de afastamento físico e social durante a fase mais dura da pandemia, que afetou a muitos, desequilibrou
a saúde mental de estudantes, de professores e da sociedade em si.
Quando a pandemia foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), lembro que ouvi muito: depois disso
tudo, vamos sair melhores como seres humanos. Acredito nisto, pela própria força do verbo esperançar. Mas confesso que
precisamos avançar muito mais ainda para que isso se torne realidade.
O fato concreto é que, enquanto isolados, passamos por sofrimentos, alguns por violência dentro de casa, muitos com
medo do desconhecido e todos com a percepção diuturna do risco de morte. E, de repente, como em um passe de mágica,
todos então estaríamos prontos a voltar ao tempo de retomada social, de reestabelecimento de relações, de grupos e
pessoas em sala de aula.
Tudo evolui o tempo todo, e a educação não está em uma bolha isolada. Andamos, de fato, mais devagar, porque já
tivemos muita pressa. Mas nada deixou de evoluir. E não vejo problema algum que os avanços tecnológicos sejam rápidos,
acelerados. A questão é como e com quais mecanismos podemos equilibrar essa evolução tecnológica acelerada com
aspectos que abarquem seres humanos melhores, mentalmente saudáveis, resilientes, empáticos, abertos ao diálogo, à
divergência, à inclusão, à diversidade.
São muitos os pontos essenciais para criarmos uma cultura de paz nas escolas. Sei que um deles passa pelo diálogo,
acompanhado pelo acolhimento do outro. Sei também que, hoje, as conexões são importantes, embora em tempos líquidos
não há vantagem em estar em várias conexões, porque é fácil conseguir desconectar-se dessas desconexões sem grandes
perdas ou custos.
É um tanto a diferença entre conexão e relacionamento, bem descrita pelo filósofo, sociólogo, professor e escritor
polonês Zygmunt Bauman, para quem a sociedade, na atual contemporaneidade líquida, está cada vez mais vazia, repleta de
amigos on-line, mas em conexões off-line. Do próprio Bauman, “um vazio que faz com que a sociedade entre em um espírito
de substituição e medo da solidão, pois, antes de entrarem na busca por conexões já sabem o roteiro final: se uma
pessoa/conexão se vai, pode ser substituída por outra sem nenhum problema”.
Se nós, professores, educadores, entes que trabalhamos com e para a educação queremos criar uma cultura da paz
nas escolas , na outra ponta, na sociedade, nosso zeitgeist (do alemão “o espírito do tempo”) começa por uma reconstrução
cotidiana de relacionamentos efetivos e afetivos, para se diferenciar e distanciar das conexões liga-desliga, nas quais não há
entrega de sentimentos e nem de confiança, pois se sabe que essa relação vai ter seu final cedo ou tarde.
Ou seja, uma cultura da paz precisa ser construída dentro de um novo espírito do tempo, de forma concretamente
duradoura, permanente, e não líquida.
“A incerteza é o habitat natural da vida humana – ainda que a esperança de escapar da incerteza seja o motor das
atividades humanas. Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental, menos que apenas tacitamente presumido, de
todas e quaisquer imagens compósitas de felicidade”, Zygmunt Bauman, 2009.
(Adriana Martinelli. Revista Educação. Em 09/05/2023. Adaptado.)
O verbo “haver” empregado em “[...] atordoa o mundo há décadas.” (2º§) é caracterizado por sua impessoalidade,
assim como ocorre em:
A Não havia número suficiente para formação de uma classe.
81 Q2293864 >
Português Morfologia - Verbos
Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de
Astolfo Dutra - MG - Professor de Educação Física – Professor II ...
B O professor houve-se como um cavalheiro diante daquela situação.
C Hão de chorar por ela todos os que participaram de seus últimos dias.
D Haverá de chegar ao seu objetivo final, com muito esforço e dedicação.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Astolfo Dutra - MG
No 2º§ do texto, o emprego do pronome demonstrativo “isso” demonstra:
A Ênfase atribuída pelo enunciador ao caso exemplificado a seguir.
B Conexão anafórica e introduz um argumento que comprova o enunciado anterior.
C Um paralelo entre a situação exemplificada por Malala Yousafzai e a violência mundial.
D Utilização de palavra que evita a repetição de termo já introduzido no texto, ampliando a informação a seu respeito.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Astolfo Dutra - MG
Dever de casa
Um fiapo de gente e um feixe de problemas. Agora é uma perguntação que não tem mais fim. Papai, o plural de
segunda- -feira? Tira os óculos, para de ler a revista. Daqui a pouco é hora do telejornal. Dia cansativo, mas pai é pai.
Segunda-feira, segunda-feira. Murmurinha, como se procurasse na memória algo que não sabe o que é. Segunda-feira, pai.
Ah, sim. O plural dos nomes compostos. Ao menos isto não terá mudado.
Mudam tudo neste país. Depois querem ter jurisprudência. Ainda hoje andou lendo um acórdão. Ementa malfeita.
Segunda-feira no plural. Não tem mais o que inventar. Segundas-feiras. Variam os dois elementos. Fácil, óbvio. Entendeu?
Nem tinha retomado a leitura e lá vem outra perguntinha. Quarta-feira é abstrato ou concreto? Essa, agora. Primeiro
vamos saber se é mesmo substantivo. Nenhuma dúvida. É substantivo. Abstrato?
Concreto. A professora disse que é concreto. Pai é pai. Põe tudo de lado e sai sem bater a porta. Concreto, está lá no
Celso Cunha, é o substantivo que designa um ser propriamente dito. Nomes de pessoas, de lugares, de instituições etc.
Quarta-feira. Vamos raciocinar. Nome de um dia. Abstrato designa noção, ação, estado e qualidade. Desde que
considerados como seres. Quarta-feira é um ser? Se é um dia, é um ser. Mas concreto? Abstrato. Deve ser abstrato.
Um dia de matar, o trânsito engarrafado. A dorzinha de cabeça já se instalou. Quarta-feira, papai. Afinal? Outro dia era
o aliás. Até que teve sua graça. Que é aliás? Bom, como categoria gramatical, me parece que. Pausa. Mudaram a
nomenclatura gramatical toda. A educação tem de ser mesmo um desastre. País de analfabetos. Doutores analfabetos.
Aliás, advérbio não é. Ou melhor, é controvertido. Vem do latim. Quer dizer quer dizer, como disse o outro. Será advérbio?
Esses meninos de hoje, francamente. Gramática ninguém estuda mais. A língua andrajosa, um monte de solecismos.
Mas quarta-feira é substantivo abstrato? Concreto, disse a professora. Ora, pinoia. Está começando o telejornal. Mais um
fantasma. Mandado de segurança. Mandado e não mandato. Preste atenção, meu filho. Aliás, só faltava essa. Meter o
Supremo nessa enrascada. Querem atear fogo no país. Fantasma é concreto? Eta Brasil complicado! Aliás, hoje é quarta-
feira. Abstrata? Uma vergonha!
(RESENDE, Otto Lara. Folha de S. Paulo. Instituto Moreira Salles. Em: 13/09/1992.)
Uma das questões levantadas pelo autor em relação às normas da gramática se refere ao plural dos substantivos
compostos, ou seja, aqueles formados por mais de uma palavra ou radical. Após considerar que “Ao menos isto não
terá mudado.” (1º§), ele crava o plural de segunda-feira ao constatar que “Variam os dois elementos.” (2º§) Ao tomar
por base a lógica do autor, é possível depreender, portanto, que o plural de “terça-feira” é:
A Terças-feira.
B Terças feiras.
C Terças-feiras.
82 Q2293868 >
Português Morfologia - Pronomes
Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de
Astolfo Dutra - MG - Professor de Educação Física – Professor II ...
83 Q2300953 >
Português Morfologia , Substantivos
Prova: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de
Astolfo Dutra - MG - Mecânico
2. D Inexistente, uma vez que “terça-feira” não tem plural.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Astolfo Dutra - MG
O mato
Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda
voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as
promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um
mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem
vaga-lumes nem grilos.
Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água
como se fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes,
buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura.
Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico.
Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.
Por um instante o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um
dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no
jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de
todas as grandes cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num
desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos – mas um
camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal
e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração
mineral.
(ARRIGUCCI, Jr. Os melhores contos de Rubem Braga. São Paulo: Editora Global Ltda., 1985.)
As expressões assinaladas caracterizam os substantivos (masculinos e femininos), EXCETO:
A “vento frio” (1º§)
B “natureza pura” (3º§)
C “grandes cidades” (3º§)
D “algumas árvores” (2º§)
Ano: 2024 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Campos dos Goytacazes - RJ
Na varanda
Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem
sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena
semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de
entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:
– Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!
A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com
tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira
espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber,
corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à
janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...
Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado
que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e
buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os
restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um,
semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela
chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor
comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada
por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos
conversava.
84 Q2301228 >
Português Morfologia , Substantivos
Prova: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de
Astolfo Dutra - MG - Motorista I
85 Q2349033 >
Português Morfologia , Substantivos
Prova: Instituto Consulplan - 2024 -
Prefeitura de Campos dos Goytacazes - RJ - Técnico Fazendário
– Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os
dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados
a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora
da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra;
não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se
olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele
colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.
Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia
instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do
Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura
despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma
velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não
confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em
nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e
impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...
Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre
nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê
para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali
exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos,
conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.
É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito,
comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra –
esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...
Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se
casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e
babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha
que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou,
ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico
imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na
varanda.
Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do
sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.
(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012,
pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
A autora, ao referir-se ao casal que avistou quando procurava onde almoçar, usa o termo “velhinhos”, recusando-se
a chamá-los apenas de “velhos”. Isso se explica no trecho: “O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração
de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas
a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos
na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema [...]” (7º§).
Assinale a alternativa que corretamente demonstra um uso da flexão vocabular no grau diminutivo de mesmo
propósito que o usado pela autora.
A “O homenzinho estava lívido.” (Afonso Schmidt)
B “Decidira não dar trela à gentinha da vila.” (Jorge Amado)
C “Grita o povinho furioso impropérios aos condenados.” (José Saramago)
D “Ele fez anos no mês passado, amorzinho.” (Carlos Drummond de Andrade)
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Astolfo Dutra - MG
O mato
Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda
voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as
promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um
mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem
vaga-lumes nem grilos.
Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água
como se fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes,
buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura.
Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico.
Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.
86 Q2301226 >
Português Morfologia , Adjetivos
Prova: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de
Astolfo Dutra - MG - Motorista I
3. Por um instante o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um
dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no
jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de
todas as grandes cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num
desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos – mas um
camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal
e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração
mineral.
(ARRIGUCCI, Jr. Os melhores contos de Rubem Braga. São Paulo: Editora Global Ltda., 1985.)
A expressão do ponto de vista do narrador pode ser reconhecida através de alguns recursos, como o da adjetivação.
Tal fato pode ser evidenciado no seguinte no fragmento textual:
A “Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.” (2º§)
B “Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana.” (3º§)
C “O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vaga-lumes nem grilos.” (1º§)
D
“Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico.”
(2º§)
Ano: 2024 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Pitangueiras - SP
A última crônica
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o
momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca
do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso
conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta
perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico,
torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café,
enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem
assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede
de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma
negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa
balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em
torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que
matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-
se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel,
vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se
afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu
lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no
pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por
que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe
na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha
aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-
Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra
com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a
que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-
las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando
para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos
pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo,
nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o
olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
(SABINO, Fernando. A companheira de viagem, Editora do Autor. Rio de Janeiro, 1965, pág. 174.)
Em “Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano
de cada um.” (1º§), o termo em destaque pode ser substituído, sem alteração de sentido, por, EXCETO:
87 Q2371964 >
Português Morfologia , Adjetivos
Provas: Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de
Pitangueiras - SP - Telefonista ...
A Singular.
B Inusitado.
C Enfadado.
D Fascinante.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: CRF-MG
LÍNGUA PORTUGUESA
Com o passar dos meses, as medidas para evitar a propagação da Covid-19 foram sendo endurecidas ou flexibilizadas em
diferentes partes do mundo segundo o aumento ou a diminuição dos casos locais.
Enquanto muitos países da Europa estão voltando a restringir atividades sociais e determinando isolamentos após
registrarem aumentos recordes de casos, a Nova Zelândia, por exemplo, passou ao seu nível de alerta mais baixo.
No entanto, essa estratégia para lidar com o coronavírus é, na opinião de diversos cientistas, limitada demais para deter o
avanço da doença.
“Todas as nossas intervenções se concentraram em cortar as rotas de transmissão viral para controlar a disseminação do
patógeno”, escreveu recentemente em um editorial Richard Horton, editor-chefe da prestigiosa revista científica The Lancet.
Mas a história de Covid-19 não é tão simples.
Por um lado, diz Horton, existe o SARS-CoV-2 (o vírus que causa a doença Covid-19) e, por outro, uma série de doenças não
transmissíveis. E esses dois elementos interagem em um contexto social e ambiental caracterizado por profunda
desigualdade social.Essas condições, argumenta Horton, exacerbam o impacto dessas doenças e, portanto, devemos
considerar a Covid-19 não como uma pandemia, mas como uma sindemia.
Não é uma simples mudança de terminologia: entender a crise de saúde que vivemos a partir de um quadro conceitual
mais amplo abre caminho para encontrar soluções mais adequadas.
(BBC News Brasil. Covid-19 não é pandemia, mas sindemia: o que essa perspectiva científica muda no tratamento.
Disponível em: https://www. bbc.com/portuguese/internacional-54493785. Acesso em: 18/10/2021. Fragmento.)
Considere o período a seguir, retirado do texto: “Todas as nossas intervenções se concentraram em cortar as rotas de
transmissão viral para controlar a disseminação do patógeno [...]” (4º§). Em relação ao período, assinale a afirmativa
correta.
A A preposição em tem valor semântico de fim, destinação.
B O pronome oblíquo átono se está em próclise obrigatória.
C O período é composto por três orações subordinadas substantivas.
D O pronome oblíquo átono se exerce função sintática de complemento verbal.
Ano: 2024 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Miracema - RJ
Texto II
Nível do oceano mudou drasticamente na costa sul dos EUA, mostram pesquisas
Estudos ressaltam riscos que mudanças climáticas representam para regiões bastante habitadas, como Miami e Houston.
Cidades costeiras no sul dos Estados Unidos como Miami, Houston e Nova Orleans podem estar ainda mais
ameaçadas pelas mudanças climáticas do que o previsto até agora. O nível do mar no Golfo do México e no sudeste
americano, segundo estudos recentes, aumentou mais de 12 cm, desde 2010, intensificando fenômenos como ciclones e
furacões e a vulnerabilidade de uma região que é lar de milhões de pessoas.
As consequências já são sentidas, segundo um estudo recém-publicado por Yin Jianjun, cientista climático da
Universidade do Arizona, na revista acadêmica Journal of Climate, e noticiado primeiramente pelo Washington Post. Os
furacões Michael e Ian, duas das tempestades mais fortes a atingirem os EUA, foram consideravelmente pioradas pelo
aumento do nível dos mares. Ambos os desastres foram acentuados pelo aumento do nível dos oceanos, que torna a maré
das tempestades – a ressaca – ainda mais volumosa e destrutiva, fazendo com que mais água adentre na terra. Segundo o
estudo de Yin, os oceanos subiram mais de 10 milímetros por ano entre 2010 e 2022, acima do dobro da média global de
4,5 milímetros anuais constada por um outro estudo da Universidade de Colorado em Boulder.
(Mundo, Por: O Globo e Agências Internacionais – Washigton. Em: 14/04/2023. Adaptado.)
88 Q2194778 >
Português Morfologia , Preposições
Provas: Instituto Consulplan - 2023 - CRF-MG - Advogado ...
89 Q2369379 >
Português Morfologia , Numerais
Provas: Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de
Miracema - RJ - Técnico de Administração ...
4. “Ambos os desastres foram acentuados pelo aumento do nível dos oceanos, que torna a maré das tempestades – a
ressaca – ainda mais volumosa e destrutiva, fazendo com que mais água adentre na terra.” (2º§) Sobre a palavra em
destaque, é correto afirmar que se trata de um
A numeral e faz referência à palavra “desastres”.
B pronome e faz referência à palavra “desastres”.
C numeral e faz referência aos furacões Michael e Ian.
D pronome e faz referência aos furacões Michael e Ian.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: SEGER-ES
Leia o texto a seguir para responder a questão.
Por que você não deve acalmar seu filho com o celular?
Quando uma criança está inquieta ou fazendo muita bagunça, colocá-la na frente de um celular com joguinhos ou vídeos
pode parecer a solução ideal. Mas, se usada constantemente, essa técnica pode ter seus reveses.
Pesquisadores analisaram o uso de dispositivos digitais como ferramentas para acalmar crianças com idade entre 3 e 5
anos. O estudo envolveu 422 pais e 422 crianças. Ele foi realizado entre agosto de 2018 e janeiro de 2020, antes da
pandemia de Covid-19.
Os cientistas descobriram que o aumento do uso de aparelhos eletrônicos como método para acalmar crianças estava
ligado a uma maior reatividade emocional ao longo dos meses.
As crianças do estudo mudavam de humor rapidamente e ficaram mais impulsivas – relação particularmente forte em
meninos e em crianças que já tinham sinais de hiperatividade, impulsividade e temperamento forte, o que os torna mais
propensos a reagir intensamente a sentimentos como raiva, frustração e tristeza.
“Usar dispositivos móveis para acalmar uma criança pequena pode parecer uma ferramenta inofensiva e temporária
para reduzir o estresse em casa, mas pode haver consequências a longo prazo se for uma estratégia regular”, afirma Jenny
Radesky, principal autora do estudo e mãe de dois filhos. “Esses dispositivos podem comprometer as oportunidades de
desenvolvimento de métodos independentes e alternativos de autorregulação – particularmente durante os seis primeiros
anos de vida”.
Crianças nessa faixa etária costumam apresentar comportamentos difíceis com maior frequência. Acessos de raiva,
ataques de birra ou emoções muito intensas podem ser facilmente controlados com um tablet ou um smartphone. A solução
funciona, mas o alívio de curto prazo pode comprometer o desenvolvimento emocional da criança.
O estudo chama a atenção para o uso exagerado e constante desse método simples. Se aplicado com moderação, pode
ser útil – mas não deve ser a principal forma de lidar com situações difíceis.
Para não desamparar pais que abusavam desse método, os pesquisadores também apresentaram algumas outras
opções para acalmar as crianças.
Fornecer experiências sensoriais ou estimular exercícios, por exemplo, pode ajudar. Isso pode incluir balançar, abraçar,
pular em um trampolim, ouvir música ou olhar para figuras de um livro.
Ao tentar nomear o que seu filho está sentindo, os pais ajudam a conectar a linguagem aos estados emocionais; além de
mostrar à criança que ela é compreendida pelos adultos.
Os pesquisadores também promovem alternativas para os comportamentos particularmente negativos de quando estão
chateadas. Ao tentar comunicar suas emoções, as crianças podem recorrer a impulsos violentos ou exagerados. Os pais
podem ensiná-las comportamentos substitutos mais seguros – como descontar a raiva em um travesseiro ao invés de um
colega, ou comunicar-se claramente quando gostaria de atenção ao invés de abrir um berreiro.
“Todas essas soluções ajudam as crianças a se entenderem melhor e a se sentirem mais competentes para administrar
seus sentimentos”, afirma Radesky. “O cuidador também precisa tentar manter a calma e não reagir exageradamente às
emoções da criança. Esses cuidados ajudam a desenvolver habilidades de regulação emocional que duram a vida toda.”
“Por outro lado, usar um dispositivo móvel não ensina uma habilidade – apenas distrai a criança de como ela está se
sentindo. Crianças que não desenvolvem essas habilidades na primeira infância são mais propensas a ter dificuldades
quando estressadas na escola ou com colegas à medida que envelhecem.”
(CAPARROZ, Leo. Por que você não deve acalmar seu filho com o celular? Revista Superinteressante, 2022. Disponível em:
https://super. abril.com.br/ciencia/por-que-voce-nao-deve-acalmar-seu-filho-com-ocelular-segundo-este-estudo/ Acesso
em: 22/12/22. Adaptado.)
A mudança de posição do advérbio no enunciado pode provocar significativas alterações semânticas. Assinale a
alternativa em que há mudança de sentido quando o fragmento original em I é reescrito em II.
A
I. “Mas, se usada constantemente, essa técnica pode ter seus reveses.” (1º§) II. Mas, se constantemente usada, essa
técnica pode ter seus reveses.
90 Q2078584 >
Português Morfologia , Advérbios
Provas: Instituto Consulplan - 2023 - SEGER-ES - Analista do Executivo -
Administração ...
B
I. “As crianças do estudo mudavam de humor rapidamente e ficaram mais impulsivas[...]” (4º§) II. As crianças do estudo
mudavam rapidamente de humor e ficaram mais impulsivas[...]
C
I. “O cuidador também precisa tentar manter a calma e não reagir exageradamente às emoções da criança.” (12º§) II. O
cuidador também precisa tentar manter a calma e não reagir às emoções da criança exageradamente.
D
I. “Acessos de raiva, ataques de birra ou emoções muito intensas podem ser facilmente controlados com um tablete [...](6º§)
II. Acessos de raiva, ataques de birra ou emoções muito intensas podem ser controlados com um tablet facilmente [...]
E
I. “Os pesquisadores também promovem alternativas para os comportamentos particularmente negativos de quando estão
chateadas.” (11º§) II. Os pesquisadores também promovem alternativas para os comportamentos negativos de quando
estão particularmente chateadas.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Câmara de São Joaquim da Barra - SP
Os trovões de antigamente
Estou no antigo quarto de meus pais; as duas janelas dão para o terreno onde fica o imenso pé de fruta-pão, à cuja
sombra cresci. O desenho de suas folhas recorta-se contra o céu; essa imagem das folhas do fruta-pão recortada contra o
céu é das mais antigas de minha infância, do tempo em que eu ainda dormia em uma pequena cama cercada de palhinha
junto à janela da esquerda.
A tarde está quente. Deito-me um pouco para ler, mas deixo o livro, fico a olhar pela janela. Lá fora, uma galinha
cacareja, como antigamente. E essa trovoada de verão é tão Cachoeiro, é tão minha casa em Cachoeiro! Não, não é verdade
que em toda parte do mundo os trovões sejam iguais. Aqui os morros lhe dão um eco especial, que prolonga seu rumor.
A altura e a posição das nuvens, do vento e dos morros que ladeiam as curvas do rio criam essa ressonância em
que me reconheço menino, ajustado e fascinado pela visão dos relâmpagos, esperando a chegada dos trovões e depois a
chuva batendo grossa lá fora, na terra quente, invadindo a casa com o seu cheiro. Diziam que São Pedro estava arrastando
móveis, lavando a casa; e eu via o padroeiro de nossa terra, com suas barbas empurrando móveis imensos, mas iguais aos
de nossa casa, no assoalho do céu – certamente também feito assim, de tábuas largas. Parece que eu não acreditava na
história, sabia que era apenas uma maneira de dizer, uma brincadeira, mas a imagem de São Pedro de camisolão
empurrando um grande armário preto me ficou na memória.
Nossa casa era bem bonita, com varanda, caramanchão e o jardim grande ladeando a rua. Lembro-me confusamente
de alguns canteiros, algumas flores e folhagens desse jardim que não existe mais; especialmente de uma grande touceira
de espadas de São Jorge que a gente chamava apenas de “talas”; e, lá no fundo, o precioso pé de saboneteira que nos
fornecia bolas pretas para o jogo de gude.
Quando começavam as chuvas a gente ia toda manhã lá no quintal deles ver até onde chegara a enchente. As águas
barrentas subiam primeiro até a altura da cerca dos fundos, depois às bananeiras, vinham subindo o quintal, entravam pelo
porão. Mais de uma vez, no meio da noite, o volume do rio cresceu tanto que a família defronte teve medo.
Então vinham todos dormir em nossa casa. Isso para nós era uma festa, aquela faina de arrumar camas nas salas,
aquela intimidade improvisada e alegre. Parecia que as pessoas ficavam todas contentes, riam muito; como se fazia café e
se tomava café tarde da noite! E às vezes o rio atravessava a rua, entrava pelo nosso portão, e me lembro que nós, os
meninos, torcíamos para ele subir mais e mais. Sim, éramos a favor da enchente, ficávamos tristes de manhãzinha quando,
mal saltando da cama, íamos correndo para ver que o rio baixara um palmo – aquilo era uma traição, uma fraqueza do
Itapemirim.
Às vezes chegava alguém a cavalo, dizia que lá para cima, pelo Castelo, tinha caído chuva muita, anunciava água nas
cabeceiras, então dormíamos sonhando que a enchente ia outra vez crescer, queríamos sempre que aquela fosse a maior
de todas as enchentes.
E naquelas tardes as trovoadas tinham esse mesmo ronco prolongado entre morros, diante das duas janelas do
quarto de meus pais; eles trovejavam sobre nosso telhado e nosso pé de fruta-pão, os grandes, grossos trovões familiares
de antigamente, os bons trovões do velho São Pedro.
(BRAGA, Rubem. 200 Crônicas Escolhidas – Livro vira-vira 1. Rio de Janeiro: Edições BestBolso, 2011, p. 411. Adaptado.)
“Diziam que São Pedro estava arrastando móveis, lavando a casa; e eu via o padroeiro de nossa terra, com suas barbas
empurrando móveis imensos, mas iguais aos de nossa casa, no assoalho do céu – certamente também feito assim, de
tábuas largas.” (3º§) O valor semântico do advérbio em destaque denota:
A Opinião do autor.
B Comprovação do assunto.
C Intensidade do relato descrito.
91 Q2266144 >
Português Morfologia , Advérbios
Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Câmara de
São Joaquim da Barra - SP - Secretária ...
5. D Frequência da ocorrência citada.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Câmara de São Joaquim da Barra - SP
Os termos em destaque complementam uma ação verbal, EXCETO em:
A “Isso para nós era uma festa, [...]” (6º§)
B “Aqui os morros lhe dão um eco especial, [...]” (2º§)
C “[...] o precioso pé de saboneteira que nos fornecia bolas pretas [...]” (4º§)
D “[...] essa imagem das folhas do fruta-pão recortada contra o céu é das mais antigas[...]” (1º§)
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Câmara de São Joaquim da Barra - SP
“Isso para nós era uma festa, [...]” (6º§) O pronome demonstrativo assinalado tem como objetivo:
A Caracterizar um futuro próximo.
B Declarar acontecimento vindouro.
C Mencionar algo citado anteriormente.
D Comprovar fato a ser referido no texto.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Nova Friburgo - RJ
Mediação, o melhor caminho para educar
Há quem diga que educar hoje seja mais difícil do que fora nas gerações anteriores. No entanto, sabe-se que educar
sempre foi uma tarefa complexa e exaustiva, que exige do educador perseverança e porosidade. Sobretudo, porque não é
razoável simplesmente transferir a educação recebida para os filhos e os alunos, como também não é sábio descartar a
tradição, como se ela não estivesse presente nos valores de quem educa.
No entanto, não é difícil concluir que os ensinamentos que precisamos manter, como legado civilizatório para o bom
convívio social, são aqueles fundamentais relacionados aos princípios básicos e aos valores humanos inegociáveis. O
mundo mudou e os jovens e as crianças não são mais os mesmos de “antigamente”. Independentemente das mudanças
observadas no mundo, do estilo de vida e da quantidade de informações oferecidas, ainda é basilar e necessário ensiná-los
a ser honestos, éticos, justos. A respeitar o outro e a sonhar com a vida que se deseja ter, para se sentir agente da própria
existência.
Evidentemente que nessa mediação educacional não se pode perder de vista que educar é frustrar e também provocar
desejos. E o caminho entre os dois não é nada fácil. Há momentos em que ele se bifurca, uma vez que o pressuposto
saudável na educação é apresentar ao jovem a vida como ela é. E isso exige afastar a tentação de proteger a cria em
demasia ou se acautelar para liberá-la para os sustos da vida ou evitar que se enfie goela abaixo o modelo de vida do
educador. Por incrível que pareça, o conflito é bem-vindo no processo educativo, porque ele impõe o diálogo (adequado a
cada faixa etária), a análise de pontos de vista divergentes e a tentativa de algum ponto de conciliação.
A formação do caráter de um jovem bem mediada não passa, em hipótese alguma, na tentativa pretensiosa e
onipotente de tentar evitar a frustração. Isso é impossível. Nem de frustrar de forma repressora como tentativa de privar o
jovem do desejo para que ele sofra a duras penas para aprender a viver. A mediação educativa consistente é aquela que
educa com sabedoria o desejo daquele que precisa enfrentar a vida e o mundo. E educar o desejo não é dizer o que desejar,
mas ajudar a criança e o jovem a reconhecer seus desejos. O mais difícil talvez seja transmitir às crianças a coragem de
desejar com sabedoria. E sonhar com sabedoria é também ensinar que viver alucinadamente em torno apenas do desejo
não é liberdade, é escravidão. E não viver alguns desejos nem sempre é precaução, pode ser covardia diante da vida.
92 Q2266149 >
Português Morfologia - Verbos
Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Câmara de
São Joaquim da Barra - SP - Secretária ...
93 Q2266152 >
Português Morfologia - Pronomes
Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Câmara de
São Joaquim da Barra - SP - Secretária ...
94 Q2313090 >
Português Morfologia - Pronomes
Prova: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Nova
Friburgo - RJ - Professor I
Mediar a educação é talvez autorizar o educando (ou ensinar) a dizer sim e não para os momentos mais custosos e
decisivos da vida em que não se pode vacilar. E também reforçar que não há na vida um desejo único, superior ou
dominante. Mesmo quando a vida parece plena e alegre nunca estaremos protegidos do surgimento de desejos novos.
Ajudar a reconhecer os desejos para abraçá-los ou para recusá-los, se não explica o sentido de ser e de estar no mundo,
ajuda a afastar a sombra do sem-sentido.
(João Jonas Veiga Sobral. Em: setembro de 2023. Fragmento.)
Os pronomes são importantes na construção do texto, pois evitam a repetição de palavras, favorecendo, assim, a
fluidez do texto. A partir dessa consideração, assinale a alternativa cujo pronome retoma o nome indicado.
A
“Ajudar a reconhecer os desejos para abraçá-los ou para recusá-los, se não explica o sentido de ser e de estar no mundo,
ajuda a afastar a sombra do sem-sentido.” (5º§) – educandos
B
“E isso exige afastar a tentação de proteger a cria em demasia ou se acautelar para liberá-la para os sustos da vida ou evitar
que se enfie goela abaixo o modelo de vida do educador.” (3º§) – cria
C
“Sobretudo, porque não é razoável simplesmente transferir a educação recebida para os filhos e os alunos, como também
não é sábio descartar a tradição, como se ela não estivesse presente nos valores de quem educa.” (1º§) – educação
D
“No entanto, não é difícil concluir que os ensinamentos que precisamos manter, como legado civilizatório para o bom
convívio social, são aqueles fundamentais relacionados aos princípios básicos e aos valores humanos inegociáveis.” (2º§) –
princípios básicos
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Nova Friburgo - RJ
O verbo haver no trecho “Há momentos em que ele se bifurca, uma vez que o pressuposto saudável na educação é
apresentar ao jovem a vida como ela é.” (3º§) está no singular, pois
A indica tempo transcorrido.
B é auxiliar do verbo “bifurca”.
C é impessoal, ou seja, não tem sujeito.
D é defectivo pessoal, ou seja, tem sujeito.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Nova Friburgo - RJ
A compensação
Não faz muito, li um artigo sobre as pretensões literárias de Napoleão Bonaparte. Aparentemente, Napoleão era um
escritor frustrado. Tinha escrito contos e poemas na juventude, escreveu muito sobre política e estratégia militar e sonhava
em escrever um grande romance. Acreditava-se, mesmo, que Napoleão considerava a literatura sua verdadeira vocação, e
que foi sua incapacidade de escrever um grande romance e conquistar uma reputação literária que o levou a escolher uma
alternativa menor, conquistar o mundo.
Não sei se é verdade, mas fiquei pensando no que isto significa para os escritores de hoje e daqui. Em primeiro lugar,
claro, leva a pensar na enorme importância que tinha a literatura nos séculos 18 e 19, e não apenas na França, onde, anos
depois de Napoleão Bonaparte, um Vitor Hugo empolgaria multidões e faria História não com batalhões e canhões mas
com a força da palavra escrita, e não só em conclamações e panfletos mas, muitas vezes, na forma de ficção. Não sei se
devemos invejar uma época em que reputações literárias e reputações guerreiras se equivaliam desta maneira, e em que
até a imaginação tinha tanto poder. Mas acho que podemos invejar, pelo menos um pouco, o que a literatura tinha então e
parece ter perdido: relevância. Se Napoleão pensava que podia ser tão relevante escrevendo romances quanto
comandando exércitos, e se um Vitor Hugo podia morrer como um dos homens mais relevantes do seu tempo sem nunca
ter trocado a palavra e a imaginação por armas, então uma pergunta que nenhum escritor daquele tempo se fazia é essa
que nos fazemos o tempo todo: para o que serve a literatura, de que adianta a palavra impressa, onde está a nossa
relevância? Gostávamos de pensar que era através dos seus escritores e intelectuais que o mundo se pensava e se
entendia, e a experiência humana era racionalizada. O estado irracional do mundo neste começo de século é a medida do
fracasso desta missão, ou desta ilusão.
Depois que a literatura deixou de ser uma opção tão vigorosa e vital para um homem de ação quanto a conquista militar
ou política – ou seja, depois que virou uma opção para generais e políticos aposentados, mais compensação pela perda de
poder do que poder, e uma ocupação para, enfim, meros escritores –, ela nunca mais recuperou a sua respeitabilidade, na
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Português Morfologia - Verbos
Prova: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Nova
Friburgo - RJ - Professor I
96 Q2313238 >
Português Morfologia - Pronomes
Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de
Nova Friburgo - RJ - Fiscal de Tributos ...
6. medida em que qualquer poder, por armas ou por palavras, é respeitável. Hoje a literatura só participa da política, do poder
e da História como instrumentoou cúmplice.
E não pode nem escolher que tipo de cúmplice quer ser. Todos os que escrevem no Brasil, principalmente os que têm
um espaço na imprensa para fazer sua pequena literatura ou simplesmente dar seus palpites, têm esta preocupação.
Ou deveriam ter. Nunca sabemos exatamente do que estamos sendo cúmplices.
Podemos estar servindo de instrumentos de alguma agenda de poder sem querer, podemos estar contribuindo, com
nossa indignação ou nossa denúncia, ou apenas nossas opiniões, para legitimar alguma estratégia que desconhecemos.
Ou podemos simplesmente estar colaborando com a grande desconversa nacional, a que distrai a atenção enquanto a
verdadeira história do país acontece em outra parte, longe dos nossos olhos e indiferente à nossa crítica. Não somos
relevantes, ou só somos relevantes quando somos cúmplices, conscientes ou inconscientes.
Mas comecei falando da frustração literária de Napoleão Bonaparte e não toquei nas implicações mais importantes do
fato, pelo menos para o nosso amor próprio. Se Napoleão só foi Napoleão porque não conseguiu ser escritor, então temos
esta justificativa pronta para o nosso estranho ofício: cada escritor a mais no mundo corresponde a um Napoleão a menos.
A literatura serve, ao menos, para isso: poupar o mundo de mais Napoleões. Mas existe a contrapartida: muitos Napoleões
soltos pelo mundo, hoje, fariam melhor se tivessem escrito os romances que queriam. O mundo, e certamente o Brasil,
seriam outros se alguns Napoleões tivessem ficado com a literatura e esquecido o poder.
E sempre teremos a oportunidade de, ao acompanhar a carreira de Napoleões, subNapoleões, pseudo-Napoleões ou
outras variedades com poder sobre a nossa vida e o nosso bolso, nos consolarmos com o seguinte pensamento: eles são
lamentáveis, certo, mas imagine o que seria a sua literatura.
Da série Poesia numa Hora Destas?!
Deus não fez o homem, assim, de improviso em cima da divina coxa numa hora vaga.
Planejou o que faria com esmero e juízo (e isso sem contar com assessoria paga). Tudo foi pensado com exatidão
antes mesmo do primeiro esboço, e foram anos de experimentação até Deus dizer que estava pronto o moço.
Mas acontece sempre, é sempre assim não seria diferente do que é agora.
A melhor ideia apareceu no fim e dizem que o polegar Ele bolou na hora.
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. A Compensação. Em: 18/09/2023.)
Analise as afirmativas a seguir, considerando a função do “que” destacado em cada uma delas. I. Em “Gostávamos de
pensar que era através dos seus escritores e intelectuais que o mundo se pensava e se entendia, [...]”, (2º§), o “que” funciona
como pronome relativo.
II. Em “Acreditava-se, mesmo, que Napoleão considerava a literatura sua verdadeira vocação, [...]” (1º§), o “que” funciona como
conjunção integrante.
III. Em “Não sei se devemos invejar uma época em que reputações literárias e reputações guerreiras se equivaliam desta maneira,
[...]” (2º§), o “que” funciona como pronome relativo.
Está correto o que se afirma em
A I, II e III.
B I e II, apenas.
C I e III, apenas.
D II e III, apenas.
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: CORE-RS
Fim do home office? Entenda o declínio do trabalho remoto no mundo
A palavra “teletrabalho” surgiu pela primeira vez em 1976, cunhada pelo ex-cientista da Nasa Jack Nilles. A internet
sequer existia, e as tecnologias de comunicação restringiam-se ao telefone fixo. Mas os avanços científicos já abriam espaço para
todo tipo de previsão, mais ousadas que fossem.
Apenas três anos depois a americana IBM, pioneira do setor de computação, colocou uma equipe de apenas cinco
pessoas para trabalhar à distância. Em 1983, já eram quase dois mil funcionários nessa espécie de experimento piloto.
Foi só na década de 1990, porém, que a ideia de trabalhar longe do escritório começou a tomar forma, com a
popularização da internet e dos computadores pessoais. O futuro parecia tão promissor que até Peter Drucker, o pai da
administração moderna, se convenceu de que um dia os escritórios seriam desnecessários.
Mesmo com todas as maravilhas da ciência, que colocou um computador na palma da mão de cada um, o home office
nunca pegou de verdade. Ficou restrito a poucos contextos e áreas específicas. Em 2014, uma grande pesquisa da IBM cobrindo
vários países anglófonos descobriu que apenas 9% dos profissionais faziam teletrabalho – sendo que só metade destes
passavam todo o tempo ou a maior parte dele no modo remoto. No Brasil, em 2019, um dado parecido do IBGE: só 5,2% dos
brasileiros com emprego faziam home office (excluídos da conta os empregados no setor público e os trabalhadores domésticos).
97 Q2288540 >
Português Morfologia , Substantivos
Prova: Instituto Consulplan - 2023 - CORE-RS - Advogado
Até que veio a pandemia, e todo mundo foi forçado a se adaptar do dia para a noite a um regime remoto. Apesar do
caos, a transição veio para provar que Peter Drucker estava certo. A revista The Economist chegou a se perguntar, ainda em abril
de 2020, se essa seria a “morte do escritório”. Mesmo com o eventual arrefecimento da pandemia, não era mais esdrúxulo ou
utópico exigir um modelo flexível de trabalho. Pelo contrário. O home office passou a ser uma das prioridades para candidatos no
mundo todo.
Mas o jogo parece ter virado: empresas que adotaram regimes superflexíveis na pandemia começam a apertar o cerco e
convocar os funcionários para cada vez mais dias de trabalho presencial – em muitos casos, todos os dias. Novas vagas 100%
remotas minguaram no mercado. Será que a era do home office não passou de um breve sonho?
Ninguém esperava que os escritórios de fato ficassem vazios para sempre, claro. O ponto pacífico era a universalização
do trabalho híbrido. Radicais anti-home office passaram a ser malvistos. O caso mais emblemático foi o de Elon Musk. O
bilionário chegou a chamar o trabalho remoto de “moralmente errado” e decretou que todos voltassem aos escritórios de suas
empresas.
Esse tipo de visão ainda permanece relativamente raro. O xis da questão é outro: quanto tempo da jornada ceder para o
presencial? Para trabalhadores, o natural seria passar a maior parte da semana em casa – pelo menos três dos cinco dias úteis.
Para empresas, o oposto.
Criou-se um cabo de guerra, e que agora vive um desequilíbrio de forças. Nos últimos meses, empresas começaram a
puxar os trabalhadores de volta para o escritório aos montes. Muitas que tinham regime totalmente remoto migram para o híbrido;
e as que já estavam nesse modelo pedem cada vez mais dias de trabalho presencial. Em muitas, o home office virou só mais um
agrado de um único dia para os funcionários – em geral na sexta-feira, à la short fridays.
O fenômeno é visto com mais clareza entre as grandes multinacionais americanas, que ditam as tendências do universo
do trabalho mundo afora. A titânica gestora de fundos BlackRock, por exemplo, exigiu que, até setembro, todos os seus
funcionários voltem a trabalhar ao menos quatro dias no escritório; antes, cobravam três dias. Já bancões como Goldman Sachs
e JP Morgan passaram a exigir a semana inteira no presencial, como Musk.
A estratégia mais comum tem sido essa: atrair os profissionais antigos aos poucos de volta para o escritório, mantendo
um certo modelo híbrido, mas abrir novas vagas só para o trabalho presencial.
Há uma explicação clara para o porquê de a maioria das empresas comprar essa briga. Durante a pandemia, o mundo
passou por um fenômeno bastante singular: faltaram candidatos e sobraram vagas, especialmente em áreas que exigem maior
qualificação. Isso deu um enorme poder de escolha a muitos profissionais, que puderam se dar ao luxo de sair de seus empregos
em busca de vagas melhores – não só em termos de salário, diga-se, mas também em relação à flexibilidade de tempo.
Só que o jogo virou. No começo de 2023, uma onda de demissões em massa – os layoffs – tomou conta do mercado de
trabalho, afetando principalmente o setor de tecnologia e as startups, justamente onde o modelo remoto era mais forte.
Trabalhadores se viram acuados, com menos poder de escolha. O cabo de guerra ficou desequilibrado, e há um claro
descompasso entre trabalhadores e empresas, mesmo as que oferecem modelo híbrido.
No Brasil, dados da consultoria de recrutamento Robert Half confirmam a resistência dos profissionais ao retorno
integral. 76% consideram o modelo híbrido ideal, e 38% afirmam que buscariam outro emprego caso o atual decretasse a volta
definitiva ao presencial. Faz sentido que trabalhadores tenham se apegado com força ao home office. Ele traz diversos
benefícios. O mais citado é a economia de tempo e dinheiro com a locomoção. Além disso, o ambiente de casa também pode ser
melhor para determinadas atividades – aquelas tarefas longas, que exigem concentração.
Só que toda essa lista bate de frente com um argumento das empresas, difícil de combater: o da produtividade. Líderes
alegam que profissionais não entregam o mesmo quando estão em home office, o que justificaria a volta ao escritório. Mas será
que é verdade mesmo?
Há diversas hipóteses para explicar a piora da performance no remoto, ainda que os pesquisadores estejam relutantes
em bater o martelo. Uma delas é a comunicação dificultada – no escritório, estamos a todo tempo conversando com os colegas,
pedindo ajuda, conselhos. Um tutorial de como acessar uma determinada ferramenta no computador, por exemplo, levaria alguns
segundos cara a cara; no remoto, só de planejar e executar uma videochamada já se queima alguns minutos. Quem vai ao
escritório aprende mais – e ensina mais. A falta de interação também pode prejudicar a criatividade. Novas ideias costumam
surgir nos almoços ou conversas despretensiosas durante o expediente, afinal.
Há um ponto central, porém. A queda de produtividade acontece somente no modelo totalmente remoto; o híbrido, por
sua vez, parece não representar uma diferença considerável em relação ao totalmente presencial. Faz sentido: tarefas que
dependem mais de interação podem ser concentradas nos dias do escritório; as que exigem mais concentração e conforto, em
casa.
O híbrido, então, termina com uma vantagem sobre o presencial. Além de não diminuir a produtividade (e possivelmente
até melhorá-la um pouco), é associado a uma sensação maior de bem-estar dos trabalhadores – o que, para as empresas, tem
impacto direto na retenção e atração de talentos.
7. Faz pouco sentido, então, que companhias insistam na volta do modelo antigo, totalmente presencial. Ainda que seja
natural a balança pesar mais para o lado do escritório, uma postura intransigente pode ser um tiro no pé das empresas.
Em vez de caçar apenas os dados e argumentos que defendem um lado ou o outro, o mais racional é tentar minimizar os
problemas de cada regime e maximizar seus benefícios.
Prever o futuro do trabalho tende a ser furada. Mas é seguro dizer que, depois de três anos de inovação, dificilmente ele
voltará a ser o mesmo. O regime híbrido, que já é norma, seguirá como um personagem importante dessa novela. Trabalhadores
querem mais flexibilidade e conforto; empresas desejam mais produtividade e mais talentos. Ao mesmo tempo, ambos os lados
têm de ceder um pouco. Resta saber o quanto a corda vai esticar para cada time.
(Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/carreira/e-o-fim-do-home-office-entenda-o-declinio-do-trabalho-remoto-no-
mundo/. Acesso em: 11/08/2023. Fragmento.)
Morfologicamente, as palavras são separadas em classes. Assinale a alternativa que identifica corretamente a
classe gramatical da palavra sublinhada.
A “Será que a era do home office não passou de um breve sonho?” (6º§) – (advérbio)
B “Há uma explicação clara para o porquê de a maioria das empresas comprar essa briga.” (12º§) – (substantivo
C “Mas os avanços científicos já abriam espaço para todo tipo de previsão, mais ousadas que fossem.” (1º§) – (substantivo)
D
“Apenas três anos depois a americana IBM, pioneira do setor de computação, colocou uma equipe de apenas cinco pessoas
para trabalhar à distância.” (2º§) – (preposição)
Ano: 2024 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Iúna - ES
O texto a seguir contextualiza a questão. Leia-o atentamente.
A quem interessa a monetização da misoginia?
E até quando o Congresso irá colaborar com a engrenagem que fere e mata mulheres?
Nos últimos dias presenciamos a atriz Paolla Oliveira sofrer uma enxurrada de ataques misóginos relativo à sua
aparência, e de igual maneira assistimos também a triste notícia de que a jovem Jéssica Vitória perdeu sua vida após não
suportar um linchamento virtual misógino oriundo de uma fake news difamatória a seu respeito. Entretanto é preciso dizer
que esses dois casos não são isolados. A verdade é que as redes sociais têm se tornado uma máquina de moer, violentar e
adoecer mulheres.
No país que, desde sua colonização, incentiva a opressão e violência contra mulheres, o avanço legislativo que tenta
mitigar esse resquício histórico misógino não tem se mostrado suficiente diante da velocidade das ferramentas
tecnológicas. Isso porque a Agência Brasil apurou que, entre 2021 e 2022, houve um aumento de mais de 251% nos casos
de misoginia e opressão contra mulheres nas redes sociais, e já Safernet deu conta de que mais de 67% das vítimas de
discurso de ódio nas redes sociais são mulheres.
Esses dados acendem um alerta de que não há uma legislação específica de combate à misoginia virtual – tampouco
punição efetiva para esses ataques virtuais contra as mulheres – e, por silogismo, escancara a engrenagem de uma rede
coordenada de sites e páginas que encontraram em fomento, incentivo e induzimento a misoginia uma forma de auferir
lucro, sem que sejam punidas judicialmente e banidas pelas plataformas digitais que hospedam. Ou seja, aproveitam-se da
impunidade para auferir lucro com a dor das mulheres e o ódio contra elas.
Mas, se temos uma legislação ineficiente e uma punição ausente para tais páginas e sites, por outro lado é necessário
lembrar que o mesmo ocorre com as plataformas digitais onde essas páginas operam, que, por não serem regulamentadas
e responsabilizadas pela omissão ao não punir e banir tais páginas, demonstram de igual forma que tem sido interessante
lucrar com todo esse ódio misógino contra as mulheres. E, deste modo, a pergunta que não quer calar é: até quando o
Congresso Nacional seguirá se omitindo e, portanto, colaborando para que toda essa engrenagem que tem adoecido e até
matado mulheres siga intacta sem qualquer punição ou sem responsabilização?
As plataformas digitais têm sido o motor para a manutenção desses ataques misóginos, ao se esquivarem de banir perfis
que se sustentam da incitação à misoginia. E, por isso, falar em regulamentação das plataformas digitais não é falar de
censura e tampouco cerceamento da liberdade de expressão (que se anote não é sinônimo de liberdade para praticar
crime), é falar sobre segurança, regras, diretrizes e punições para que o ambiente virtual possa ser sadio, respeitoso e
seguro para as mulheres.
A quem interessa a manutenção da misoginia virtual? Eu mesma respondo: a quem lucra com o ódio contra as mulheres.
(Fayda Belo, Advogada especialista em crimes de gênero. Folha de S. Paulo. Em: 04/01/2024.)
No trecho “Isso porque a Agência Brasil apurou que, entre 2021 e 2022, houve um aumento de mais de 251% nos casos de
misoginia e opressão contra mulheres nas redes sociais, [...]” (2º§) a palavra em destaque, trata-se de um verbo
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Português Morfologia - Verbos
Provas: Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Iúna - ES -
Arquiteto ...
A pessoal, no singular e concorda com o sujeito “um aumento”.
B pessoal, no singular e concorda com o sujeito “Agência Brasil”.
C impessoal que pode ser substituído em equivalência pelo verbo “existir”.
D impessoal e indica tempo decorrido, semelhante ao “fazer” em indicações de tempo transcorrido.
Ano: 2024 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Iúna - ES
Em “Esses dados acendem um alerta de que não há uma legislação específica de combate à misoginia virtual [...]” (3º§) a palavra
em destaque é um pronome. Sobre ela, assinale a alternativa correta quanto à classificação pronominal.
A pessoal.
B relativo.
C possessivo.
D demonstrativo.
Ano: 2024 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Câmara Municipal de Caratinga - MG
Uma lembrança
Foi em sonho que revi a longamente amada; sentada numa velha canoa, na praia, ela me sorria com afeto. Com sincero
afeto – pois foi assim que ela me deixou aquela fotografia com sua letra suave e ginasiana.
Lembro-me do dia em que fui perto de sua casa apanhar o retrato que me prometera na véspera. Esperei-a junto a uma
árvore; chovia uma chuva fina. Lembro-me de que tinha uma saia escura e uma blusa de cor viva, talvez amarela; que
estava sem meias. Os leves pelos de suas pernas lindas queimados pelo sol de todo dia na praia estavam arrepiados de frio.
Senti isso mais do que vi, e, entretanto, esta é a minha impressão mais forte de sua presença de catorze anos: as pernas
nuas naquele dia de chuva, quando a grande amendoeira deixava cair na areia grossa pingos muito grandes. Falou muito
perto de mim, e perguntei se tomara café; seu hálito cheirava a café. Riu, e disse que sim, com broas. Broas quentinhas, eu
queria uma? Saiu correndo, deu a volta à casa, entrou pelos fundos, voltou depois (tinha dois ou três pingos de água na
testa) com duas broas ainda quentes na mão. Tirou do seio a fotografia e me entregou.
Dei uma volta pela praia e pelas pedras para ir para casa. Lembro-me do frio vento sul, e do mar muito limpo, da água
transparente, em maré baixa. Duas ou três vezes tirei do bolso a fotografia, protegendo-a com as mãos para que não se
molhasse, e olhei. Não estava, como neste sonho de agora, sentada em uma canoa, e não me lembro como estava, mas era
na praia e havia uma canoa. “Com sincero afeto...” comi uma broa devagar, com uma espécie de unção.
Foi isso. Ninguém pode imaginar por que sonha as coisas, mas essa broa quente que recebi de sua mão vinte anos atrás
me lembra alguma coisa que comi ontem em casa de minha irmã. Almoçamos os dois, conversamos coisas banais da vida
da cidade grande em que vivemos. Mas na hora da sobremesa a empregada trouxe melado. Melado da roça, numa garrafa
tampada com um pedaço de sabugo de milho – e veio também um prato de aipim quente, de onde saía fumaça. O gosto
desse melado com aipim era um gosto de infância. Lembra-me a mão longa de uma jovem empregada preta de minha casa:
lembro-me quando era criança, ela me servia talvez aipim, então pela primeira vez eu reparei em sua mão, e como era
muito mais clara na palma do que no dorso; tinha os dedos pálidos e finos, como se fosse uma princesa negra.
Foi no tempo da descoberta da beleza das coisas: a paisagem vista de cima do morro, uma pequena caixa de madeira
escura, o grande tacho de cobre areado, o canário belga, uma comprida canoa de rio de um só tronco, tão simples, escura,
as areias do córrego sob a água clara, pequenas pedras polidas pela água, a noite cheia de estrelas... Uma descoberta
múltipla que depois se ligou tudo a essa moça de um moreno suave, minha companheira de praia.
Foi em sonho que revi a longamente amada; entretanto, não era a mesma; seu sorriso e sua beleza que me entontecia
haviam vagamente incorporado, atravessando as camadas do tempo, outras doçuras, um nascimento dos cabelos acima da
orelha onde passei meus dedos, a nuca suave, com o mistério e o sossego das moitas antigas, os braços belos e serenos.
Gostaria de descansar minha cabeça em seus joelhos, ter nas mãos o músculo meigo das panturrilhas. E devia ser de tarde,
e galinhas cacarejando lá fora, a voz muito longe de alguma mulher chamando alguma criança para o café...
Tudo o que envolve a amada nela se mistura e vive, a amada é um tecido de sensações e fantasias e se tanto a tocamos, e
prendemos e beijamos é como querendo sentir toda sua substância que, entretanto, ela absorveu e irradiou para outras
coisas, o vestido ruivo, o azul e branco, aqueles sapatos leves e antigos de que temos saudade; e quando está junto a nós
imóvel sentimos saudade de seu jeito de andar; quando anda, a queremos de pé, diante do espelho, os dois belos braços
99 Q2574705 >
Português Morfologia - Pronomes
Provas: Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Iúna - ES -
Arquiteto ...
100 Q2847728 >
Português Morfologia , Preposições
Prova: Instituto Consulplan - 2024 - Câmara
Municipal de Caratinga - MG - Técnico de Informática
8. erguidos para a nuca, ajeitando os cabelos, cantarolando alguma coisa, antes de partir, de nos deixar sem desejo mas com
tanta lembrança de ternura ecoando em todo o corpo.
Foi em sonho que revi a longamente amada. Havia praia, uma lembrança de chuva na praia, outras lembranças: água em
gotas redondas correndo sobre a folha da taioba ou inhame, pingos d’água na sua pele de um moreno suave, o gosto de
sua pele beijada devagar... Ou não será gosto, talvez a sensação que dá em nossa boca tão diferente uma pele de outra,
esta mais seca e mais quente, aquela unida e mansa. Mas de repente é apenas essa ginasiana de pernas ágeis que vem nos
trazer o retrato com sua dedicatória de sincero afeto; essa que ficou para sempre impossível sem, entretanto, nos magoar,
sombra suave entre morros e praia longe.
(BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. Círculo do Livro S.A. São Paulo.)
Isoladas de um contexto, as preposições não apresentam nenhum sentido lógico, mas quando colocadas na frase, podem
indicar diversas relações de significado. Em “Saiu correndo, deu a volta à casa, entrou pelos fundos, voltou depois (tinha dois ou
três pingos de água na testa) com duas broas ainda quentes na mão.” (2º§), a preposição expressa ideia de:
A Lugar.
B Causa.
C Modo.
D Finalidade.
Respostas
81: A 82: B 83: C 84: D 85: D 86: D 87: C 88: A 89: A 90: E 91: A 92: D
93: C 94: B 95: C 96: D 97: B 98: C 99: D 100: A
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