2. Sustento de populações tradicionais
forma não sustentável, pode levar à extinção local ou
global de espécies, como demonstram diversos
casos históricos documentados.
Atualmente, a caça é uma atividade ilegal no Brasil
Introdução
3. Contexto Atual
Atualmente, a caça é uma atividade ilegal no Brasil e
promove elevado impacto ambiental sobre as
populações de animais silvestres em todos os biomas. A
atividade ocorre em maior ou menor escala em diversas
localidades de todos os biomas, apesar da legislação
brasileira vigente proibir tal atividade (FERNANDES-
FERREIRA; ALVES, 2014).
Introdução
4. Introdução
Antes da Lei de Proteção à Fauna de 1967, o Brasil
passou por cerca de um século de exploração
descontrolada de espécies silvestres para abastecer o
mercado internacional de peles, causando declínios ou
mesmo colapsos nas populações de ariranhas, jacarés-
açus, peixes-boi e queixadas da Amazônia (PEZZUTI et
al., 2018).
Introdução
5. Caça de
Subsistência
Praticada para obtenção de alimento e recursos
básicos para sobrevivência, caracterizada por:
• Populações pequenas e estáveis
• Técnicas tradicionais de baixo impacto
• Conhecimento ecológico tradicional
• Regulação cultural através de tabus e normas sociais
• Sustentabilidade baseada em práticas ancestrais
6. Caça
Comercial
Atividade econômica visando lucro através da venda de
produtos da fauna
• Exploração em escala industrial
• Uso de tecnologias avançadas para maximizar captura
• Motivação puramente econômica
• Impactos frequentemente insustentáveis
• Exemplos: caça de baleias, comércio de peles, marfim
7. Caça de Baleias: A Primeira Indústria Extrativa Global
Período áureo (séculos XVII-XIX): A caça de baleias
representou uma das primeiras atividades econômicas
verdadeiramente globais, movida principalmente pela
demanda por:
• Óleo de baleia: utilizado para iluminação (lampiões e
velas)
• Espermacete: cera extraída da cabeça do cachalote,
considerada de qualidade superior
• Barbatanas: utilizadas em corpetes, guarda-chuvas e
outros produtos
9. Eliminação sistemática de espécies consideradas
indesejáveis, frequentemente motivada por:
• Competição por recursos
• Medo ou percepção de ameaça
• Políticas governamentais mal orientadas
• Preconceito contra predadores
Caça de
Extermínio/
Controle
10. Caça
Esportiva/Recreativa
Praticada como atividade de lazer, podendo contribuir
para conservação quando bem regulamentada:
• Motivação recreativa e de status social
• Potencial fonte de recursos para conservação
• Regulamentação através de licenças e cotas
• Exemplos de sucesso: modelo norte-americano
11. Caça de
Retaliação
Eliminação de animais considerados prejudiciais às
atividades humanas ou perigosos:
• Proteção de cultivos agrícolas
• Eliminação de predadores de rebanhos
• Controle de espécies consideradas pragas
• Frequentemente baseada em percepções e não em
evidências científicas
12. O tilacino ou tigre-da-tasmânia era o maior marsupial carnívoro
moderno, endêmico da Austrália e Tasmânia:
• Comportamento: predador noturno, solitário
• Habitat: florestas temperadas e savanas
O Tigre-da-Tasmânia (Thylacinus
cynocephalus)
13. • Introdução de ovelhas na Tasmânia
• Conflitos imediatos com criadores de gado
• Percepção do tilacino como ameaça ao rebanho
Campanha de extermínio (1830-1909):
• Governo da Tasmânia estabeleceu recompensas pela morte de
tilacinos
• Pagamento de uma libra por animal morto (valor significativo na
época)
• Caça sistemática e indiscriminada
Chegada dos europeus (1803)
15. • Tilacinos raramente atacavam ovelhas
• Principal causa de morte dos rebanhos eram cães selvagens
• Mandíbula do tilacino era fraca demais para matar ovelhas
grandes (Wilson et al 2023)
• Dieta baseada principalmente em pequenos marsupiais e
aves
Evidências
posteriores
16. Dodo (Raphus
cucullatus) - Maurício
O dodo, ave endêmica da ilha Maurício, foi extinto no
século XVII devido a uma combinação de fatores,
incluindo a caça pelos colonizadores holandeses.
Evidências arqueológicas sugerem que os habitantes
locais caçavam preferencialmente certas partes do
animal, contribuindo para a pressão sobre a espécie. A
extinção do dodo tornou-se um símbolo mundial das
consequências da exploração não sustentável da fauna.
17. Pombo-passageiro
(Ectopistes
migratorius) -
América do Norte
O pombo-passageiro norte-americano foi uma das
espécies mais abundantes do planeta, com populações
estimadas em bilhões de indivíduos. No entanto, a caça
comercial intensiva nos séculos XVIII e XIX, aliada à
destruição de habitat, levou à extinção da espécie em
1914. A última representante, Martha, morreu no
Zoológico de Cincinnati.
18. Fatores
Contribuintes
Caça comercial em escala
industrial
Uso de novas tecnologias
de caça (telégrafos para
localizar bandos)
Ausência de regulamentação
Destruição de áreas de
nidificação
19. A atual crise de extinções de espécies
em escala planetária, denominada de
Sexta Extinção em Massa, tem
chamado a atenção de um crescente
número de pesquisadores que
investigam os impactos das
atividades humanas sobre a
biodiversidade. Houve um explosivo
aumento da produção de formas
técnicas ("tecnodiversidade"), ao
mesmo tempo que ocorreu uma
preocupante queda das formas de
vida (biodiversidade) (MEGA, 2024).
Extinção da Megafauna Pleistocênica:
Primeira Grande Extinção Antropogênica
20. Teoria do Overkill: Proposta pelo
paleontólogo Paul S. Martin (1973),
sugere que a chegada dos pioneiros
grupos humanos ao continente
americano, há cerca de 15 mil anos,
ocasionou a rápida extinção da
megafauna. Esses animais não
estavam preparados para enfrentar o
novo desafio ecológico imposto pelos
seres humanos e seus artefatos.
Extinção da Megafauna Pleistocênica:
Primeira Grande Extinção Antropogênica
22. Os dados arqueológicos da América
do Sul diferem dos da América do
Norte. Não foram encontradas
evidências significativas de caçadas à
megafauna ao sul do istmo do
Panamá, ao contrário da América do
Norte, onde as evidências são
numerosas (MEGA, 2024).
Evidências conflitantes
23. Os primeiros trâmites jurídicos que tratam do
controle da depleção de fauna silvestre no Brasil
remontam ao ano de 1521, através das
Ordenações Manuelinas, regime de leis
provenientes da Coroa Portuguesa com a
proibição da caça a perdizes, lebres e coelhos
com instrumentos que provocassem sofrimento.
Evolução histórica
da legislação de
caça no Brasil
Período Colonial e Imperial (1521-1933)
24. Desde 1521 até 1934, nunca houve qualquer
outra regulamentação envolvendo controle de
caça, especificamente. As atividades cinegéticas
eram realizadas sem qualquer tipo de
fiscalização (FERNANDES-FERREIRA; ALVES,
2014).
Evolução histórica
da legislação de
caça no Brasil
Período Colonial e Imperial (1521-1933)
25. Em 1933, os pesquisadores do Museu Nacional de
História Natural do Rio de Janeiro (MNRJ), Cândido de
Mello Leitão, Edgard Roquette-Pinto e Alberto José de
Sampaio, elaboraram um anteprojeto aprovado no ano
seguinte. A aprovação do Decreto nº 23.672 (Código
de Caça e Pesca), assinado pelo Presidente Getúlio
Vargas em 2 de janeiro de 1934, é considerada o
primeiro avanço legal da depleção de vida silvestre no
país.
O Marco de 1934: Primeiro Código de Caça e Pesca
Evolução histórica
da legislação de
caça no Brasil
26. Em 1943 foi aprovado o Novo Código de Caça (Lei nº
5.894/43), estabelecendo regras mais rígidas para
áreas de caça e abertura de temporadas de abate.
A Revolução Legal de 1967
A Lei nº 5.197/67 criou o Código de Proteção à Fauna,
estabelecendo que:
• O direito de propriedade dos animais silvestres passa
a ser do Estado
• Foi proibida a caça profissional
• Algumas condutas foram elevadas à categoria de
crime
Período de Transição (1943-1967)
Evolução histórica
da legislação de
caça no Brasil
Década de 1980: Endurecimento das Leis
• Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85)
• Lei nº 7.643/87: proibição da caça de cetáceos
• Constituição de 1988: proteção constitucional
fauna
Lei de Crimes Ambientais (1998)
A Lei Federal nº 9605/98 estabelece as
penalidades mais rigorosas, com
exceções para estado de necessidade,
proteção de lavouras e controle de
animais nocivos (FERNANDES-FERREIRA;
ALVES, 2014).
27. As atividades de caça eram exaltadas pela mídia brasileira
até o final da década de 60:
• Programas de rádio exclusivos sobre caça. Sucessos como
canção Caçador (Tião Carreiro e Pardinho).
• Revistas especializadas: "Revista Caça e Pesca", "Revista
Troféu", "Revista Fauna"
• Literatura: "Caçadas de Pedrinho" (Lobato 1962), "Manual
do Caçador" (Carvalho 1924). Imagem do caçador como
herói.
Era Dourada da Caça (Décadas de 1940-1960)
A transformação
da percepção
midiática e social
28. A partir da década de 70, o advento dos movimentos
ambientalistas brasileiros mudou radicalmente a
percepção:
• Contexto político: final da Ditadura Militar (1964-1986)
• Classe média emergente e movimentos contra a ditadura
• Protecionismo ecológico como tendência ocidental
As mídias de massa passaram a associar a imagem do
caçador a caracteres de destruição do meio ambiente. Essa
imagem negativa permanece massificada nos dias atuais,
impactando o status social da atividade (FERNANDES-
FERREIRA; ALVES, 2014).
A Revolução Ambiental (Década de 1970)
A transformação
da percepção
midiática e social
29. O plano de caça
sustentável de São
Paulo: a perdiz como
caso piloto
O estado de São Paulo desenvolveu, nas décadas de
1980-1990, propostas pioneiras para implementar
programas de manejo sustentável de fauna cinegética,
tendo a perdiz (Rhynchotus rufescens) como espécie-
piloto.
Contexto Histórico
30. O plano de caça
sustentável de São
Paulo: a perdiz como
caso piloto
• Desenvolver modelo de caça sustentável como
ferramenta de conservação
• Gerar recursos para conservação através de taxas de
caça
• Monitorar populações de fauna cinegética
• Capacitar caçadores em práticas sustentáveis
Objetivos
31. O plano de caça
sustentável de São
Paulo: a perdiz como
caso piloto
• Zoneamento de áreas de caça
• Estabelecimento de cotas
• Monitoramento populacional
• Capacitação obrigatória
• Fiscalização rigorosa
Metodologia
32. Por que a perdiz foi
escolhida?
• Alta taxa reprodutiva: espécie prolífica com ninhadas
grandes
• Adaptabilidade: tolera bem ambientes modificados
pelo homem
• Distribuição ampla: presente em diversos habitats
paulistas
• Conhecimento científico: biologia reprodutiva bem
estudada
Características biológicas favoráveis
33. Destino do Programa
O programa foi descontinuado antes de sua
implementação plena, principalmente devido às
mudanças na legislação federal e à crescente oposição
social à caça, mesmo que sustentável.
34. Estratégias de manejo
sustentável
Peru-selvagem (Meleagrisgallopavo):
• População mínima: ~30.000 indivíduos (1930)
• População atual: >7 milhões
• Estratégias: regulamentação da caça, restauração de
habitat, reintrodução
Veado-de-cauda-branca (Odocoileusvirginianus):
• População mínima: ~500.000 (1900)
• População atual: >30 milhões
• Financiamento via taxas de caça e equipamentos
Casos de Recuperação de Espécies
35. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
O pirarucu (Arapaima gigas) é o maior peixe de escamas
do mundo e predador de topo das florestas inundáveis
amazônicas. Dada sua alta relevância econômica,
cultural e alimentar, a espécie teve suas populações
drasticamente reduzidas no século passado, sendo
extinta em muitas localidades devido à sobrepesca.
Contexto Histórico e Declínio
36. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
• Sobrepesca comercial: exploração intensiva sem
regulamentação
• Facilidade de captura: peixe de respiração aérea
obrigatória, facilmente localizado na superfície
• Alto valor comercial: carne muito apreciada e de alto
valor de mercado
• Falta de fiscalização: ausência de controle
governamental efetivo
Fatores do declínio
37. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
Na tentativa de reverter o processo de declínio
populacional, comunidades locais, em parceria estreita
com diferentes esferas do governo e o terceiro setor,
deram início ao manejo colaborativo na RDS Mamirauá.
O Modelo de Manejo Colaborativo
38. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
• Exploração restrita: apenas em lagos destinados ao
manejo
• Cotas de abate: estabelecidas durante a temporada de
pesca
• Planejamento espacial: lagos de não uso como refúgios
• Vigilância local constante: monitoramento comunitário
• Capacitação técnica: treinamento de manejadores
locais
Princípios fundamentais
39. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
Zoneamento dos lagos:
• Lagos de manejo: onde a pesca é permitida sob cotas
• Lagos de preservação: áreas de reprodução
totalmente protegidas
• Lagos de subsistência: uso restrito para alimentação
familiar
Metodologia do Manejo
40. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
Sistema de contagem:
• Censo anual: contagem de indivíduos adultos por
membros da comunidade
• Identificação de tamanhos: classificação por classes
etárias
• Estimativa reprodutiva: avaliação da capacidade de
reposição
Metodologia do Manejo
41. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
Estabelecimento de cotas:
• Base científica: máximo de 30% dos adultos contados
• Proteção de reprodutores: manutenção de casais com
filhotes
• Rotação de áreas: alternância entre lagos para
recuperação
Metodologia do Manejo
42. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
Recuperação populacional:
• Densidades 30 vezes maiores em lagos protegidos
pelas comunidades
• Aumento do tamanho médio dos indivíduos
capturados
• Recuperação da estrutura etária das populações
• Expansão natural para áreas anteriormente extintas
Resultados Obtidos
43. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
• Aumento da renda familiar: venda legal do pescado
• Melhoria da alimentação: maior disponibilidade de
proteína
• Fortalecimento organizacional: cooperativas de
pescadores
• Valorização cultural: resgate de conhecimentos
tradicionais
Benefícios socioeconômicos
44. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
• Recuperação de ecossistemas: pirarucu como espécie-
chave
• Controle de populações: predação de peixes menores
• Ciclagem de nutrientes: transferência entre ambientes
aquático e terrestre
Benefícios ecológicos
Fatores de Sucesso
Participação comunitária efetiva:
• Apropriação local: comunidades como gestoras diretas
• Conhecimento tradicional: integração com ciência
acadêmica
• Vigilância voluntária: fiscalização por interesse próprio
45. O caso do pirarucu
na Amazônia:
modelo de manejo
sustentável
• Parcerias multi-setoriais: governo, ONGs, academia
• Marco legal: reconhecimento oficial da atividade
• Assessoria técnica: suporte científico contínuo
Apoio institucional
Base científica sólida
• Monitoramento contínuo: avaliação anual das
populações
• Pesquisa aplicada: estudos sobre biologia reprodutiva
• Adaptação metodológica: ajustes baseados em
resultados
46. BARNOSKY, A. et al. Has the Earth's sixth mass extinction already arrived? Nature, v. 471, n. 3, p. 51-57,
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Referências