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a revista da família outubro / novembro / dezembro - 2023 - número 115 [ ano 55 ]

DELAS
É O REINO
DOS CÉUS abor
espont to
a per
âneo
crianç da de uma
a
e sp o n t p o r a b o r t o

Teologia para
â ne
menos o não é
ruim

a criança

VALDIR BETHEL E AS PAIS E MÃES


STEUERNAGEL CRIANÇAS DOMINADORES
entrevista enriquecedora mantendo o compromisso com o é essencial um equilíbrio entre
sobre a teologia cuidado e o legado de mais de liderança responsável e respeito
centrada na criança 100 anos de ministério diaconal à autonomia da criança
EDITORIAL

Inestimável
Num mundo em constante transformação,
ao vermos as crianças como participantes ati-
vas na comunidade de fé, a igreja investe não

Espiritualidade Infantil apenas no futuro, mas também na formação


espiritual e no crescimento presente, refletin-
do o exemplo de amor e aceitação de Jesus.
Na entrevista com o Rev. Valdir Steuerna-
por sheila amorim gel, somos informados a respeito de sua pró-
pria reorientação teológica, impulsionada pelo
contato com crianças em diversas fases de sua
vida. Ele destaca a importância de aprender
com a naturalidade das crianças, buscando a
confiança simples e transparente que elas ex-
pressam em sua jornada de fé.
A matéria "Pais e Mães Dominadores" con-
vida à reflexão sobre a parentalidade na era
digital, reconhecendo a importância de rela-
ções saudáveis, autênticas e comprometidas,
capazes de guiar as crianças, inspirando uma
abordagem consciente e amorosa na formação
das próximas gerações.
Seja na igreja ou em casa, é vital distinguir
entre dominar de forma autoritária e exercer
uma liderança responsável. Essa condução cons-
ciente e afetiva promove não apenas a saúde
física, mas também a emocional das crianças.
Como igreja, fazer missões junto às crianças
é uma resposta ao chamado divino para cuidar
dos mais vulneráveis, proclamando o Reino de
Deus com amor, justiça e compaixão. Ao se-
guirmos a Jesus, somos desafiados a colocar a
espiritualidade infantil, muitas vezes subestimada, criança no centro da missão, reconhecendo

a
ganha destaque à luz de pesquisas que indicam a faixa nelas a herança do Reino dos céus.
etária entre 4 e 14 anos como crucial para a forma- Finalmente, a entrevista com Marlene Alme-
ção da fé (página 13). nara Silveira destaca que a reformulação das
Surpreendentes 85% das pessoas afirmam consolidar revistas e materiais de Escola Dominical nos
suas convicções nesse período, reforçando a pertinência da pala- anos 1980 e 1990 pela IPI do Brasil foi impul-
vra de Jesus sobre a necessidade de nos tornarmos como crianças sionada pelo entendimento de que as crianças
para entrar no Reino dos Céus. têm muito a ensinar aos adultos.
Nesta edição, propomos reflexões que desafiam a visão que re- A missão junto às crianças não é apenas um
lega as atividades voltadas às crianças como secundárias. dever, mas um investimento contínuo no futuro
A teologia apropriada e centrada nas crianças emerge como es- da fé, reconhecendo a capacidade das crianças
sencial, alinhada ao alerta do Instituto George Barna sobre a acen- de não apenas receber, mas também de contri-
tuada queda nas chances de conversão após os 15 anos. buir significativamente para a vida da igreja.
O chamado à mudança de mentalidade ecoa nas palavras do Convidamos você a analisar esta edição e a
Rev. Sérgio Gini, presidente da Assembleia Geral da IPI do Brasil, compartilhar suas impressões conosco!
que destaca a necessidade urgente de investimento significativo
no ministério infantil. A crítica ao tratamento inadequado dado à
internet ressalta a importância de abraçar a tecnologia como alia-
da, reconhecendo seu papel central na vida das novas gerações.
A narrativa bíblica é invocada para sustentar a relevância das
crianças na jornada espiritual. sheila amorim
editora da vida & caminho,
No debate, destaca-se a urgência de ações práticas, como a inte- jornalista e especialista em design
gração das crianças nas atividades regulares da igreja, a ênfase no en- e produção gráfica. membro da ipi
sino bíblico e a criação urgente de uma pastoral dedicada à infância. cidade patriarca, sp

a revista da família 3
SUMÁRIO OUTUBRO / NOVEMBRO / DEZEMBRO

[CAPA]
Seções e colunistas
PALAVRA DO LEITOR PAG. 6
delas é o reino
dos céus
VIDA & CAMINHO RESPONDE PAG. 7 fazer teologia de olho na criança também é um desafio urgente,
considerando que pode ser repensada e adaptada a partir da
capacidade das crianças — página 12

[DEBATE]
O ESPAÇO E A PARTICIPAÇÃO DA CRIANÇA NA [SOCIEDADE]

IGREJA PAG. 30 BETHEL E AS CRIANÇAS


o trabalho da associação bethel impactou o ministério diaconal da
[PAIS E FILHOS] ipi do brasil e das crianças que se beneficiaram ao longo de sua
PAI E MÃE DOMINADORES PAG. 36 história centenária — página 8

[MISSÕES]

[PSICANÁLISE E ESPERANÇA] SEGUIR A JESUS É FAZER MISSÃO


LUTO APÓS ABORTO ESPONTÂNEO PAG. 40 o mandamento de jesus de anunciar o seu reino de amor e justiça,
colocando a criança no centro da missão é missio dei — página 20

[ESTUDO BÍBLICO]
JESUS E AS CRIANÇAS PAG. 48 [ENTREVISTA]

ESPIRITUALIDADE SIMPLES E CONFIANTE DAS CRIANÇAS


o rev. valdir steuernagel lançou o livro “fazendo teologia de olho
[AGEU HERINGER LISBOA]
A VIDA FLUI PAG. 58 na criança -aprendendo teologia com as crianças” — página 24

[SUPERAÇÃO]
[CLÁUDIA MARTINS E PAULO JÚNIOR ]
VOCÊ É CIUMENTO? PAG. 59 QUAL O DESEJO DO SEU CORAÇÃO?
Uma história de resiliência e fé na jornada para a maternidade —
página 44
VC RECOMENDA PAG. 60
[SAÚDE]

[APPS E TECNOLOGIA] SAÚDE MASCULINA


LEITURA PARA AS CRIANÇAS PAG. 62 a resistência dos homens em buscar cuidados preventivos e a
cultura que desencoraja até os adolescentes a procurarem
médicos são problemas que exigem educação, conscientização e
TESTEMUNHO PAG. 63 apoio familiar — página 54

4 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


ÓRGÃO OFICIAL DA IGREJA

20 24
PRESBITERIANA INDEPENDENTE
DO BRASIL
Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 -
São Paulo/SP. Registrado, em
7/11/ 1974, no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial sob o n° 289 -
CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Sucessora da
Revista Alvorada, fundada em 3/2/1968 por
Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência
Mourão Cintra Damião, Isolina de Magalhães
Venosa.

40 SECRETARIA DA FAMÍLIA
Rev. Galdino Acassio Gomes Silva
CONSELHO EDITORIAL
Rev. Eugênio Anunciação, Rev. André Tadeu
de Oliveira, Rev. Gerson Correia de Lacerda,
Rev. Ézio Martins de Lima, Rev. Paulo
Câmara Marques Pereira Júnior, Presb.
Regiane S. Oliveira Von Atzingen, Fernando
Hessel
EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL
Sheila de Amorim Souza Mtb 31751
REVISOR
Rev. Gerson Correia de Lacerda
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Seivadartes

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO


Leontino Farias dos Santos, Ézio Lima,
Sandro Xavier, Galdino Acassio Gomes Silva,
Edgard Menezes, Ageu Heringer Lisboa,
Marcos Stefano, Regiane Soares von Atzingen,
Cláudia Martins e Paulo Júnior, Luís Cláudio C.
Heitzmann, Gabriela Pedroso Mourão de Mello,
Éber Ferreira Silveira Lima , Welinton Pereira

DELAS
da Silva, Matheus Fantin, Shirley Maria dos
Santos Proença, João Navarro, Érica Duarte
Coura Navarro.

É O REINO REDAÇÃO

DOS CÉUS [email protected], Fone: (11) 2596-1903


Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100

Teologia para São Paulo/SP

a criança PUBLICADA PELA EDITORA PENDÃO REAL


Fone (11) 3105-7773
E-mail: [email protected].

12
Distribuição gratuita online.
Os artigos assinados não representam
necessariamente a opinião da revista.
Permitida a reprodução de matéria aqui
publicada, desde que citada a fonte.

a revista da família 5
PALAVRA DO LEITOR
canal aberto para nossa comunicação

estamos dispostos a ouvir nossos leitores cada vez mais de perto.


aqui vocês poderão ler comentários, críticas ou elogios às últimas edições.

rejeitada pela família e pela igreja.


Se somos canal aberto para acolhimento,
precisamos entender que pessoas com
julho / agosto / setembro - ÛâÛ3 - número 114 [ ano Þ5 ]
identidade sexual diferente da nossa não
o são por opção, mas nasceram assim
a revista da família

e precisam de amor, afeto, respeito e


suicídio entr
evangélicos
e
acolhimento, sem julgamentos e sem exigir
mudanças na sua identidade sexual. Não
"por que faço o
e
pesquisa sobr
suicídio?"

podemos tirar delas o direito a Deus, à fé


em Jesus de Nazaré, e de adorar e louvar o
SUICÍDIO NAS
UNIVERSIDADES
Senhor.
esperança e cuidado
na jornada acadêmica Sei que o assunto é polêmico e sensível.
Tenho conversado com pais de jovens
FAMÍLIAS EM
TRANSIÇÃO que conheci na infância e já mostravam
alguma diferença e, ao divulgarem sua
como lidar com separações,
divórcios e recomposições
familiares de forma saudável

ADOÇÃO
homossexualidade, saíram da igreja e
desafios e
possibilidades na
construção do
abandonaram a fé. Os pais se acham
vínculo familiar

culpados e minha conversa com eles é no


LUTO
perdas sem despedidas,
sentido de eliminar essa culpa que não
existe. EZEQUIEL LUZ, PASTOR DA IPI DO BRASIL
idas sem adeus e lutos
não processados.
reinventando o
"adeus"

([email protected])

[ABORDAGEM SOBRE O SUICÍDIO ]


Primeiramente, quero parabenizá-la [REVISTA IMPRESSA]
pela edição da "Vida & Caminho". Está Há possibilidade de me enviar a revista
graficamente muito bonita. Vida e Caminho impressa?
Na edição 114, do 3º trimestre de 2023, a Acessei-a on-line, mas gostaria de ter o
abordagem sobre o suicídio foi feita com material em mãos para usar em futuras
muita coragem, principalmente ao admitir palestras. É muito relevante o material
que evangélicos também sofrem com a sobre o suicídio. REV. JORGE SEBASTIAN TOMAS, DO
síndrome do pânico, depressão e cometem PRESBITÉRIO LUZIÂNIA
suicídios, até mesmo pastores e o pastoras.
A igreja deve ser sempre um canal aberto Olá, Rev. Jorge!
de acolhimento, apoio e ajuda, e não de Infelizmente, no momento, só temos a edição
julgamentos. virtual.
Mas eu quero demonstrar uma preocupação, Já estamos estudando a volta do material
que não vi abordada na revista e nem sei se é impresso para o ano que vem.
possível tal abordagem.
Dias atrás, li em algum lugar que uma das
causas de suicídio entre adolescentes e jovens
está relacionada à questão da identidade fale conosco
sexual. Na minha cidade, há algum tempo, facebook.com/vidaecaminho/
uma jovem da Congregação Cristã do Brasil carta: rua da consolação, 2121 -
consolação - cep 01301-100 - são paulo-sp
entrou em um quadro depressivo e cometeu a revista tem o direito de editar e publicar
parte do texto enviado.
suicídio após descobrir que era lésbica e ser

6 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


VIDA E CAMINHO RESPONDE
algumas respostas às muitas dúvidas que temos, por rev. galdino acassio gomes silva
quer fazer uma pergunta? acesse-nos no facebook.com/vidaecaminho ou no email [email protected]

atarás como sinal na tua mão, e te serão


por frontal entre os olhos. E as escreverás
nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”.
Apesar de todo desenvolvimento
tecnológico e a facilidade que se tem
para acessar qualquer informação, hoje,
'dar o exemplo' continua necessário.
As influências negativas também
estão presentes na vida dos adultos.
A maneira como reagimos a elas será
a primeira coisa que as nossas crian-
ças, adolescentes e jovens irão ver e
aprender.
É fundamental ser exemplo!
É necessário, também, ser presente.
Vivemos em mundo extremamente
consumista e muitos pais que querem
dar uma “vida melhor” para seus filhos
ficam cada vez mais ausentes de suas
vidas e desenvolvimento.
O ter não pode ser mais importan-
te do que o estar presente. Quando
sou presente, conheço realmente as
suas necessidades e acompanho o seu
crescimento, e assim posso influenciar
positivamente. É preciso ser amigo
para se relacionar de maneira aber-
ta e sincera.
É necessário entender que o mun-
do mudou!
Ivan Samkov

Não adianta querermos ensinar a ge-


ração Alpha (após 2010) ou a Z (1995
a 2009) como se ensinou na geração
X (1965 a 1980).
EM UM MUNDO CADA VEZ MAIS e resistir às influências negati- É necessário mudança. Para isto, é
DIGITAL E SECULARIZADO, vas? Como podemos manter um preciso caminhar com as novas gera-
COMO PODEMOS AJUDAR diálogo aberto e significativo ções, compreender o mundo delas, o
NOSSOS FILHOS A MANTER UMA com nossos adolescentes sobre que elas pensam e como veem as coi-
IDENTIDADE CRISTÃ SÓLIDA questões de fé, valores cristãos sas, que é bem diferente da nossa pers-
E RESISTIR ÀS INFLUÊNCIAS e desafios da vida moderna? pectiva e entendimento.
NEGATIVAS? É necessário recuperarmos Somente assim poderemos cumprir
a educação dos nossos filhos o papel que nos foi confiado pelo Se-
Poucos anos atrás, televisão era como responsabilidade dos pais! nhor: “Ensine a criança no caminho em
somente canais abertos e, mesmo Infelizmente, a maioria dos que deve andar, e ainda quando for velho
assim, nem todos conseguiam um pais tem terceirizado (assunto não se desviará dele” (Provérbios 22.6).
bom sinal; a internet era discada e este que não se pode aprofun-
cara; os computadores eram len- dar em apenas um parágrafo).
tos. Hoje, tudo mudou! A rapidez No entanto, quero refletir so-
com que as informações chegam bre o texto de Deuteronômio
e o volume de atualizações que se 6.6-9: “Estas palavras que, hoje,
tem em minutos é gigante. te ordeno estarão no teu coração;
Em um mundo cada vez mais tu as inculcarás a teus filhos, e de- rev. galdino acassio
digital e secularizado, como po- las falarás assentado em tua casa, gomes silva, pastor da
ipi de ouro fino, mg, e
demos ajudar nossos filhos a man- e andando pelo caminho, e ao dei- secretário da família da
ter uma identidade cristã sólida tar-te, ao levantar-te. Também as ipi do brasil

a revista da família 7
SOCIEDADE ASSOCIAÇÃO BETHEL
Impactou o ministério diaconal da IPI do Brasil e das crianças ao longo da sua história centenária

BETHEL E AS
CRIANÇAS:
LEGADO DIACONAL PARA A IPI DO BRASIL
por éber ferreira silveira lima

O início
ras de Motta o remetiam frequentemente
o ano de 1921, o Rev. Othoniel a pastores da Europa que se preocupavam

n de Campos Motta - um dos


ministros fundadores da IPI
do Brasil - deu início a uma
com o alcance social do Evangelho, como
Jean-Frédéric Oberlin (1740-1826).
A inspiração para Bethel, segundo relatou
campanha para a instalação de um “asilo da o próprio Rev. Othoniel, veio desse pastor
criança desvalida” que fosse mantido pela franco-germânico, que desenvolveu intenso
própria igreja. ministério entre as populações de pobres
A ideia de se desenvolver um “ministério camponeses da Alsácia, região fronteiriça
de beneficência” já vinha desde a institui- da França com a Alemanha.
ção da IPI do Brasil em 1903, nos tempos Oberlin e Othoniel Motta deveriam ter
do Rev. Eduardo Carlos Pereira. bustos de bronze na sede de Bethel em So-
Um caixa para o futuro orfanato foi cons- rocaba, tal a importância deles para o es-
tituído. Em 1922, o “Orfanato Bethel” foi tabelecimento dessa querida instituição.
estabelecido e as primeiras crianças foram
recebidas. Em 1925, a IPI do Brasil assumiu Em Campinas e em Sorocaba
oficialmente o Orfanato Bethel e sua total
administração e manutenção. O Orfanato Bethel foi instalado em uma
grande fazenda no município de Campinas,
A inspiração SP. Nessa época, Bethel também aceitava o
ingresso de crianças cujos pais ou responsá-
O coração de Othoniel Motta sempre ba- veis podiam arcar com a mensalidade. Esses
teu forte pela ação social da igreja. As leitu- recursos contribuíam muito para a manu-

8 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


a revista da família 9
SOCIEDADE ASSOCIAÇÃO BETHEL

tenção de Bethel. qual fazemos homens”. nando com sua classe e eficiência as
Anos depois, o Orfanato transfe- Muitos meninos de Bethel se tor- equipes das UMPIs que iam ao orfa-
riu-se para uma propriedade na ci- naram homens abençoados na vida! A nato para jogar torneios. Formou-se
dade de Sorocaba, SP, transforman- orientação recebida no “Lar da Igre- em Educação Física e foi professor
do-se no Lar Betel, ou ainda “Betel ja” os ajudou na construção de sua dessa disciplina na rede municipal
- Lar da Igreja”. vida adulta. Eles constituíram famí- de ensino de São Caetano do Sul, SP.
O impacto da criação de Bethel lia e seguiram seu caminho em paz Tantos outros que passaram por
foi muito grande na vida da IPI do e normalidade. Bethel tornaram-se homens de con-
Brasil. Era o primeiro grande esfor- Há betelinos que continuaram li- duta exemplar, bem-sucedidos em
ço denominacional no campo do que gados à IPI do Brasil e que hoje são seus estudos e profissões, cristãos
hoje chamamos de diaconia, minis- presbíteros, diáconos, professores dignos do nome de Jesus Cristo.
tério da igreja que vai além do ofício de escola dominical e líderes respei- E, dentre tanta gente bem educa-
diaconal ordenado. tados em suas igrejas. da e formada, foram muitos os que
Bethel acolheu, por décadas, em Houve também crianças de Bethel mostraram sua gratidão por terem
suas duas sedes históricas, dezenas que se tornaram adultos bem conhe- passado por Bethel.
e dezenas de meninos que encontra- cidos em suas respectivas áreas de O Estandarte de 15 de maio de 1950
ram amor, cuidado e dedicação dos atividade. registrou, em artigo de Carlos René
educadores e funcionários da insti- Figura de grande destaque foi o ar- Egg, a experiência exemplar de um
tuição e, também, das igrejas da de- tista plástico Samuel Salvado. Nas- desses ex-internos: “Como ave que
nominação, que sempre souberam cido em São Francisco do Sul, Santa volta ao ninho antigo, Betel recebeu
colaborar com o orfanato em sua de- Catarina, no ano de 1909, Salvado a visita desse jovem que viveu a sua
safiadora caminhada. passou por Bethel bem no comeci- infância no Lar da Igreja. Atualmen-
nho da instituição, ainda na Fazenda te residindo no Rio de Janeiro, bem
Pessoas que Deus usou Bethel, em Campinas. Desde cedo empregado, em férias, foi convidado
mostrava vocação para o desenho e a pela diretoria de Betel para gozá-las
Foram muitas as pessoas que se de- pintura. Já moço feito, estudou nos em Betel. Passou ele quinze dias com
dicaram ao trabalho de Bethel. No- Estados Unidos e se tornou um dos a nossa meninada”.
mes como os de Carlos René Egg, maiores especialistas em pinturas de
Hilda Pio da Silveira, Lauro Mon- orquídeas, com várias exposições de
teiro da Cruz, Janina Bressan Ra- suas obras no Brasil e no exterior.
mos, Alfredo de Barros Rangel e os Pastores também passaram por
de tantos outros irmãos e irmãs de- Bethel quando crianças ou adoles-
vem ser sublinhados como servas e
servos de Deus que ofereceram seu
centes. Alcides Carlos de Oliveira,
nascido em 1907, ingressou em Bethel
BETHEL ACOLHEU, POR
tempo e aptidões para administrar
a instituição e cuidar das crianças.
no ano de 1923, juntamente com seu
irmão. Foi contemporâneo em Be-
DÉCADAS, EM SUAS DUAS
Em relatório publicado em O Es-
tandarte, no número de julho de 1978,
thel de Samuel Salvado e de Adolpho
Machado Corrêa. Membro da IPI
SEDES HISTÓRICAS,
o então presidente do Conselho Ad- do Brasil, Alcides foi eleito presbí- DEZENAS E DEZENAS
ministrativo de Betel, Presb. Hélio tero em sua igreja. Na maturidade, o
Teixeira Callado, afirmava que “de Senhor o chamou para o ministério DE MENINOS QUE
Betel nunca ocorreu uma fuga sequer pastoral. Foi ordenado ministro da
de internos”. Essa frase enfatiza a IPI do Brasil em 1963. Jubilado em ENCONTRARAM AMOR,
qualidade de atendimento e o nível 1975, continuou a pastorear igrejas
alto de aceitação pelas crianças e ado- ainda por alguns anos. CUIDADO E DEDICAÇÃO
lescentes dos cuidados recebidos. Até mesmo atletas! Vicente França,
o Vicentinho, foi jogador profissional DOS EDUCADORES
de basquete, atuando pelo Palmeiras
Crianças de Bethel
(no qual sagrou-se campeão) e outras E FUNCIONÁRIOS DA
Uma placa encimava o portão de equipes importantes do Brasil nos
entrada de “Betel - Lar da Igreja” em anos 60. Quando era menino de Be- INSTITUIÇÃO E, TAMBÉM,
Sorocaba: “Os meninos são o único
material que Deus nos deu com o
tel, já compunha o quinteto de “bola
ao cesto” da instituição, impressio-
DAS IGREJAS

10 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


Ketut Subiyanto
Bethel mudou para melhor! cuidado social para os grupos incluí- São duas casas para atender as crian-
O surgimento do “Estatuto da dos nessas faixas etárias. A figura do ças, em convívio familiar que honra
Criança e do Adolescente” (ECA) orfanato e o formato de internação a tradição de mais de 100 anos de
em 13 de julho de 1990 determinou de crianças nas condições antigas de ministério de diaconia.
o surgimento de novos modelos de guarda foram extintos. A trajetória heroica de Bethel nas
Bethel tornou-se uma instituição difíceis décadas iniciais permitiu que
que se expandiu, abrigando, como hoje a IPI do Brasil desfrute de ins-
um grande e bondoso guarda-chu- piração para ir em frente.
vas, muitas instituições que recebem O Ministério de Ação Social e Dia-
seus cuidados e benefícios, espalha- conia de nossas igrejas pode empreen-
das pelo Brasil. der muito mais; nossas comunidades
Tais iniciativas sociais beneficiam de fé podem se tornar igrejas diaco-
crianças, jovens, adultos e anciãos, nais, missionais, a partir das condi-
em um amplo leque de atividades de ções de apoio que são oferecidas pela
apoio humano. Várias são as nossas Associação Bethel.
igrejas que recebem o apoio institu- A história, as realizações, as con-
cional e o selo de Bethel. dições atuais para trabalhar e servir
estão à disposição da igreja. Precioso
O legado de Bethel legado para a IPI do Brasil.

As origens, porém, não foram es-


quecidas: o orfanato encontrou no
projeto de “casas-lares” o herdeiro
perfeito para continuar atendendo rev. éber ferreira silveira lima, pastor
o coração do rev. othoniel motta sempre da ipi do cambuci, sp, e curador do museu
bateu forte pela ação social da igreja crianças em Sorocaba. rev. vicente themudo lessa da ipi do basil

a revista da família 11
CAPA O REINO É DAS CRIANÇAS
a relação da criança com o transcendente e o jeito natural de crer têm muito a ensinar aos adultos sobre deus

DELAS
É O REINO
DOS CÉUS
Teologia para
a criança
por marcos stefano

12 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


pandemia mundial da sou a acompanhar os cultos on-line programações voltadas às crianças

a Covid-19 não apenas


foi responsável pela
morte de milhões de
da Galera da Vila.
Aos domingos, não apenas ela, mas
toda a família começou a assistir aos
como algo secundário e de menor
importância, ou apenas uma forma
de ocupar os pequeninos e dar tran-
pessoas. Também cei- cultos da igreja. Isis decorava os ver- quilidade para seus pais e responsá-
fou esperanças e trouxe medo e in- sículos propostos e enviava vídeos veis participarem dos cultos.
quietação para incontáveis famílias. por aplicativo de mensagens para Porém, segundo pesquisas como a
Uma delas foi a do gerente comer- ganhar pontos em atividades como de Lionel Hunt, usada como referên-
cial Edmilson Silva Messias, de 44 a feira de trocas. cia pela Aliança Pró-Evangelização
anos, e da operadora de telemarke- As produções contavam com o das Crianças (APEC), a melhor ida-
ting Susiane Cristina Giufrida Mes- apoio e a participação de todos da de para a evangelização e conversão
sias, 42. Cristãos praticantes, como casa e a qualidade das produções jun- das pessoas é entre os 4 e os 14 anos:
muitos, eles sentiram os impactos do to com a facilidade de comunicação 85% dos pesquisados firmaram sua
isolamento social, que fechou igrejas da menina tornaram os Messias co- fé nessa faixa etária.
e obrigou todos a ficarem em casa. nhecidos de toda a igreja e fizeram Na mesma linha, George Barna,
A maior preocupação era com os com que mantivessem contato vir- no livro Transformando Crianças em
filhos, o adolescente Isaac, de 15 anos, tual com as demais famílias da con- Campeões (Editora Naós), alerta que
e menina Isis, de 9. Como motivá-los gregação. se uma pessoa não receber a Cristo
de forma a não esfriarem na fé e mi- Longe de ser entretenimento ou como Senhor e Salvador antes dos
nistrar em suas vidas com os cultos passatempo, por meio do envolvi- 15 anos, suas chances de se conver-
no lar? “Comecei a procurar ajuda mento de Isis, a fé deles se renovou, ter mais adiante são de apenas 6%.
na internet e nas redes sociais. Foi cresceu e a vida de todos foi transfor- Experiências como a da família
aí que encontrei o grupo de apoio mada. “Quando finalmente foi pos- Messias se multiplicam e mostram
aos pais da 1ª IPI de Londrina, no sível conhecer tudo e todos pessoal- a importância de fazer teologia ade-
Paraná, cidade em que moramos”, mente, o sentimento era de que fazía- quada e voltada para as crianças, con-
conta Susiane. mos parte daquela família há muito, firmando as palavras do próprio Je-
Ela recebeu as boas-vindas e orien- muito tempo. E foi só o início de um sus: “Em verdade vos digo que, se não vos
tações da Rev. Andréia Pereira, coor- grande envolvimento com a igreja e converterdes e não vos tornardes como
denadora da Área de Apoio Infantil seu trabalho”, completa a mãe. crianças, de modo algum entrareis no rei-
da igreja, e logo a pequena Isis pas- Muitas igrejas ainda consideram no dos céus” (Mateus 18.3).

a revista da família 13
CAPA O REINO É DAS CRIANÇAS

A vida e os números confirmam


essa verdade e a importância da in-
fância no percurso em direção à fé
verdadeira. “Diante dos fatos, não é
difícil nos percebermos como par-
te daquele grupo de discípulos que
disputavam entre si as posições de
poder das quais se consideravam dig-
nos e com as quais pensavam que
certamente seriam agraciados. En-
tão, vem Jesus, chama uma criança,
coloca-a no meio e a apresenta como
um chamado à conversão e como
anúncio de um caminho a seguir,
o caminho do Reino. É a teologia
que nasce diante de Cristo com a
criança um sinal de esperança para
a igreja. Mas que só terá legitimida-
de se andar no trilho da conversão
e tiver na humildade os dormentes
que a sustentam. Precisamos, com
urgência, redescobrir o fazer esse
tipo de teologia”, escreve o profes-
sor e pastor Valdir Steuernagel em
seu livro Fazendo Teologia de Olho na
Criança (Editora Mundo Cristão).
“Precisamos mudar com urgência
nossa percepção de que a igreja é para
gente adulta. Sob a perspectiva de
Jesus, o Reino de Deus é coisa de
criança”, aponta o Rev. Sérgio Gini,
presidente da Assembleia Geral da
IPI do Brasil.
Ele diz que essa mudança de men-
talidade é prerrogativa para que uma
mudança possa ser vista a cada final
de semana nos cultos. “Em um mun-
do que tem o consumismo como sua crianças na ministração da ceia na 1ª ipi de londrina
referência, as crianças que estão na
igreja e as que não estão ficaram vul-
neráveis. Temos oferecido a elas ‘mi- cotidiano de suas atividades, não ape- Até mesmo a internet, tradicional-
galhas’: o menor orçamento é para o nas realizando “eventos” e atividades mente vista como vilã, precisa come-
ministério infantil. Isto é, quando ele ocasionais quando se comemoram çar a ser tratada como aliada. “As novas
existe. É insustentável continuar as- Dia das Mães, Natal ou Escola Bí- gerações são nativas digitais e a inter-
sim. O ministério infantil deve ser o blica de Férias. net está inserida no cotidiano delas.
melhor, o mais bem equipado, aque- Depois, com a ênfase no ensino bí- Não podemos lutar contra ‘moinhos
le com obreiros mais capacitados”, blico como essencial, pois os valores de vento’, achando que vão nos devorar
acrescenta. da Palavra de Deus são imutáveis. como ‘dragões’. Essa cena quixotesca
Para ser efetiva, a mudança de vi- E, finalmente, criando com ur- não pode mais se repetir. Acusamos a
são deve ser seguida por ações bem gência uma pastoral para a criança. internet de ser vilã, mas o que temos
práticas. Segundo o Rev. Gini, chegou o mo- produzido como igreja para nossos fi-
Primeiro, as igrejas que trabalham mento de parar de terceirizar a cul- lhos usarem, aprenderem, jogarem e se
com grupos pequenos, células e ou- pa pelo afastamento das crianças da divertirem? Crianças não são o futuro;
tros precisam inserir as crianças no vida eclesiástica. primeiro, precisam se tornar presen-

14 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


Um dos melhores exemplos é o do
menino Samuel. Antes de se tornar
um poderoso profeta e líder da na-
ção, ele ouviu a voz de Deus quando
nenhum adulto foi capaz de fazê-lo.
Naqueles dias, raramente o Senhor
falava e as visões não eram frequentes.
Israel atravessava uma difícil crise.
Crise inclusive na liderança, visível
na cansada figura do sacerdote Eli,
uma espécie de juiz do povo, e de
seus filhos e sucessores, que desvir-
tuaram a adoração feita por meio dos
sacrifícios, praticaram a prostituição
e exploraram o povo, ameaçando-o
com violência.
A resposta divina é o silêncio, mes-
mo diante da opressão dos povos ini-
migos.
Mas é o mesmo Deus que toma a
atitude de romper esse silêncio. O
menino que ele encontra o escuta e
parte rumo à construção de um novo
momento na história de seu povo.
Como Samuel, outro menino, na
verdade ainda bebê, foi salvo das
águas do rio Nilo, no Egito, para se
transformar naquele que seria usado
por Deus como libertador de Israel
de um longo período de escravidão.
Não pouco mais do que um menino,
Davi venceria ursos e leões, tocaria
harpa para o rei e expulsaria demô-
nios, mostrando que, mesmo com
imperfeições, é possível ser uma pes-
divulgação

soa segundo o coração do Altíssimo.


Outra criança, essa uma menina
cujo nome a Bíblia não registrou, não
se deixou desanimar por ter se torna-
do uma escrava dos inimigos e teve
te! Por isso, Jesus nos convidou a nos gente de segunda classe, mesmo no papel decisivo para que o ministro
tornarmos como elas, pois são o mo- judaísmo. Permitir-lhes chegar até da guerra de uma das potências de
delo acabado de cidadãos do Reino Cristo seria apenas atrapalhar a ca- seu tempo reconhecesse que o Deus
e não apenas rascunho do que ainda minhada do Mestre, até mesmo na de seu povo era o único verdadeiro
irá ser”, completa ele. opinião dos discípulos. Opinião não em todo o mundo.
compartilhada pela Bíblia. “As crianças têm muito a ensinar
PASTORES, PROFETAS E REIS Como demonstrou Jesus, as Es- aos adultos, com pureza, sincerida-
crituras Sagradas mostram a impor- de e amor incondicional. Portanto,
“Deixai vir a mim as criancinhas.” tância dos pequenos à medida que é necessário saber o que e como falar
A ordem de Jesus, tão natural para a Palavra é revelada e como eles são a elas, para que possam entender e
quem a escuta hoje, pode ter causa- perspicazes para compreender ques- absorver o conhecimento de Deus.
do grande estranheza aos que a ou- tões espirituais, aprendendo a ouvir Quem trabalha com crianças, apren-
viram originalmente. Deus de modo instintivo, intuitivo de na mesma proporção. Ensinar é
Nos tempos bíblicos, crianças eram e muito prático. uma troca mútua, em que todos se

a revista da família 15
CAPA O REINO É DAS CRIANÇAS

enriquecem”, diz a pedagoga e es- conta ela.


critora Marlene Almenara. Outra preocupação à época, foi
Nos anos 1980 e 1990, ela foi uma a de que o material fosse adequado
das peças decisivas para mudar a for- para aqueles públicos.
ma como a igreja lidava com grupos
como crianças e adolescentes. Saben-
Marlene explica a questão usando
termos bíblicos. “Se não usássemos
“PRECISAMOS MUDAR
do da importância de investir nessas
idades, mas conhecendo seu desen-
a linguagem adequada, corríamos o
risco de formar adultos que se alimen-
COM URGÊNCIA NOSSA
volvimento psicológico e cognitivo, taram de carne na infância, quando PERCEPÇÃO DE QUE
ela integrou o grupo que remodelou ainda não podiam digerir alimento
as revistas e demais materiais da Es- pesado e que, na fase mais madura, A IGREJA É PARA
cola Dominical da denominação. seriam instáveis e superficiais por
Também percorreu o país, realizan- só conseguir digerir leite”, ensina, GENTE ADULTA. SOB A
do reuniões e promovendo cursos e usando o exemplo que o apóstolo
treinamentos. “Naquele tempo, es- Paulo deu em 1 Coríntios 3:2 (leia a PERSPECTIVA DE JESUS,
távamos buscando novos rumos na entrevista completa no quadro abaixo).
identidade da Igreja Presbiteriana As conquistas foram importantes O REINO DE DEUS É
Independente do Brasil enquanto para muitos dos trabalhos que hoje
uma igreja com proporções conti- são realizados, mas ela reconhece que COISA DE CRIANÇA”
nentais. Cada um usava seu material não pode parar aí. Novos investimen-
e era preciso unificar, costurar o co- tos precisam ser realizados, priori-
ração em uma só denominação. Foi zando as crianças: “Se entendermos
um desafio, mas recompensador”, a importância delas, reservaremos o

“AS CRIANÇAS TÊM MUITO A ENSINAR AOS ADULTOS”


Nos anos 1980 e 1990, a pedagoga e escritora sinar aos adultos, com sua pureza, sua sinceridade
Marlene Almenara, esposa do saudoso Rev. Abi- e seu amor incondicional. Portanto, é necessário
val Pires da Silveira, contribuiu de modo decisivo saber o que e como falar a elas, para que possam
para mudar a forma como a Igreja Presbiteriana entender e absorver o conhecimento de Deus.
Independente do Brasil trabalhava com crianças Se não usarmos a linguagem adequada, corremos
e adolescentes. o risco de formar adultos que se alimentaram de
Ela fez parte da equipe responsável pela educa- carne na infância, quando ainda não podiam di-
ção cristã na denominação e fez parte do grupo que gerir alimento pesado, e que, na fase mais madu-
remodelou as revistas e demais materiais de Escola ra, se tornam instáveis e superficiais por só con-
Dominical da denominação. seguir digerir leite.
Na entrevista a seguir, ela fala um pouco sobre Quem trabalha com crianças aprende na mes-
essa experiência e faz um alerta: “O que conquis- ma proporção. Ensinar é uma troca mútua, em que
tamos foi importante, mas não podemos parar. todos se enriquecem
Precisamos continuar investindo nas crianças e
nos adolescentes”. foi esse entendimento que levou a ipi do brasil a re-
formular as revistas e demais materiais de escola
muita gente ainda tem dúvida de que as crianças dominical nos anos 1980 e 1990? como se deu isso?
podem aprender teologia e espiritualidade. como Naquele tempo, estávamos buscando novos ru-
ensiná-las? mos na identidade da Igreja Presbiteriana Inde-
Na verdade, são as crianças que têm muito a en- pendente do Brasil enquanto uma igreja com pro-

16 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


melhor espaço e os maiores recursos Ainda mais do que alimentação, usado na Feira de Trocas, ganhando
para elas. Mas creio que toda a igreja saúde e escola, elas têm sede de mais, revistinhas, brinquedinhos e coisas
precisa ser envolvida para descobrir de vida plena, de crescer como um de que elas gostam.
como fazer”. todo, como Jesus crescia. Dessa for- Em termos de atividades, aos do-
ma, a igreja tem parte importante e mingos, a igreja promove cultos in-
INTENCIONALIDADE NO TEMPLO fundamental nesse processo. fantis, com liturgia dinâmica e lúdi-
“O foco do trabalho deve ser minis- ca. O destaque desse culto é o ensino
E NAS RUAS trar aos pequenos com intenciona- do Catecismo em forma de Quiz e a
Harold Segura, pastor e teólogo co- lidade de ensiná-los e levá-los a uma ministração da Palavra pelo grupo
lombiano ligado à organização Visão experiência com Deus. O ensino da de teatro Galera da Vila.
Mundial e uma das maiores autorida- Palavra e o encontro íntimo e uma Quem quiser conhecer e se inspi-
des da atualidade quando o assunto é vivência profunda com Cristo não rar com as produções pode acessar
educação cristã para as crianças, cos- podem esperar”, afirma a Rev. An- o canal do grupo no YouTube, onde
tuma alertar que o principal diferen- dréia Pereira. Na 1ª IPI de Londrina, ficam gravados os episódios apresen-
cial cristão no trabalho com a infân- onde ela coordena a Área de Apoio tados no culto e que podem também
cia é adotar uma perspectiva integral. Infantil, são trabalhadas crianças de ser revistos pelas crianças e assisti-
Ou seja, não se pode reduzir crian- 1 a 10 anos de idade com um currí- dos pelos pais.
ças a uma mera forma de atrair os pais culo que traz a visão panorâmica da Fora isso, durante todo o ano, a
ou transformá-las em alvos de com- Bíblia. A cada semana, um princípio igreja realiza programações de ensi-
paixão assistencialista. Elas são pes- bíblico é focado e a criança é estimu- no e lúdicas como colônia de férias,
soas criadas à imagem e semelhança lada a decorar um versículo bíblico. acampamentos e eventos em con-
de Deus e sujeitos participantes da Como resposta e incentivo, recebe junto com outros departamentos.
própria transformação. um cartão de pontos que poderá ser Mas os olhos da 1ª IPI de Londrina

porções continentais.
Cada um usava seu material e era preciso unifi-
car, produzir algo adequado à nossa herança pres-
biteriana e que refletisse as preocupações e orien-
tações da direção nacional, costurar o coração em
uma só igreja.
Elaboramos materiais para cada idade, procu-
ramos trazer novos elementos para incrementar o
conhecimento dos professores, conscientizá-los a
respeito do desenvolvimento psicológico da criança.
De forma complementar, viajamos pelo país para
dar cursos e treinamentos. Minha responsabilida-
de principal foi a elaboração de material para ado-
lescentes, mas ajudei também com a produção de
material para crianças.

Que cuidados devem ter as igrejas no trabalho


com crianças hoje?
Não podemos parar nunca! Precisamos inves-
tir mais!
Se entendermos a importância das crianças, re-

a revista da família 17
CAPA O REINO É DAS CRIANÇAS

não ficam apenas nos pequenos que No entanto, mesmo pequenas igre- Os cultos são desenvolvidos por
estão dentro do templo. Voltam-se jas, sem a mesma estrutura, podem faixas etárias, com materiais
para aqueles que estão fora e preci- impactar as crianças de seu entor- didáticos próprios e
sam ser alcançados pelo Evangelho. no. Basta visão, criatividade e dispo- em salas separadas.
Além de realizar eventos abertos sição. “Em nossa igreja, o ministério Já as células in-
a toda a comunidade, eles fazem re- infantil é desenvolvido por uma mis- fantis nos bairros
uniões nas casas e outros locais em sionária, que coordena os projetos e são um meio de evan-
diferentes bairros da cidade, forman- por monitoras voluntárias. Também gelismo, além do tradi-
do pequenos grupos de crianças com envolvemos as famílias e incentiva- cional evangelismo de rua
foco na evangelização. Projetos de mos o culto nas casas como forma de com as crianças e os adoles-
contraturno escolar atendem crian- discipular as crianças”, explica o Rev. centes, realizado com entrega
ças de diferentes idades, privadas de Douglas Santos, pastor da IPI de Os- de folhetos, exposição de fra-
condições financeiras e que não são valdo Cruz, no interior de São Paulo. ses de impacto e passagens bíblicas
da igreja. Não se trata apenas do re- Tudo é planejado no início de cada em faixas e apresentações musicais.
forço escolar, do ensino de artes e de ano. E, ao longo do período, são reali- “Uma igreja que preza o trabalho
teatro; evangelizar e discipular são zadas gincana bíblica, tarde da alegria infantil está olhando para o futuro,
metas sempre presentes. nos bairros, Cultos Kids presenciais mas o construindo no presente. Te-
Trabalhos como o desenvolvido no templo, escola bíblica de férias, mos hoje em nosso meio muitas fa-
em Londrina se tornaram referên- evangelismo de rua, acampadentro mílias que se converteram a Jesus e as
cia para muitas outras igrejas. e outras atividades. crianças foram o instrumento de Deus

servaremos o melhor espaço e os maiores recur- mesma. Não se esqueçam de que os pais também
sos para elas. devem ser envolvidos.
Também devemos conhecer nossas crianças. Esse
conhecimento vem pelo “ouvir” antes de falar. O muitos apontam a escola ou a universidade e os
material do aluno não é para ser ouvido e aceito. relacionamentos como culpados pela saída da
É para levantar o conhecimento, a maneira como igreja quando as pessoas chegam à adolescência
a criança está entendendo, para que você saiba ou à idade adulta. como fazer a transição do
como abordar os assuntos de maneira que a criança cultinho para o culto no templo de forma a não
absorva e grave de forma a enriquecer a formação perder essas pessoas?
de seus valores. Em todo o processo, a igreja toda tem que es-
tar envolvida.
Um dos grandes desafios para as igrejas é Aqui, eu gostaria de dar ênfase à participação
trabalhar e alcançar crianças que estejam gradual dos adolescentes.
fora dos templos, principalmente as que estão São eles que, nessa fase da vida, estão priorizando
em situação de vulnerabilidade. Como lidar com as ideias do grupo e se fechando para os adultos.
tal situação? Dada essa importância do grupo, sugiro que ati-
Novamente: temos que conhecer o universo des- vidades possam ser programadas na igreja ou fora
sas crianças. Temos possibilidades de chegar até dela, como acampamento, acampadentro, esportes.
elas? De que forma isso vai ser feito? Também envolver o pastor e adultos que sejam
Se forem fazer parte da Escola Dominical, é preciso bem aceitos por eles ajudará a formar o grupo den-
saber como fazê-lo. Elas não podem se sentir estra- tro da igreja.
nhas ou serem tratadas de forma diferente do grupo. No começo, eles se manterão por causa do grupo.
O que fazer? Discutam, decidam e programem esse Aos poucos, farão parte por conta própria.
momento da igreja. Procurem pessoas que tenham Na participação no culto, a música pode aju-
condição e conhecimento para ajudar nessa tarefa. dar muito.
Se for um trabalho fora da igreja, a sugestão é a Alguns cultos podem ser programados com a

18 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


para alcançá-las”, diz a Missionária com participação ativa de 200 faci- sonagem Zeca e é líder de célula. Já
Marta Murbach Artero, que coor- litadores de culto, que são responsá- Isis participa dos cultos na Galera
dena o trabalho em Osvaldo Cruz. veis pelas ministrações às crianças. da Vila e está sempre gravando ví-
Embora importante, desenvolver Todos são voluntários. Tal número deos e auxiliando todos os ministé-
valores e valorizar a vida em comu- só foi possível por conta do envol- rios da igreja.
nidade é impossível sem a parceria e vimento dos pais, conscientizados "Jesus é meu salvador, melhor
o compromisso das famílias. A fre- sobre a responsabilidade de edifica- amigo e minha paz. Meu versículo
quência irregular enfraquece o ânimo ção e educação dos filhos na Palavra. preferido é João 3.16, que nos ensi-
e favorece o distanciamento das crian- Dois desses voluntários são justa- na que ‘Deus amou o mundo de tal
ças das vivências e ensinos da Bíblia. mente os pais da menina Isis, cuja maneira que deu seu Filho Unigêni-
“Os pais são os grandes responsá- história abre esse texto. Susiane e to para que todo aquele que nele crê
veis pela educação cristã dos filhos; Edmilson servem na Área de Apoio não pereça, mas tenha a vida eter-
a função de apoio cabe à igreja. Se o Infantil e no grupo de ajuda mútua na’. É muito legal porque aprendo
ensino não acontece durante toda a Água Pura. Sempre que possível, par- a viver isso com Jesus e me torno
semana, não será em poucas horas ticipam dos cursos da Escola Bíblica cada vez mais parecida com ele”,
no final da semana que ele será re- Esperança e buscam crescer como finaliza a menina.
cuperado”, chama a atenção a Rev. pessoas, pais e famílias.
Andréia Pereira. O adolescente Isaac participa dos
O trabalho da Área de Apoio In- louvores nos cultos de pré-adoles- marcos stefano, jornalista,
fantil na 1ª IPI de Londrina conta centes, na Galera da Vila, com o per- mora em são paulo, sp

participação deles na liturgia. Nesses dias, o púl- Mesmo com tantas dificuldades, ainda é possível
pito deve estar preocupado com uma mensagem preparar as novas gerações para enfrentar o
que seja significativa para eles. Para não chegar mundo moderno? Como?
à universidade e enfrentar um choque de ideias, Vivemos dias difíceis em que os valores não es-
sem saber como agir e sem saber como ser ajuda- tão apenas mudando, mas sendo totalmente dei-
do, o pastor e os adultos, que tenham capacidade xados de lado. Seu lugar é tomado por um indivi-
de conversar e serem ouvidos por eles, podem aju- dualismo que satisfaz porque não exige compro-
dá-los a responder os questionamentos. metimento com o outro.
Cuidado com os ensinamentos cifrados ou com
Qual é o papel dos pais e das famílias na evan- ensinamentos que querem nos levar para um lugar
gelização das crianças? protegido de tudo e de todos!
O conhecimento de Deus começa assim que o É preciso conhecer nossa realidade e ajudar nos-
bebê nasce. Na primeira oração que os pais fazem sas crianças, adolescentes e jovens a saberem como
para agradecer a bênção que receberam e assumi- lidar com a vida como cristãos conscientes.
rem o compromisso de criarem seu filho para Deus. Jesus nos diz que “somos o sal da terra”. Não
Em todos os momentos da vida, a criança aprende. para nos escondermos, mas para salgar na medida
Mas o que as famílias estão ensinando? O rela- certa o nosso mundo.
cionamento entre os pais e dos pais com seus filhos Mas, se os nossos jovens não tiveram boa alimen-
retratam os valores do Reino, que Jesus veio nos tação desde pequeninos, vão ter dificuldades de
ensinar? Como anda o amor, o respeito, a gratidão, enfrentar a realidade da vida adulta porque rece-
a misericórdia, o perdão? São vividos e ensinados beram uma educação que não os ajuda a resolver
em casa pela família? os problemas.
A igreja tem a responsabilidade de um ensino Educação é igual a valores. Que valores a igreja
específico, mas, se a realidade desse ensino não é está passando?
vivida em casa, não será uma vez por semana, em
pouco tempo, que a criança vai suprir o que não
recebe da família.

a revista da família 19
MISSÕES CRIANÇAS E MISSÕES
quantas crianças que choram todos os dias por socorro são alvo de ações missionárias?

SEGUIR A JESUS É
FAZER MISSÃO
COLOCANDO A

criança
NO CENTRO por welinton pereira da silva
Andre Melcher

20 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


aquele momento os

n discípulos chegaram
a Jesus e perguntaram:
"Quem é o maior no Rei-
no dos céus? Chamando
uma criança, colocou-a no meio deles,
e disse: Eu lhes asseguro que, a não ser
que vocês se convertam e se tornem como
crianças, jamais entrarão no Reino dos
céus. Portanto, quem se faz humilde como
esta criança, este é o maior no Reino dos
céus. Quem recebe uma destas crianças
em meu nome, está me recebendo” (Ma-
teus 18.1-5).
Creio ser importante lembrar a de-
finição de missão e missões, duas pa-
lavras-chave no cumprimento do nos-
so dever como discípulos de Jesus.
A missão é um mandato. É muito
comum o mundo diplomático usar
este termo para definir o represen-
tante de um país em missão diplo-
mática, ou seja, a pessoa está ali em
nome do país que a enviou, mas não
fala em seu próprio nome e, portan-
to, deve ser fiel àquele que a enviou.
Esta mesma concepção se aplica
na missão e missões, a Missio Dei,
que significa que Deus tem o obje-
tivo de reconciliar e restaurar o ser
humano e todas as coisas para o seu
propósito.
A missão de Deus no mundo é es-
tabelecer o seu Reino.
Participar da construção do Reino
de Deus, pelo Espírito Santo, consti-
tui-se na tarefa primordial da igreja.
Isso é a evangelização.
E onde entra a criança na Missio
Dei?

a revista da família 21
albertolopezphoto
MISSÕES CRIANÇAS E MISSÕES

Como cristãos e seguidores de é relatada a ordem do Faraó para ira dos deuses.
Jesus, devemos ter o olhar sempre que fossem assassinadas todas as Vejamos, por exemplo, o Rei
atentos a Jesus. Nesse sentido, a vida, crianças do sexo masculino que Acaz: “Tinha 20 anos quando come-
o ministério e todos os atos de Je- nascessem da comunidade dos is- çou a reinar, e reinou em Jerusalém
sus devem servir para nos inspirar raelitas. por dezesseis anos. Ao contrário de seu
na grande tarefa de evangelização “O faraó, rei do Egito, deu a seguinte antepassado Davi, não fez o que era
do mundo. ordem às parteiras hebreias Sifrá e Puá: certo aos olhos do Senhor, seu Deus.
No Evangelho de Mateus 18, Je- Quando ajudarem as hebreias a dar à Em vez disso, seguiu o exemplo dos reis
sus acolhe uma criança e a coloca no luz, prestem atenção durante o parto. Se de Israel e até sacrificou seu filho no
meio, mas, antes, faz duras adver- for menino, matem o bebê; se for menina, fogo. Desse modo, seguiu as práticas
tências aos discípulos que queriam deixem que viva”. detestáveis das nações que o Senhor
impedir que as crianças e seus fami- Vemos aqui claramente a ordem havia expulsado da terra diante dos
liares chegassem até ele. de um governante para o assassinato israelitas” (2 Reis 16.2-3).
Jesus deixa claro o lugar que a crian- de bebês recém-nascidos. Essa or- Os sacrifícios de crianças era um
ça deve ocupar na missão que ele veio dem era considerada divina. Apesar costume das nações pagãs que viviam
desenvolver no mundo. da ordem do faraó, temos o registro na mesma região de Israel, mas in-
Certamente os discípulos de Je- bíblico da desobediência das partei- felizmente o povo de Deus acabou
sus devem ter se escandalizado ao ras por amor às crianças e o temor assimilando essa péssima prática que
vê-lo não apenas acolher as crianças, a Deus. não agradava a Deus, mas contraria-
mas dizer que o critério para entrar São vários os relatos no Antigo va a vontade do Deus da vida e liber-
no Reino dos Céus é ser como elas. Testamento onde a criança não é tador. Porém, Deus sempre esteve
contada; pelo contrário, em algu- atento às necessidades das crianças
A SITUAÇÃO DAS CRIANÇAS mas culturas antigas era comum o e, no episódio do faraó que mandou
NOS TEMPOS DO ANTIGO sacrifício de crianças. O povo cana- matar os bebês, levantou parteiras
TESTAMENTO neu tinha o costume de oferecer seus para salvá-las, demonstrando seu
No livro de Êxodo, capítulo 1 e 2, filhos em sacrifício para apaziguar a amor e cuidados.

22 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


QUANTAS CRIANÇAS CHORAM HOJE POR VÁRIOS TIPOS DE ABANDONO, NEGLIGÊNCIA E
ATÉ VIOLÊNCIA? QUAL O PAPEL DA IGREJA MISSIONÁRIA DIANTE DESSE TRISTE QUADRO?
SERÁ QUE ESSAS MILHARES DE CRIANÇAS QUE CHORAM TODOS OS DIAS POR SOCORRO
SÃO ALVO DE NOSSAS AÇÕES MISSIONÁRIAS?

Primeiramente, o texto de Lucas meio e convidando seus discípulos


DEUS OUVIU O CHORO DA 9. 46-48: “Começou uma discussão entre e a todos nós a priorizar as crianças
CRIANÇA os discípulos acerca de qual deles seria o em nosso fazer missionário.
Destacamos aqui mais um dos be- maior. Jesus, conhecendo os seus pensa- Elas precisam ser contadas com
los relatos da Bíblia que mostra um mentos, tomou uma criança e a colocou prioridade, se desejamos seguir o
Deus comprometido com a vida das em pé, a seu lado. Então lhes disse: Quem exemplo de Jesus.
crianças e suas mães. recebe esta criança em meu nome está me Muitas igrejas nasceram a partir do
A egípcia escrava de Abraão e Sara, recebendo; e quem me recebe está receben- trabalho com as crianças, pois elas
Agar: “Deus ouviu o choro do menino e, do aquele que me enviou. Pois aquele que estão abertas para ouvir e aprender
do céu, o anjo de Deus chamou Agar: que entre vós for o menor, este será o maior”. as boas novas do reino de Deus.
foi, Agar? Não tenha medo! Deus ouviu Jesus mostra aos discípulos a gran- AVisão Mundial é uma organização
o menino chorar, dali onde ele está” (Gê- deza do Pai que ele veio representar, cristã de ajuda humanitária internacio-
nesis 21.17). mas, ao mesmo tempo, a preferên- nal e tem a seguinte missão: "Seguir a
Marginalizada por sua patroa, Agar cia de Deus pelos pequenos, pelos Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador,
andava errante pelo deserto carre- humildes de nosso mundo, como é trabalhando com os pobres e oprimi-
gando seu filho Ismael, sem recur- frequente no Antigo Testamento sua dos para promover a transformação
sos, sem comida e água preferência pelo que sofre, pelo opri- humana, buscar a justiça e testificar
Sem saber como enfrentar a situa- mido e mais vulnerável. das boas novas do Reino de Deus”.
ção, colocou o menino debaixo de Deus tem lado, e seu lado é sem- A Visão Mundial considera que a
uma árvore e se afastou para não o pre o do mais fraco. única maneira de cumprir bem a sua
ver morrer. Ela disse: “Não quero ver Os discípulos de Jesus não com- missão é contando com a parceria das
morrer a criança”. Mãe e criança cho- preenderam, continuaram com a igrejas, pois nossa missão de ajuda
ram. Deus ouviu o choro da criança. mentalidade e critérios humanos humanitária com foco na criança e
Este relato é muito significativo por disputando o primeiro lugar. o mandamento missionário de Jesus
mostrar a preocupação de Deus com No meio desse debate de quem se- se encontram.
uma criança e sua mãe que choram. ria o maior, Jesus toma um menino Se desejamos ser fiéis ao manda-
Quantas crianças choram hoje por que, por si só, não vale para a socie- mento de Jesus de anunciar o seu Rei-
vários tipos de abandono, negligên- dade da época. Este menino é colo- no de amor e justiça, precisamos ur-
cia e até violência? Qual o papel da cado no lugar mais próximo de Jesus. gentemente recolocar a criança no
igreja missionária diante desse triste Pelo serviço ao menino, em atenção foco missionário.
quadro? Será que essas milhares de a Jesus, serve-se a Jesus e, servindo a Afinal, segundo o próprio Jesus,
crianças que choram todos os dias Jesus, serve-se ao Pai. delas é o Reino de Deus e precisa-
por socorro são alvo de nossas ações Em Tiago, no capítulo 1º, está a mos anunciar essa verdade a todo
missionárias? afirmação: “A religião que Deus, o nosso o mundo.
Pai, aceita como pura e imaculada é esta:
A CRIANÇA NO NOVO cuidar dos órfãos e das viúvas em suas
TESTAMENTO E NOSSO dificuldades e não se deixar corromper
MANDATO MISSIONÁRIO pelo mundo”.
Apesar da vasta quantidade de textos Pelo exposto fica evidente a negli-
welinton pereira da silva, pastor da
bíblicos no Novo Testamento que gência do mundo com as crianças que igreja metodista, diretor de relações
atestam a importância da criança no não são contadas e o cuidado de Deus institucionais da organização de
ministério e missão de Jesus, vamos com elas desde o Antigo Testamen- ajuda humanitária visão mundial, e
pesquisador do núcleo da infância
nos deter em dois. to e, depois, Jesus colocando-as no da universidade de brasília

a revista da família 23
ENTREVISTA VALDIR STEUERNAGEL
uma teologia centrada na criança

espiritualidade simples

e confiante das

Valdir Steuernagel traz uma perspectiva enriquecedora sobre a teologia


centrada na criança. Pastor luterano com mestrado e PhD pela Lutheran
School of Theology, em Chicago, nos Estados Unidos, é também autor de
várias obras. A mais recente compartilha o impacto do contato com crianças,
seja por meio de seus sete netos ou pelo trabalho na Visão Mundial,
resultando em uma reorientação de sua prática ministerial.

livro "Fazendo Teologia de Além disso, enfatiza a importância da

o
Olho na Criança" ressoa como segurança e inclusão das crianças na igre-
uma busca por uma teologia ja, realçando a responsabilidade das insti-
menos acadêmica e mais rela- tuições em tornar esses ambientes verda-
cionada com a vida cotidiana, deiramente acolhedores e seguros para os
inspirada pelas experiências vividas. O Rev. pequenos.
Valdir destaca a importância de aprender A conversa também destaca o diálogo in-
com a espiritualidade simples e confiante tergeracional na igreja, evidenciando a ne-
das crianças, identificando nisso uma lição cessidade de se reconhecer a importância e
valiosa para os adultos. potencial das crianças em todas as fases de
Ele ressalta que as crianças não são meros suas vidas, sem esperar que cresçam para
receptores, mas mestres na vida espiritual serem plenamente reconhecidas.
dos adultos, desafiando e reformulando con- O Rev. Valdir encerra enfatizando a vita-
ceitos e práticas teológicas estabelecidas. lidade que as crianças trazem para a comu-
Ele destaca o contraste entre a sabedo- nidade e como é essencial permitir a expres-
ria das crianças e a postura acadêmica, en- são de sua vitalidade e caos, enriquecendo a
fatizando a necessidade de um novo olhar experiência da igreja como um todo.
para a teologia, que não apenas fale sobre A entrevista destaca a necessidade de
a vida, mas que faça parte da vida. criar um espaço inclusivo, onde todos são

24 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


Alexey Makhinko
ENTREVISTA VALDIR STEUERNAGEL

bem-vindos, aceitos e valorizados, É importante destacar que este livro QUAL FOI O PAPEL DE SEUS SETE NETOS
refletindo o tipo de comunidade que não trata do nosso ministério junto E AS EXPERIÊNCIAS COM AS CRIANÇAS
Jesus valoriza. as crianças, mas de como as crianças ATENDIDAS PELA VISÃO MUNDIAL NA FOR-
ministram a nós, adultos. Ou seja, MAÇÃO DE SUA PERSPECTIVA E PRÁTICA
como as crianças nos ensinam o ca- TEOLÓGICA?
RECENTEMENTE O SENHOR LANÇOU O minho do encontro com Jesus e do As crianças chegaram e os netos che-
LIVRO "FAZENDO TEOLOGIA DE OLHO NA seguimento a ele. garam. Na época, eu estava mergu-
CRIANÇA". PODE COMPARTILHAR ALGU- Este Jesus que coloca a criança no lhado de cabeça na Visão Mundial
MAS EXPERIÊNCIAS ESPECÍFICAS QUE círculo dos discípulos e lhes diz que Internacional1 e vivendo uma agitada
O LEVARAM A COLOCAR A CRIANÇA NO se querem ter alguma parte no Reino agenda, o que não facilitava escutas
CENTRO DE SUA ATUAÇÃO MINISTERIAL? de Deus precisam ser como elas, as e mudanças.
Cada livro é também um “momento” crianças (Mc 9.35-37). Destaco, aqui, três das coisas que
e nele vamos encontrando palavras Em minha caminhada teológica, foram me acontecendo.
para descrever cenas, eventos e en- eu tenho me percebido desafiado a A primeira tem a ver com a espiri-
contros que vão dando cores e sabo- viver isso, a me converter a isso. tualidade. A minha área de respon-
res a tempos, a lugares e experiências Eu sou formado no marco de uma sabilidade na Visão Mundial tinha a
que vão moldando quem somos. As- teologia acadêmica que crê deter a ver com a manutenção e alimenta-
sim foi com o livro “Fazendo Teolo- sabedoria e o conhecimento que pro- ção da nossa identidade cristã e de
gia de Olhos nas Crianças”. veem as respostas para a vida e, com como esta poderia ser transforma-
A teologia que abraçamos e confes- os anos, fui vendo a limitação e até a da em testemunho de fé, também
samos é também uma espécie de au- arrogância embutida nela. Fui ven- e especialmente junto as crianças.
tobiografia, pois ela é reflexo do que do que esta teologia que “quer saber Aprendi então que, enquanto eu
vamos crendo e assumindo, gestan- mais” tem dificuldade e nem sabe se estava preocupado com a espiritua-
do assim a nossa identidade. Somos relacionar com a vida humana e suas lidade das crianças, eu deveria estar
a nossa teologia e assim foi com este complexidades. preocupado é com a minha espiritua-
livro que tem na capa o exuberante Esta acabava sendo uma teologia lidade. As crianças, eu fui perceben-
e contagiante rosto “desta menina”. envolta em si mesmo e distante da do, abraçavam uma espiritualidade
A menina, pois, que brilha na capa cotidianidade da vida. natural, simples e confiada, enquan-
deste livro simboliza o centro do mes- Percebendo isto, reconheci que ca- to eu buscava conceituações e for-
mo: um esforço para viver em sinto- recia desconstruir essa “teologia sa- mulações que não necessariamente
nia com os evangelhos, sempre ou- bidona”, que estava também dentro geravam nem confiança e nem es-
vindo a Jesus. É simples assim e é de mim, para buscar um outro jeito perança, mas certamente agitação
desafiador assim. de entender e viver teologia. A teo- no coração.
logia que nada mais é do que a media- Eu fui percebendo, assustado, que
QUAL FOI O MOMENTO OU EXPERIÊN- ção entre a palavra que Deus pronun- a minha abordagem adulto-cêntrica
CIA QUE O INSPIROU A REPENSAR A cia, a aproximação desta palavra pela
1 a visão mundial internacional é uma ong cristã
TEOLOGIA TRADICIONAL E COMEÇAR A ação do Espírito entre nós e em nós, que atua em muito lugares do mundo ministrando
ENFOCAR A IMPORTÂNCIA DAS CRIANÇAS e a vivência de nossa fé em sintonia junto a crianças em situação de vulnerabilidade e
NA TEOLOGIA? com esta palavra em nossa realidade. em emergências tanto naturais como humanamente
provocadas.

É IMPORTANTE DESTACAR QUE ESTE LIVRO NÃO TRATA DO NOSSO


MINISTÉRIO JUNTO AS CRIANÇAS, MAS DE COMO AS CRIANÇAS MINISTRAM
A NÓS, ADULTOS. OU SEJA, COMO AS CRIANÇAS NOS ENSINAM O CAMINHO
DO ENCONTRO COM JESUS E DO SEGUIMENTO A ELE

26 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


tendia a enquadrar a espiritualida- Andando por vários lugares des- enrolado. Teria sido melhor, para ele,
de das crianças nos meus critérios, te mundo, eu fui percebendo, mais não ter nascido, diz Jesus, para logo
suprimindo uma riqueza que as ca- e mais, que somos uma sociedade pronunciar uma palavra assustadora
racterizavam. injusta, discriminatória e violenta, no que diz respeito a estes que pre-
Então, percebi que precisava apren- sendo as crianças as maiores, as pri- judicam, machucam e exploram as
der com as crianças. Aliás, percebi meiras e as mais vulneráveis vítimas crianças, e que são muitos no mun-
que Jesus disse isso de vários jeitos desta realidade. do afora (Mc 9.42-49).
e em várias ocasiões sem que eu o As crianças, em sua simplicidade, Esta realidade carece de uma teo-
percebesse ou sem que eu o quises- confiabilidade e vulnerabilidade são as logia que aprende das crianças, pro-
se perceber, pois demandava a mi- grandes vítimas da maldade humana tege as crianças e cria espaços para
nha conversão. e disso Jesus também sabia, dizendo que floresçam em todas as áreas de
Posso, ainda, falar da segunda coi- que quem faz a um “destes pequeni- suas vidas.
sa que vi e me marcou? nos” tropeçar está profundamente E tem os netos. Com eles chegan-

Rev. Valdir com


parte da família

a revista da família 27
ENTREVISTA VALDIR STEUERNAGEL

divulgação

Os netos do Rev. Valdir e Silêda

do, eu tive a oportunidade de rever a dando que tenho uma família que uma aventura, mas uma decisão vital
vivência da minha paternidade, com me ajuda nisso. que deve marcar a vida todos os dias
as suas ênfases e exageros quanto à em meio a todas as circunstâncias.
rigidez e à disciplina – em típica pos- QUAIS SÃO ALGUNS DESAFIOS E OBS- A caminhada teológica é assim: uma
tura adulto-cêntrica – para deixar flo- TÁCULOS COMUNS AO PROMOVER UMA maratona. Ela é marcada pelo nosso
rescer dimensões da minha huma- TEOLOGIA CENTRADA NAS CRIANÇAS E contínuo relacionamento com a Pala-
nidade, da beleza da graça e de uma COMO O SENHOR OS SUPEROU? vra de Deus, está aberta ao sopro do
relacionalidade marcada pela hori- Eu gosto muito de uma expressão Espírito que sempre nos surpreende
zontalidade do acolhimento e não que o Eugene Peterson utilizou quan- pois “sopra onde quer”, encontra for-
simplesmente pela verticalização. do ele descreve a fé cristã como um ças e desafios na comunidade de fé e
Este não tem sido um processo li- longo caminho na mesma direção. vive com as antenas ligadas quanto
near e tem dias que estou mais con- Gosto dessa expressão pois ela apon- ao tempo que vivemos.
vertido que noutros, sempre recor- ta para o fato de que a fé cristã não é Essa caminhada teológica busca

28 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


A IGREJA PRECISA SER ESTE LUGAR DO “BARULHO E DO CAOS”, POIS ISTO É SINAL
DE VITALIDADE. PARA QUE ISTO ACONTEÇA, NO ENTANTO, A IGREJA PRECISA
SER O LUGAR ABERTO, ONDE TODOS SÃO BEM-VINDOS E TODOS SÃO
RECONHECIDOS EM SUA POTENCIALIDADE E EM SUAS NECESSIDADES

estar centrada em Deus, está aber- nossa jornada de fé, e disso estou é uma pessoa inteira, como criança,
ta para revisões e reencontros com cada vez mais convencido. e não precisa esperar crescer para
a graça e com os desafios do tempo. ser alguém.
O que tenho percebido, no entan- QUAL É A IMPORTÂNCIA DE PROMOVER A Termino esta minha conversa com
to, é que este não é um caminho nem SEGURANÇA DAS CRIANÇAS NA IGREJA E uma história.
fácil e nem natural. Aliás, tenho per- NA SOCIEDADE, COMO EVIDENCIADO EM Lá em casa, a Silêda e eu tivemos
cebido que preciso cuidar para não SEU TRABALHO COM A VISÃO MUNDIAL? quatro filhos. Eles nasceram perto um
ficar, com o tempo, mais rígido, mais No outro dia, eu participava de um do outro e foram crescendo juntos.
rançoso e menos gracioso e aberto dos nossos programas intitulados Quando a adolescência deles che-
para novas escutas e novos desafios. “Igreja Segura para as Crianças” e o gou, foi um caos, intensificado pelo
A teologia que mantém a crian- palestrante nos dizia que pesquisas fato de vivermos num apartamento.
ça no centro, como Jesus o fez, me têm mostrado que o lugar mais in- Eu já não aguentava e ficava recla-
questiona em minhas afirmações e seguro para as crianças, em nossas mando com a Silêda: “não aguento
me desafia para novas vivências. igrejas, é a caminho para o banheiro. essa bagunça”.
As crianças fazem exatamente isto Será, eu pensei comigo mesmo? O tempo passou, os “meninos”
e Jesus queria levar os seus discípu- Nunca havia pensado nisso. Por ve- cresceram e foram embora. Então,
los a esta compreensão e experiên- zes, pressupomos que nossas igrejas me vi andando pelo apartamento
cia. Não foi fácil, mas ele insistiu. são lugares seguros para as crianças e reclamando de novo: “Onde es-
e nem nos damos conta de quanta tão esses meninos? Cadê o barulho?
COMO A "NATURALIDADE DOS PEQUENOS" vulnerabilidade e quantos riscos as Cadê o caos? Cadê a vida que esses
PODE SERVIR COMO UM LEMBRETE crianças e, geralmente, também as meninos traziam para esta casa?”
IMPORTANTE PARA OS ADULTOS EM SUA suas mães, experimentam em nos- Acabei concluindo que este era
JORNADA DE FÉ? sas igrejas. muito melhor do que o silêncio
A “naturalidade dos pequenos” se Portanto, cada igreja deve decidir da ausência.
expressa de muitos jeitos e assume transformar a sua igreja num lugar A igreja precisa ser este lugar do
formas diferentes em diferentes si- seguro, buscando a ajuda necessária “barulho e do caos”, pois isto é sinal
tuações. Essa naturalidade pode ter para que isto se torne uma realidade. de vitalidade. Para que isto aconte-
relação com uma confiança simples, ça, no entanto, a igreja precisa ser o
uma entrega irrestrita, uma busca QUAL É O LUGAR DO DIÁLOGO INTERGERA- lugar aberto, onde todos são bem-
sincera e uma expressividade trans- CIONAL NA IGREJA E COMO AS CRIANÇAS -vindos e todos são reconhecidos em
parente, para iniciar uma lista que os PODEM SER INCLUÍDAS DE MANEIRA sua potencialidade e em suas neces-
leitores podem continuar. SIGNIFICATIVA NESSE DIÁLOGO? sidades. Um lugar onde todos têm
Ou seja: a rua está movimentada Temos afirmado, muitas vezes, que vez e voz, dentro de uma construção
e o adulto olha para a direita e para a igreja é o “lugar” onde todos têm comunitária que permita uma con-
a esquerda para achar uma brecha “lugar” e isso me parece uma das ex- vivência mútua onde haja tempo de
para atravessá-la. Quando esta bre- pressões mais bonitas que brotam paz e tempo de barulho, tempo de
cha chega, o adulto estende a mão dos evangelhos. escuta e tempo de falação, tempo
à criança que o acompanha e essa Nesse lugar, o diferente é bem-vin- de acolhimento e tempo de disci-
responde encaixando a sua mão na do, o estrangeiro é acolhido, o idoso plina, tempo de correr e tempo de
mão do adulto e atravessa a rua não é cuidado e a criança é reconhecida descansar. Tempo de escutar e tem-
por causa da “brecha,” mas por cau- e endossada em toda a sua humani- po de compartilhar.
sa da confiança. dade e potencialidade nela presen- A sua igreja é um lugar assim?
Confiança é a palavra-chave em te em cada uma de suas idades. Ela É desse lugar que Jesus gosta!

a revista da família 29
DEBATE CRIANÇA NA IGREJA
o estímulo para que se sintam parte integral do corpo de fé

O espaço e a participação da
criança na igreja
a importância da participação ativa das crianças na vida da igreja não se limita a um mero
reconhecimento simbólico. envolve um compromisso genuíno em acolher, ensinar e nutrir suas
jornadas espirituais. este reconhecimento requer um olhar mais amplo, considerando não apenas
as práticas convencionais de "culto infantil", mas também a integração efetiva delas na
vida litúrgica e comunitária da igreja.

o
debate desta edição res- lhedora em que sejam reconhecidas O primeiro princípio desse texto
salta um ponto crucial como membros ativos e valiosos da bíblico é que houve uma condução.
muitas vezes subesti- congregação. Alguém levou a criança até Jesus, seja
mado: as crianças não são Isso implica rever práticas, lingua- seus pais, amigos da família ou avós.
apenas o futuro, mas uma gem e estruturas para assegurar que Precisamos de pessoas dispostas a
parte essencial da igreja as crianças se sintam pertencentes e conduzir as crianças até Cristo.
no presente. A visão de integrá-las capazes de contribuir efetivamente. Após as crianças chegarem até Je-
de maneira significativa na vida ecle- Ao ver as crianças como partici- sus, elas foram impedidas por aqueles
siástica vai além de simplesmente pantes ativos da comunidade de fé, que deveriam abrir espaço para elas.
incluí-las em atividades separadas. a igreja não só as prepara para o fu- Creio que isso ocorreu por uma falta
Trata-se de reconhecer o valor in- turo, mas investe na formação es- de compreensão e até mesmo precon-
trínseco que as crianças têm na co- piritual e no crescimento presente. ceito que, naquela época, era muito
munidade de fé. Esse reconhecimento não somen- grande com relação à criança. Não
A comunidade eclesiástica desem- te fortalece a comunidade, mas tam- podemos repetir isso como corpo de
penha um papel crucial nesse proces- bém reflete o amor e a aceitação que Cristo. Em vez de criar barreiras, deve-
so. É necessário um esforço coletivo Jesus mesmo demonstrou às crian- mos ser aqueles que abrem caminho.
para capacitar, apoiar e envolver as ças, convidando a todos a imitar esse O último princípio é o relaciona-
crianças em todas as dimensões da exemplo de cuidado e inclusão. mento da criança com Jesus. As crian-
vida da igreja. ças podem se relacionar com Jesus,
Isso envolve a educação espiritual, pois possuem a capacidade de viver
o respeito por suas capacidades, a esse relacionamento e têm a bênção
criação de espaços onde possam ex- de Cristo para estar com ele de for-
pressar suas vozes e talentos, e o es- BÍBLIA PRINCÍPIOS ma íntima, pois Jesus as tomou em
tímulo para que se sintam parte in- Quais são os princípios que você seus braços.
tegral do corpo de fé. extrai do episódio de Jesus com as
Não se trata apenas de oferecer crianças em Marcos 10, e como eles Rev. Matheus Fantin, pastor
atividades específicas para elas, mas podem ser aplicados em relação às de crianças da IPI Central de
de criar uma cultura inclusiva e aco- crianças na igreja? Presidente Prudente, SP

30 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


divulgação ipi central presidente prudente

a revista da família 31
DEBATE RACISMO

divulgação 1a ipi londrina


O Mestre fica indignado com a ati- invisíveis que precisam ser destruí- HOJE FUTURO
tude dos adultos, seus discípulos, que das à luz dos ensinamentos de Jesus. Qual ideia fala mais com você: "A
queriam afastar as crianças que fo- criança é a igreja do amanhã" ou
ram levadas até ele. Não entende- Rev. Shirley Maria dos Santos "A criança é a igreja hoje"? Qual a
ram que a lógica do Reino de Deus Proença, pastora na 3ª IPI de importância dessa perspectiva?
não é a mesma da sociedade. Para Guarulhos, SP, e professora na
Jesus, acolher as crianças, que não FATIPI (Faculdade de Teologia Nunca a criança será a igreja do
eram consideradas importantes por da IPI do Brasil) amanhã, se não a tratarmos como a
serem dependentes dos seus progeni- igreja hoje. Ser igreja é estar em co-
tores, era uma forma de tratamento O reino de Deus está disponível a munhão com o diferente e apren-
completamente diferente da usual. nós: crianças, adultos e idosos. Não der que, na convivência com o outro,
Criança não é ser humano menos porque merecemos, nem mesmo por aprendemos a partilhar, a respeitar,
importante por depender dos adul- causa da nossa condição etária e/ou a colaborar, a assumir responsabili-
tos para a sobrevivência física, para a cognitiva, mas porque Deus nos tor- dade, a nos comprometer.
estabilidade emocional e para o cres- nou parte do seu reino (Lc 12.32). Enfim, ser igreja não é o momento
cimento espiritual. Ela aprende a vi- As crianças dependem totalmente de louvor, que é muito salutar e ne-
ver em sociedade, a adquirir respon- dos pais e recorrem a eles em busca cessário, mas são todas as relações
sabilidades, a buscar a autonomia e de respostas e proteção quando se que estabelecemos com as pessoas
a desenvolver suas potencialidades. sentem desamparadas, e essa depen- que pensam diferente de nós e nos
Jesus chamou a atenção dos seus dência podemos e devemos apren- alegramos por fazer parte do mes-
discípulos por não terem compreen- der com elas. mo corpo.
dido o significado de sua atitude, do Receber uma criança é como re- Sendo assim, a criança não pode
seu cuidado e do seu amor. ceber ao próprio Deus (Mc 9.36-37). ser excluída do hoje. Ela deve tra-
O não acolhimento pode ser enten- zida para perto de nós, como Jesus
dido como o enfraquecimento do pre- Rev. João Navarro, pastor as aconchegou nos braços. Ele agiu
paro das novas gerações para atuarem da IPI de Muzambinho, MG, e contrariamente à indignação dos dis-
em um mundo em plena transforma- Érica Duarte Coura Navarro, cípulos, aos opositores que excluíam
ção, repleto de armadilhas visíveis e terapeuta emocional os infantes, as mulheres, os enfermos

32 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


do círculo dos capazes. Um exemplo disso é que temos ESPAÇO ENSINO
Os contemporâneos de Jesus não meninos de 9 anos que auxiliam na Qual é o impacto de termos como
conseguiam enxergar a simplicidade projeção e meninas mais jovens que "culto infantil" ou "cultinho" na
trazida pela criança de Belém para já tocam teclado e participam em al- maneira como as crianças são vistas
que o mundo aprendesse a viver em guns momentos do culto. Em outras e valorizadas na igreja?
paz, esperança e amor. palavras, conhecer os talentos indivi-
duais e proporcionar oportunidades A princípio, o culto infantil tinha
Rev. Shirley para que eles se desenvolvam. Para por objetivo oferecer um espaço con-
isso, é fundamental investir em rela- siderado mais adequado para as crian-
As duas perspectivas não são anta- cionamentos com as famílias. ças no momento do culto.
gônicas, mas, sim, complementares. Algumas igrejas investiram recur-
Precisamos compreender que a Rev. Matheus sos materiais e humanos para que
criança é a igreja. Devemos inves- tal prática ocorresse de forma salu-
tir nela hoje, em vez de esperar, e Podemos incluí-las sendo compro- tar e atrativa às crianças e puderam
colher os frutos desse investimen- metidos com elas e intencionais. Elas oferecer infraestrutura para que o
to, sendo alguns deles imediatos e podem dirigir algumas partes da ce- ambiente, a linguagem e os proce-
outros a longo prazo. lebração eventualmente, mas sem- dimentos estivessem mais próximos
Portanto, a criança é a igreja não pre devem ser incluídas na aplicação das idades contempladas.
apenas do amanhã, mas também do da mensagem quando elas estiverem Infelizmente, em outras igrejas
hoje. A criança é a igreja, assim como presentes. não foi possível devido à carência
todas as faixas etárias são. Na pandemia, quando não podiam de material especializado e de pessoas
ficar juntas no culto infantil, incen- preparadas para trabalharem com as
Rev. Matheus tivávamos a desenharem os aspectos crianças, porém, mantiveram o cul-
da pregação de acordo com o enten- to infantil que se tornou, em alguns
Ela é igreja hoje. Crianças não são dimento delas e era maravilhoso esse casos, um momento de recreação.
só o futuro; são o presente! “Quem re- momento. Elas podem participar em Não penso que se deva julgar um
cebe uma destas crianças em meu nome, momentos especiais, lendo versículos, ou outro modelo. O que precisamos
está me recebendo”, disse Jesus. cantando músicas especiais e, caso levar em consideração são alguns as-
Recebe de que forma? Acolhendo estejam aprendendo a tocar algum pectos fundamentais relacionados à
a criança, amando, incluindo, reco- instrumento, podem começar a tocar educação cristã das crianças:
nhecendo, protegendo, ensinando. tendo participações especiais. Em • As famílias são responsáveis em
É necessário nos unimos às famí- datas comemorativas, podem fazer ensinar a respeito da fé cristã às
lias nesse desafio de amar e cuidar apresentações, etc. novas gerações e não terceiriza-
das crianças. rem completamente tal ensino.
Rev. João e Érica • Criança tece o conhecimento e es-
Rev. João e Érica tabelece conexões mentais pelo que
A criança aprende de maneira dife- vê, fala, ouve, toca, age e ensaia novas
rente à do adulto. O mundo, as emo- possibilidades ao reproduzir ações
MISSÃO DONS ções, as descobertas ocorrem por explo- e experiências pessoais e coletivas.
Como podemos incluir as crianças ração dos sentidos. Por isso, ela precisa • A pertença na igreja não se restrin-
na liturgia do culto de uma maneira falar, se movimentar, brincar e se per- ge ao grupo etário, mas a toda con-
significativa, respeitando sua ceber integrada no grupo em que par- vivência com o que se entende e
compreensão e capacidade? ticipa como uma família que a acolhe. com o que é novo a ser descoberto.
A liturgia é ação da igreja em ado-
Para envolvê-las na liturgia, é ne- ração e serviço a Deus e por isso não Rev. Shirley
cessário, em primeiro lugar, conhecer pode ser seletiva.
cada uma delas e suas particularida- A criança pode participar da litur- Prefiro usar a expressão 'Culto das
des, a fim de promover seus dons e gia cantando sozinha ou em grupo, crianças' porque ele reflete o verda-
talentos, permitindo que exerçam orando, lendo um texto bíblico, sendo deiro propósito e não diminui a im-
sua missão. Quando olhamos para as convidada para ajudar na distribuição portância do culto, valorizando a ca-
crianças, não devemos vê-las como de literatura aos visitantes. Enfim, pacidade da criança de adorar a Deus.
discípulos em treinamento, mas como pode ter oportunidades conforme Além disso, ele ajuda tanto à crian-
discípulos que podem exercer suas as especificidades das igrejas locais. ça quanto à família a compreender
habilidades e aprimorá-las, desde que esse é um momento de serieda-
que sejam acompanhados. Rev. Shirley de, no qual estão cultuando a Deus.

a revista da família 33
DEBATE RACISMO

Não se trata apenas de estar em relações desajustadas, observam se elas cultuam ao Senhor.
uma sala, mas de ter um objetivo de- há coerência entre o que é dito e as
finido, no qual a criança não é o cen- ações, entre outras coisas, e formam Rev. João e Érica
tro principal, mas, sim, a Palavra de a própria opinião a respeito do que
Deus e a adoração ao Senhor Jesus. é ser igreja e sua significância para LIDERANÇA PRÁTICA
a vida. Qual é o papel dos líderes da igreja
Rev. Matheus Outro desafio é encontrarmos pes- na promoção da importância do
soas dispostas a atuarem na área de culto com crianças e na adoção
O culto infantil é extremamente educação cristã com as crianças. Vi- de práticas que valorizem sua
necessário. A maioria dos pregado- vemos um tempo de sobrecarga de participação ativa na vida da igreja?
res não prega com uma linguagem e trabalho e são raras as pessoas que
didática que seja acessível às necessi- se dispõem a se envolver com o mi- O papel da liderança é essencial.
dades e capacidades das crianças. É nistério infantil. Algumas, porque A igreja terá a visão dos líderes. São
preciso oferecer a elas um ambiente já se sentem exaustas; outras, por- eles que precisam valorizar e incen-
seguro para que sua compreensão que não querem se comprometer; tivar as práticas da participação das
do cuidado, do amor e da bondade outras que estão desanimadas e de- crianças no culto e no espaço apro-
de Deus se dê de forma natural, ali- sinteressadas. priado para elas, inclusive com apoio
mentando a sua imaginação espiri- financeiro, material didático e, so-
tual, adaptada para sua idade. Rev. Shirley bretudo, com o recurso humano, que
faz toda a diferença!
Rev. João e Érica Sim, muitos. Falta, em algumas si-
tuações, visão da necessidade desse Rev. João e Érica
CRIANÇA MINISTÉRIOS investimento intencional no cresci-
Existem desafios de envolver as mento espiritual das crianças. Alguns Os líderes precisam ser criadores
crianças em ministérios da igreja? realmente não acham isso necessário. de oportunidades e discipuladores,
O argumento é que não há exem- levando as crianças a se envolverem
O maior desafio é acreditar na ca- plos bíblicos de retirada das crianças e abrindo espaços para elas partici-
pacidade espiritual da criança. Mui- do ambiente de adultos. Mas esque- parem ativamente. Isso é possível
tas pessoas acham que a criança só cem que também não há proibições quando percebemos que elas não es-
estará preparada para se relacionar de tirá-las deste ambiente adulto por tão apenas sendo treinadas, mas já
com Deus quando atingir uma cer- um momento. podem exercer papéis significativos.
ta idade e compreender questões É claro que não há relatos bíblicos
espirituais. de “culto infantil”. Elas nem sequer Rev. Matheus
No entanto, as crianças podem se eram consideradas.
relacionar com Deus, praticar a me- Existe até um provérbio rabínico Incentivando outras pessoas a se
ditação, o jejum e a oração. Criança que diz: “Prestar atenção às crianças envolverem no ministério infantil,
ora! Precisamos acreditar que elas é uma perda de tempo tão destruti- dando oportunidade para que haja
têm essa capacidade. va quanto beber muito vinho ou as- mais despertamento para importan-
Uma vez superado esse desafio, sociar-se com pessoas ignorantes”. te ação da igreja junto às crianças.
podemos proporcionar momentos Diferentemente do exemplo e con- Mostrar às crianças a importância
nos quais as crianças reconheçam as texto que acabamos de mencionar, da oração, orando com elas e por elas;
áreas ministeriais com as quais têm hoje tem-se conhecimento maior a incentivar a contribuição como parte
afinidade e permitir que sejam ca- respeito do tempo que elas conse- do exercício cristãos, contribuindo;
pacitadas nelas. guem ficar concentradas de modo tratando as crianças sem preconceito
que o aprendizado tem melhor apro- e sem discriminação; acolher crianças
Rev. Matheus veitamento. de famílias com situação econômica
A lição bíblica é dada em uma lin- mais fragilizada e desenvolver planos
Entendo que um grande desafio é guagem que as crianças compreen- de trabalho que envolvam as crian-
ajudar as crianças a amarem a igreja. dem, com ilustrações que fazem sen- ças em atividades com idosos podem
Dificilmente as crianças vão valorizar tido ao mundo sensorial e cogniti- ser caminhos importantes para que
a comunhão na igreja se os respon- vo delas. toda a igreja se fortaleça ao colocar
sáveis consideram a igreja supérflua O ministério infantil não é um em prática o que está apresentado
e irrelevante em suas vidas. depósito de crianças, mas, sim, um nos evangelhos.
As crianças ouvem os comentários espaço de aprendizado, crescimen-
e as palavras depreciativas, veem as to e, sobretudo, um ambiente onde Rev. Shirley

34 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


divulgação 1a ipi londrina

DISCUSSÃO MUDANÇAS gem adequada para que pessoas de Desenvolver capacitação das pes-
Como envolver a comunidade de fé diferentes faixas etárias se sintam soas envolvidas no ministério infantil
na discussão e implementação de igualmente incluídas. juntamente com os desenvolvidos na
mudanças que tornem o culto mais igreja para que a unidade cristã seja
inclusivo e significativo para as Rev. Matheus percebida pelas crianças.
crianças?
Seria interessante reunir as lide- Rev. Shirley
A parceria entre a igreja e a família ranças dos segmentos e elaborar um
é essencial para que essa discussão projeto em que crianças e adolescen- Ensinando como Jesus tratava as
ocorra. A criança precisa se sentir tes pudessem ser incluídas em todas crianças. Ele é o nosso exemplo.
segura e parte integrante da vida co- as partes do culto. No culto infantil, além de aprende-
munitária da igreja, e os pais desem- Sugerir a preparação do culto, jun- rem a palavra de Deus, elas também
penham um papel importante nesse tamente com o pastor ou pastora e aprendem o que é conviver como co-
processo, demonstrando o amor e os responsáveis pelo departamen- munidade de fé.
compromisso pela igreja. to, por crianças e adolescentes e a Elas têm a oportunidade de crescer
Além disso, a comunidade de fé participação no desenvolvimento na experiência: de respeitar o espa-
deve apoiar essas famílias, criando da liturgia. ço uma da outra; de ouvir e ser ouvi-
momentos de capacitação tanto para Permitir apresentação teatral vol- da; de entender como é importante
as crianças quanto para os pais. tada para o tema do culto com mú- compartilhar para brincar junto; de
Isso permite que as famílias parti- sicas específicas, inserindo crianças desenvolver amizades cristãs, etc.
cipem ativamente nos ministérios e e adolescentes para aprender a sa-
que a igreja desenvolva uma lingua- ber-fazer. Rev. João e Érica

a revista da família 35
PAIS E FILHOS RELACIONAMENTOS TÓXICOS
a atual sociedade e cultura desafiam as mães e pais, que também são demasiadamente exigidos e cobrados

pais e mães
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36 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


dominadores
m tempos digitais de ritmo

e alucinante e de excesso de
informações fragmentadas
postadas nas redes sociais,
muito se fala sobre mães e
pais dominadores ou tóxicos.
O que será que podemos pensar de for-
ma mais abrangente sobre este intrigante
e sensível tema?
Os fenômenos que dizem respeito ao
comportamento humano são complexos
e dependem de uma série de variáveis que
vão se entrelaçando na história de vida de
cada um de nós, não sendo passíveis de
serem observados e analisados de forma
superficial, fugaz e fora de contexto.
É desejo comum termos uma vida boa,
de preferência desde que chegamos a este
mundo; sermos cuidadosamente bem re-
cebidos e supridos em nossas necessida-
des mais elementares.
Gozarmos de boas condições de vida
precisa ser uma luta incansável para to-
dos os seres humanos a fim de conquis-
por gabriela pedroso mourão de mello tarmos progressivamente uma sociedade
mais justa, igualitária e fraterna.
Conjecturamos que nossa personalida-

a revista da família 37
nd3000
PAIS E FILHOS RELACIONAMENTOS TÓXICOS

de já está sendo constituída desde o mos, vivemos e nos relacionamos é identificado com o momento exis-
ventre materno juntamente com a de grande importância para nossa tencial de vulnerabilidade e depen-
carga genética herdada e, desde en- qualidade de vida e saúde mental. Por dência absoluta do bebê, de modo
tão, já estamos experenciando a vida. esta razão, Winnicott tinha um tra- que atenda tanto as suas necessidades
De acordo com o pediatra e psica- balho de cunho preventivo a fim de físicas como as emocionais.
nalista inglês Donald Woods Winni- contribuir para o desenvolvimento É uma mãe e/ou cuidador profun-
cott (1896-1971), nascemos com um da saúde, procurando não somente damente envolvida/o, atenta/o e iden-
potencial inato para pleno desenvol- levar conhecimento aos profissionais tificada/o com as necessidades do
vimento e para a saúde - caso não da saúde, bem como à população de bebê e que, de modo sensível, vai ao
nasçamos com nenhuma síndrome uma forma geral. encontro dele e se adapta ativamen-
ou com nenhuma doença orgânica Para que o bebê se desenvolva bem te às suas necessidades; com a ajuda
que nos incapacite; caso as condi- ao nascer, ele necessita fundamental- de uma rede de apoio – como cônju-
ções ambientais sejam favoráveis, mente de uma maternagem suficien- gue, familiares, amigos, instituições
adequadas e confiáveis. temente boa. Ou seja, pode ser a mãe públicas e privadas.
Desta forma, é importante que to- que pariu ou, na ausência dela e/ou É no seio desta relação humana
dos tenham boas condições de vida conforme as novas configurações fa- primária que nos constituímos in-
nas esferas social, econômica, polí- miliares com diferentes arranjos, todo cialmente e progressivamente. O
tica e sanitária, o que facilita o aces- bebê precisa de um adulto cuidador, mundo ao redor do bebê vai se ex-
so à saúde. que esteja disposto a se responsabili- pandindo e as relações humanas se
A maneira como nos constituí- zar pelos cuidados dele – o qual esteja ampliando nos grupos sociais, como

38 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


a entrada gradativa do pai, dos fami- cem condições para que o gesto es- que trazem proteção para ameaças,
liares, mais tarde da escola e outros, pontâneo da criança vá emergindo assim como contornos para a saúde
vida afora. gradativamente e sua personalidade emocional. No entanto, isso precisa
Temos necessidade de vivermos em vá se constituindo de forma a ser ela ser feito de forma respeitosa, preser-
um ambiente suficientemente bom, mesma autêntica, sentindo-se real vando sempre tanto a integridade
tanto ao espaço físico que nos rodeia, em sua existência, mesmo diante de física como emocional da criança.
assim como ao humor das pessoas. todas as imperfeições que os cuida- São os pais quem apresentam o mun-
Penso que este ponto chamou a dores, naturalmente, possuem. Mas, do aos seus filhos a fim de prepará-los
atenção de Winnicott: como se dá o quando os padrões disfuncionais so- para a vida - que é repleta de desafios
encontro humano entre as pessoas, bresaem, interrompem o bom an- para todos - de forma sábia, ponde-
especialmente entre as mães/cuida- damento dos processos de desen- rada e gradual de acordo com a idade
dor e seus bebês, dada a importância volvimento. cronológica da criança, proporcio-
dos estágios iniciais e como eles são Então dominar, com conotação ne- nando condições adequadas para seu
determinantes para a saúde mental do gativa que remete a um domínio auto- desenvolvimento físico, cognitivo e
indivíduo na idade adulta. E isso só é ritário, rígido, intrusivo, com ausência emocional, incentivando sua auto-
possível por meio de uma saudável e de identificação e empatia para com nomia e aquisição de capacidades,
não intrusiva relação de intimidade. as necessidades da criança, visando potencialidades, autoconhecimento
Este contexto contínuo promo- apenas um lado da relação, acarreta e livre expressão de quem a criança
ve uma sensação de confiança, se- severos prejuízos no transcorrer da é em sua essência, de sua singular
gurança, conforto e realização para saúde emocional dela. personalidade, descolada de proje-
o bebê. E, mais tarde, com todas as Porém, penso que podemos fazer ções paternas.
mudanças inerentes ao desenvolvi- um contraponto positivo, se utili- Todos erramos, por mais que te-
mento tanto físico como emocional, zarmos o termo domínio no senti- nhamos boas intenções. Entretanto,
é necessário que os bons cuidados e do do adulto que está à frente dos quando existe uma disponibilidade
o acompanhamento não se percam. acontecimentos e cuidados; na lide- para lidar com o erro de modo a en-
Sabemos que o complexo contex- rança e condução dos processos com frentar a situação e repará-lo, isso
to atual da nossa sociedade e cultu- responsabilidade, empatia, firmeza traz benefícios para todos, especial-
ra não facilita para as mães e os pais, de propósito, integridade, bom sen- mente para as crianças e jovens que
os quais se veem demasiadamente so, devoção e disponibilidade inter- estão em pleno desenvolvimento e
exigidos e cobrados diante de tantos na para conduzir a vida do bebê e, têm seus cuidadores como referên-
imperativos. Frequentemente estão posteriormente, ao longo das fases cia de vida.
cansados e estressados pelo acúmulo de crescimento da criança durante Um modelo de relacionamento au-
de tarefas e, uma grande parcela da sua infância e juventude com maior toritário e inafetivo é completamente
população, em precariedade social consciência e clareza para preservar diferente dos pais que procuram exer-
e econômica. No Brasil, 50% dos la- tanto a saúde física como emocio- cer uma autoridade mais sadia. Um
res são chefiados e sustentados por nal de um ser humano dependente padrão nocivo de autoridade pater-
mulheres solos. de acolhimento e cuidados. na vai podando e tolhendo a criança
Estamos diante de uma série de À medida que a criança vai crescen- em sua expressividade em sua exis-
questões político-econômico-social, do, continua sendo necessário cuidar tência. Isso costuma fazer com que
que vai além do privado. Questões da dinâmica da relação, educando-a, a criança se sinta muito desanimada,
estas que certamente atravessam a acompanhando de perto - porém, insegura e infeliz, impossibilitada de
relação com as crianças, afetando a não de forma intrusiva - tanto seu se desenvolver bem na linha de con-
todos. Desta forma, podemos pensar crescimento físico como psicológico. tinuidade de sua existência e de ser
que, atualmente, vemos uma maior Todo pai e toda mãe têm o dever ela mesma, bem como de encontrar
vulnerabilização da infância e dos de educar, de orientar, de acompa- seu lugar no mundo.
cuidados para com eles. nhar seus filhos para que possam se
Quando os cuidadores possuem desenvolver bem e irem adquirindo
condições de oferecer cuidados e afe- gradativa autonomia. gabriela pedroso mourão de mello
tos que vão ao encontro das neces- Ao mesmo tempo que, dentro de é psicóloga clínica, especialista em
psicoterapia psicanalítica de casal e
sidades do bebê, e não o contrário, um contexto favorável, a criança cres- família, membro filiado da associação
facilitam o processo de integração ce com sentimento de pertencimen- brasileira de psicanálise de casal
e família, bem como do corpo de
da identidade desta criança. Tudo to, faz-se necessário colocar regras psicólogos e psiquiatras cristãos
isto é sutil e silencioso. Eles ofere- e limites tão importantes, uma vez (cppc) ([email protected])

a revista da família 39
PSICANÁLISE E ESPERANÇA ABORTO ESPONTÂNEO
a perda não deve ser considerada sob a perspectiva de que chegamos ao fim de tudo

LUTO APÓS

aborto ESPONTÂNEO
por leontino farias dos santos
leungchopan

40 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


O LUTO COMO
CONSEQUÊNCIA DE
UMA PERDA
O aborto espontâneo é uma das mui-
tas perdas do ser humano. As per-
das humanas estão relacionadas aos
bens ou conquistas de alguém, cau-
sando-lhe uma ruptura em relação
ao que foi perdido e dor física, mo-
ral ou espiritual.
A perda, geralmente, se configu-
ra diante da impotência por não se
conseguir reverter essa situação de
dor. Quando isso ocorre, a pessoa
fica paralisada, estarrecida e a vida
fica comprometida.

A PERDA DE UMA CRIANÇA


POR ABORTO ESPONTÂNEO
A perda de uma criança por aborto
espontâneo não é menos ruim em
relação a outras perdas. Pode ser até
maior o sofrimento, considerando-
-se que essa perda envolve a mãe e a
família que esperavam o bebê, com
expectativas!
Geralmente, e principalmente, a
mãe sente com profundidade, por
se sentir, muitas vezes, culpada em
relação à morte do bebê, com ques-
tões como: será que o meu corpo não
serve pra nada? Seria inferior ao cor-
po de outras mulheres? Será que fui
descuidada com meu corpo na gra-
videz? Teria inconscientemente re-
jeitado o bebê, por algum motivo,
que não sei explicar?
Reconheçamos que, para todos nós
e principalmente para a mãe, a situa-

a revista da família 41
luis quintero
PSICANÁLISE E ESPERANÇA ABORTO ESPONTÂNEO

ção é devastadora, e permite que um mal a experiência do luto com uma


vazio psíquico se instale. tristeza natural, resultante de um A MENTE FICA
A mente fica conturbada e o de- desajuste que se dá em quem sofre
sejo é o de que a vida pare para que a ausência do ser esperado, e que não CONTURBADA E O DESEJO
não se lembre mais da perda e para vai chegar. Pode gerar frustração e
que não se sofra com essa frustração. sentimento de culpa. É O DE QUE A VIDA PARE
É verdade que é uma parte de seu
corpo que foi tirada! Pode instalar-
É natural que a pessoa viva mo-
mentos de luto, por se tratar de um PARA QUE NÃO SE LEMBRE
-se um profundo sentimento de fra-
queza e nulidade!
período de reelaboração da realida-
de, causado pela frustração e sen-
MAIS DA PERDA E PARA
A EXPERIÊNCIA DO
sação de fracasso pessoal. Pois essa
experiência é necessária para o ree-
QUE NÃO SE SOFRA COM
LUTO APÓS A MORTE
Na experiência de um aborto, é nor-
quilíbrio psíquico. É um processo
marcado pela dor e desorganização
ESSA FRUSTRAÇÃO

42 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


A PERDA, EM QUALQUER
e que nos coloca diante de intensas SITUAÇÃO, NÃO DEVE
emoções, dando a impressão de que DO PONTO DE VISTA
a vida nunca mais será a mesma. SER CONSIDERADA SOB A DA FÉ CRISTÃ
Mas não há lugar para sentimen-
to de culpa.
PERSPECTIVA DE Como ocorre em várias religiões, o
cristianismo considera que o sofri-

APÓS O LUTO, O QUE FAZER


QUE CHEGAMOS AO mento é inerente ao ser humano, ao
mesmo tempo que inevitável. Em-
No processo de luto, devemos cons-
truir novos significados em relação
FIM DE TUDO. bora não possa ser eliminado, quan-
do proveniente das perdas, pode dar
ao tempo passado, presente e pers-
pectivas para o futuro. É um proces-
MAS COMO POSSIBILIDADE lugar a uma nova experiência de vida
sob a ótica da fé e da esperança cris-
so doloroso, ainda que fortalecedor, PARA O SURGIMENTO DE tã, para as quais “nunca tudo está
na medida em que pode contribuir perdido.”
para o amadurecimento diante da “COISAS NOVAS” EM NOSSA Textos bíblicos mostram saídas sig-
realidade da perda. nificativas para a superação da dor
Quando se perde alguém, como VIDA, COMO A VINDA DE diante das perdas da vida.
um bebê, e se compreende a perda Em Filipenses 4.10-13, Paulo diz
de maneira equilibrada, como par- UM NOVO BEBÊ que, com Deus, que o fortalece, é
te do processo da vida, mesmo que possível conviver com suas próprias
a dor exista, ela diminui de inten- limitações e possibilidades, em to-
sidade. Reconheçamos, contudo, a perdido a permanecer separado dele. das as circunstâncias.
relevância dos efeitos do luto sobre A melancolia, conforme descrita Em Romanos 8.31-39, o apóstolo
a saúde mental e física das pessoas por Freud (Luto e Melancolia – 1915), aconselha os fiéis cristãos a conta-
diante de suas perdas. está relacionada a “estados de de- rem, acima de tudo, com a certeza
Quando o luto não é bem condu- pressão” que envolvem graves afasta- do amor de Deus para superar as ad-
zido, constatam-se altos índices de mentos das atividades da vida diária. versidades diante da morte.
mortalidade nas pessoas enlutadas. Desânimo, redução da capacida- No Salmo 23, o autor confessa que
É significativo o número de doenças de de amar e de sentimentos de au- Deus como seu pastor, ainda que es-
que surgem após a perda de alguém toestima levam o indivíduo a recri- teja no “vale da sombra da morte”,
por morte, quando o tempo de luto minar-se com a busca de autopuni- será a sua segurança.
não é aproveitável. ção para compensar a perda. Gera Em Isaías 65.17, o profeta refere-se
O ritmo de amadurecimento nes- uma demonstração clara de insatis- à renovação, quando diz que Deus
se período varia de uma pessoa para fação com o próprio ego, e um sen- cria “novo céu e nova terra” e que
outra. Por isso, o luto de um pode timento de revolta e de abandono “não haverá lembranças das coisas
durar dois ou três meses, e o luto de de si próprio. passadas”.
outro pode durar cinco ou seis ou De qualquer forma, a perda, em
mesmo um ano. COMO SUPERAR AS qualquer situação, não deve ser con-
Dependendo de cada indivíduo, PERDAS DA VIDA siderada sob a perspectiva de que
pode ocorrer o que Freud chamou de É preciso aprender a conviver com chegamos ao fim de tudo. Mas como
“luto cristalizado”, isto é, pode tor- as perdas e crescer por meio delas. possibilidade para o surgimento de
nar-se patológico, correndo-se o ris- Somos desafiados a elaborá-las e ree- “coisas novas” em nossa vida, como
co de transformar-se em melancolia. laborá-las, uma vez que não há como a vinda de um novo bebê!
evitá-las.
O RISCO DA MELANCOLIA De modo geral, reconheçamos, o
A melancolia, de acordo com Cas- sofrimento é praticamente impossível
sorla (1992), resulta de lutos mal ela- de ser eliminado. Há perdas que se
borados, mal resolvidos, nos quais a repetem antes de serem elaboradas,
pessoa passa a viver também como isto é, “resolvidas”. Todavia, o sofri- rev. leontino farias dos santos,
se fosse um morto. Nesse caso, o in- mento com a perda pode ser trans- psicanalista, é capelão da faculdade de
teologia de são paulo, pastor da ipi de vila
divíduo prefere juntar-se ao objeto formado ou minimizado. yara, em osasco, sp.

a revista da família 43
SUPERAÇÃO GRAVIDEZ DESEJADA
uma história de resiliência e fé na jornada para a maternidade
enjoys25

44 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


QUAL É O DESEJO
do seu
coração por regiane soares

istórias de resiliência, ser mãe, em 2016. Foi durante o al-

h
determinação e vitórias moço em um restaurante perto do
são sempre inspirado- jornal onde trabalhamos. A gente se
ras. Mas é um privilégio conhecia havia pouco tempo, mas ela
quando elas acontecem já falava com muita convicção que
bem pertinho e somos testemunhas ia ter um filho.
da realização de um sonho. Nesse Era curioso ouvir aquele desejo de
caso, o nascimento de uma vida. uma mulher super descolada, que ama
Acreditar em algo que não se vê é os Rollings Stones, em ascensão pro-
o que chamamos de fé. Isso para nós, fissional e que sempre esteve rodea-
cristãos. Mas, no caso da minha amiga da de amigos.
e jornalista Tatiana Cavalcanti, que Tati não era (e continua não sen-
ainda não o é, foi muita resiliência e do) uma mulher que só se sentiria
teimosia, como ela mesmo define o completa se desse à luz a um filho.
período em que tentava engravidar. Ela sempre foi completa. Mas tinha
Lembro quando ela me falou pela um desejo que eu nunca tive: ser mãe!
primeira vez sobre o seu desejo de Naquele dia, ouvi e admirei pro-

a revista da família 45
SUPERAÇÃO GRAVIDEZ DESEJADA

DEUS REALMENTE FAZ


MUITO MAIS DO QUE
fundamente o desejo dela. Mas sabia PEDIMOS OU PENSAMOS. o risco de formação de coágulos no
que o relógio biológico já alertava sangue. Em gestantes, a anomalia
para o que ela mais tarde chamaria EU NÃO DUVIDEI pode levar a aborto precoce, com
de “sentença de morte”, ou seja, a o ocorreu com ela.
dificuldade de uma mulher já perto QUANDO PEDI A ELE QUE Descobrir a trombofilia foi uma
dos 40 anos engravidar. das lutas que Tati enfrentou e ven-
“Desde sempre quis ser mãe. E CONCEDESSE O DESEJO ceu antes de ser mãe. Ela também
eu tinha o exemplo da minha mãe, teve que se recuperar emocional e
que me teve com 42 anos, e achava DO CORAÇÃO DA TATI. MAS financeiramente, já que fazia ferti-
que seria possível engravidar mais
tarde. Então, fui deixando. Tam- VER A OLÍVIA TÃO LINDA lização in vitro. Mas ainda teve uma
pandemia pelo meio, o que adiou os
bém esperava por uma relação só-
lida para ter um filho. Essa relação
E SORRIDENTE É TER A planos, mas não o suficiente para
desistir.
também não chegava”, afirma Tati,
lembrando quando ser mãe ainda
CERTEZA DE QUE ELE É O “Eu não desisti porque sempre
achei que poderia conseguir. Eu
era um plano.
Passado algum tempo, conheceu
MESMO DEUS DE SARA, DE ainda tinha uma reserva financei-
ra e eu sou teimosa. Então, achava
o marido e, após dois anos de rela-
cionamento, começaram a tentar
ANA E DE ISABEL que tinha que tentar. Se tinha óvu-
los, por que não tentar?”, recorda.
engravidar. Foi um ano de tentati- Não foi por acaso nem por coinci-
vas, e nada. mesmo desejo que a Tati, compreendi dência, pois Deus conhece o desejo
Decidida a realizar seu sonho, Tati que era necessário continuar abra- mais profundo do nosso coração. As-
buscou tratamento e, em 2019, no çando, confortando e orando por ela. sim como era desejo inicial da Tati,
mesmo dia em que pegaria o resulta- E eu senti muito por ela. foi um óvulo retirado quando ela ti-
do do exame que confirmaria a gra- Os radicais podem até dizer que eu nha 42 anos que fecundou. A mesma
videz, ela soube que a mãe, já na casa jamais vou entender a dor de perder idade que a mãe da Tati, a querida d.
dos 80 anos, havia sofrido um AVC. um filho. E eles têm razão. Mas não Diná, tinha quando concebeu e teve
Ela realmente estava com 10 sema- precisa sofrer a mesma dor para en- a Tati. Foi uma imensa alegria saber
nas de gestação, mas a alegria de um tender que o outro precisa de apoio e que a Olívia estava a caminho.
teste positivo não demorou muito. compreensão. A isso damos o nome Mas, calma, a última batalha ain-
Dias depois, com a mãe ainda se de empatia. Mas eu prefiro chamar de da precisa ser vencida. Para manter
recuperando do AVC, soube duran- amor. E amor não se explica. Amor a Olívia no “forninho”, Tati teve que
te um ultrassom que o bebê não ti- se ama e, de preferência, com ações. aplicar injeções diárias na barriga des-
nha se desenvolvido como deveria Quando a Tati voltou a trabalhar, de o primeiro dia de gestação.
e seu coração havia parado de bater. perguntei a ela se gostaria que orasse “Isso era muito dolorido para mim,
Ela lembra que até tentou trabalhar por ela. Ela concordou e fomos até tanto que eu tive que aplicar no bra-
nesse dia, mas não conseguiu. a sala de reuniões e ali conversamos ço, na perna e em outros lugares por-
Sem entender direito o que esta- com Deus sobre o desejo dela de ser que a barriga ficava toda roxa e não
va acontecendo, lembro de ter abra- mãe. E foi aquela oração sincera, de tinha mais onde aplicar”, recorda.
çado a Tati. E outra amiga a acolheu entrega de um desejo no altar do Pai. Isso sem contar os mais de cerca de
e a orientou a voltar para casa para Porque eu acreditava e ainda acre- 30 comprimidos diários, entre vita-
descansar. dito que, se tinha alguém capaz de minas e outros remédios, que ela to-
Após duas semanas, sofreu o abor- realizar o desejo da Tati, era Deus. mou durante a gravidez.
to espontâneo. “Foi uma dor muito E Ele nos ouviu (Ele sempre ouve!) Um pouco antes de a Olívia nascer,
grande. Ali eu senti a maternidade e nos honrou. Tati publicou uma foto mostrando
pela primeira vez e senti o que era Ao retomar o tratamento, Tati des- sua barriga cheia de hematomas. Ela
amar um filho”, recorda. cobriu que tinha trombofilia, uma estava dentro de um coração forma-
Apesar de não compartilhar do predisposição genética que aumenta do por todas as seringas usadas para

46 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


Fábio Pescarini

Tatiana Cavalcanti três dias antes de dar à luz, no parque Ibirapuera. O coração foi feito com injeções usadas durante o tratamento

aplicar as injeções. Uma imagem car- “Ver a Olívia nos meus braços é te é ter a certeza de que Ele é o mes-
regada de emoções, mas sobretudo ver o meu sonho materializado. E ela mo Deus de Sara, de Ana e de Isabel.
de amor, que me comoveu profunda- veio muito mais perfeita do que po- Esse foi o desejo mais profundo
mente. Aquela imagem é a perfeita deria imaginar”, conta a mamãe Tati. do coração da Tati que Deus hon-
tradução de lutas e vitórias. Deus realmente faz muito mais do rou. E qual é o seu?
Olívia nasceu no dia 18 de abril des- que pedimos ou pensamos. Eu não
te ano, saudável e cheia de vida. Tati duvidei quando pedi a Ele que con-
se tornou mãe aos 43 anos, e está fe- cedesse o desejo do coração da Tati. regiane soares, jornalista, é
liz e realizada. Mas ver a Olívia tão linda e sorriden- presbítera licenciada da ipi do
ipiranga, em são paulo, sp

a revista da família 47
ESTUDO BÍBLICO AS CRIANÇAS
como jesus lidou com as crianças?

jesus e as
crianças por ézio lima e sandro xavier
Keira Burton

48 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


A
Constituição Federal do nosso país, em seu artigo 227, dispõe
que “É dever da família, da sociedade e do Estado assegu-
rar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discrimi-
nação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

“Então trouxeram algumas crianças a tradas na Bíblia. Diante disso, nes-


Jesus para que as abençoasse, mas os discí- te pequeno estudo, seria impossível
pulos os repreendiam. Jesus, porém, ven- passear por toda a Bíblia e discorrer
do isso, indignou-se e disse-lhes: ‘Deixem sobre como as crianças são relatadas
que os pequeninos venham a mim; não ou como participam ativamente em
os impeçam, porque dos tais é o Reino de todos os eventos bíblicos. Por isso,
Deus. Em verdade lhes digo: Quem não vamos nos concentrar num olhar para
receber o Reino de Deus como uma crian- o universo das crianças no tempo de
ça de maneira nenhuma entrará nele’. Jesus e como ele lidou com elas.
Então, tomando as crianças nos braços Quando falamos da realidade his-
e impondo-lhes as mãos, as abençoava” tórica e sociocultural na Palestina
(Mateus 10.13-16). dos tempos de Jesus, precisamos,
inicialmente, nos recordar de que
A nossa Constituição segue um en- não apenas essa região, mas quase
tendimento, presente em quase to- a totalidade do mundo conhecido
dos os países do mundo, de que as estava sob o domínio e a escraviza-
crianças possuem uma condição de ção por parte do Império Romano.
vulnerabilidade, sendo sujeitos de O Império Romano se compreen-
direitos, que devem ser protegidos dia no direito de fazer com seus escra-
pelo Estado e por toda a socieda- vos, sem importar quem quer fossem
de, de forma prioritária. Sabemos ou com qualquer idade que tivesse,
bem que, à revelia da nossa legisla- o que bem pretendesse.
ção, a realidade quase sempre prova Nos tempos de Jesus, havia uma
o contrário estratificação da sociedade baseada
E nos relatos bíblicos, como pode- numa “lei de pureza”, em que apenas
mos vislumbrar a realidade do uni- uma parte da sociedade era considera-
verso infantil? E como Jesus lidou da “pura”. Havia um punhado de leis
com as crianças? para garantir que as pessoas fossem
consideradas “sem pecados”. Alguns,
AS CRIANÇAS NO CONTEXTO DO quer seja pelos trabalhos que reali-
NOVO TESTAMENTO/ “OU NO zavam, quer seja pela própria con-
TEMPO DE JESUS” dição de ser (mulher/criança/paralí-
Temos, diretamente e indiretamente, tico/cego), tinham mais dificuldade
1.400 referências à criança encon- ou plena impossibilidade de conse-

a revista da família 49
Allistair/peopleimages.com
ESTUDO BÍBLICO AS CRIANÇAS

50 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


OS DISCÍPULOS REFLETEM A SOCIEDADE EM QUE ESTÃO INSERIDOS E TENTAM EXCLUIR
AS “CRIANÇAS INSIGNIFICANTES”. DE CERTA FORMA, ELES REPRESENTAM, TAMBÉM,
CADA UM DE NÓS QUE, NA CAMINHADA COM JESUS, VAI DESCOBRINDO QUE ANDAR COM
ELE É NECESSARIAMENTE UM PROCESSO CONTÍNUO DE CONVERSÃO, NO QUAL SOMOS
CHAMADOS PARA VER O MUNDO, AS PESSOAS E A NÓS MESMOS DE OUTRA MANEIRA

guirem um “selo de pureza”. espiritualidade “desencarnada”, dua- Que mistério é uma criança!
As crianças, como as mulheres e lista, que não nos propõe a viver a fé Quem tiver percebido isso,
os escravos, eram consideradas pro- no chão das situações concretas da Está ligado às crianças pelo Me-
priedade dos homens adultos e não nossa vida e do mundo que nos cerca. nino Jesus2
eram nem sequer contadas entre a Como todos os meninos de Naza-
multidão: “...os que comeram foram qua- ré, Jesus viveu seus primeiros sete ou O CHAMADO PARA SER COMO
tro mil homens, sem contar mulheres e oito anos de sua vida sob o cuidado de UMA CRIANÇA
crianças” (Mateus 15.38). sua mãe e das mulheres de seu grupo Quero chamar nossa atenção para o
As crianças estavam, portanto, familiar. Nestas aldeias da Galileia, verbo utilizado: “Traziam-lhe” (“En-
na categoria dos “invisíveis para a as crianças eram os membros mais tão, lhe foram trazidas crianças”). O
sociedade”. Aliás, faz bem apontar fracos e vulneráveis, os primeiros a verbo, aqui, sublinha a dependência.
que a palavra grega para “criança” sofrer a consequências da fome, da Esse verbo é, frequentemente, utili-
refere-se a uma criança entre 7 e 14 desnutrição e da enfermidade. A mor- zado para os doentes e possessos que
anos de idade, e era utilizada também talidade infantil era muito grande”1. eram igualmente “levados”, “condu-
para “servo/escravo”, pois ambos não Não é verdade que precisamos zidos” à presença de Jesus para que
possuem qualquer autonomia; por- conversar mais sobre a fé em Cris- fossem curados e libertos (Marcos
tanto, são plenamente dependentes to que começa com a realidade con- 1.14ss; Mateus 4.24; 8.16; 9.2ss).
e subordinados. creta de que ele foi gestado e parido, Como já vimos, o termo “criança”
chorou, sujou os panos de fezes e de pode ser usado tanto para a criança
JESUS FOI CRIANÇA xixi, como toda criança. Deve ter-lhe no útero quanto para crianças em
Nem sempre nos lembramos disso, escorrido o nariz por algum vírus da idade até os 14 anos. Em todo caso,
mas Jesus não nasceu adulto. O fato gripe, tido noite com febres, corta- a palavra aponta para a integral de-
de que a imensa maioria dos sermões do o dedo nas ferramentas de José pendência.
e estudos bíblicos em nossas igrejas etc.? Pensar essas coisas incomoda Não sabemos quem as leva, mas
tratem, direta ou indiretamente, so- a gente, né? Isso se deve não apenas inferimos que sejam os pais. Fazem-
bre a doutrina da salvação (soterio- ao desconhecimento a respeito das -no com o objetivo de que Jesus as
logia), resta pouco tempo para, por doutrinas essenciais da fé cristã, mas tocasse, “...impusesse as mãos e orasse”
exemplo, conversar sobre a impor- também pela espiritualidade e pelos (Mateus 10.13). Somos surpreendidos
tante doutrina da encarnação. nossos cultos serem quase uma ida a com a atitude dos discípulos que “re-
Mesmo nas celebrações do Natal/ um mundo paralelo, a uma realida- preendiam”. Perguntamo-nos: “Como
Advento, as pregações focam não na de “virtual”, desconectada do chão podem repreender? Por que eles são
doutrina da encarnação, mas na dou- da vida. tão insensíveis?”.
trina da salvação. Não é preciso es- Que mistério é uma criança! Os discípulos refletem a socieda-
colher uma das duas, mas a doutrina Deus também foi criança. de em que estão inseridos e tentam
da salvação sem uma sólida doutrina Por sermos filhos de Deus, excluir as “crianças insignificantes”3.
da encarnação redunda em uma fé/ Uma criança veio redimir-nos. De certa forma, eles representam,

1 PAGOLA, José Antônio. Jesus: aproximação histórica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 67.
2 MOLTMANN, J. No Início, o Fim. Breve tratado sobre a esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2007. p. 17.
3 CARTER, Warren. O Evangelho de São Mateus. Grande Comentário Bíblico. São Paulo: Paulus, 2002, p. 485.

a revista da família 51
ESTUDO BÍBLICO AS CRIANÇAS

também, cada um de nós que, na ca- (Lucas 17.21). Jesus inaugura o Rei- dência, a sua miséria. Não se trata
minhada com Jesus, vai descobrindo no, porque ele é o Rei que veio para de apresentar as suas virtudes, mas
que andar com ele é necessariamente reinar sobre os seus (Lucas 12.32). O a irrestrita dependência.
um processo contínuo de conversão, reino de Deus não é conquistado
no qual somos chamados para ver o por força, conhecimento especial Conclusão
mundo, as pessoas e nós mesmos de (um segredo que poucos alcançam) O convite que Jesus Cristo nos faz,
outra maneira; que andar com Jesus ou por uma moral humana (que só conforme vemos nos Evangelhos,
é ter a coragem de se questionar, ava- alguns atingem). é para que nos apresentemos a ele
liar conceitos e preconceitos. E Jesus, então, continua: “Em ver- como uma criança: mesmo com sua
Jesus inverte uma lógica social já dade vos digo: Quem não receber o reino dependência, falta de maturidade e
predefinida, qual seja, que as crian- de Deus como uma criança de maneira inegável inexperiência com relação
ças, porque não são ainda adultas, não alguma entrará nele”. A gente ouve ao mundo, precisamos olhar para ele
são racionais, e vão atrapalhar o que Jesus falar isso e já fica pensando como aquele que nos cuidará dentro
Jesus estava fazendo. Todavia, Jesus que ser como criança é coisa difícil. desse quadro de fragilidade.
não vê crianças como se fossem me- Pensamos em categorias de pure- A figura da criança aponta para uma
tade de gente, metade pessoa, mas za. Não consigo ser puro como uma condição que todos temos diante de
como gente e pessoa inteira. criança, então o reino é difícil para Deus: a fragilidade e a dependên-
Mas o que Jesus disse é ainda mais mim. Pensamos na categoria da ino- cia de que um adulto, um tutor, seja
surpreendente: “Deixem que os peque- cência. Não sou inocente. Erramos aquele que nos orienta para a vida e
ninos venham a mim; não os impeçam, conscientemente e sabemos disso. cuide de nós.
porque dos tais é o Reino de Deus”. Estamos perdidos. Não à toa, no momento da confis-
O acolhimento de Jesus afirma: É verdade. Se pensarmos nessas são, em nossas celebrações, somos
as crianças não são marginalizadas categorias, estamos perdidos. Mas convidados a, primeiramente, reco-
no reino de Deus; representam os atentemos para o texto. A atenção nhecermos nossa pequenez diante
que acham que nada são, os que se não é nas crianças, mas na oferta. de Deus. Não somos nada sem ele e,
acham insignificantes, os que são ou “Quem não receber...” A criança por isso mesmo, precisamos da sua
estão fracos e fragilizados, e excluí- dependente dos pais e é subordi- orientação e do seu cuidado. Reco-
dos pela religião purista e legalista nada aos adultos. É uma metáfora nhecendo que Deus é infinitamen-
dos fariseus. perfeita da atitude que precisamos te poderoso, colocamos nossa vida
As crianças representam, metafo- ter em relação à salvação e à vida no em suas mãos.
ricamente, os discípulos, em todas as Reino de Deus. Jesus Cristo se coloca como aque-
eras, de qualquer raça, sexo ou idade, O texto seguinte a esse relato, se- le que reconhece a fragilidade das
a quem o reino é dado gratuitamen- gundo o Evangelho de Lucas 18.18, crianças e quer cuidar delas. A figura
te, sem qualquer merecimento. As- foi propositalmente inserido em se- do Pai, relacionada ao Deus Criador,
sim como as crianças, os discípulos quência para mostrar o contraste. nos aproxima dele, como filhos que
também estão em transição, prepa- O homem de posição, acostumado podem brincar aos cuidados e sob o
rando-se para um papel futuro. Es- a conquistar tudo com seu prestígio olhar daquele que cuida de nós, em
tão na expectativa do que virão a ser. e a comprar tudo com seu dinhei- toda nossa fragilidade, falta de conhe-
Em “dos tais é o reino de Deus”, Reino ro, também quer comprar o Reino. cimento, dependência e imaturidade.
de Deus é uma expressão complexa. Acha que Deus está à venda, que é Para isso, precisamos nos apresentar
Resumidamente aponta para o tem- uma questão de mérito. Se eu pos- a ele como crianças, e crianças que
po inaugurado por Jesus, o tempo so, eu consigo. amam e confiam no Pai.
da graça, o tempo da salvação. Não Ele vai até Jesus com suas cre- Sejamos, pois, como crianças!
se refere a um lugar determinado, denciais: o que devo fazer?... (v. 18)
mas ao espaço inaugurado pela gra- e mostra suas virtudes: “Isso tudo tenho
ça, em que pecadores podem ser sal- feito” (v.21). Jesus, todavia, inverte a
vos e chamados para viver em novo lógica da aquisição: para entrar no
relacionamento com Deus e com o Reino, para viver a vida abundante rev. ézio lima, advogado, é
próximo. que ele concede e eternamente com pastor da ipi do brasil
Por isso Jesus poderia dizer: o reino ele, você não precisa fazer, mas se rev. sandro xavier, pastor da
ipi metropolitana de brasília, df,
de Deus está próximo, no meio de desfazer! Não se trata de mostrar e doutor em linguística pela unb
vós ou o Reino de Deus está em vós suas credenciais, mas a sua depen- (universidade de brasília)

52 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


pronoia

a revista da família 53
SAÚDE NOVEMBRO AZUL
que fenômeno triste é este?

UM LONGO CAMINHO A
PERCORRER NA BUSCA
PELA SAÚDE DO

a saúde masculina enfrenta desafios, como a


resistência dos homens em buscar cuidados
preventivos. a cultura que desencoraja os
adolescentes a procurarem médicos é um
problema. é preciso investir em educação,
conscientização e apoio familiar para
promover a saúde masculina.

por luís cláudio c. heitzmann

54 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


a revista da família 55
SAÚDE NOVEMBRO AZUL

L embro-me que, na dé-


cada de 90, a maior
parte dos casos de
vida em relação às mulheres. São
mais expostos voluntariamente a
comportamentos de risco que po-
SEIS PILARES DE UMA
BOA SAÚDE ENVOLVEM:
câncer de próstata que atendia dem trazer prejuízos à saúde. São
eram doenças avançadas, com me- mais envolvidos a trabalhos insalu- 1. Alimentação saudável e equi-
tástases, e pouco a ser feito. Hoje, bres, bebem e fumam mais e ainda librada;
cerca de 30 anos depois, o quadro atualmente, nas famílias brasilei- 2. Atividade física regular: a Or-
é inverso, com boa parte dos ca- ras, são responsáveis em 65% dos ganização Mundial de Saúde
sos sendo localizados, melhorando casos pela sua provisão financeira. (OMS) preconiza 150 minutos
muito o tratamento e a perspecti- E, para finalizar, procuram menos de exercícios físicos moderados
va de vida do homem. o médico. a intensos por semana;
Nesse período, o avanço tecno- Isso faz do grupo masculino um 3. Qualidade do sono: hoje já se
lógico e a disseminação da infor- segmento de alto risco para diver- sabe da importância da quanti-
mação foram fundamentais para sas doenças e que, portanto, me- dade e qualidade do sono e seu
que o homem pudesse despertar rece atenção. impacto na saúde;
para o cuidar de sua saúde. Por fim, não poderíamos deixar 4. Controle do estresse e ansieda-
Ainda que tenha havido progres- de falar na campanha de prevenção de: mente sã, corpo são. Essas
so nessa questão, a saúde masculi- de câncer de próstata por ocasião doenças promovem verdadei-
na é um caminho longo, que ainda do “Novembro Azul”, uma vez que, ras flutuações hormonais, com
precisa ser percorrido. O homem a cada ano, são diagnosticados cer- excesso de cortisol, o hormônio
é mais resistente, menos propenso ca de 65.000 novos casos, segun- do estresse, que prejudica ou-
a fazer exames preventivos e mais do o Inca (Instituto Nacional do tras funções do corpo.
negligente quando está ciente de 5. Espiritualidade: não podemos
um problema de saúde. falar de saúde integral sem tocar
O curioso é que essa questão nesse assunto. Se o corpo físi-
é cultural e vem desde as idades co é templo do Espírito Santo,
mais tenras. é fato que a maneira como nos
Uma pesquisa realizada pela O HOMEM É MAIS relacionamos com Deus impacta
Sociedade Brasileira de Urologia na saúde física e mental. Já está
(SBU) evidenciou que os adoles- RESISTENTE, MENOS provado por diversos estudos
centes meninos procuram 18 vezes que as pessoas que oram e man-
menos o urologista do que as ado- PROPENSO A FAZER têm relação íntima com Deus,
lescentes meninas procuram seus têm melhores resultados no
ginecologistas. EXAMES PREVENTIVOS controle de suas enfermidades;
De que maneira poderemos ter 6. Visitas regulares ao médico: bus-
homens adultos preocupados com E MAIS NEGLIGENTE car ativamente problemas, fa-
sua saúde e empenhados em cuidar
dela se, desde pequenos, não esti- QUANDO ESTÁ CIENTE DE zer exames de prevenção e diag-
nóstico precoce são armas que
mulamos os adolescentes e jovens
a procurarem o médico de rotina?
UM PROBLEMA DE SAÚDE. a medicina moderna coloca a
serviço do homem. Fazer o tra-
Investir em educação e cons-
cientização, com políticas públi-
O CURIOSO É QUE ESSA tamento de suas doenças (como,
por exemplo, as cardiovascula-
cas claras e assertivas, divulgação
de informação com teor científico,
QUESTÃO É CULTURAL E res, que são a primeira causa de
morte no mundo, sobretudo no
usando as mídias sociais de forma VEM DESDE AS IDADES grupo masculino) e acompanhá-
séria e comprometida e o apoio fa- -las de maneira adequada é chave
miliar, sobretudo das esposas, são MAIS TENRAS para uma vida saudável.
pilares fundamentais nessa jornada.
Os homens têm, em média, cin-
gali77

co anos a menos de expectativa de

56 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


Câncer) do Estado de São Paulo.
É o segundo tumor mais frequen-
te no homem.
É fundamental que todo homem a
partir dos 50 anos de idade procure
o urologista para fazer o check-up.
Se for da raça negra ou tiver um
familiar de primeiro grau (pai, tio
ou irmão) com câncer de próstata,
essa visita precisa acontecer aos
45 anos.
Nessa consulta, além da história
e do exame físico, iremos solicitar
o PSA (antígeno prostático espe-
cífico), um exame de sangue que
pode encontrar-se elevado em ca-
sos de câncer de próstata.
Procede-se também o toque re-
tal que é fundamental, juntamente
com o PSA, para o correto diag-
nóstico do paciente.
É preciso desfazer o mito desse
exame, pois ele não é doloroso, é
rápido, ninguém tem sua mascu-
linidade ofendida por isso e é ex-
tremamente valioso para o diag-
nóstico.
Vidas são perdidas pela ignorân-
cia e pelo tabu criados por uma so-
ciedade machista e desinformada
com relação à doença.
O importante é não deixar de
descobrir algo que possa ser tra-
tado com sucesso.
Penso que não há mais espaço
para que os tabus da sociedade im-
peçam as pessoas de irem ao médi-
co e terem uma qualidade de vida
melhor.
Meu recado aos homens: cuidem-
-se, por amor a vocês mesmos e às
pessoas que lhe são queridas! Sua
saúde, sua responsabilidade!

luís cláudio c. heitzmann é médico


urologista, com mais de 30 anos de
experiência em saúde do homem
(instagram: @dr_luisclaudio \
www.drluisclaudio.com.br)

a revista da família 57
REFLEXÃO VIDA PLENA

A vida flui. Importa viver e não se excluindo das contradições e an-


gústias que o tema possa levantar.
Não elabora conceitos e teses abstra-
morrer bem tas, mas se faz presente com exemplos
do seu cotidiano familiar, profissional
e cultural.
por ageu heringer lisboa Não propõe, como diz, “consolos utó-
picos” frente à angústia da morte que até
mesmo Jesus sofreu.
Convida-nos a sempre permanecer no
Princípio do Real e não nos enganarmos
com mitos, fantasias e idealizações cul-
prender a envelhecer” é um livro de Paul turais ou religiosas: “Creio que se pode

"A Tournier (1898-1986).


Neste e noutros de seus livros, celebra a
possibilidade de desfrutarmos da exis-
encontrar mais paz na aceitação da an-
gústia humana do que no sonho de uma
velhice isenta dela”.
tência de forma plena e continuamente Por fim, destaco o grande benefício
rica de sentido até o fim. Com lógica clara e escrita desta leitura que trata de questões e ta-
suave, trata com profundidade analítica várias ques- refas de cada etapa do ciclo vital, nos
tões que condicionam as pessoas de todas as idades. instruindo com palavras de cientistas,
Neste texto dá atenção à dimensão laborativa dos literatos, filósofos e da sabedoria bíblica.
humanos, seres simbólicos, portadores de poderes Paul Tournier (1898-1987), médico suí-
imaginativos e criativos em todo o tempo da exis- ço, autor de vários livros, foi o introdutor
tência.
Médico de formação científi-
ca rigorosa, cresceu numa cultu-
ra calvinista e foi contemporâ-
neo de mentes brilhantes como
Édouard Claparède (1873-1940) e
Jean Piaget (1898-1986), autores
que revolucionaram a pedagogia
e a psicologia.
Como estes, Tournier incenti-
vou um olhar e escuta de crian-
ças como capazes de percepções
e verdades às quais devemos acolher; revelação ali- da Medicina da Pessoa. Exerceu a clínica
nhada com o ensino de Jesus que nos convida a uma com tal maestria que pode ser conside-
mudança de mentalidade (Mt 19.14). rado um psicoterapeuta. Suas teses têm
Comenta algo do longo processo civilizatório e inspiração no humanismo existencialista
faz leitura da cultura contemporânea com lentes europeu, o que o faz um pensador atual.
de perito médico e amante das Escrituras. Sua lei- Em seus escritos encontram-se pro-
tura bíblica refletirá a graça de Deus que promove postas de grande aplicação prática que
a saúde humana e nos possibilita sair de condicio- são especialmente úteis aos profissio-
namentos desumanizadores. nais de ajuda.
Neste livro, ele desfaz mitos e representações so-
ciais que desqualificam as pessoas tidas como não-
-produtivas na engrenagem das organizações mo-
vidas pela fria lógica do lucro.
Ageu Heringer Lisboa,
Tournier faz um contraponto objetivo, critica a psicólogo, mestre em
impessoalidade que ameaça o laço social e aponta ciências da religião,
caminhos de realização e desfrute de vida livre de cofundador do Corpo de
Psicólogos e Psiquiatras
neuroses e patologias. Mostra como em todas as Cristãos (CPPC) e da Eirene
etapas da vida podemos ter um sentido realizador, Brasil; membro da equipe de
comentaristas da Bíblia de
função social e relevância para tantos. Estudos Conselheira (SBB).
Tournier se coloca muito pessoalmente no texto, E-mail: [email protected]

58 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


RELACIONAMENTO CIÚMES

Você é ciumento? CONHEÇA A SI MESMO - O ciúme está


muito ligado à insegurança. Quanto mais in-
segurança a pessoa tem, mais ela quer contro-
lar os fatores externos para que aquele senti-
mento incômodo não brote novamente. Mas,
por cláudia martins e paulo júnior
quando sabemos quem nós somos em Deus,
nossas feridas internas são curadas, mudamos
nosso olhar em relação ao mundo e esses sen-
timentos param de acontecer ou diminuem
muito em sua frequência (Is 44.2).
alar sobre ciúmes desperta as mais diferentes

f
reações: sorrisos tímidos, comentários ner- MANTENHA O CONTROLE DOS
vosos e, algumas vezes, um silêncio reflexivo SEUS PENSAMENTOS - Pare de supor
e ressentido. e pare de imaginar coisas! Os pensamentos
Deus quer que desfrutemos de um casamento que você optar por alimentar determinarão
seguro e confortável e que nos livremos do ciúme que, na quais emoções surgirão. Alguns te trarão mais
Bíblia, é descrito como uma das obras da carne (Gl 5.20). paz e outros te trarão ciúme, mesmo que não
Você é uma pessoa ciumenta? esteja acontecendo nada demais.
• Você confia em seu cônjuge quando não estão juntos? Entenda isso: você está o tempo todo cons-
• Você fica desconfiado quando o seu cônjuge demora truindo um mundo dentro da sua mente. Você é
para retornar de um compromisso? quem escolhe qual mundo quer construir. Não
• Você fica preocupado quando ele/ela menciona o nome confie na instabilidade dos seus sentimentos
de outra pessoa? e emoções, mas confie nos ensinamentos e
• Você verifica constantemente suas redes sociais para promessas da Palavra de Deus (Fp 4.8; Gl 5.23)!
ver o que ele/ela está fazendo?
• Você, às vezes, acha que ele/ela está te traindo? TENHA UMA COMUNICAÇÃO IN-
• Você tenta controlar o comportamento do seu cônjuge? TENCIONAL - Relacionamentos com uma
Você se identificou com algumas dessas perguntas? Co- comunicação ruim têm muitos problemas
nhece alguém assim? e fazem com que o ciúme do outro aumen-
Muitas pessoas sofrem e fazem outros sofrer por causa do te ainda mais. Para se ter uma comunicação
ciúme. O ciúme é um sentimento que faz mal para a pessoa assertiva, precisamos saber qual o fator ex-
que o sente e para quem tem que conviver com ele. Muitos terno envolvido e qual foi o significado que
crimes são cometidos por causa de ciúmes. demos àquele evento.
O ciúme é um exercício enlouquecido de poder, de do- Depois, é importante conversarmos com
minação e de aprisionamento do outro. O ciúme gera falta o marido ou a esposa sabendo expressar com
de confiança e desejo de controlar. A pessoa ciumenta não assertividade os pensamentos e sentimentos,
consegue diferenciar imaginação e realidade, não consegue deixando bem claro o que necessitamos da
distinguir fantasia e certeza. Jesus quer aliviar este fardo tão parte do outro para que aquilo não ocorra
pesado (Mt 11.28-30). novamente (Ef 4.26-27).
Uma pessoa ciumenta apresenta três sintomas: Procure ajuda se você perceber que o ciú-
• ela vê o que não existe, me está deteriorando a sua vida
• aumenta o que existe, Busque, hoje mesmo, auxílio através de um
• procura o que não quer achar. aconselhamento pastoral, com um psicólo-
Mas você pode superar o ciúme! go cristão.
Você pode ler livros, assistir filmes e, acima
SEJA SINCERO CONSIGO MESMO - Admita o que de tudo, saber que Deus vai libertá-lo deste
você está passando. Só assim se abrirão as portas para so- cativeiro insuportável.
lucionar o seu problema e aliviar as tensões da sua mente “Quem ama não é ciumento...” (1Co 13.4).
e das suas emoções. Com isso, ao invés de brotar o ciúme,
pode brotar um sentimento muito mais agradável (Pv 4.23).
revs. cláudia martins,
PEÇA O AUXÍLIO DE DEUS - Quando o amor de pastora da ipi de mandaguari,
pr, e paulo júnior, pastor
Deus enche o coração e a mente, não há espaço para coisas da ipi de jandaia do sul, pr;
ruins. Através da reflexão bíblica e da oração é possível ven- ambos são responsáveis
pelo núcleo de apoio à
cer todas as coisas, inclusive o ciúme (Naum 1.7). família da ipi do brasil

a revista da família 59
CULTURA LIVROS / VIDEOS / PODCAST
conhecimento é o nosso maior patrimônio. invista para aumentar o seu.

[LIVROS] [LIVROS] [LIVROS] [LIVROS]

APRENDER A ENVELHECER ESCRAVIDÃO AINDA MELHOR QUE O ÉDEN JESUS E AS EMOÇÕES


PAUL TOURNIER LAURENTINO GOMES NANCY GUTHRIE MARTA SIZA
ULTIMATO GLOBO LIVROS FIEL

Reúne conhecimento bíblico e Uma trilogia que nos ajuda A história iniciada no Éden não O livro é escrito para crianças,
psicologia, ao mesmo tempo a conhecer e explicar o que termina ali, Cristo veio para e nos faz lembrar que Deus
em que explora questões fomos no passado, o que realizar o que era necessário nos capacita a compreender
como tédio, solidão, saúde, somos hoje e também o que a fim de abrir o caminho para e a lidar com as emoções
aposentadoria, aceitação e a seremos daqui para a frente. nós, não apenas de volta e os sentimentos. A obra
morte. Um livro urgente para a A obra é finalista do 65° ao jardim do Éden, mas o possui dicas para mediadores
ainda jovem igreja brasileira. Prêmio Jabuti de Literatura caminho para uma vida que de leitura e, também, sobre
na categoria Biografia e será ainda melhor. os ODSs (Objetivos de
Reportagem. Desenvolvimento Sustentável)
tratados no livro.

[LIVROS]

AS CRÔNICAS DE OLAM
L.L.WURLITZER
FIEL
[FILME] [FILME]

SING A BAILARINA
Em busca de vingança, o líder da mais poderosa classe NETFLIX YOUTUBE
de guerreiros de Olam invade uma cidade proibida, atrás
Um coala otimista tenta salvar Paris, 1869. Uma sonhadora
da cortina de trevas, e enfrenta uma terrível criatura.
seu teatro com um concurso menina órfã toma uma atitude
Sua atitude quebra um antigo tratado de paz e dá início a
de canto com uma elefanta arriscada para conseguir o que
uma contagem regressiva para a guerra entre o império
tímida, um gorila adolescente, quer: foge para Paris para realizar
dos shedins e o reino de Olam. Após dois mil anos de
uma porca exausta e muitos o sonho de ser uma grande
relativa paz e segurança, uma guerra de proporções e
outros participantes que bailarina. Lá ela decide se passar
consequências imprevisíveis estava para estourar.
tentam melhorar suas vidas por outra pessoa, e consegue uma
Luz e Sombras se enfrentariam mais uma vez...
através da música. A grande vaga no Grand Opera, onde vai
O Futuro do reino pode estar na distante e atrasada cidade
força reside justamente na aprontar muitas aventuras.
de Havilá, onde Enosh, um misterioso lapidador de pedras
gama desses personagens
shoham, vive com o seu aprendiz, o jovem Ben, apelidado
únicos.
de o guardião de livros.

60 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


[LIVROS]

#UMDIASEMRECLAMAR
DAVI LAGO E MARCELO GALUPPO
CITADEL

[LIVROS] [LIVROS]

O MELHOR LUGAR DA TERRA EBOOKS REV. MESSIAS


RUBINHO PIROLA ANACLETO ROSA Passe um dia (24 horas) sem reclamar. Para realizá-
W4 EDITORA ASSOCIAÇÃO AVANI GARCIA ROSA
lo, você precisará registrar o horário em que iniciará o
exercício. E não será preciso registrar quantas vezes você
Nada mais oportuno, em um Mensagens que encorajam
viola seu comando porque, a cada vez que você o fizer,
tempo em que a questão dos a vencer adversidades e a
deverá reiniciar a contagem do tempo.
refugiados se torna tão presente, restaurar áreas da vida, como
Segundo os autores, a principal função deste exercício
as pessoas são forçadas a saúde, finanças, sonhos etc. Em
é tornar-nos conscientes de que a ingratidão é o padrão
deslocamentos territoriais cada esboço, uma oportunidade
natural do ser humano. Além dele, você encontrará aqui
indesejados e inesperados e as de ampliar sua devocional e/ou
mais seis exercícios de gratidão e mudará para sempre a
“coisas” parecem valer mais do seus estudos. É gratuito no
maneira como encara os seus problemas.
que a vida de tanta gente. @ associacaoavanigarciarosa

[FILME] [FILME] [PODCAST ] [PODCAST ]

EXTRAORDINÁRIO A INVENÇÃO DE HUGO CABRET IPI DOURADOS - MENSAGENS IPICAST


AMAZON PRIME NETFLIX SPOTIFY SPOTIFY

Um garoto nasceu com uma Um menino se vê sozinho A série de mensagens da O podcast da 1ª IPI de Maringá.
deformação facial, o que de repente, após a morte do IPI de Dourados pode ser Empreendedorismo feminino,
fez com que passasse por seu pai. Foge do tio e vive acessada no spotify e também Engajamento pessoal,
27 cirurgias plásticas. Aos escondido numa estação no canal da igreja no youtube. Crescendo na igreja, Músicos
10 anos, ele pela primeira ferroviária. Seu pai era um profissionais na igreja são
vez frequentará uma escola relojoeiro e tinha um robô. alguns dos temas da playlist no
regular, como qualquer outra Hugo continua a restauração spotify.
criança. Lá, precisa lidar com do android na esperança de
a sensação constante de ser que na mensagem que o robô
sempre observado e avaliado escreveria tivesse alguma
por todos à sua volta. mensagem do seu pai.

a revista da família 61
TECNOLOGIA HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS
aplicativos que estimulam o desenvolvimento da leitura das crianças

top 5 apps

APP DA BÍBLIA PARA CRIANÇAS


Histórias interativas e animadas, com
ilustrações coloridas e animações
ativadas pelo toque. Atividades
divertidas para ajudar as crianças
a lembrarem o que foi aprendido.
Excelente aplicativo para aprender as
histórias bíblicas.

SUPERLIVRO
É completo e fácil de compreender com
imagens, vídeos e jogos interativos.
Possui vinte e seis episódios da série
Superbook, perguntas e respostas
bíblicas relacionadas aos versículos,
perfis bíblicos, videoclipes e imagens.

PRIMEIRA LEITURA KIDS


Desenvolvido para auxiliar as crianças
que estão tendo o primeiro contato
com letras e números, e crianças que
estão aprendendo a ler. Com jogos
educativos e o divertido trava-línguas,
momentos para toda a família!

Aplicativos de leituras e ME CONTA HISTORINHAS


Desenvolvido para favorecer o
aprendizado e incentivar a leitura,

histórias para crianças assim como promover a divulgação de


novos talentos na escrita. Quer ver a
Em um mundo cada vez mais imerso na tecnologia, a transição sua história no aplicativo também? É
da literatura tradicional para aplicativos interativos tem se só mandar ao nosso e-mail.
mostrado uma forma inovadora e envolvente de cultivar o
hábito da leitura desde cedo. MIDINHO
Neste contexto, apresentamos uma seleção de cinco Canal de vídeos sobre Midinho, o
aplicativos que não apenas entretêm, mas também estimulam o Pequeno Missionário. A série gira em
desenvolvimento cognitivo e imaginativo dos pequenos. torno de Midinho, um garoto evangélico
A leitura, além de ampliar o vocabulário, contribui que sempre carrega sua Bíblia
para a concentração e o desenvolvimento psíquico das contando as histórias e retirando delas
crianças, tornando-se um valioso veículo de aprendizado e um ensinamento a ser aplicado.
entretenimento.
Com o intuito de aproveitar a imersão das crianças no
mundo digital, os aplicativos destacados oferecem desde sheila amorim
histórias bíblicas interativas a contos clássicos, proporcionando editora da revista
uma experiência rica em ilustrações coloridas, animações vida&caminho
envolventes e atividades educativas.

62 vida & caminho - outubro / novembro / dezembro


TESTEMUNHO MINISTÉRIO DA ORAÇÃO

Milagre nas Torres


de Oração

eu nome é Terezinha Faus-


tino. Sou membro da IPI
m do Jardim Pacaembu,
Campinas, SP, intercesso-
ra e plantonista na Torre
de Oração Presbiterial de Campinas.
Quero compartilhar com vocês o que
o Senhor tem feito na minha vida neste
ministério tão abençoado que colocou
em minhas mãos. sência, orando pelos pedidos da Torre.
Quando recebi o convite para par- Oito pessoas oram hoje em meu plan-
ticipar da Torre de Oração (do Movi- tão. Criei com cada uma delas um víncu-
mento Nacional de Oração da IPI do lo de amor, carinho, união, ajuda, com-
Brasil), eu disse ao Senhor: preensão, algo extraordinário em minha
-“Como posso eu tão pequena orar vida, pois cuido das minhas ovelhinhas
junto a homens e mulheres tão sábios, e elas de mim. Conheço-as até no fa-
tão conhecedores da Palavra, pois nada lar, se alegres ou tristes estão e, embo-
posso, nada sei?” ra nunca as tenha visto pessoalmente,
E sua resposta foi: choro e me alegro com elas.
-“Sou Eu quem dou sabedoria e capa- Sou idosa, tenho mais de 70 anos, pró-
cito. Apenas vá, e em mim encontrarás teses e cirurgias pelo corpo todo, po-
tudo o que necessitares”. rém, hoje posso andar, sentar, levantar
E assim o fiz, com alegria no cora- e até ajoelhar sem dificuldades.
ção, olhando e sentindo bem perto a Oro em 4 Torres de Oração, dois gru-
presença do Senhor e dizendo, ao Es- pos de intercessão e digo: “Tudo posso
pírito Santo: SOU IDOSA, TENHO naquele que me fortalece”.
-“Usa-me”. O mesmo Deus de milagres de on-
Naquela época, mal conseguia an- MAIS DE 70 ANOS, tem é o de hoje.
dar e, muitas vezes, segurar o celular Venham buscar suas bênçãos!
nas mãos era impossível, pois me fal- PRÓTESES E Unam-se a nós em oração!
tavam forças. Orei chorando, triste,
muitas vezes. CIRURGIAS PELO Ele tem prazer em nos abençoar.
O Salmo 92 diz: “Na velhice ainda da-
Depois de muita humilhação, sempre
deitada em minha cama, mas mesmo
CORPO TODO, rão frutos; serão viçosos e vigorosos, para
anunciar que o Senhor é reto; Ele é a minha
sem poder sequer, por vezes, sinalizar,
não deixei de orar nenhum dia sequer.
PORÉM, HOJE rocha, e nele não há injustiça.”
Louvado seja o nome do Senhor!
Para completar minha alegria, e saben-
do o Senhor o quanto amo falar com Ele,
POSSO ANDAR, Amém e Amém!

fui convidada a ser plantonista. Teria,


então, que aumentar o meu horário de
SENTAR, LEVANTAR
uma para três horas de oração e, agora, E ATÉ AJOELHAR SEM terezinha de jesus de souza faustino
orar pelos que oram e, caso alguém se integra a torre de oração do presbitério de
ausentasse, necessitaria cobrir sua au- DIFICULDADES campinas, sp

a revista da família 63

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