VC 115 Web
VC 115 Web
DELAS
É O REINO
DOS CÉUS abor
espont to
a per
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crianç da de uma
a
e sp o n t p o r a b o r t o
Teologia para
â ne
menos o não é
ruim
a criança
Inestimável
Num mundo em constante transformação,
ao vermos as crianças como participantes ati-
vas na comunidade de fé, a igreja investe não
a
ganha destaque à luz de pesquisas que indicam a faixa nelas a herança do Reino dos céus.
etária entre 4 e 14 anos como crucial para a forma- Finalmente, a entrevista com Marlene Alme-
ção da fé (página 13). nara Silveira destaca que a reformulação das
Surpreendentes 85% das pessoas afirmam consolidar revistas e materiais de Escola Dominical nos
suas convicções nesse período, reforçando a pertinência da pala- anos 1980 e 1990 pela IPI do Brasil foi impul-
vra de Jesus sobre a necessidade de nos tornarmos como crianças sionada pelo entendimento de que as crianças
para entrar no Reino dos Céus. têm muito a ensinar aos adultos.
Nesta edição, propomos reflexões que desafiam a visão que re- A missão junto às crianças não é apenas um
lega as atividades voltadas às crianças como secundárias. dever, mas um investimento contínuo no futuro
A teologia apropriada e centrada nas crianças emerge como es- da fé, reconhecendo a capacidade das crianças
sencial, alinhada ao alerta do Instituto George Barna sobre a acen- de não apenas receber, mas também de contri-
tuada queda nas chances de conversão após os 15 anos. buir significativamente para a vida da igreja.
O chamado à mudança de mentalidade ecoa nas palavras do Convidamos você a analisar esta edição e a
Rev. Sérgio Gini, presidente da Assembleia Geral da IPI do Brasil, compartilhar suas impressões conosco!
que destaca a necessidade urgente de investimento significativo
no ministério infantil. A crítica ao tratamento inadequado dado à
internet ressalta a importância de abraçar a tecnologia como alia-
da, reconhecendo seu papel central na vida das novas gerações.
A narrativa bíblica é invocada para sustentar a relevância das
crianças na jornada espiritual. sheila amorim
editora da vida & caminho,
No debate, destaca-se a urgência de ações práticas, como a inte- jornalista e especialista em design
gração das crianças nas atividades regulares da igreja, a ênfase no en- e produção gráfica. membro da ipi
sino bíblico e a criação urgente de uma pastoral dedicada à infância. cidade patriarca, sp
a revista da família 3
SUMÁRIO OUTUBRO / NOVEMBRO / DEZEMBRO
[CAPA]
Seções e colunistas
PALAVRA DO LEITOR PAG. 6
delas é o reino
dos céus
VIDA & CAMINHO RESPONDE PAG. 7 fazer teologia de olho na criança também é um desafio urgente,
considerando que pode ser repensada e adaptada a partir da
capacidade das crianças — página 12
[DEBATE]
O ESPAÇO E A PARTICIPAÇÃO DA CRIANÇA NA [SOCIEDADE]
[MISSÕES]
[ESTUDO BÍBLICO]
JESUS E AS CRIANÇAS PAG. 48 [ENTREVISTA]
[SUPERAÇÃO]
[CLÁUDIA MARTINS E PAULO JÚNIOR ]
VOCÊ É CIUMENTO? PAG. 59 QUAL O DESEJO DO SEU CORAÇÃO?
Uma história de resiliência e fé na jornada para a maternidade —
página 44
VC RECOMENDA PAG. 60
[SAÚDE]
20 24
PRESBITERIANA INDEPENDENTE
DO BRASIL
Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 -
São Paulo/SP. Registrado, em
7/11/ 1974, no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial sob o n° 289 -
CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Sucessora da
Revista Alvorada, fundada em 3/2/1968 por
Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência
Mourão Cintra Damião, Isolina de Magalhães
Venosa.
40 SECRETARIA DA FAMÍLIA
Rev. Galdino Acassio Gomes Silva
CONSELHO EDITORIAL
Rev. Eugênio Anunciação, Rev. André Tadeu
de Oliveira, Rev. Gerson Correia de Lacerda,
Rev. Ézio Martins de Lima, Rev. Paulo
Câmara Marques Pereira Júnior, Presb.
Regiane S. Oliveira Von Atzingen, Fernando
Hessel
EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL
Sheila de Amorim Souza Mtb 31751
REVISOR
Rev. Gerson Correia de Lacerda
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Seivadartes
DELAS
da Silva, Matheus Fantin, Shirley Maria dos
Santos Proença, João Navarro, Érica Duarte
Coura Navarro.
É O REINO REDAÇÃO
12
Distribuição gratuita online.
Os artigos assinados não representam
necessariamente a opinião da revista.
Permitida a reprodução de matéria aqui
publicada, desde que citada a fonte.
a revista da família 5
PALAVRA DO LEITOR
canal aberto para nossa comunicação
ADOÇÃO
homossexualidade, saíram da igreja e
desafios e
possibilidades na
construção do
abandonaram a fé. Os pais se acham
vínculo familiar
a revista da família 7
SOCIEDADE ASSOCIAÇÃO BETHEL
Impactou o ministério diaconal da IPI do Brasil e das crianças ao longo da sua história centenária
BETHEL E AS
CRIANÇAS:
LEGADO DIACONAL PARA A IPI DO BRASIL
por éber ferreira silveira lima
O início
ras de Motta o remetiam frequentemente
o ano de 1921, o Rev. Othoniel a pastores da Europa que se preocupavam
tenção de Bethel. qual fazemos homens”. nando com sua classe e eficiência as
Anos depois, o Orfanato transfe- Muitos meninos de Bethel se tor- equipes das UMPIs que iam ao orfa-
riu-se para uma propriedade na ci- naram homens abençoados na vida! A nato para jogar torneios. Formou-se
dade de Sorocaba, SP, transforman- orientação recebida no “Lar da Igre- em Educação Física e foi professor
do-se no Lar Betel, ou ainda “Betel ja” os ajudou na construção de sua dessa disciplina na rede municipal
- Lar da Igreja”. vida adulta. Eles constituíram famí- de ensino de São Caetano do Sul, SP.
O impacto da criação de Bethel lia e seguiram seu caminho em paz Tantos outros que passaram por
foi muito grande na vida da IPI do e normalidade. Bethel tornaram-se homens de con-
Brasil. Era o primeiro grande esfor- Há betelinos que continuaram li- duta exemplar, bem-sucedidos em
ço denominacional no campo do que gados à IPI do Brasil e que hoje são seus estudos e profissões, cristãos
hoje chamamos de diaconia, minis- presbíteros, diáconos, professores dignos do nome de Jesus Cristo.
tério da igreja que vai além do ofício de escola dominical e líderes respei- E, dentre tanta gente bem educa-
diaconal ordenado. tados em suas igrejas. da e formada, foram muitos os que
Bethel acolheu, por décadas, em Houve também crianças de Bethel mostraram sua gratidão por terem
suas duas sedes históricas, dezenas que se tornaram adultos bem conhe- passado por Bethel.
e dezenas de meninos que encontra- cidos em suas respectivas áreas de O Estandarte de 15 de maio de 1950
ram amor, cuidado e dedicação dos atividade. registrou, em artigo de Carlos René
educadores e funcionários da insti- Figura de grande destaque foi o ar- Egg, a experiência exemplar de um
tuição e, também, das igrejas da de- tista plástico Samuel Salvado. Nas- desses ex-internos: “Como ave que
nominação, que sempre souberam cido em São Francisco do Sul, Santa volta ao ninho antigo, Betel recebeu
colaborar com o orfanato em sua de- Catarina, no ano de 1909, Salvado a visita desse jovem que viveu a sua
safiadora caminhada. passou por Bethel bem no comeci- infância no Lar da Igreja. Atualmen-
nho da instituição, ainda na Fazenda te residindo no Rio de Janeiro, bem
Pessoas que Deus usou Bethel, em Campinas. Desde cedo empregado, em férias, foi convidado
mostrava vocação para o desenho e a pela diretoria de Betel para gozá-las
Foram muitas as pessoas que se de- pintura. Já moço feito, estudou nos em Betel. Passou ele quinze dias com
dicaram ao trabalho de Bethel. No- Estados Unidos e se tornou um dos a nossa meninada”.
mes como os de Carlos René Egg, maiores especialistas em pinturas de
Hilda Pio da Silveira, Lauro Mon- orquídeas, com várias exposições de
teiro da Cruz, Janina Bressan Ra- suas obras no Brasil e no exterior.
mos, Alfredo de Barros Rangel e os Pastores também passaram por
de tantos outros irmãos e irmãs de- Bethel quando crianças ou adoles-
vem ser sublinhados como servas e
servos de Deus que ofereceram seu
centes. Alcides Carlos de Oliveira,
nascido em 1907, ingressou em Bethel
BETHEL ACOLHEU, POR
tempo e aptidões para administrar
a instituição e cuidar das crianças.
no ano de 1923, juntamente com seu
irmão. Foi contemporâneo em Be-
DÉCADAS, EM SUAS DUAS
Em relatório publicado em O Es-
tandarte, no número de julho de 1978,
thel de Samuel Salvado e de Adolpho
Machado Corrêa. Membro da IPI
SEDES HISTÓRICAS,
o então presidente do Conselho Ad- do Brasil, Alcides foi eleito presbí- DEZENAS E DEZENAS
ministrativo de Betel, Presb. Hélio tero em sua igreja. Na maturidade, o
Teixeira Callado, afirmava que “de Senhor o chamou para o ministério DE MENINOS QUE
Betel nunca ocorreu uma fuga sequer pastoral. Foi ordenado ministro da
de internos”. Essa frase enfatiza a IPI do Brasil em 1963. Jubilado em ENCONTRARAM AMOR,
qualidade de atendimento e o nível 1975, continuou a pastorear igrejas
alto de aceitação pelas crianças e ado- ainda por alguns anos. CUIDADO E DEDICAÇÃO
lescentes dos cuidados recebidos. Até mesmo atletas! Vicente França,
o Vicentinho, foi jogador profissional DOS EDUCADORES
de basquete, atuando pelo Palmeiras
Crianças de Bethel
(no qual sagrou-se campeão) e outras E FUNCIONÁRIOS DA
Uma placa encimava o portão de equipes importantes do Brasil nos
entrada de “Betel - Lar da Igreja” em anos 60. Quando era menino de Be- INSTITUIÇÃO E, TAMBÉM,
Sorocaba: “Os meninos são o único
material que Deus nos deu com o
tel, já compunha o quinteto de “bola
ao cesto” da instituição, impressio-
DAS IGREJAS
a revista da família 11
CAPA O REINO É DAS CRIANÇAS
a relação da criança com o transcendente e o jeito natural de crer têm muito a ensinar aos adultos sobre deus
DELAS
É O REINO
DOS CÉUS
Teologia para
a criança
por marcos stefano
a revista da família 13
CAPA O REINO É DAS CRIANÇAS
a revista da família 15
CAPA O REINO É DAS CRIANÇAS
porções continentais.
Cada um usava seu material e era preciso unifi-
car, produzir algo adequado à nossa herança pres-
biteriana e que refletisse as preocupações e orien-
tações da direção nacional, costurar o coração em
uma só igreja.
Elaboramos materiais para cada idade, procu-
ramos trazer novos elementos para incrementar o
conhecimento dos professores, conscientizá-los a
respeito do desenvolvimento psicológico da criança.
De forma complementar, viajamos pelo país para
dar cursos e treinamentos. Minha responsabilida-
de principal foi a elaboração de material para ado-
lescentes, mas ajudei também com a produção de
material para crianças.
a revista da família 17
CAPA O REINO É DAS CRIANÇAS
não ficam apenas nos pequenos que No entanto, mesmo pequenas igre- Os cultos são desenvolvidos por
estão dentro do templo. Voltam-se jas, sem a mesma estrutura, podem faixas etárias, com materiais
para aqueles que estão fora e preci- impactar as crianças de seu entor- didáticos próprios e
sam ser alcançados pelo Evangelho. no. Basta visão, criatividade e dispo- em salas separadas.
Além de realizar eventos abertos sição. “Em nossa igreja, o ministério Já as células in-
a toda a comunidade, eles fazem re- infantil é desenvolvido por uma mis- fantis nos bairros
uniões nas casas e outros locais em sionária, que coordena os projetos e são um meio de evan-
diferentes bairros da cidade, forman- por monitoras voluntárias. Também gelismo, além do tradi-
do pequenos grupos de crianças com envolvemos as famílias e incentiva- cional evangelismo de rua
foco na evangelização. Projetos de mos o culto nas casas como forma de com as crianças e os adoles-
contraturno escolar atendem crian- discipular as crianças”, explica o Rev. centes, realizado com entrega
ças de diferentes idades, privadas de Douglas Santos, pastor da IPI de Os- de folhetos, exposição de fra-
condições financeiras e que não são valdo Cruz, no interior de São Paulo. ses de impacto e passagens bíblicas
da igreja. Não se trata apenas do re- Tudo é planejado no início de cada em faixas e apresentações musicais.
forço escolar, do ensino de artes e de ano. E, ao longo do período, são reali- “Uma igreja que preza o trabalho
teatro; evangelizar e discipular são zadas gincana bíblica, tarde da alegria infantil está olhando para o futuro,
metas sempre presentes. nos bairros, Cultos Kids presenciais mas o construindo no presente. Te-
Trabalhos como o desenvolvido no templo, escola bíblica de férias, mos hoje em nosso meio muitas fa-
em Londrina se tornaram referên- evangelismo de rua, acampadentro mílias que se converteram a Jesus e as
cia para muitas outras igrejas. e outras atividades. crianças foram o instrumento de Deus
servaremos o melhor espaço e os maiores recur- mesma. Não se esqueçam de que os pais também
sos para elas. devem ser envolvidos.
Também devemos conhecer nossas crianças. Esse
conhecimento vem pelo “ouvir” antes de falar. O muitos apontam a escola ou a universidade e os
material do aluno não é para ser ouvido e aceito. relacionamentos como culpados pela saída da
É para levantar o conhecimento, a maneira como igreja quando as pessoas chegam à adolescência
a criança está entendendo, para que você saiba ou à idade adulta. como fazer a transição do
como abordar os assuntos de maneira que a criança cultinho para o culto no templo de forma a não
absorva e grave de forma a enriquecer a formação perder essas pessoas?
de seus valores. Em todo o processo, a igreja toda tem que es-
tar envolvida.
Um dos grandes desafios para as igrejas é Aqui, eu gostaria de dar ênfase à participação
trabalhar e alcançar crianças que estejam gradual dos adolescentes.
fora dos templos, principalmente as que estão São eles que, nessa fase da vida, estão priorizando
em situação de vulnerabilidade. Como lidar com as ideias do grupo e se fechando para os adultos.
tal situação? Dada essa importância do grupo, sugiro que ati-
Novamente: temos que conhecer o universo des- vidades possam ser programadas na igreja ou fora
sas crianças. Temos possibilidades de chegar até dela, como acampamento, acampadentro, esportes.
elas? De que forma isso vai ser feito? Também envolver o pastor e adultos que sejam
Se forem fazer parte da Escola Dominical, é preciso bem aceitos por eles ajudará a formar o grupo den-
saber como fazê-lo. Elas não podem se sentir estra- tro da igreja.
nhas ou serem tratadas de forma diferente do grupo. No começo, eles se manterão por causa do grupo.
O que fazer? Discutam, decidam e programem esse Aos poucos, farão parte por conta própria.
momento da igreja. Procurem pessoas que tenham Na participação no culto, a música pode aju-
condição e conhecimento para ajudar nessa tarefa. dar muito.
Se for um trabalho fora da igreja, a sugestão é a Alguns cultos podem ser programados com a
participação deles na liturgia. Nesses dias, o púl- Mesmo com tantas dificuldades, ainda é possível
pito deve estar preocupado com uma mensagem preparar as novas gerações para enfrentar o
que seja significativa para eles. Para não chegar mundo moderno? Como?
à universidade e enfrentar um choque de ideias, Vivemos dias difíceis em que os valores não es-
sem saber como agir e sem saber como ser ajuda- tão apenas mudando, mas sendo totalmente dei-
do, o pastor e os adultos, que tenham capacidade xados de lado. Seu lugar é tomado por um indivi-
de conversar e serem ouvidos por eles, podem aju- dualismo que satisfaz porque não exige compro-
dá-los a responder os questionamentos. metimento com o outro.
Cuidado com os ensinamentos cifrados ou com
Qual é o papel dos pais e das famílias na evan- ensinamentos que querem nos levar para um lugar
gelização das crianças? protegido de tudo e de todos!
O conhecimento de Deus começa assim que o É preciso conhecer nossa realidade e ajudar nos-
bebê nasce. Na primeira oração que os pais fazem sas crianças, adolescentes e jovens a saberem como
para agradecer a bênção que receberam e assumi- lidar com a vida como cristãos conscientes.
rem o compromisso de criarem seu filho para Deus. Jesus nos diz que “somos o sal da terra”. Não
Em todos os momentos da vida, a criança aprende. para nos escondermos, mas para salgar na medida
Mas o que as famílias estão ensinando? O rela- certa o nosso mundo.
cionamento entre os pais e dos pais com seus filhos Mas, se os nossos jovens não tiveram boa alimen-
retratam os valores do Reino, que Jesus veio nos tação desde pequeninos, vão ter dificuldades de
ensinar? Como anda o amor, o respeito, a gratidão, enfrentar a realidade da vida adulta porque rece-
a misericórdia, o perdão? São vividos e ensinados beram uma educação que não os ajuda a resolver
em casa pela família? os problemas.
A igreja tem a responsabilidade de um ensino Educação é igual a valores. Que valores a igreja
específico, mas, se a realidade desse ensino não é está passando?
vivida em casa, não será uma vez por semana, em
pouco tempo, que a criança vai suprir o que não
recebe da família.
a revista da família 19
MISSÕES CRIANÇAS E MISSÕES
quantas crianças que choram todos os dias por socorro são alvo de ações missionárias?
SEGUIR A JESUS É
FAZER MISSÃO
COLOCANDO A
criança
NO CENTRO por welinton pereira da silva
Andre Melcher
n discípulos chegaram
a Jesus e perguntaram:
"Quem é o maior no Rei-
no dos céus? Chamando
uma criança, colocou-a no meio deles,
e disse: Eu lhes asseguro que, a não ser
que vocês se convertam e se tornem como
crianças, jamais entrarão no Reino dos
céus. Portanto, quem se faz humilde como
esta criança, este é o maior no Reino dos
céus. Quem recebe uma destas crianças
em meu nome, está me recebendo” (Ma-
teus 18.1-5).
Creio ser importante lembrar a de-
finição de missão e missões, duas pa-
lavras-chave no cumprimento do nos-
so dever como discípulos de Jesus.
A missão é um mandato. É muito
comum o mundo diplomático usar
este termo para definir o represen-
tante de um país em missão diplo-
mática, ou seja, a pessoa está ali em
nome do país que a enviou, mas não
fala em seu próprio nome e, portan-
to, deve ser fiel àquele que a enviou.
Esta mesma concepção se aplica
na missão e missões, a Missio Dei,
que significa que Deus tem o obje-
tivo de reconciliar e restaurar o ser
humano e todas as coisas para o seu
propósito.
A missão de Deus no mundo é es-
tabelecer o seu Reino.
Participar da construção do Reino
de Deus, pelo Espírito Santo, consti-
tui-se na tarefa primordial da igreja.
Isso é a evangelização.
E onde entra a criança na Missio
Dei?
a revista da família 21
albertolopezphoto
MISSÕES CRIANÇAS E MISSÕES
Como cristãos e seguidores de é relatada a ordem do Faraó para ira dos deuses.
Jesus, devemos ter o olhar sempre que fossem assassinadas todas as Vejamos, por exemplo, o Rei
atentos a Jesus. Nesse sentido, a vida, crianças do sexo masculino que Acaz: “Tinha 20 anos quando come-
o ministério e todos os atos de Je- nascessem da comunidade dos is- çou a reinar, e reinou em Jerusalém
sus devem servir para nos inspirar raelitas. por dezesseis anos. Ao contrário de seu
na grande tarefa de evangelização “O faraó, rei do Egito, deu a seguinte antepassado Davi, não fez o que era
do mundo. ordem às parteiras hebreias Sifrá e Puá: certo aos olhos do Senhor, seu Deus.
No Evangelho de Mateus 18, Je- Quando ajudarem as hebreias a dar à Em vez disso, seguiu o exemplo dos reis
sus acolhe uma criança e a coloca no luz, prestem atenção durante o parto. Se de Israel e até sacrificou seu filho no
meio, mas, antes, faz duras adver- for menino, matem o bebê; se for menina, fogo. Desse modo, seguiu as práticas
tências aos discípulos que queriam deixem que viva”. detestáveis das nações que o Senhor
impedir que as crianças e seus fami- Vemos aqui claramente a ordem havia expulsado da terra diante dos
liares chegassem até ele. de um governante para o assassinato israelitas” (2 Reis 16.2-3).
Jesus deixa claro o lugar que a crian- de bebês recém-nascidos. Essa or- Os sacrifícios de crianças era um
ça deve ocupar na missão que ele veio dem era considerada divina. Apesar costume das nações pagãs que viviam
desenvolver no mundo. da ordem do faraó, temos o registro na mesma região de Israel, mas in-
Certamente os discípulos de Je- bíblico da desobediência das partei- felizmente o povo de Deus acabou
sus devem ter se escandalizado ao ras por amor às crianças e o temor assimilando essa péssima prática que
vê-lo não apenas acolher as crianças, a Deus. não agradava a Deus, mas contraria-
mas dizer que o critério para entrar São vários os relatos no Antigo va a vontade do Deus da vida e liber-
no Reino dos Céus é ser como elas. Testamento onde a criança não é tador. Porém, Deus sempre esteve
contada; pelo contrário, em algu- atento às necessidades das crianças
A SITUAÇÃO DAS CRIANÇAS mas culturas antigas era comum o e, no episódio do faraó que mandou
NOS TEMPOS DO ANTIGO sacrifício de crianças. O povo cana- matar os bebês, levantou parteiras
TESTAMENTO neu tinha o costume de oferecer seus para salvá-las, demonstrando seu
No livro de Êxodo, capítulo 1 e 2, filhos em sacrifício para apaziguar a amor e cuidados.
a revista da família 23
ENTREVISTA VALDIR STEUERNAGEL
uma teologia centrada na criança
espiritualidade simples
e confiante das
o
Olho na Criança" ressoa como segurança e inclusão das crianças na igre-
uma busca por uma teologia ja, realçando a responsabilidade das insti-
menos acadêmica e mais rela- tuições em tornar esses ambientes verda-
cionada com a vida cotidiana, deiramente acolhedores e seguros para os
inspirada pelas experiências vividas. O Rev. pequenos.
Valdir destaca a importância de aprender A conversa também destaca o diálogo in-
com a espiritualidade simples e confiante tergeracional na igreja, evidenciando a ne-
das crianças, identificando nisso uma lição cessidade de se reconhecer a importância e
valiosa para os adultos. potencial das crianças em todas as fases de
Ele ressalta que as crianças não são meros suas vidas, sem esperar que cresçam para
receptores, mas mestres na vida espiritual serem plenamente reconhecidas.
dos adultos, desafiando e reformulando con- O Rev. Valdir encerra enfatizando a vita-
ceitos e práticas teológicas estabelecidas. lidade que as crianças trazem para a comu-
Ele destaca o contraste entre a sabedo- nidade e como é essencial permitir a expres-
ria das crianças e a postura acadêmica, en- são de sua vitalidade e caos, enriquecendo a
fatizando a necessidade de um novo olhar experiência da igreja como um todo.
para a teologia, que não apenas fale sobre A entrevista destaca a necessidade de
a vida, mas que faça parte da vida. criar um espaço inclusivo, onde todos são
bem-vindos, aceitos e valorizados, É importante destacar que este livro QUAL FOI O PAPEL DE SEUS SETE NETOS
refletindo o tipo de comunidade que não trata do nosso ministério junto E AS EXPERIÊNCIAS COM AS CRIANÇAS
Jesus valoriza. as crianças, mas de como as crianças ATENDIDAS PELA VISÃO MUNDIAL NA FOR-
ministram a nós, adultos. Ou seja, MAÇÃO DE SUA PERSPECTIVA E PRÁTICA
como as crianças nos ensinam o ca- TEOLÓGICA?
RECENTEMENTE O SENHOR LANÇOU O minho do encontro com Jesus e do As crianças chegaram e os netos che-
LIVRO "FAZENDO TEOLOGIA DE OLHO NA seguimento a ele. garam. Na época, eu estava mergu-
CRIANÇA". PODE COMPARTILHAR ALGU- Este Jesus que coloca a criança no lhado de cabeça na Visão Mundial
MAS EXPERIÊNCIAS ESPECÍFICAS QUE círculo dos discípulos e lhes diz que Internacional1 e vivendo uma agitada
O LEVARAM A COLOCAR A CRIANÇA NO se querem ter alguma parte no Reino agenda, o que não facilitava escutas
CENTRO DE SUA ATUAÇÃO MINISTERIAL? de Deus precisam ser como elas, as e mudanças.
Cada livro é também um “momento” crianças (Mc 9.35-37). Destaco, aqui, três das coisas que
e nele vamos encontrando palavras Em minha caminhada teológica, foram me acontecendo.
para descrever cenas, eventos e en- eu tenho me percebido desafiado a A primeira tem a ver com a espiri-
contros que vão dando cores e sabo- viver isso, a me converter a isso. tualidade. A minha área de respon-
res a tempos, a lugares e experiências Eu sou formado no marco de uma sabilidade na Visão Mundial tinha a
que vão moldando quem somos. As- teologia acadêmica que crê deter a ver com a manutenção e alimenta-
sim foi com o livro “Fazendo Teolo- sabedoria e o conhecimento que pro- ção da nossa identidade cristã e de
gia de Olhos nas Crianças”. veem as respostas para a vida e, com como esta poderia ser transforma-
A teologia que abraçamos e confes- os anos, fui vendo a limitação e até a da em testemunho de fé, também
samos é também uma espécie de au- arrogância embutida nela. Fui ven- e especialmente junto as crianças.
tobiografia, pois ela é reflexo do que do que esta teologia que “quer saber Aprendi então que, enquanto eu
vamos crendo e assumindo, gestan- mais” tem dificuldade e nem sabe se estava preocupado com a espiritua-
do assim a nossa identidade. Somos relacionar com a vida humana e suas lidade das crianças, eu deveria estar
a nossa teologia e assim foi com este complexidades. preocupado é com a minha espiritua-
livro que tem na capa o exuberante Esta acabava sendo uma teologia lidade. As crianças, eu fui perceben-
e contagiante rosto “desta menina”. envolta em si mesmo e distante da do, abraçavam uma espiritualidade
A menina, pois, que brilha na capa cotidianidade da vida. natural, simples e confiada, enquan-
deste livro simboliza o centro do mes- Percebendo isto, reconheci que ca- to eu buscava conceituações e for-
mo: um esforço para viver em sinto- recia desconstruir essa “teologia sa- mulações que não necessariamente
nia com os evangelhos, sempre ou- bidona”, que estava também dentro geravam nem confiança e nem es-
vindo a Jesus. É simples assim e é de mim, para buscar um outro jeito perança, mas certamente agitação
desafiador assim. de entender e viver teologia. A teo- no coração.
logia que nada mais é do que a media- Eu fui percebendo, assustado, que
QUAL FOI O MOMENTO OU EXPERIÊN- ção entre a palavra que Deus pronun- a minha abordagem adulto-cêntrica
CIA QUE O INSPIROU A REPENSAR A cia, a aproximação desta palavra pela
1 a visão mundial internacional é uma ong cristã
TEOLOGIA TRADICIONAL E COMEÇAR A ação do Espírito entre nós e em nós, que atua em muito lugares do mundo ministrando
ENFOCAR A IMPORTÂNCIA DAS CRIANÇAS e a vivência de nossa fé em sintonia junto a crianças em situação de vulnerabilidade e
NA TEOLOGIA? com esta palavra em nossa realidade. em emergências tanto naturais como humanamente
provocadas.
a revista da família 27
ENTREVISTA VALDIR STEUERNAGEL
divulgação
do, eu tive a oportunidade de rever a dando que tenho uma família que uma aventura, mas uma decisão vital
vivência da minha paternidade, com me ajuda nisso. que deve marcar a vida todos os dias
as suas ênfases e exageros quanto à em meio a todas as circunstâncias.
rigidez e à disciplina – em típica pos- QUAIS SÃO ALGUNS DESAFIOS E OBS- A caminhada teológica é assim: uma
tura adulto-cêntrica – para deixar flo- TÁCULOS COMUNS AO PROMOVER UMA maratona. Ela é marcada pelo nosso
rescer dimensões da minha huma- TEOLOGIA CENTRADA NAS CRIANÇAS E contínuo relacionamento com a Pala-
nidade, da beleza da graça e de uma COMO O SENHOR OS SUPEROU? vra de Deus, está aberta ao sopro do
relacionalidade marcada pela hori- Eu gosto muito de uma expressão Espírito que sempre nos surpreende
zontalidade do acolhimento e não que o Eugene Peterson utilizou quan- pois “sopra onde quer”, encontra for-
simplesmente pela verticalização. do ele descreve a fé cristã como um ças e desafios na comunidade de fé e
Este não tem sido um processo li- longo caminho na mesma direção. vive com as antenas ligadas quanto
near e tem dias que estou mais con- Gosto dessa expressão pois ela apon- ao tempo que vivemos.
vertido que noutros, sempre recor- ta para o fato de que a fé cristã não é Essa caminhada teológica busca
estar centrada em Deus, está aber- nossa jornada de fé, e disso estou é uma pessoa inteira, como criança,
ta para revisões e reencontros com cada vez mais convencido. e não precisa esperar crescer para
a graça e com os desafios do tempo. ser alguém.
O que tenho percebido, no entan- QUAL É A IMPORTÂNCIA DE PROMOVER A Termino esta minha conversa com
to, é que este não é um caminho nem SEGURANÇA DAS CRIANÇAS NA IGREJA E uma história.
fácil e nem natural. Aliás, tenho per- NA SOCIEDADE, COMO EVIDENCIADO EM Lá em casa, a Silêda e eu tivemos
cebido que preciso cuidar para não SEU TRABALHO COM A VISÃO MUNDIAL? quatro filhos. Eles nasceram perto um
ficar, com o tempo, mais rígido, mais No outro dia, eu participava de um do outro e foram crescendo juntos.
rançoso e menos gracioso e aberto dos nossos programas intitulados Quando a adolescência deles che-
para novas escutas e novos desafios. “Igreja Segura para as Crianças” e o gou, foi um caos, intensificado pelo
A teologia que mantém a crian- palestrante nos dizia que pesquisas fato de vivermos num apartamento.
ça no centro, como Jesus o fez, me têm mostrado que o lugar mais in- Eu já não aguentava e ficava recla-
questiona em minhas afirmações e seguro para as crianças, em nossas mando com a Silêda: “não aguento
me desafia para novas vivências. igrejas, é a caminho para o banheiro. essa bagunça”.
As crianças fazem exatamente isto Será, eu pensei comigo mesmo? O tempo passou, os “meninos”
e Jesus queria levar os seus discípu- Nunca havia pensado nisso. Por ve- cresceram e foram embora. Então,
los a esta compreensão e experiên- zes, pressupomos que nossas igrejas me vi andando pelo apartamento
cia. Não foi fácil, mas ele insistiu. são lugares seguros para as crianças e reclamando de novo: “Onde es-
e nem nos damos conta de quanta tão esses meninos? Cadê o barulho?
COMO A "NATURALIDADE DOS PEQUENOS" vulnerabilidade e quantos riscos as Cadê o caos? Cadê a vida que esses
PODE SERVIR COMO UM LEMBRETE crianças e, geralmente, também as meninos traziam para esta casa?”
IMPORTANTE PARA OS ADULTOS EM SUA suas mães, experimentam em nos- Acabei concluindo que este era
JORNADA DE FÉ? sas igrejas. muito melhor do que o silêncio
A “naturalidade dos pequenos” se Portanto, cada igreja deve decidir da ausência.
expressa de muitos jeitos e assume transformar a sua igreja num lugar A igreja precisa ser este lugar do
formas diferentes em diferentes si- seguro, buscando a ajuda necessária “barulho e do caos”, pois isto é sinal
tuações. Essa naturalidade pode ter para que isto se torne uma realidade. de vitalidade. Para que isto aconte-
relação com uma confiança simples, ça, no entanto, a igreja precisa ser o
uma entrega irrestrita, uma busca QUAL É O LUGAR DO DIÁLOGO INTERGERA- lugar aberto, onde todos são bem-
sincera e uma expressividade trans- CIONAL NA IGREJA E COMO AS CRIANÇAS -vindos e todos são reconhecidos em
parente, para iniciar uma lista que os PODEM SER INCLUÍDAS DE MANEIRA sua potencialidade e em suas neces-
leitores podem continuar. SIGNIFICATIVA NESSE DIÁLOGO? sidades. Um lugar onde todos têm
Ou seja: a rua está movimentada Temos afirmado, muitas vezes, que vez e voz, dentro de uma construção
e o adulto olha para a direita e para a igreja é o “lugar” onde todos têm comunitária que permita uma con-
a esquerda para achar uma brecha “lugar” e isso me parece uma das ex- vivência mútua onde haja tempo de
para atravessá-la. Quando esta bre- pressões mais bonitas que brotam paz e tempo de barulho, tempo de
cha chega, o adulto estende a mão dos evangelhos. escuta e tempo de falação, tempo
à criança que o acompanha e essa Nesse lugar, o diferente é bem-vin- de acolhimento e tempo de disci-
responde encaixando a sua mão na do, o estrangeiro é acolhido, o idoso plina, tempo de correr e tempo de
mão do adulto e atravessa a rua não é cuidado e a criança é reconhecida descansar. Tempo de escutar e tem-
por causa da “brecha,” mas por cau- e endossada em toda a sua humani- po de compartilhar.
sa da confiança. dade e potencialidade nela presen- A sua igreja é um lugar assim?
Confiança é a palavra-chave em te em cada uma de suas idades. Ela É desse lugar que Jesus gosta!
a revista da família 29
DEBATE CRIANÇA NA IGREJA
o estímulo para que se sintam parte integral do corpo de fé
O espaço e a participação da
criança na igreja
a importância da participação ativa das crianças na vida da igreja não se limita a um mero
reconhecimento simbólico. envolve um compromisso genuíno em acolher, ensinar e nutrir suas
jornadas espirituais. este reconhecimento requer um olhar mais amplo, considerando não apenas
as práticas convencionais de "culto infantil", mas também a integração efetiva delas na
vida litúrgica e comunitária da igreja.
o
debate desta edição res- lhedora em que sejam reconhecidas O primeiro princípio desse texto
salta um ponto crucial como membros ativos e valiosos da bíblico é que houve uma condução.
muitas vezes subesti- congregação. Alguém levou a criança até Jesus, seja
mado: as crianças não são Isso implica rever práticas, lingua- seus pais, amigos da família ou avós.
apenas o futuro, mas uma gem e estruturas para assegurar que Precisamos de pessoas dispostas a
parte essencial da igreja as crianças se sintam pertencentes e conduzir as crianças até Cristo.
no presente. A visão de integrá-las capazes de contribuir efetivamente. Após as crianças chegarem até Je-
de maneira significativa na vida ecle- Ao ver as crianças como partici- sus, elas foram impedidas por aqueles
siástica vai além de simplesmente pantes ativos da comunidade de fé, que deveriam abrir espaço para elas.
incluí-las em atividades separadas. a igreja não só as prepara para o fu- Creio que isso ocorreu por uma falta
Trata-se de reconhecer o valor in- turo, mas investe na formação es- de compreensão e até mesmo precon-
trínseco que as crianças têm na co- piritual e no crescimento presente. ceito que, naquela época, era muito
munidade de fé. Esse reconhecimento não somen- grande com relação à criança. Não
A comunidade eclesiástica desem- te fortalece a comunidade, mas tam- podemos repetir isso como corpo de
penha um papel crucial nesse proces- bém reflete o amor e a aceitação que Cristo. Em vez de criar barreiras, deve-
so. É necessário um esforço coletivo Jesus mesmo demonstrou às crian- mos ser aqueles que abrem caminho.
para capacitar, apoiar e envolver as ças, convidando a todos a imitar esse O último princípio é o relaciona-
crianças em todas as dimensões da exemplo de cuidado e inclusão. mento da criança com Jesus. As crian-
vida da igreja. ças podem se relacionar com Jesus,
Isso envolve a educação espiritual, pois possuem a capacidade de viver
o respeito por suas capacidades, a esse relacionamento e têm a bênção
criação de espaços onde possam ex- de Cristo para estar com ele de for-
pressar suas vozes e talentos, e o es- BÍBLIA PRINCÍPIOS ma íntima, pois Jesus as tomou em
tímulo para que se sintam parte in- Quais são os princípios que você seus braços.
tegral do corpo de fé. extrai do episódio de Jesus com as
Não se trata apenas de oferecer crianças em Marcos 10, e como eles Rev. Matheus Fantin, pastor
atividades específicas para elas, mas podem ser aplicados em relação às de crianças da IPI Central de
de criar uma cultura inclusiva e aco- crianças na igreja? Presidente Prudente, SP
a revista da família 31
DEBATE RACISMO
a revista da família 33
DEBATE RACISMO
Não se trata apenas de estar em relações desajustadas, observam se elas cultuam ao Senhor.
uma sala, mas de ter um objetivo de- há coerência entre o que é dito e as
finido, no qual a criança não é o cen- ações, entre outras coisas, e formam Rev. João e Érica
tro principal, mas, sim, a Palavra de a própria opinião a respeito do que
Deus e a adoração ao Senhor Jesus. é ser igreja e sua significância para LIDERANÇA PRÁTICA
a vida. Qual é o papel dos líderes da igreja
Rev. Matheus Outro desafio é encontrarmos pes- na promoção da importância do
soas dispostas a atuarem na área de culto com crianças e na adoção
O culto infantil é extremamente educação cristã com as crianças. Vi- de práticas que valorizem sua
necessário. A maioria dos pregado- vemos um tempo de sobrecarga de participação ativa na vida da igreja?
res não prega com uma linguagem e trabalho e são raras as pessoas que
didática que seja acessível às necessi- se dispõem a se envolver com o mi- O papel da liderança é essencial.
dades e capacidades das crianças. É nistério infantil. Algumas, porque A igreja terá a visão dos líderes. São
preciso oferecer a elas um ambiente já se sentem exaustas; outras, por- eles que precisam valorizar e incen-
seguro para que sua compreensão que não querem se comprometer; tivar as práticas da participação das
do cuidado, do amor e da bondade outras que estão desanimadas e de- crianças no culto e no espaço apro-
de Deus se dê de forma natural, ali- sinteressadas. priado para elas, inclusive com apoio
mentando a sua imaginação espiri- financeiro, material didático e, so-
tual, adaptada para sua idade. Rev. Shirley bretudo, com o recurso humano, que
faz toda a diferença!
Rev. João e Érica Sim, muitos. Falta, em algumas si-
tuações, visão da necessidade desse Rev. João e Érica
CRIANÇA MINISTÉRIOS investimento intencional no cresci-
Existem desafios de envolver as mento espiritual das crianças. Alguns Os líderes precisam ser criadores
crianças em ministérios da igreja? realmente não acham isso necessário. de oportunidades e discipuladores,
O argumento é que não há exem- levando as crianças a se envolverem
O maior desafio é acreditar na ca- plos bíblicos de retirada das crianças e abrindo espaços para elas partici-
pacidade espiritual da criança. Mui- do ambiente de adultos. Mas esque- parem ativamente. Isso é possível
tas pessoas acham que a criança só cem que também não há proibições quando percebemos que elas não es-
estará preparada para se relacionar de tirá-las deste ambiente adulto por tão apenas sendo treinadas, mas já
com Deus quando atingir uma cer- um momento. podem exercer papéis significativos.
ta idade e compreender questões É claro que não há relatos bíblicos
espirituais. de “culto infantil”. Elas nem sequer Rev. Matheus
No entanto, as crianças podem se eram consideradas.
relacionar com Deus, praticar a me- Existe até um provérbio rabínico Incentivando outras pessoas a se
ditação, o jejum e a oração. Criança que diz: “Prestar atenção às crianças envolverem no ministério infantil,
ora! Precisamos acreditar que elas é uma perda de tempo tão destruti- dando oportunidade para que haja
têm essa capacidade. va quanto beber muito vinho ou as- mais despertamento para importan-
Uma vez superado esse desafio, sociar-se com pessoas ignorantes”. te ação da igreja junto às crianças.
podemos proporcionar momentos Diferentemente do exemplo e con- Mostrar às crianças a importância
nos quais as crianças reconheçam as texto que acabamos de mencionar, da oração, orando com elas e por elas;
áreas ministeriais com as quais têm hoje tem-se conhecimento maior a incentivar a contribuição como parte
afinidade e permitir que sejam ca- respeito do tempo que elas conse- do exercício cristãos, contribuindo;
pacitadas nelas. guem ficar concentradas de modo tratando as crianças sem preconceito
que o aprendizado tem melhor apro- e sem discriminação; acolher crianças
Rev. Matheus veitamento. de famílias com situação econômica
A lição bíblica é dada em uma lin- mais fragilizada e desenvolver planos
Entendo que um grande desafio é guagem que as crianças compreen- de trabalho que envolvam as crian-
ajudar as crianças a amarem a igreja. dem, com ilustrações que fazem sen- ças em atividades com idosos podem
Dificilmente as crianças vão valorizar tido ao mundo sensorial e cogniti- ser caminhos importantes para que
a comunhão na igreja se os respon- vo delas. toda a igreja se fortaleça ao colocar
sáveis consideram a igreja supérflua O ministério infantil não é um em prática o que está apresentado
e irrelevante em suas vidas. depósito de crianças, mas, sim, um nos evangelhos.
As crianças ouvem os comentários espaço de aprendizado, crescimen-
e as palavras depreciativas, veem as to e, sobretudo, um ambiente onde Rev. Shirley
DISCUSSÃO MUDANÇAS gem adequada para que pessoas de Desenvolver capacitação das pes-
Como envolver a comunidade de fé diferentes faixas etárias se sintam soas envolvidas no ministério infantil
na discussão e implementação de igualmente incluídas. juntamente com os desenvolvidos na
mudanças que tornem o culto mais igreja para que a unidade cristã seja
inclusivo e significativo para as Rev. Matheus percebida pelas crianças.
crianças?
Seria interessante reunir as lide- Rev. Shirley
A parceria entre a igreja e a família ranças dos segmentos e elaborar um
é essencial para que essa discussão projeto em que crianças e adolescen- Ensinando como Jesus tratava as
ocorra. A criança precisa se sentir tes pudessem ser incluídas em todas crianças. Ele é o nosso exemplo.
segura e parte integrante da vida co- as partes do culto. No culto infantil, além de aprende-
munitária da igreja, e os pais desem- Sugerir a preparação do culto, jun- rem a palavra de Deus, elas também
penham um papel importante nesse tamente com o pastor ou pastora e aprendem o que é conviver como co-
processo, demonstrando o amor e os responsáveis pelo departamen- munidade de fé.
compromisso pela igreja. to, por crianças e adolescentes e a Elas têm a oportunidade de crescer
Além disso, a comunidade de fé participação no desenvolvimento na experiência: de respeitar o espa-
deve apoiar essas famílias, criando da liturgia. ço uma da outra; de ouvir e ser ouvi-
momentos de capacitação tanto para Permitir apresentação teatral vol- da; de entender como é importante
as crianças quanto para os pais. tada para o tema do culto com mú- compartilhar para brincar junto; de
Isso permite que as famílias parti- sicas específicas, inserindo crianças desenvolver amizades cristãs, etc.
cipem ativamente nos ministérios e e adolescentes para aprender a sa-
que a igreja desenvolva uma lingua- ber-fazer. Rev. João e Érica
a revista da família 35
PAIS E FILHOS RELACIONAMENTOS TÓXICOS
a atual sociedade e cultura desafiam as mães e pais, que também são demasiadamente exigidos e cobrados
pais e mães
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e alucinante e de excesso de
informações fragmentadas
postadas nas redes sociais,
muito se fala sobre mães e
pais dominadores ou tóxicos.
O que será que podemos pensar de for-
ma mais abrangente sobre este intrigante
e sensível tema?
Os fenômenos que dizem respeito ao
comportamento humano são complexos
e dependem de uma série de variáveis que
vão se entrelaçando na história de vida de
cada um de nós, não sendo passíveis de
serem observados e analisados de forma
superficial, fugaz e fora de contexto.
É desejo comum termos uma vida boa,
de preferência desde que chegamos a este
mundo; sermos cuidadosamente bem re-
cebidos e supridos em nossas necessida-
des mais elementares.
Gozarmos de boas condições de vida
precisa ser uma luta incansável para to-
dos os seres humanos a fim de conquis-
por gabriela pedroso mourão de mello tarmos progressivamente uma sociedade
mais justa, igualitária e fraterna.
Conjecturamos que nossa personalida-
a revista da família 37
nd3000
PAIS E FILHOS RELACIONAMENTOS TÓXICOS
de já está sendo constituída desde o mos, vivemos e nos relacionamos é identificado com o momento exis-
ventre materno juntamente com a de grande importância para nossa tencial de vulnerabilidade e depen-
carga genética herdada e, desde en- qualidade de vida e saúde mental. Por dência absoluta do bebê, de modo
tão, já estamos experenciando a vida. esta razão, Winnicott tinha um tra- que atenda tanto as suas necessidades
De acordo com o pediatra e psica- balho de cunho preventivo a fim de físicas como as emocionais.
nalista inglês Donald Woods Winni- contribuir para o desenvolvimento É uma mãe e/ou cuidador profun-
cott (1896-1971), nascemos com um da saúde, procurando não somente damente envolvida/o, atenta/o e iden-
potencial inato para pleno desenvol- levar conhecimento aos profissionais tificada/o com as necessidades do
vimento e para a saúde - caso não da saúde, bem como à população de bebê e que, de modo sensível, vai ao
nasçamos com nenhuma síndrome uma forma geral. encontro dele e se adapta ativamen-
ou com nenhuma doença orgânica Para que o bebê se desenvolva bem te às suas necessidades; com a ajuda
que nos incapacite; caso as condi- ao nascer, ele necessita fundamental- de uma rede de apoio – como cônju-
ções ambientais sejam favoráveis, mente de uma maternagem suficien- gue, familiares, amigos, instituições
adequadas e confiáveis. temente boa. Ou seja, pode ser a mãe públicas e privadas.
Desta forma, é importante que to- que pariu ou, na ausência dela e/ou É no seio desta relação humana
dos tenham boas condições de vida conforme as novas configurações fa- primária que nos constituímos in-
nas esferas social, econômica, polí- miliares com diferentes arranjos, todo cialmente e progressivamente. O
tica e sanitária, o que facilita o aces- bebê precisa de um adulto cuidador, mundo ao redor do bebê vai se ex-
so à saúde. que esteja disposto a se responsabili- pandindo e as relações humanas se
A maneira como nos constituí- zar pelos cuidados dele – o qual esteja ampliando nos grupos sociais, como
a revista da família 39
PSICANÁLISE E ESPERANÇA ABORTO ESPONTÂNEO
a perda não deve ser considerada sob a perspectiva de que chegamos ao fim de tudo
LUTO APÓS
aborto ESPONTÂNEO
por leontino farias dos santos
leungchopan
a revista da família 41
luis quintero
PSICANÁLISE E ESPERANÇA ABORTO ESPONTÂNEO
a revista da família 43
SUPERAÇÃO GRAVIDEZ DESEJADA
uma história de resiliência e fé na jornada para a maternidade
enjoys25
h
determinação e vitórias moço em um restaurante perto do
são sempre inspirado- jornal onde trabalhamos. A gente se
ras. Mas é um privilégio conhecia havia pouco tempo, mas ela
quando elas acontecem já falava com muita convicção que
bem pertinho e somos testemunhas ia ter um filho.
da realização de um sonho. Nesse Era curioso ouvir aquele desejo de
caso, o nascimento de uma vida. uma mulher super descolada, que ama
Acreditar em algo que não se vê é os Rollings Stones, em ascensão pro-
o que chamamos de fé. Isso para nós, fissional e que sempre esteve rodea-
cristãos. Mas, no caso da minha amiga da de amigos.
e jornalista Tatiana Cavalcanti, que Tati não era (e continua não sen-
ainda não o é, foi muita resiliência e do) uma mulher que só se sentiria
teimosia, como ela mesmo define o completa se desse à luz a um filho.
período em que tentava engravidar. Ela sempre foi completa. Mas tinha
Lembro quando ela me falou pela um desejo que eu nunca tive: ser mãe!
primeira vez sobre o seu desejo de Naquele dia, ouvi e admirei pro-
a revista da família 45
SUPERAÇÃO GRAVIDEZ DESEJADA
Tatiana Cavalcanti três dias antes de dar à luz, no parque Ibirapuera. O coração foi feito com injeções usadas durante o tratamento
aplicar as injeções. Uma imagem car- “Ver a Olívia nos meus braços é te é ter a certeza de que Ele é o mes-
regada de emoções, mas sobretudo ver o meu sonho materializado. E ela mo Deus de Sara, de Ana e de Isabel.
de amor, que me comoveu profunda- veio muito mais perfeita do que po- Esse foi o desejo mais profundo
mente. Aquela imagem é a perfeita deria imaginar”, conta a mamãe Tati. do coração da Tati que Deus hon-
tradução de lutas e vitórias. Deus realmente faz muito mais do rou. E qual é o seu?
Olívia nasceu no dia 18 de abril des- que pedimos ou pensamos. Eu não
te ano, saudável e cheia de vida. Tati duvidei quando pedi a Ele que con-
se tornou mãe aos 43 anos, e está fe- cedesse o desejo do coração da Tati. regiane soares, jornalista, é
liz e realizada. Mas ver a Olívia tão linda e sorriden- presbítera licenciada da ipi do
ipiranga, em são paulo, sp
a revista da família 47
ESTUDO BÍBLICO AS CRIANÇAS
como jesus lidou com as crianças?
jesus e as
crianças por ézio lima e sandro xavier
Keira Burton
a revista da família 49
Allistair/peopleimages.com
ESTUDO BÍBLICO AS CRIANÇAS
guirem um “selo de pureza”. espiritualidade “desencarnada”, dua- Que mistério é uma criança!
As crianças, como as mulheres e lista, que não nos propõe a viver a fé Quem tiver percebido isso,
os escravos, eram consideradas pro- no chão das situações concretas da Está ligado às crianças pelo Me-
priedade dos homens adultos e não nossa vida e do mundo que nos cerca. nino Jesus2
eram nem sequer contadas entre a Como todos os meninos de Naza-
multidão: “...os que comeram foram qua- ré, Jesus viveu seus primeiros sete ou O CHAMADO PARA SER COMO
tro mil homens, sem contar mulheres e oito anos de sua vida sob o cuidado de UMA CRIANÇA
crianças” (Mateus 15.38). sua mãe e das mulheres de seu grupo Quero chamar nossa atenção para o
As crianças estavam, portanto, familiar. Nestas aldeias da Galileia, verbo utilizado: “Traziam-lhe” (“En-
na categoria dos “invisíveis para a as crianças eram os membros mais tão, lhe foram trazidas crianças”). O
sociedade”. Aliás, faz bem apontar fracos e vulneráveis, os primeiros a verbo, aqui, sublinha a dependência.
que a palavra grega para “criança” sofrer a consequências da fome, da Esse verbo é, frequentemente, utili-
refere-se a uma criança entre 7 e 14 desnutrição e da enfermidade. A mor- zado para os doentes e possessos que
anos de idade, e era utilizada também talidade infantil era muito grande”1. eram igualmente “levados”, “condu-
para “servo/escravo”, pois ambos não Não é verdade que precisamos zidos” à presença de Jesus para que
possuem qualquer autonomia; por- conversar mais sobre a fé em Cris- fossem curados e libertos (Marcos
tanto, são plenamente dependentes to que começa com a realidade con- 1.14ss; Mateus 4.24; 8.16; 9.2ss).
e subordinados. creta de que ele foi gestado e parido, Como já vimos, o termo “criança”
chorou, sujou os panos de fezes e de pode ser usado tanto para a criança
JESUS FOI CRIANÇA xixi, como toda criança. Deve ter-lhe no útero quanto para crianças em
Nem sempre nos lembramos disso, escorrido o nariz por algum vírus da idade até os 14 anos. Em todo caso,
mas Jesus não nasceu adulto. O fato gripe, tido noite com febres, corta- a palavra aponta para a integral de-
de que a imensa maioria dos sermões do o dedo nas ferramentas de José pendência.
e estudos bíblicos em nossas igrejas etc.? Pensar essas coisas incomoda Não sabemos quem as leva, mas
tratem, direta ou indiretamente, so- a gente, né? Isso se deve não apenas inferimos que sejam os pais. Fazem-
bre a doutrina da salvação (soterio- ao desconhecimento a respeito das -no com o objetivo de que Jesus as
logia), resta pouco tempo para, por doutrinas essenciais da fé cristã, mas tocasse, “...impusesse as mãos e orasse”
exemplo, conversar sobre a impor- também pela espiritualidade e pelos (Mateus 10.13). Somos surpreendidos
tante doutrina da encarnação. nossos cultos serem quase uma ida a com a atitude dos discípulos que “re-
Mesmo nas celebrações do Natal/ um mundo paralelo, a uma realida- preendiam”. Perguntamo-nos: “Como
Advento, as pregações focam não na de “virtual”, desconectada do chão podem repreender? Por que eles são
doutrina da encarnação, mas na dou- da vida. tão insensíveis?”.
trina da salvação. Não é preciso es- Que mistério é uma criança! Os discípulos refletem a socieda-
colher uma das duas, mas a doutrina Deus também foi criança. de em que estão inseridos e tentam
da salvação sem uma sólida doutrina Por sermos filhos de Deus, excluir as “crianças insignificantes”3.
da encarnação redunda em uma fé/ Uma criança veio redimir-nos. De certa forma, eles representam,
1 PAGOLA, José Antônio. Jesus: aproximação histórica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 67.
2 MOLTMANN, J. No Início, o Fim. Breve tratado sobre a esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2007. p. 17.
3 CARTER, Warren. O Evangelho de São Mateus. Grande Comentário Bíblico. São Paulo: Paulus, 2002, p. 485.
a revista da família 51
ESTUDO BÍBLICO AS CRIANÇAS
também, cada um de nós que, na ca- (Lucas 17.21). Jesus inaugura o Rei- dência, a sua miséria. Não se trata
minhada com Jesus, vai descobrindo no, porque ele é o Rei que veio para de apresentar as suas virtudes, mas
que andar com ele é necessariamente reinar sobre os seus (Lucas 12.32). O a irrestrita dependência.
um processo contínuo de conversão, reino de Deus não é conquistado
no qual somos chamados para ver o por força, conhecimento especial Conclusão
mundo, as pessoas e nós mesmos de (um segredo que poucos alcançam) O convite que Jesus Cristo nos faz,
outra maneira; que andar com Jesus ou por uma moral humana (que só conforme vemos nos Evangelhos,
é ter a coragem de se questionar, ava- alguns atingem). é para que nos apresentemos a ele
liar conceitos e preconceitos. E Jesus, então, continua: “Em ver- como uma criança: mesmo com sua
Jesus inverte uma lógica social já dade vos digo: Quem não receber o reino dependência, falta de maturidade e
predefinida, qual seja, que as crian- de Deus como uma criança de maneira inegável inexperiência com relação
ças, porque não são ainda adultas, não alguma entrará nele”. A gente ouve ao mundo, precisamos olhar para ele
são racionais, e vão atrapalhar o que Jesus falar isso e já fica pensando como aquele que nos cuidará dentro
Jesus estava fazendo. Todavia, Jesus que ser como criança é coisa difícil. desse quadro de fragilidade.
não vê crianças como se fossem me- Pensamos em categorias de pure- A figura da criança aponta para uma
tade de gente, metade pessoa, mas za. Não consigo ser puro como uma condição que todos temos diante de
como gente e pessoa inteira. criança, então o reino é difícil para Deus: a fragilidade e a dependên-
Mas o que Jesus disse é ainda mais mim. Pensamos na categoria da ino- cia de que um adulto, um tutor, seja
surpreendente: “Deixem que os peque- cência. Não sou inocente. Erramos aquele que nos orienta para a vida e
ninos venham a mim; não os impeçam, conscientemente e sabemos disso. cuide de nós.
porque dos tais é o Reino de Deus”. Estamos perdidos. Não à toa, no momento da confis-
O acolhimento de Jesus afirma: É verdade. Se pensarmos nessas são, em nossas celebrações, somos
as crianças não são marginalizadas categorias, estamos perdidos. Mas convidados a, primeiramente, reco-
no reino de Deus; representam os atentemos para o texto. A atenção nhecermos nossa pequenez diante
que acham que nada são, os que se não é nas crianças, mas na oferta. de Deus. Não somos nada sem ele e,
acham insignificantes, os que são ou “Quem não receber...” A criança por isso mesmo, precisamos da sua
estão fracos e fragilizados, e excluí- dependente dos pais e é subordi- orientação e do seu cuidado. Reco-
dos pela religião purista e legalista nada aos adultos. É uma metáfora nhecendo que Deus é infinitamen-
dos fariseus. perfeita da atitude que precisamos te poderoso, colocamos nossa vida
As crianças representam, metafo- ter em relação à salvação e à vida no em suas mãos.
ricamente, os discípulos, em todas as Reino de Deus. Jesus Cristo se coloca como aque-
eras, de qualquer raça, sexo ou idade, O texto seguinte a esse relato, se- le que reconhece a fragilidade das
a quem o reino é dado gratuitamen- gundo o Evangelho de Lucas 18.18, crianças e quer cuidar delas. A figura
te, sem qualquer merecimento. As- foi propositalmente inserido em se- do Pai, relacionada ao Deus Criador,
sim como as crianças, os discípulos quência para mostrar o contraste. nos aproxima dele, como filhos que
também estão em transição, prepa- O homem de posição, acostumado podem brincar aos cuidados e sob o
rando-se para um papel futuro. Es- a conquistar tudo com seu prestígio olhar daquele que cuida de nós, em
tão na expectativa do que virão a ser. e a comprar tudo com seu dinhei- toda nossa fragilidade, falta de conhe-
Em “dos tais é o reino de Deus”, Reino ro, também quer comprar o Reino. cimento, dependência e imaturidade.
de Deus é uma expressão complexa. Acha que Deus está à venda, que é Para isso, precisamos nos apresentar
Resumidamente aponta para o tem- uma questão de mérito. Se eu pos- a ele como crianças, e crianças que
po inaugurado por Jesus, o tempo so, eu consigo. amam e confiam no Pai.
da graça, o tempo da salvação. Não Ele vai até Jesus com suas cre- Sejamos, pois, como crianças!
se refere a um lugar determinado, denciais: o que devo fazer?... (v. 18)
mas ao espaço inaugurado pela gra- e mostra suas virtudes: “Isso tudo tenho
ça, em que pecadores podem ser sal- feito” (v.21). Jesus, todavia, inverte a
vos e chamados para viver em novo lógica da aquisição: para entrar no
relacionamento com Deus e com o Reino, para viver a vida abundante rev. ézio lima, advogado, é
próximo. que ele concede e eternamente com pastor da ipi do brasil
Por isso Jesus poderia dizer: o reino ele, você não precisa fazer, mas se rev. sandro xavier, pastor da
ipi metropolitana de brasília, df,
de Deus está próximo, no meio de desfazer! Não se trata de mostrar e doutor em linguística pela unb
vós ou o Reino de Deus está em vós suas credenciais, mas a sua depen- (universidade de brasília)
a revista da família 53
SAÚDE NOVEMBRO AZUL
que fenômeno triste é este?
UM LONGO CAMINHO A
PERCORRER NA BUSCA
PELA SAÚDE DO
a revista da família 57
REFLEXÃO VIDA PLENA
f
reações: sorrisos tímidos, comentários ner- MANTENHA O CONTROLE DOS
vosos e, algumas vezes, um silêncio reflexivo SEUS PENSAMENTOS - Pare de supor
e ressentido. e pare de imaginar coisas! Os pensamentos
Deus quer que desfrutemos de um casamento que você optar por alimentar determinarão
seguro e confortável e que nos livremos do ciúme que, na quais emoções surgirão. Alguns te trarão mais
Bíblia, é descrito como uma das obras da carne (Gl 5.20). paz e outros te trarão ciúme, mesmo que não
Você é uma pessoa ciumenta? esteja acontecendo nada demais.
• Você confia em seu cônjuge quando não estão juntos? Entenda isso: você está o tempo todo cons-
• Você fica desconfiado quando o seu cônjuge demora truindo um mundo dentro da sua mente. Você é
para retornar de um compromisso? quem escolhe qual mundo quer construir. Não
• Você fica preocupado quando ele/ela menciona o nome confie na instabilidade dos seus sentimentos
de outra pessoa? e emoções, mas confie nos ensinamentos e
• Você verifica constantemente suas redes sociais para promessas da Palavra de Deus (Fp 4.8; Gl 5.23)!
ver o que ele/ela está fazendo?
• Você, às vezes, acha que ele/ela está te traindo? TENHA UMA COMUNICAÇÃO IN-
• Você tenta controlar o comportamento do seu cônjuge? TENCIONAL - Relacionamentos com uma
Você se identificou com algumas dessas perguntas? Co- comunicação ruim têm muitos problemas
nhece alguém assim? e fazem com que o ciúme do outro aumen-
Muitas pessoas sofrem e fazem outros sofrer por causa do te ainda mais. Para se ter uma comunicação
ciúme. O ciúme é um sentimento que faz mal para a pessoa assertiva, precisamos saber qual o fator ex-
que o sente e para quem tem que conviver com ele. Muitos terno envolvido e qual foi o significado que
crimes são cometidos por causa de ciúmes. demos àquele evento.
O ciúme é um exercício enlouquecido de poder, de do- Depois, é importante conversarmos com
minação e de aprisionamento do outro. O ciúme gera falta o marido ou a esposa sabendo expressar com
de confiança e desejo de controlar. A pessoa ciumenta não assertividade os pensamentos e sentimentos,
consegue diferenciar imaginação e realidade, não consegue deixando bem claro o que necessitamos da
distinguir fantasia e certeza. Jesus quer aliviar este fardo tão parte do outro para que aquilo não ocorra
pesado (Mt 11.28-30). novamente (Ef 4.26-27).
Uma pessoa ciumenta apresenta três sintomas: Procure ajuda se você perceber que o ciú-
• ela vê o que não existe, me está deteriorando a sua vida
• aumenta o que existe, Busque, hoje mesmo, auxílio através de um
• procura o que não quer achar. aconselhamento pastoral, com um psicólo-
Mas você pode superar o ciúme! go cristão.
Você pode ler livros, assistir filmes e, acima
SEJA SINCERO CONSIGO MESMO - Admita o que de tudo, saber que Deus vai libertá-lo deste
você está passando. Só assim se abrirão as portas para so- cativeiro insuportável.
lucionar o seu problema e aliviar as tensões da sua mente “Quem ama não é ciumento...” (1Co 13.4).
e das suas emoções. Com isso, ao invés de brotar o ciúme,
pode brotar um sentimento muito mais agradável (Pv 4.23).
revs. cláudia martins,
PEÇA O AUXÍLIO DE DEUS - Quando o amor de pastora da ipi de mandaguari,
pr, e paulo júnior, pastor
Deus enche o coração e a mente, não há espaço para coisas da ipi de jandaia do sul, pr;
ruins. Através da reflexão bíblica e da oração é possível ven- ambos são responsáveis
pelo núcleo de apoio à
cer todas as coisas, inclusive o ciúme (Naum 1.7). família da ipi do brasil
a revista da família 59
CULTURA LIVROS / VIDEOS / PODCAST
conhecimento é o nosso maior patrimônio. invista para aumentar o seu.
Reúne conhecimento bíblico e Uma trilogia que nos ajuda A história iniciada no Éden não O livro é escrito para crianças,
psicologia, ao mesmo tempo a conhecer e explicar o que termina ali, Cristo veio para e nos faz lembrar que Deus
em que explora questões fomos no passado, o que realizar o que era necessário nos capacita a compreender
como tédio, solidão, saúde, somos hoje e também o que a fim de abrir o caminho para e a lidar com as emoções
aposentadoria, aceitação e a seremos daqui para a frente. nós, não apenas de volta e os sentimentos. A obra
morte. Um livro urgente para a A obra é finalista do 65° ao jardim do Éden, mas o possui dicas para mediadores
ainda jovem igreja brasileira. Prêmio Jabuti de Literatura caminho para uma vida que de leitura e, também, sobre
na categoria Biografia e será ainda melhor. os ODSs (Objetivos de
Reportagem. Desenvolvimento Sustentável)
tratados no livro.
[LIVROS]
AS CRÔNICAS DE OLAM
L.L.WURLITZER
FIEL
[FILME] [FILME]
SING A BAILARINA
Em busca de vingança, o líder da mais poderosa classe NETFLIX YOUTUBE
de guerreiros de Olam invade uma cidade proibida, atrás
Um coala otimista tenta salvar Paris, 1869. Uma sonhadora
da cortina de trevas, e enfrenta uma terrível criatura.
seu teatro com um concurso menina órfã toma uma atitude
Sua atitude quebra um antigo tratado de paz e dá início a
de canto com uma elefanta arriscada para conseguir o que
uma contagem regressiva para a guerra entre o império
tímida, um gorila adolescente, quer: foge para Paris para realizar
dos shedins e o reino de Olam. Após dois mil anos de
uma porca exausta e muitos o sonho de ser uma grande
relativa paz e segurança, uma guerra de proporções e
outros participantes que bailarina. Lá ela decide se passar
consequências imprevisíveis estava para estourar.
tentam melhorar suas vidas por outra pessoa, e consegue uma
Luz e Sombras se enfrentariam mais uma vez...
através da música. A grande vaga no Grand Opera, onde vai
O Futuro do reino pode estar na distante e atrasada cidade
força reside justamente na aprontar muitas aventuras.
de Havilá, onde Enosh, um misterioso lapidador de pedras
gama desses personagens
shoham, vive com o seu aprendiz, o jovem Ben, apelidado
únicos.
de o guardião de livros.
#UMDIASEMRECLAMAR
DAVI LAGO E MARCELO GALUPPO
CITADEL
[LIVROS] [LIVROS]
Um garoto nasceu com uma Um menino se vê sozinho A série de mensagens da O podcast da 1ª IPI de Maringá.
deformação facial, o que de repente, após a morte do IPI de Dourados pode ser Empreendedorismo feminino,
fez com que passasse por seu pai. Foge do tio e vive acessada no spotify e também Engajamento pessoal,
27 cirurgias plásticas. Aos escondido numa estação no canal da igreja no youtube. Crescendo na igreja, Músicos
10 anos, ele pela primeira ferroviária. Seu pai era um profissionais na igreja são
vez frequentará uma escola relojoeiro e tinha um robô. alguns dos temas da playlist no
regular, como qualquer outra Hugo continua a restauração spotify.
criança. Lá, precisa lidar com do android na esperança de
a sensação constante de ser que na mensagem que o robô
sempre observado e avaliado escreveria tivesse alguma
por todos à sua volta. mensagem do seu pai.
a revista da família 61
TECNOLOGIA HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS
aplicativos que estimulam o desenvolvimento da leitura das crianças
top 5 apps
SUPERLIVRO
É completo e fácil de compreender com
imagens, vídeos e jogos interativos.
Possui vinte e seis episódios da série
Superbook, perguntas e respostas
bíblicas relacionadas aos versículos,
perfis bíblicos, videoclipes e imagens.
a revista da família 63